Muito prezada e muito misericordiosa Dona Cristina,
salve Maria!
A senhora me escreve cheia de uma misericórdia tão irritada, que dou graças a Deus de não tê-la por sogra.
Tanta raiva misericordiosa e tanta contradição me fazem imaginar -- e a imaginação faz a gente freqüentemente se enganar -- que a senhora estudou em colégio de freiras. Ou na PUC.
Estudou?
Pois o que digo -- e que a senhora me dá a honra de ler freqüentemente -- contraria os fundamentos de sua educação religiosa.
Só uma educação católica sentimental -- ou da PUC -- pode produzir tal raiva do que a Igreja sempre ensinou.
Errei, imaginado-a ex-estudante de colégio de freiras?
Ou universitária da PUC?
Posso muito bem ter errado nessa suposição, mas que essa misericórdia raivosa que a senhora manifesta é efeito comum de mentalidade religiosa sentimental e modernista, isso é.
Um outra coisa me indica uma formação católica errada na senhora: é uma frase em que a senhora me quer ensinar dizendo-me:
"Fé não se mede, fé se sente!".
Como isso cheira a sacristia e à PUC!
Ora, era a heresia modernista que afirmava que a Fé é um sentimento. E isso foi condenado na encíclica Pascendi de São Pio X.
E será que a Fé não se "mede"?
Por acaso, Jesus não falou de uma Fé pequena como um gão de mostarda? Não disse a outro; "Grande é a tua fé". Não censurou a outros dizendo-lhes: "Homens de pouca Fé"?
Por sentir muita raiva, a senhora não mediu as palavras que escreveu.
E quantas interrogações zangadas a senhora usa, exercendo sua notável misericórdia.
Tenho a impressão de que esses repetidos sinais de interrogação que a senhora usa com tanta profusão equivalem a gritos de raiva ... misericordiosa.
E porque tanta raiva interrogativa?
Porque defendi a pena de morte e que se vote Não no próximo referendo.
Minha senhora, a pena de morte sempre foi defendida pela doutrina católica, e dizer Não à lei do desarmamento preparadora do golpe bolchevista do José Dirceu é um direito meu.
"Direito de cidadão", como se diz hoje.
Ou será que a senhora quer me impedir de "exercer a cidadania"?
A senhora se mostra nada católica, e bem intolerantemente democrática.
Ou então a senhora se revela bem democrática em sua intolerância.
Graças a Deus a senhora não é Ministra da Justiça, isto é, Ministra da Misericórdia, virtude que tanto transparece em seu estilo.
Se a senhora o fosse, estaria eu frito, e o site Montfort democraticamente fechado.
Muito delicadamente -- e vermelha de raiva -- a senhora me "grita":
"Outra coisa que me deixou de boca aberta - a defesa da pena de morte. Sr. Orlando, por favor, isso já ultrapassou os limites do fanatismo!!! Dizer que Jesus era a favor da pena de morte???? Vá procurar o que fazer! Cadê a defesa a vida????? Eu sei que certos criminosos até mereciam, mas o ideal não seria uma reformulação geral no código penal brasileiro, como por exemplo a prisão perpétua???????????".
Que fazer? Se a senhora ficou de boca aberta como disse, não vou ser mal e educado dizendo-lhe: "Feche a boca!"
Pois fique então de boca aberta.
Fazer o quê? Procurar pacientemente, no Novo Testamento, as palavras de Jesus, manso e humilde coração, que devolvam a calma e o bom senso à senhora.
Se isso for possível...
Veja, minha senhora, que sorte!
Quem procura, acha!
Acho que a senhora não procurou, por isso não achou.
Já encontrei uma palavra do Cordeiro de Deus que pode ajudá-la .
Que bom!
Está no Apocalipse, onde Cristo fala da luta da Igreja contra a furiosa e famosa Besta do Anticristo:
"Aquele que matar à espada, importa que seja morto à espada" (Apoc. XIII, 10)
Que tal dona Cristina?
É o próprio Jesus defendendo a pena de morte!
Que coisa!
Na PUC, nunca me ensinaram isso!
Não, não vá se arrancar os cabelos, que lhe devem ter ficado arrepiadamente interrogativos em sua cabeça, ao ler essa citação decisiva..
Não, não vá dizer a Nosso Senhor que dessa vez Ele "ultrapassou os limites do fanatismo!!! ".
Não, não vá gritar a Nosso Senhor as perguntas que gritou contra mim:
"Vá procurar o que fazer! Cadê a defesa a vida????? "
Minha senhora, tenho muito o que fazer, respondendo pacientemente a tantas pessoas que me interrogam, mesmo gentilmente.
E quando me interrogam de modo não tão delicado, divirto-me com a fraqueza das invectivas, respondendo alegremente a cartas vazias de argumentos, plenas de raiva impotente.
Ça m´amuse!
Isso me diverte!
E diverte também os leitores do site Montfort.
Tenha a certeza, minha cara senhora, que sua carta contribuirá para a diversão de muitos leitores, que se comprazem, vendo a farqueza de arguemntação dos que se irritam com a verdade católica.
Sua carta raivosa me ajuda a ter paciência, pena e misericórdia
Permita-me então que, para mostrar-lhe seu erro sobre Jesus e a pena de morte, citar-lhe passagens dos Evangelhos e do Novo Testamento que a irritarão ainda mais, embora eu vise apenas defender a verdade da doutrina católica
Quando São Pedro cortou a orelha do servo Templo, nosso Senhor disse a Pedro:
"Pedro, mete a espada na baínha, porque quem com o ferro fere com o ferro será ferido" (Mt.XXVI,52)
Por mais que a deixe raivosamente misericordiosa, por favor, não saque já sua metralhadora com sua munição de pontos de interrogação.
Peço-lhe calma. Escute-me um momento. Ainda que com raiva.
Repare, minha cara Senhora, que Jesus, manso e humilde de Coração, não disse para Pedro:
"Pedro, jogue fora essa esapda. Você não vê que ela faz dodói? E dodói irrita certas senhoras muito compassivas" (Novo Evangelho segundo Dona Cristina, capítulo I, versículo 1).
Não, isso Jesus não disse.
Isso só existiria escrito em seu evangelho compassivamente apócrifo, estufado de interrogaçãoes, e sem respostas razoáveis.
Repare, minha cara dona Cristina, que Jesus fala a São Pedro usando o verbo no futuro:
Guarde a espada, porque quem ferir com o ferro, com o ferro deverá ser ferido".
E por que Nosso Senhor usou o "deverá", no futuro?
Porque só no futuro é que São Pedro, seria representante de Cristo na terra, e só então teria o poder de condenar à morte pela espada, quem tivessa matado à espada.
Acalmou-se já?
Posso dar-lhe outro argumento?
Pois bem!
Mas saiba que só me atrevo a fazê-lo, visando que se compreenda a verdade e que se veja claramente quanto sou paciente com sua irritada reação.
Quando Pilatos disse a Jesus que tinha poder de condená-Lo à morte, ou de perdoá-lo, Nosso Senhor lhe respondeu:
"Tu não terias poder algum sobre Mim, se não te fosse dado do alto" (Jo. XIX 11).
Logo, o poder do governante de condenar à morte é dado por Deus.
Atrever-me-ei a desafiar seus terríveis e multiplicados pontos metralhadores de interrogação, dando -lhe mais uma citação?
Pois lá vai.
Quando o bom ladrão disse ao mau ladrão:
"Nem tu temes a Deus estando no mesmo suplício? Nós recebemos o que merecem nossas ações" [Isto é, a morte] (Luc.XXIII, 41).
Repare, dona Cristina, que Jesus não crivou o bom ladrão com uma saraivada de pontos zangados de interrogação, e não o acusou de ultrapassar todo limite do fanatismo. Jesus o aprovou, dizendo que ainda naquele dia ele estaria no paraíso.
Haveria mais o que lhe citar.
Caso a senhora tivesse razão, a senhora deveria zangar-se também com Jesus Cristo.
Contenha-se.
Não o faça, que seria um grande pecado.
Não vou discutir com a senhora a frase humilde em que a senhora me garante ter o que eu não tenho: misericórdia.
Pois muito modestamente escreveu-me a senhora:
"Tenho uma coisa que o senhor não tem: misericórdia!"
Peço a Deus então duas coisas:
Primeira: que Deus lhe conceda um coração cada vez mais misericordioso;
Segunda: que Deus me preserve da misericódia da senhora.
No Post Scriptum de sua bondosa carta, a senhora ainda tenta me assustar, ameaçandoo-me de denúncia à CNBB. Pois me escreveu no rabicho de sua carta serpentinosa:
"Tome cuidado, pois já deve ter alguma denúncia em relação a este site na CNBB, organização que o senhor tanto repudia... Que coisa, não?? um "católico" atacando veementemente a CNBB em todas as cartas! Que coisa feia, sr. Orlando!".
Ora, a senhora mesma -- como a grande maioria dos brasileiros -- se disse contrária a alguma coisa na CNBB, e até na Igreja:
"Sou católica e pratico a minha religião. Sou contra alguns aspectos da Instituição e da Instituição denominada CNBB".
Cuidado! Não vá alguém denunciá-la à CNBB!
Sera que a senhora julga que a CNBB se converteu numa Inquisição em defesa da Teologia da Libertação contra a perfídia dos católicos?
A CNBB é hoje dominada pelos Bispos da Teologia da Libertação, e nela os próprios Bispos membros não se entendem entre si.
Veja agora mesmo o caso do Bispo que está fazendo uma greve de fome suicida em Cabrobó.
A CNBB, primeiro o apoiou em carta assinada pelos três principais dirigentes da entidade episcopal.
Depois, logo no dia seguinte, dom Odilo Scherrer, Secretário Geral da CNBB, voltou atrás e condenou, em seu nome no da CNBB, a greve de fome do Bispo Dom Luis Cappio como contrária à moral católica.
Aí, vários Bispos auxiliares de São Paulo lançaram uma carta manifesto de apoio ao Bispo grevista e contra o que escreveu Dom Odilo e a CNBB.
No mesmo dia, porém, o Bispo Dom Aldo Pagotto revelou que a Santa Sé mandara uma carta ao Bispo em greve de fome, que parasse imediatamnete com sua greve suicida. Que comesse.
Que engolisse sua greve e suas declarações.
E a senhora me ameaça com a CNBB?
"Não devemos esquecer que as conferências episcopais não possuem uma base teológica, não fazem parte da estrutura indispensável da Igreja, assim como querida por Cristo".
Espere! Espere!
Não pegue sua metralhadora para me disparar sua rajada de pontos de interrogação.
Essa frase não é minha.
Quem escreveu isso foi o Cardeal Ratzinger,-- hoje, Papa Bento XVI, gloriosamente reinante,-- no livro A Fé em Crise, (Editora EPU, Sâo Paulo, 1985, p. 40).
Essa frase, repito, não é minha. Mas concordo totalmente com ela, porque é doutrina católica o que ela afirma.
Em sua despedida, a senhora faz uma previsão, e me serve uma gentileza ao me escrever:
"Sei que a resposta será a mais grossa possível e que com certeza essa carta vai pro quadro de honra.... mas não estou nem aí! Afinal, isso é muito pequeno! Pequeno como a mente do sr. Orlando Fedeli".
A previsão a senhora acertou: sua carta vai mesmo para o Quadro de Honra.
Ela o merece.
Ficará muito bem lá.
Vistosa.
Honrosa
Vejo que a senhora é leitora assídua do site Montfort, pois bem conhece o destino de certas cartas: o Quadro de Honra da Montfort.
Pois conto-lhe qual a razão do "Quadro de Honra" da Montfort.
Faço questão de lealmente publicar tudo o que se escreve contra mim.
Ora, quando os ataques que me fazem são bem argumentados e sérios, eu os publico no campo em que saem todas as cartas dos leitores sérios.
Mas quando os ataques à minha pessoa são cheios de ira e até de ódio -- ódio misericordioso, digamos -- quando são sem argumentos, e muitas vezes sem lógica e sem gramática, as cartas vão para o "Quadro de Honra".
Como a senhora advinhou que sua carta irá mesmo para lá?
Será que a senhora desconfia o critério que faz sua carta ir para o nosso "Quadro de Honra?
Afinal, a Gramática a senhora respeita...
Passe então muito bem, minha senhora.
Que Deus lhe acresça cada vez mais sua misericórdia notável e imensa -- que, aliás, só pode crescer-- e lhe conceda a magnanimidade que eu, em minha mente pequena, fico a contemplar de longe, admirando, considerando... e pensando...:
"Senhor, como são magníficas as tuas obras"! Como é admirável a tua grandeza".
Pois "escondestes estas coisas aos sábios e aos prudentes, e as revelastes aos pequeninos" (Mt. XI, 25) .
Deus lhe dê, minha senhora, a pequenês própia dos humildes.
Passe sempre muito bem, na santa companhia de Nosso Senhor.
"E più non dicco!
"E più non dicco...
"Gesù dolce! Gesù amore!", como dizia santa Catarina de Siena, uma santa que conheci já em minha juventude, já em meio de muita incompreensão
E più non dicco...
Gesù dolce! Gesù amore"
Verdadeiramente,
In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli