Política e Sociedade
Parábola dos Talentos
PERGUNTA
Nome:
Antonio Augusto de Melo Júnior
Enviada em:
10/01/2007
Local:
Barão de Antonina - SP, Brasil
Religião:
Católica
Escolaridade:
Superior em andamento
Profissão:
Estudante
Caro Prof. Orlando Fideli
Gostaria primeiro de pedir desculpas pelo tom de minha carta anterior. Eu havia acabado de assistir um documentário sobre a pobreza no Brasil e acabei lendo algumas cartas no Montfort contra o socialismo e a igualade social, e acabei alterando meu estado de espírito. Sinceramente, peço desculpas.
Sempre gostei do trabalho do Montfort, e parabenizo especialmente a matéria sobre Maria, o Santo Sudário e as respostas sobre o protestantismo e a RCC. Que o Senhor conceda a graça ao Montfort de sempre poder defender a Fé Católica.
Pois bem, vamos ao assunto.
Primeiramente, vou dizer que não me considero socialista, tampouco comunista. Ambos os sistemas, como formas de governo, são imperfeitos e causam ainda tanta dor e sofrimento quanto o capitalismo, pelo menos foi o que nos mostrou a História. Defendo, na verdade, a Reforma Agrária e o fim da opressão do povo pelas classes mais abastadas.
Agora, sobre a Parábola dos Talentos (São Mateus, cap. XXV, v. de 14 a 30), não entendo que Jesus a tenha usado para falar literalmente sobre o dinheiro, e quem possui mais ou menos, etc... Acredito que, assim, por se tratar de uma parábola, Jesus usou os "talentos" para exemplificar os possíveis Dons, ou então graças, que uma pessoa recebe. O servidor que dobrou seus talentos é o homem que sabe usar a vida a favor do serviço do Senhor e do próximo, enquanto aquele que enterrou seu único "talento" é o homem egoísta que vive para si próprio, acumula-se de riquezas materias esquecendo-se do irmão necessitado. A esse, sobram apenas a morte e o fogo.
Pois, se endendessemos de outra maneira, estaríamos caindo no absurdo calvinista de acreditar que aquele que possui mais bens é mais agraciado por Deus do que aquele que não os possui. Estaríamos negando a própria palavra de Cristo. Porque, ao contrário, qual seria o significado destas palavras:
(...)
"Disse-lhe o jovem: Tenho observado tudo isto desde a minha infância. Que me falta ainda?
Respondeu Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!
Ouvindo estas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens.
Jesus disse então aos seus discípulos: Em verdade vos declaro: é difícil para um rico entrar no Reino dos céus!
Eu vos repito: é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus."
(..)
S. Mateus, XIII
Aliás, do contrário, também o pobre Lázaro não estaria no seio de Abraão, vendo o sofrimento do rico. E a Virgem Maria não haveria profetizado as palavras que postei na carta anterior. Devemos seguir o exemplo de Cristo, sendo pobres, proeza conseguida por S. Francisco, no auge da graça de Deus. Os primeiros cristãos viviam em total comunhão de bens. Que o Senhor nos conceda essa graça!
Desculpas novamente.
Até mais, professor.
Que o Espírito Santo o ilumine a continuar dispersando as trevas da dúvida e trazendo a luz da verdade!
Salve Maria, sempre virgem!
Viva o Papa!
RESPOSTA
In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli
Muito prezado Antônio,
Salve Maria.
Salve Maria.
Receba o atendimento de seu pedido de desculpas. É com prazer que lho concedo. Nada mais nobre do que reconhecer um erro que se cometeu.
Permita-me que lhe peça que leia meu trabalho sobre Desigualdade e Igualdade sociais, no qual dou as provas do bem da desigualdade conforme o ensinamento de Cristo, dos Papas e das Sumas de São Tomás de Aquino.
Acredito bem que você não se considere socialista e nem comunista. Mas como você é jovem e impressionável, não tendo tido a oportunidade de estudar os documentos da Igreja e os argumentos de São Tomás, é natural que se equivoque.
Por exemplo, você me escreve:
"Defendo, na verdade, a Reforma Agrária e o fim da opressão do povo pelas classes mais abastadas".
"Defendo, na verdade, a Reforma Agrária e o fim da opressão do povo pelas classes mais abastadas".
Meu caro Antônio, isso são slogans e salogans do Partido comunista, porque pressupõe quehaja guerra de classes uma explorando as outras. O que é falso.
Claro que podem existir exploradores, mas não classes que de si sejam exploradoras.
Assim como no organismo podem exitir órgãos doentes, é umaloucura afirmar que os órgaos necessariamente lutam entre si, Os órgãos do corpo humano colaboram para manter o organismo vivo e sadio. Assim também as várias classes sociais. E socialismo, comunismo, capitalismo não são formas de governo. Estas só podem ser três: monarquia, aristocracia e democracia.
Quanto à reforma agrária, ela sempre foi o primeiro meio do Partido Comunista para provocar revoluções. Falar em reforma agrária no Brasil é como falar da reforma para distribuir gelo no polo. Não nos faltam terras. Faltam pessoas para trabalhar no campo. O MST é a indústria das invasões financiada pelo PT do Lula e atiçada pela CNBB, cuja Pastoral da Terra funciona como órgão do PC.
Não é só na Polônia que houve Bispos e padres mancomunados ao Partido Comunista. Aqui temos muitos, e bem organizados.
Claro que na parábola dos talentos Jesus se refere aos dons e graças de Deus. Mas assim como nas graças e dons não há igualdade, assim também não há igualdade acidental entre os homens. Cada pessoa tem qualidades próprias dadas por Deus e a sociedade deve reconhecer essa desigualdade.
Não é aquele que possui mais bens materiais, que mais agrada a Deus. Mas, Deus distribui dons naturais diferentes e em graus diversos a cada um, e isso deve ser reconhecido socialmente. Quem tem mais capacidade deve ter mais direitos acidentais. Quem é mais capaz ou estuda mais passa em vestibular.
Não é aquele que possui mais bens materiais, que mais agrada a Deus. Mas, Deus distribui dons naturais diferentes e em graus diversos a cada um, e isso deve ser reconhecido socialmente. Quem tem mais capacidade deve ter mais direitos acidentais. Quem é mais capaz ou estuda mais passa em vestibular.
Reitero-lhe, meu caro Antônio, que você está inteiramente desculpado, e quero tê-lo como meu bom amigo, mas peço-lhe com insistência que leia o trabalho sobre o bem da desigaulade, no site Montfort, e depois me escreva de novo.
In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli