Política e Sociedade

Influência da Igreja na política
PERGUNTA
Nome:
Marcelo
Enviada em:
25/01/2004
Local:
Rio de Janeiro - RJ,
Religião:
Católica
Idade:
28 anos
Escolaridade:
Superior incompleto

Prezado Prof. Orlando Fedeli

A paz de Jesus esteja convosco

Minha pergunta hoje é simples: afinal, uma Arquidiocese ou Diocese pode apoiar, oficialmente, informalmente ou "às escondidas", algum candidato específico, numa eleição para um cargo político?

Faço esta pergunta porque uma fonte da Arquidiocese do Rio de Janeiro me disse que a Igreja do Rio estaria pronta para fazer campanha (não sei de qual forma) pela reeleição do nosso atual prefeito, César Maia (PFL).

Suponho que lideranças da Igreja carioca (entre as quais o Arcebispo, cardeal Dom Eusébio Oscar Sheid) teriam tomado esta decisão ao constatarem que o principal adversário do atual alcaide, na eleição de outubro de 2004, será o candidato do PL, Marcelo Crivella.

Para os demais leitores do portal da Montfort, é necessário lembrar que o referido pré-candidato Marcelo Crivella é "bispo" daquela igrejola do Edir Macedo (que é tio de Crivella) e cantor evangélico. E, em 2002, se elegeu senador pelo PL-RJ, usando o prestígio de seu dito "Projeto Nordeste" ou "Nova Canaã" (Irecê - Bahia) e aproveitando o desprestígio de figuras já envelhecidas da política, como Leonel Brizola e Arthur da Távola, seus ex-adversários na corrida pela cadeira do Senado. Talvez a única qualificação pessoal de Crivella seja o fato de ele ser engenheiro civil.

Mesmo com o perfil notadamente liberal e protestante do sr. Crivella, é correto a Igreja do Rio tentar impedir sua eleição para prefeito apoiando o atual prefeito? E desde o 1º turno, como talvez aconteça?

Creio que a atitude do prefeito César Maia em proibir, na Secretaria Municipal de Saúde, a distribuição de pílulas anticoncepcionais, DIUs e preservativos a menores de idade, se deva mais ao possível apoio velado da Arquidiocese, na eleição de 2004, do que à defesa do correto, que é a Educação para a castidade.

Mais um indício do apoio da Arquidiocese ao atual alcaide é a constante publicação de anúncios da Prefeitura no jornal O Testemunho de Fé, órgão oficial da Arquidiocese.

E como o sr. mesmo escreveu no texto "Como votar?", "A doutrina católica nos manda votar em candidatos bons e, não os havendo, se não houver outro meio, que votemos naquele do qual se espera menor dano à sociedade". Assim, nem preciso dizer explicitamente em quem votarei num hipotético 2º turno entre César e Crivella. Ou preciso?

Aguardo ansiosamente sua resposta.

Parabéns pelos 450 anos da fundação de São Paulo. E já que falei de eleição, é uma pena que essa cidade tenha que aguentar, neste ano, figuras nefastas tipo Marta Suplicy e Paulo Maluf disputando o cargo de prefeito.

Obrigado pela atenção e pela paciência.

Marcelo Delfino
RESPOSTA
Muito prezado Marcelo, salve Maria!

Não é da natureza do site Montfort tomar posição na política partidária brasileira, que é de bem baixo nível doutrinário, intelectual e moral. Estamos em república, como se dizia antigamente.

Entretanto, como católicos, não podemos deixar de fazer oposição a políticos que sejam inimigos declarados da lei de Deus, e inimigos da Igreja Católica. Por isso, você tem toda razão em não votar, e em combater, um candidato que pertença a uma igrejola herética e sectária.

Conforme os dados que você me fornece, parece que, no Rio, -- sobre cuja política quase não tenho informações -- foi feito um acordo entre a Arquidiocese e um candidato menos mau do que o herege que você mencionou. Tanto mais que o possível candidato, que seria apoiado pela Igreja, adotou medidas concretas de acordo com a moral católica. Portanto, até aí, tudo bem.

Do ponto de vista doutrinário, é claro que a Igreja tem todo o direito de, buscando defender os Direitos de Deus, fazer política.

Não há nada que reprova a Igreja de tomar posição às claras, ou discretamente, em situações políticas concretas. Aliás, seria possível não tomar posição política, quando se debatem questões morais tão relevantes?

São Paulo fez 450 anos. Hoje, se o Padre Anchieta a visse, choraria.

O aniversário de sua fundação foi comemorado, trazendo-se documentos originais do Padre Anchieta, e com cantos e danças que são opostos do que Anchieta quereria. Mais que lastimável, é uma desgraça o que ocorre, hoje, nesta cidade, fundada para dar cultura aos selvagens. Hoje, parece que são os descendentes dos antigos civilizadores que se tornaram tão selvagens, que se os caciques Cayubi e Pequerobi os vissem, pensariam que haviam chegado povos ainda mais embrutecidos do que os nossos silvícolas do século XVI.

In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli.