Muito prezado -- pois convém manter as formas educadas mesmo com quem não as usa -- Dr. Caldeira,
salve Maria !
O senhor começa sua carta com base numa fofoca, continua com uma acusação, e conclui com uma ameaça.
A fofoca de seu tio contra minha pessoa vale ...uma fofoca, pouco leal, de quem teria me conhecido de perto. E a recepção dessa fofoca por sua parte, não é caridosa, e, por isso mesmo, nada educada.
Sua acusação pessoal vou analisá-la. Sua ameaça me deixa entre o riso e a espectativa de uma honra.
A fofoca, então, deixo-a cair no lixo.
A acusação vamos examiná-la agora mesmo.
O senhor Dr.me acusa dizendo-me:
"vejo-o negando princípios de base da mesma Igreja que nos prescrevem obediência, reverência e altíssimo respeito aos dignatários dela".
Jamais neguei os princípios da Igreja, faltando com o respeito, a obediência e a reverência aos "dignatários" da Igreja, enquanto tais.
Se ataco os erros doutrinários ou morais de algum sacerdote, ou mesmo de algum Bispo, isso ocorre apenas quando esse sacerdote ou Bispo faltou, -- ele, sim! -- com a obediência, o respeito e a reverência devidas ao Papa, ou ao ensinamento da Igreja. Nesse caso, qualquer fiel tem o direito e o dever de acusar o lobo vestido com pele de ovelha.
Ou acha o senhor que quando Lutero se rebelou contra o Papa, os fiéis, como pessoas sem juízo, deviam continuar a ouvir respeitosamente suas homilias e receber dele a comunhão?
É dever gritar "Fogo!", quando se vê o incêndio começar. É dever clamar "Lobo" ao ouvir o primeiro uivo herético.
Dr. Caldeira se coloca como exemplo de respeito aos "dignatários" da Igreja, e me diz que
"NUNCA, irei ofender a honra e dignidade eclesiásticas do Cardeal Arns, D. Mauro Morelli, do ex-frei Boff, do frei Betto e outros, como o senhor faz com liberdade arrogante e absurda. Nunca me negaria a acatar suas ( dos citados) homilias, e suas mãos estendidas me oferecendo a Eucaristia".
Uai!? Dr. Caldeira afirma que receberia a comunhão das mãos de Frei Betto ou de Frei Boff e ouviria placidamente seus sermôes?
Mas, dizendo isso, o senhor deu prova que desconhece completamente a situação canônica dessas pessoas, e que desconhece o que acontece na Igreja, que ignora a sua doutrina.
Como o senhor poderia receber a comunhão e ouvir sermão do ex frei Boff, se ele já não é mais frade, se ele nem pode mais dar a comunhão, e nem fazer sermões?
Por acaso o senhor ignora que ele "largou a batina"? Que ele jogou a hábito franciscano às urtigas, para se unir a uma mulher casada, mãe de seis filhos? Ignora o senhor que ele é agora apenas Genésio Boff?
O senhor reclama de mim mais respeito aos "dignatários" da Igreja, incluindo o ex frei Boff.
Genésio Boff não é "dignatário" da Igreja.
Por que o senhor não exigiu do ex frei Boff respeito pelo Cardeal Jerome Hamer, que ele desejou matar, quando foi interrogado por ele?
Quem contou que frei Boff quis matar o Cardeal Hamer foi o próprio Genésio Boff, ex frei Leonardo Boff:
"Isso foi em 89. Chegou a um ponto que eu comecei a chorar de tanta raiva. E ele disse: "E mostra a tua fragilidade! Porque você chora como uma criança". "Olha, eu peguei tanta raiva que fechei o punho: "Vou matar o Cardeal", e comecei a mirar onde ia acertar aqui nas fontes e "vou matá-lo". E fiquei lutando contra mim mesmo, cinco minutos, fechado, e penso: "Eu quero matar esse homem, porque é isso o que ele merece" (ex Frei Leonardo Boff, entrevista in Caros Amigos, Ano I, número 3, Junho de 1997, p. 29, segunda coluna).
É esse homem que confessa que desejou assassinar um Cardeal que o senhor respeita e aceitaria dele a comunhão e ouviria um sermão?
Se o senhor respeita esse homem, é uma honra para mim receber sua acusação, o seu desprezo e sua condenação.
E veja o que é respeito ao Papa segundo Boff:
Boff contou -- sem cerimônia -- que quando trouxe de Roma, para a sua mãe, um terço bento pelo Papa João Paulo II, ela respondeu:
"O Papa não vale nada, é um bobalhão" (ex Frei Leonardo Boff, entrevista in Caros Amigos, Ano I, número 3, Junho de 1997, p.27, primeira coluna).
E o senhor Dr. Caldeira, diz que eu não tenho respeito pelos "dignatários" da Igreja, e que o senhor respeita Boff?
E o senhor Dr. Caldeira, vem me dizer que não tenho educação social?
Nessa mesma entrevista à revista citada, o ex frei Boff -- digno de seu respeito, Dr. Caldeira -- quando o entrevistador Chico Vasconcelos lhe perguntou:
"Você fala que a Igreja mente, que ela é corrupta..."
Respondeu Leonardo Boff:
"Ela mente, é corrupta e é cruel e sem piedade" (ex Frei Leonardo Boff, entrevista in Caros Amigos, Ano I, número 3, Junho de 1997, p. 31 terceira coluna).
E, mais adiante, Boff acrescentou:
"Ela [ a Igreja] é uma imensa madrasta" (ex Frei Leonardo Boff, entrevista in Caros Amigos, Ano I, número 3, Junho de 1997, p.34, primeira coluna).
Será que, tomando agora conheciemnto dessas palavras afrontosas, o senhor vai ficar indignado e vai conclamar a CNBB a punir Boff?
Duvido...
Duvido-de-o-dó!
E sobre Deus, sabe o senhor Dr. Caldeira, o senhor que é tão cioso de "educação social" e de respeito, o que disse Boff de Deus?
Disse Boff:
"Como teólogo digo: Sou dez vezes mais ateu do que você desse deus velho, barbudo, lá em cima... Até é bom a gente se livrar dele" (Frei Leonardo Boff, Pelos pobres, contra a pobreza, conferência em Teófilo Otoni, em 1983,Edição Povo Atualizado, Teófilo Otoni, 1983, p. 54).
Faço minhas as suas palavras
"Que liberdade de julgamento tem esse ex frade para ofender padres, cardeais, bispos -- e até Deus -- sem a menor caridade e respeito ?"
Educado o ex Frei Boff, não Dr. Caldeira?
Quem sabe, com sua influência na CNBB talvez o senhor consiga que ela patrocine um curso de civilidade a Genésio Boff, do qual o senhor quer ouvir sermões finos. Digo um curso de civilidade, porque duvido que o senhor conseguisse que a CNBB condene Boff.
E se a CNBB não condena Boff nem depois de que ele escreveu esses horrores, por que ela me condenaria ?
Só para lhe agradar dr. Caldeira?
Ou para agradar a seu tio?
E desconhece o senhor que Boff defende o marxismo, e que quem defende o marxismo está excomungado?
O seu respeito e obediência aos "dignatários" da Igreja lhe permite, Dr. Caldeira, desprezar as reiteradas condenações de Roma ao comunismo e as condenações do Papa ao ex Frei Boff?
E o senhor ouviria um sermão -- Que chatice! Se fosse possível... - de Frei Betto, diz que receberia dele a comnunhão ?!
Mas, meu caro Dr. Caldeira, Frei Betto não é padre...Ele é só um semi frade...
Ele não pode nem fazer sermão, nem distribuir a comunhão. O que ele distribui são as mentiras cubanas e marxistas, e demagogias do Fome Zero do partido do Mensalão.
Essa sua gafe comprova que o senhor desconhece totalmente o que acontece na Igreja tanto como a sua doutrina.
Como então o senhor se põe como modelo de respeito pelos "dignatários" da Igreja?
O senhor ignora que o Betto acaba de declarar, por escrito, que uma de suas maiores dores aconteceu quando caiu o muro da vergonha stalinista de Berlim? Por acaso, Dr. Caldeira, o senhor se alegraria se fosse reconstruído o muro stalinista de Berlim? Ou se frei Betto, com o José, Dirceu conseguisse fazer um muro da vergonha tupiniquim, em São Paulo?
De Dom Morelli certamente o senhor poderia receber a comunhão, ou ouvir um sermão, pois ele é Bispo .
Um Bispo marxista, e que foi a um desfile de escola de samba, num carnaval. Mas ele é Bispo.
Será que Dom Morelli, desfilando com escola de samba, respeitou a sagrada dignidade do episcopado?
Será que a CNBB aprovou o sambão de Dom Morelli?
E Dom Arns... Dom Arns é o Cardeal amigo do peito do comunistíssimo Fidel Castro.
Não lhe chega isso, Dr. Caldeira?
Dom Arns, o defensor de Boff, foi o parteiro do PT. Com isso basta para ver quem é Dom Arns, o Cardeal que fez o Corinthians salvar São Jorge...
Vamos agora ao estopim que desencadeou a sua ira teológica contra mim: a questão do Bispo que fez greve de fome, Dom Luís Cappio, um discípulo de Dom Arns..
Condenei -- como qualquer fiel católico tem o direito de fazê-lo -- a greve de fome de Dom Cappio, por ser pecado contra a Lei de Deus. Fazer greve de fome, mesmo por uma causa boa, é tentativa de suicidio e pecado.
Inicialmente, a cúpula da CNBB apoiou o Bispo grevista-suicida, mas, depois que chegou uma carta da Santa Sé, Dom Odilo Scherrer, secretário da CNBB, em nome da entidade, escreveu uma nova carta dizendo que a CNBB não podia apoiar a atitude de Dom Cappio fazendo greve de fome, porque isso era contrário à moral católica.
Que será que estava escrito na carta da Santa Sé?
Será que o senhor advinha o que estava escrito nessa tal carta, Dr. Caldeira?
Declarou Dom Odilo:Dom Scherer :
"A ´greve de fome até morrer´, moralmente, não é aceitável".
O senhor reclama da comparação que fiz entre Gandhi e o Bispo grevista de Cabrobó.
Por que a reclamação?
Por acaso Gandhi não fazia greve de fome? Por acaso Gandhi não é tido como um "santo" pela mídia e pelos fiéis seguidores da "Santa" "Madre" Mídia?
O senhor me escreve:
"Conclamo mesmo a Igreja Católica brasileira, que tome medidas em relação ao senhor! Já que é defensor ferrenho dela e de seus instrumentos canônicos - que o enquadre no Direito da Igreja e o puna com que dispuser, tendo em vista suas ofensas a membros do clero e do episcopado".
Educado Dr. Caldeira, por que o senhor não conclama a CNBB para condenar Dom Odilo Scherrer, e condenar também a própria CNBB por se oporem à greve de fome de Dom Cappio, um "dignatário" da Igreja?
O senhor me argui, condenando-me por algo que não fiz:
"que liberdade de julgamento o senhor tem para ofender padres, cardeais, bispos sem a menor caridade e respeito ?"
Eu não ofendi Padres e Bispos coisa nenhuma.
Só defendi a verdade católica contra eclesiásticos que a violavam.
E isso é um dever e um direito de qualquer fiel católico. Criticar mesmo um Bispo, para defender a Fé. Esse é um direito e um dever de todo católico fiel à Igreja, pois que a Igreja está acima de qualquer pessoa.
Fazendo isso, exerço um dever e um direito, como aliás foi reconhecido até mesmo, mais recentemente, pelo Concílio Vaticano II, - que cito como argumento ad hominem para o senhor, Dr. Caldeira - ao expor os deveres e direitos do laicato:
"A todos os leigos, portanto, incumbe o preclaro ônus de trabalhar para que o plano divino da salvação atinja sempre mais a todos os homens de todos os tempos e de todos os lugares da terra. Conseqüentemente, sejam-lhes dadas amplas oportunidades para que também eles participem ativamente na obra salvífica da Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos" (Vaticano II, Lumen Gentium, nº 83).
"Os sagrados Pastores, porém, reconheçam e promovam a dignidade dos leigos na Igreja. De boa vontade utilizem-se do seu prudente conselho. Com confiança entreguem-lhes ofícios no serviço da Igreja. E deixem-lhes liberdade e raio de ação. Encorajem-nos até para empreender outras obras por iniciativa própria. Com amor paterno, considerem atentamente em Cristo as iniciativas, os votos e os desejos propostos pelos leigos. Respeitosamente reconheçam os Pastores a justa liberdade que a todos compete na cidade terrestre" (Vaticano II, Lumen Gentium, nº 97).
Também a CNBB reconheceu esse direito dos leigos ao proclamar em decisão da 35a. Assembléia Geral:
"Deste modo a ordem jurídica eclesial exige que seja tutelada e promovida a liberdade de todos os fiéis, que corre paralela à co-responsabilidade que lhes atribuiu o Vaticano II. Daí uma certa pluralidade de opiniões pode ser índice positivo de vida e criatividade. Também daí o dever de algum fiel se expressar, mesmo contrariando o consenso majoritário. Fundamental é que os fiéis devem "conservar sempre, também no seu modo particular de agir, a comunhão com a Igreja" (c. 209§ 1).
"A liberdade e responsabilidade dentro da comunhão eclesial, no que toca ao nosso tema, sublinha o direito dos fiéis de expressarem aos pastores as próprias necessidades e anseios (c. 212 § 2), e até mesmo de manifestarem a própria opinião sobre o que afeta o bem da Igreja (c. 212 § 3). Também no que diz respeito às coisas da sociedade civil, podem exprimir a própria opinião, imbuída de espírito evangélico e à luz da doutrina do magistério eclesiástico, embora sem apresentá-la como doutrina da Igreja (c. 227). (XXXV Assembléia geral da CNBB, Direitos e deveres dos Bispos, como mestres da Fé, e dos fiéis, em especial no que se refere ao diálogo entre magistério e teólogos(as) (...) Os direitos dos fiéis. (O sublinhado é nosso).
Por fim, o Código de Direito Canônico, no Livro II, I parte, Título I, quando trata dos direitos dos fiéis cristãos em geral, diz no seu Cânon 212, parágrafo 3.o:
§ 3. De acordo com a ciência, a competência e o prestígio de que gozam, têm o direito e, às vezes, até o dever de manifestar aos Pastores sagrados a própria opinião sobre o que afeta o bem da Igreja e, ressalvado a integridade da fé e dos costumes e a reverência para com os Pastores, e levando em conta a utilidade comum e a dignidade das pessoas, dêem a conhecer essa sua opinião também aos outros fiéis".
E diz ainda:
Cân. 225 - § 1. Uma vez que, como todos os fiéis, por meio do batismo e da confirmação, são destinados por Deus ao apostolado, os leigos, individualmente ou reunidos em associações, têm obrigação geral e gozam do direito de trabalhar para que o anúncio divino da salvação seja conhecido e aceito por todos os homens, em todo o mundo; esta obrigação é tanto mais premente naquelas circunstâncias em que somente por meio deles os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo".Isto evidentemente trata de discordâncias opinativas. Mas, então, quando não se trata de meras opiniões, mas de Fé, o direito de discordar e de defender a Fé vai ainda muito mais longe.
E quanto ao tom, recomendo que o senhor leia as invectivas de Santa Catarina de Siena contra os maus Cardeais que queriam manter o Papa em Avignon, e que ele não voltasse para Roma. O que não é dogma.
Santa Catarina pronunciava contra esses maus Cardeais palavras de fogo, e dizia-lhes; "Já não vos tenho respeito, porque perdestes direito a ele"
E assim sendo, e submisso à Hierarquia da Igreja, é que exerço o sagrado direito e dever de defender a Fé Católica, que o senhor, muito educadamente, quer me retirar.
In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli.
PS. Mande, em meu nome, um abraço bem educado a seu tio. OF