Polêmicas
O tom cortante e pontiagudo da verdade
PERGUNTA
Nome:
Edson
Enviada em:
02/08/2005
Local:
São Paulo - SP,
Religião:
Católica
Escolaridade:
Pós-graduação concluída
Profissão:
Advogado
São Paulo, 2 de agosto de 2005.
Prezado Prof. Orlando.
Conheci seu sítio internáutico há pouco. Um amigo mo indicou. Confesso que estou impressionado com sua erudição e conhecimento da sã doutrina. Parabéns! Malgrado tenha muito prazer em ler as respostas que o senhor escreve, sobretudo as impregnadas de ironia e humor, penso que seria mais convinhável, e até mais producente para o escopo da própria associação cultural, a mudança do tom nas respostas, deixando de proferir ataques e diatribes aos missivistas, continuando, porém com todo rigor contra as heresias. É apenas uma sugestão. Por favor, não me entenda mal. Como o senhor sabe, a moral católica sempre diferençou o erro do errante. Neste diapasão, os que perpetram delitos em detrimento da fé têm de ser amados diturnamento. Os lapsos deles, todavia, precisam de ser denunciados e debelados, como o seu grupo sói fazer a contento, sob o pálio da ortodoxia. Se o senhor simplesmente desconsiderar as contumélias que lhe sacarem e quedar-se no plano das idéias, das doutrinas, cuido que seu sítio dará um bom testemunho cristão, o que já vem ocorrendo, graças aos panegíricos da fé católica.
Esta é minha sugestão.
Muito obrigado.
Cordialmente,
Edson Luiz Sampel
RESPOSTA
Muito prezado Edson,
Salve Maria!
Muito lhe agradeço suas palavras de incentivo e de elogio. Deus lhe pague. Vejo bem que você tem a reta intenção de me precaver contra algo que lhe parece prejudicar, pelo menos em certa medida, o bom êxito da defesa que o site Montfort faz da Religião Católica: meu estilo agressivo.
Se me abalanço a justificar a você esse meu estilo -- mon très franc parler -- é por reconhecer sua boa intenção a meu respeito.
E, fundado nesse reconhecimento, ouso dizer-lhe as razões em que me fundo para agir assim.
Sua preocupação seria que um estilo tão contundente arriscaria a afastar pessoas de boa intenção, e prejudicaria a conversão de outros. Esse modo de ser meu, ademais não seria caridoso, pois, como diz uma velha objeção, dever-se-ia vituperar o pecado e não o pecador. E alguns atribuem isso, sem mais explicações, a Santo Agostinho.
Deixe-me então, dar em primeiro lugar os argumentos de autoridade divina, que, em questões religiosas são os definitivos.
Veja, meu caro Edson, o que diz o Evangelho, e veja como atuou Nosso Senhor Jesus Cristo.
O Evangelho de São Mateus, logo nos primeiros diálogos que apresenta, choca a mentalidade sensivel, atualmente difundida entre os católicos. Conta São Mateus que, indo os fariseus ao Jordão para, como todo o povo, fazer penitência e confessar seus pecados, São João os recebeu com um "bom dia" surpreendente:
"Raça de víboras! Quem vos ensinou a fugir à ira que vos ameaça!" (Mt. III,7).
Você há de convir que esse estilo seria tachado, hoje, de... pouco diplomático.
Mas era o estilo do maior homem nascido de mulher: João Batista.
Que fomos ouvir no deserto, através do relato de São Mateus?
O discurso de um homem "delicado"?
Não! Pois os os homens de estilo delicado estão nas "cortes", estão na TV, e não no deserto, lutando contra o demônio e os inimigos de Deus.
Veja, meu caro Edson, como São João narra, no seu Evangelho, a primeira entrada de Jesus em Jerusalém e no Templo: Expulsou os vendilhões a azorrague e lhes derrubou as mesas. (Cfr. Jo.II,15).
Certamente, para a mentalidade sensível reinante, hoje, nos meios católicos, mentalidade que, infelizmente, contaminou em parte você também -- Não vou deixar de ser franco e direto nem com você -- o modo de Nosso Senhor responder a um Doutor da Lei parece pouco conveniente.
Conta o Evangelho que Jesus, convidado a comer na casa de um fariseu, atacou diretamente os escribas e fariseus chamando-os de serpentes e raça de víboras. Veja o que, um Doutor da Lei, ofendido, disse a Jesus: "Mas, assim, ofendes também a nós, Doutores da Lei!".
E Nosso Senhor, em vez de recuar e moderar seu estilo, contestou firmemente:
"Malditos, vós também, Doutores da Lei!" (Luc. XI, 52).
Isso lemos, no Novo Testamento.
E no Antigo lemos que Deus ensinou a mesma coisa:
"Deus odeia igualmente o ímpio e a sua impiedade" (Sab. XIV, 9).
E mais:
"Ainda que pisasses o néscio num pilão, como se pisam os grãos de cevada, não separarias dele a sua estultícia" (Prov.XXVII, 23).
Perguntra-me-á você: Mas, e a mansidão ? E a misericórdia? Não foi Jesus infinitamente misericordioso?
Sem dúvida, o Coração de Jesus é pleno de misericórdia, e suas palavras são cheias de mansidão. Mas, "a sua misericórdia é para aqueles que o temem" (Luc. I, 50).
Claro, eu que sou um vaso de barro bem grosseiro e sem finura, evidente é que não imito perfeitamente -- longe disso -- o exemplo infinitamente santo de Nosso senhor Jesus Cristo.
Mas quero imitá-Lo.
E o site Montfort é bem o oposto da imitação dulçurosa, sentimental e estéril que se ensinava nas sacristias, quando eu era menino. Bem o contrário do estilo marqueteiro dominante hoje. Bem adverso ao diálogo amistoso de amigos-passageiros num aeroporto, que se mostram profundamente amigos, quando se conhecem num vôo, e se esquecem um do outro ao tomar o taxi.
Mansidão e misericórdia com o pecador arrependido, sem dúvida, isso deve ser feito também.
E atrevo-me a dizer-lhe que você não encontrará um só leitor do site Montfort, que tendo manifestado um mínimo de desejo de melhora e de adesão à Igreja, que não o tenha recebido com caridade. Chorei com os arrependidos, e me alegrei com os que se levantaram. Apoiei os que estavam fracos, e incentivei os que começavam a caminhar. Soprei as brasas que estavam apagando, e procurei converter os hereges.
Posso ser atrevido mais uma vez, e, como São Paulo, falar como "louco"?
Tornei-me irmão dos que combati, e que, tendo se convertido vieram bater á porta da Montfort ou à porta de minha casa, que fiz a casa deles.
Na Montfort, há inúmeros que inicialmente me combateram, e que se tornaram como meus irmãos -- e minha velhice, me permite dizê-lo -- como meus filhos e minhas filhas. E dos mais estimados.
E você não leu já, no site Montfort, quantos protestantes de todas as seitas, e quantos espíritas, e quantos ateus, com quem se travou dura polêmica no site Montfort, e que nos enviam cartas de agradecimento, e dos quais cuidamos das feridas com carinho particular?
Se você argumentasse contra mim, que meu estilo, humanamente falando, não é o mais próprio a atrair simpatias, e que meu estilo não segue as regras do marketing -- tão buscado e cultuado, hoje, pelos padres das show-missa, que cantam canções dulçurentas e tolas para agradar o público -- até lhe daria razão. Mas, o site Montfort não busca popularidade. O que buscamos no site Montfort é defender a verdade, que é, ao mesmo tempo, muito doce e muito dura. O que buscamos é defender a Igreja e a Fé, e não ter prestígio e ganhar votos na enquete do campeonato da bajulação ao mundo e aos poderosos.
Não queremos agradar aos poderosos. Não tememos enfrentar os mais poderosos.
Graças a Deus.
Há anos, escrevi uma poesia-oração (em francês) para meus alunos. Foi quando mandara uma carta a um Cardeal parteiro do PT, -- Dom Arns -- , carta intitulada "E o Galo cantou!".
O que dizia então, nessa poesia, vem a calhar agora:
Prière pour des petits Cyranos Oração para pequenos Cyranos
Seigneur, de grâce, Senhor, por misericórdia,
ne permets pas - não permitas -
- Ah! non ! Jamais!- - Ah! Não! jamais!-
que je ne fasse que eu faça
un pas mauvais um ato mau
par lacheté. por covardia.
Que j"aie l"audace Que eu tenha a audácia
de proclamer de proclamar
à voix claire com voz clara
la vérité. a verdade.
Tout solitaire Por mais sozinho
que ce soit, que esteja,
que j"aie la grâce que eu tenha a graça
de témoigner de testemunhar
la vraie Foi, a verdadeira Fé
sans balancer. sem hesitar.
Donnez- moi, Dai-me,
s"il faut déplaire se for preciso desagradar
un puissant sire, um poderoso senhor,
pour le bien faire, para fazê-lo bem,
donnez-moi dai-me
un franc langage, uma linguagem franca
pour le maudire, para maldizê-lo,
sans faux ménage. sem falso respeito.
Que je préfère Que eu prefira
plus que plaisir, mais que o prazer
un coeur sincère. um coração sincero.
Plutot souffrir Antes sofrer
une vie amère uma vida amarga
que de mentir. do que mentir.
Plutot la mort Antes a morte
que d"être lâche, do que ser covarde,
car plus que l"or porque mais do que o ouro
vaut le panache. vale a bravura.
Plus que l"argent, Mais do que o dinheiro,
la vérité. a verdade.
Plus que la vie, Mais do que a vida,
l"honneur de Dieu. a honra de Deus.
Plus que renom, Mais do que a fama,
être haï ser odiado
par les méchants. pelos maus.
Être sans nom. Ser sem nome.
Être un cri Ser um grito
d"amour vermeil. de amor vermelho
Verser son sang, Derramar seu sangue
en plein soleil. em pleno sol.
Rester au rang, Permanecer na fileira
même tout seul. ainda que sozinho.
Entrer en lice, Entrar na liça
quand l"on se bat quando se luta
pour la justice. pela justiça.
Rire du nombre, Rir do número,
haïr le vice odiar o vício
et la pénombre. e a penumbra.
Parler bien clair Falar bem claro
contre l"erreur. contra o erro.
N"avoir l"air Não ter o ar
d"avoir peur, de ter medo,
d"être risible. de ser ridículo.
Rêver l"honneur Sonhar a honra
d"être une cible. de ser um alvo.
O la joie, Oh! a alegria,
o mon Dieu, oh meu Deus,
d"être à Toi, de ser teu,
Roi des cieux! oh Rei dos céus.
Plutot la mort Antes a morte
que d"être lâche, do que ser covarde,
car plus que l"or porque mais que o ouro
vaut le panache. vale a bravura.
Plus que l"argent, Mais que o dinheiro,
la vérité. a verdade.
Plus que la vie, Mais do que a vida,
l"honneur de Dieu. a honra de Deus
O la joie, Oh! a alegria,
o mon Dieu, oh meu Deus,
d"être à Toi, de ser teu,
Roi des cieux! oh Rei dos céus!
(São Paulo, 30/I/89. Orlando Fedeli).
E sabe qual é o resultado do estilo pouco diplomático do site Montfort?
A crescente afluência de leitores ao site Montfort, que normalmente oscila pelos 6.000 acessos por dia. E ainda que houvesse apenas um leitor por dia, não mudaríamos nosso falar franco e que faz tanto barulho. Porque foi Nosso Senhor que nos recomendou:
"Seja o vosso falar sim, sim; não, não. Porque tudo o que passar disso, procede do maligno" (Mt.V, 37).
O site Montfort não tem figurinhas. Não tem piadinhas. O site Montfort não tem firulas, nem fricotes. Não tem rosas ou anjinhos esvoaçantes em sua páginas.
Só tem argumentos. Tem textos longos maciços e doutrinários. Tem tudo o que o marketing condena. O site Montfort só quer ter o que o amor a Deus e à verdade recomenda.
E quando, no caminho, encontramos um amigo -- como você -- que sinceramente quer nos ajudar, apontando-nos algo que julga um defeito a corrigir, não nos causa irritação, mas alegria e esperança.
Não quer você também vir lutar conosco da Montfort?
Não quer você também participar de nossa luta?
Venha lutar com a Montfort.
Venha conosco estudar.
Venha conosco cantar. Venha conosco, subindo de Jericó a Jerusalém, invectivar os que descem para o Mar Morto, indo a Jericó, ao som de cuíca e pandeiro, curtindo rock. Venha conosco recolher aqueles que estão caídos, e que desejam ascender até Sião.
In montem sanctum ibimus.
A ladeira é dura.
E alegre.
E com panoramas sempre mais esplêndidos.
Espero-o.
Rezo e espero.
Quando o verei?
Quando O veremos?
Se você quisesse ter nossa alegria! Ter nossos combates e poder dizer conosco:
“O la joie d´être à Toi, Roi des Cieux"
In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli