Polêmicas

Caridade e rispidez
PERGUNTA
Nome:
anonimo
Enviada em:
01/01/2000



Fiquei muito feliz como missionário Leigo Católico em encontrar um veículo tão competente e ao mesmo tempo tão bem formado sobre as coisas da igreja. Estava mesmo precisando beber em fontes profundas e límpidas.
Gostei muito dos artigos que em muito me saciaram a sede de informação e formação. No entanto, confesso que fiquei um pouco ofendido com algumas formas de expressão, do Sr. Orlando Fedeli.
Ríspido, não errado, mas ríspido, apontamentos duros e sem misericórdia sobre alguns aspectos do Frei Betto e outros.
Sr. Orlando com todo respeito e carinho, o saber, como nos dizia São Boaventura, deve estar acompanhado pela humildade e caridade. Animo, não se deixe abater pelo imediatismo dos tempos modernos, seja construtivo

RESPOSTA


Primeiramente, deixe-me agradecer-lhe sua preocupação com minha alma, porque quem aponta os defeitos alheios para corrigi-los faz obra de caridade.
O senhor se diz “um pouco ofendido” com algumas de minhas expressões. Ora, não vejo porque sentir-se ofendido, pois não o citei, nem o ataquei, já que nem o conhecia.
O senhor me diz “ríspido”, “duro e sem misericórdia”, e me aconselha seguir a recomendação de São Boaventura, unindo saber e humildade, e com a caridade.Procurarei seguir esse conselho de São Boaventura, que lhe agradeço.
O orgulho é um defeito tão comum ! Especialmente o orgulho intelectual. De modo que nunca é demais ouvir quem nos adverte contra ele.

Entretanto, sobre dureza, rispidez e caridade, seria preciso dizer algo.
O romantismo difundiu entre os católicos a idéia de que a caridade é incompatível com a dureza do combate contra a heresia. Não é aqui o lugar para escrever um tratado sobre este tema. Aponto-lhe apenas alguns argumentos e alguns exemplos tirados do Evangelho.

Com efeito, no Evangelho de São Mateus, quando ele conta que os fariseus também iam ao Jordão receber o batismo de São João Evangelista, este os recebe com um impropério: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera de Deus?” (Mt III, 7).
Esse é o primeiro diálogo entre um santo e os fariseus nos Evangelhos. Teria São João faltado com a caridade ? Afinal, os fariseus não estavam vindo confessar seus pecados e pedir o batismo a São João ? E foi assim que aquele que Nosso Senhor disse “o maior homem nascido de mulher” recebe outros homens que vem a ele como pecadores que se diziam arrependidos? Evidentemente, São João Batista tinha caridade em grau heróico, e a caridade não excluía o uso de palavras duríssimas. E mesmo ríspidas.

E Nosso Senhor Jesus Cristo, Ele que é nosso modelo de vida e de comportamento, Ele que era manso e humilde de coração, como tratava Ele certos inimigos de Deus ?
Certamente o senhor conhece como Nosso Senhor expulsou os vendilhões do Templo. Ele os chicoteou, derrubou suas mesas, e os expulsou aos gritos. “E tendo feito um como azorrague de cordas, e expulsou a todos do Templo, e às ovelhas e aos bois, e deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou as mesas”(Jo. II , 13).
Teria Cristo sido bruto, rude, ríspido, sem caridade ou sem misericórdia? É claro que não.

Logo, a caridade não exclui nem o uso de palavras duras, nem mesmo o uso da força física. Seus encontros e discussões com os fariseus devem nos servir de modelo, porque Ele é em tudo nosso modelo. Ora, como tratou Cristo aos fariseus ?
Ele os amaldiçoou por diversas vezes, dizendo-lhes: “Ái de vós, escribas e fariseus hipócritas” (Mt XXIII). Em latim, Vae vobis – ái de vós – significa “Malditos escribas e fariseus hipócritas”. Os “Ái de vós ...” são maldições. No Evangelho de São João especialmente, fica patente a luta terrível entre Nosso Senhor e os fariseus que ele chama de “serpentes e raça de víboras” (Mt XXIII, 33) e de “sepulcros caiados” (Mt. XXIII, 27)
Cristo os acusa de serem filhos do demônio e não filhos de Abraão. Veja o texto: “Vós sois filhos do demônio e quereis fazer a vontade de vosso pai” (Jo VII,44).
E como poderiam eles ser filhos do demônio, se o diabo, sendo um anjo, não pode ter filhos ? É porque são filhos do demônio aqueles que querem fazer a sua vontade, a do diabo, e não a vontade de Deus.
Porque os maus formam com o diabo - enquanto permanecem firmes no pecado e na má fé – um como que ‘Igreja de satanás’, uma “Sinagoga de Satanás” como está escrito e revelado pelo próprio Cristo no Apocalípse, (II, 9).

Evidentemente, o senhor que ama a Nosso Senhor não pode acusar nosso divino mestre de usar palavras duras e contra a caridade.
Portanto, a caridade não exclui o uso de palavras duras e mesmo de rispidez, em certos casos, em que se deve
combater os inimigos de Deus.
E quem são os inimigos de Deus?
São os hereges, aqueles que ao invés de alimentar os fiéis com o pão da verdade lhes dão a mentira por alimento.

São Paulo, o grande Apóstolo, cheio de zelo e caridade, buscando sempre converter os judeus, pagãos e pecadores como tratou e como mandou tratar certos hereges?
O senhor poderá encontrar a resposta na Epístola a Tito onde diz: “Porque há ainda muitos desobedientes, vãos faladores e sedutores, principalmente entre os da circuncisão, aos quais é necessário fechar a boca” (Ep. A Tito, I, 10-11)
E como recomenda que eles sejam tratados ?
São Paulo diz a Tito: “Increpa illos dure” – Increpa-os duramente” (Ep. Tito, I, 13). Reprende-os duramente. Duramente. Exatamente o erro de que o senhor, em sua preocupação caridosa, me acusa.

Estaria Frei Betto no mesmo caso desses faladores e sedutores de que fala São Paulo ? Seria ele católico ou herege ?
Basta ler o Catecismo Popular de Frei Betto para ver que ele é comunista e não católico. Ainda na véspera de Corpus Christi, ele publicou um artigo no O Estado de São Paulo que prova o que escrevi acima.
Frei Betto não é católico, embora se apresente como frade dominicano. Um estranho frade que apesar do voto de obediência, prega a revolução; apesar do voto de castidade, declarou em entrevista à Folha de São Paulo que o erotismo tem lugar na vida de um religioso; que apesar do voto de pobreza, contou em entrevista que vive das rendas proporcionadas pelos seus direitos autorais, não precisando materialmente da Igreja. Frade que se orgulha de ser amigo de Fidel e que ousou escrever um artigo mandando recado atrevido e desrespeitoso ao Papa João Paulo II quando ele veio ao Brasil. Foi publicado no O Estado de São Paulo.

Por tudo isso, parece-me que não faltei com a caridade no modo como tratei esse “religioso” que tanto maltrata a doutrina católica.
Se o convenci, louvado seja Deus que me concedeu um novo amigo. Se não o convenci, peça-me ainda esclarecimentos, que os responderei com prazer. Se de modo algum concordar comigo - o que não acredito – meu refúgio será minha consciência, pois tive intenção reta, desejando a conversão de Frei Betto e a elucidação dos católicos mal informados sobre o modo com que se devem tratar ao hereges.

À sua disposição como amigo sempre
In Corde Jesu,
Orlando Fedeli