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A catedral de Brasília é um templo esotérico?
PERGUNTA
Qualquer católico dotado de um mínimo de piedade, conhecimento de liturgia e senso crítico, julga ao menos muito estranha a catedral de Brasília e questiona sua compatibilidade com aquilo que a Igreja sempre entendeu como específico de um templo católico: um espaço sagrado, isto é, destinado exclusivamente à renovação dos santos mistérios, a perpetuação do Santo Sacrifício do Calvário, a conservação do Verbo Encarnado entre nós sob a aparência de pão, no tabernáculo situado bem no centro do presbitério, ou, sendo oportuno, em artística capela do Santíssimo ao lado do altar-mor.
Nada disso existe na catedral da cidade construída sob a orientação de um arquiteto marxista ateu. Tudo ali é chocante e agride a consciência católica. Nada ali convida à oração, ao recolhimento, à devoção. Ao contrário, tudo ali constitui uma exaltação da matéria sobre o espírito, tudo exorta o homem à soberba, a ter confiança em si mesmo, a ter orgulho de ser simples fruto da evolução. Enfim, a catedral de Brasília é um templo de uma religião às avessas. Um templo da religião do homem.
Existe uma literatura a respeito do caráter esotérico de toda a cidade de Brasília. Permito-me citar o trabalho da egiptóloga Iara Kern, De Aknaton a JK – das pirâmides a Brasília, que diz:
“Em Brasília tudo está traçado dentro da numerologia do tarot egipício e da cabala hebraica. O número quatro representa a estabilidade, uma casa tem quatro bases, os quatro pontos cardeais; os poderes constituídos do Brasil não poderiam deixar de estar dentro desta estabilidade. (...) A catedral é sustentada por 16 colunas. Dezesseis é o número do templo. A catedral é feita dentro da simbologia antiga, expressa em todas as cartelas. A catedral é sustentada por 16 colunas, assim como o Palácio da Alvorada. O número 16 na cabala hebraica como no tarot egipício é o número do templo. Brasília é a única cidade do mundo onde a Igreja Católica está ao lado de um templo protestante, de um centro espírita, de uma ordem maçônica ou mesmo de um budista. (Kern, 1991).
Cumpre dizer que o referido trabalho não revela grande erudição. É um trabalho de uma adepta do gnosticismo. No entanto, suas análises não deixam de suscitar algumas indagações.
Há quem diga também que no próprio altar da catedral há um simbolismo obsceno da deusa Astarté: um ovário cheio de espermatozóide!
Existe, porém, um trabalho de grande erudição e confiabilidade do embaixador J.O. Meira Penna, A catedral de Brasília. Meditações sobre a psicologia de uma forma simbólica, publicado pela revista Humboldt em 1964. O autor se estende longamente em considerações sobre estilos arquitetônicos sacros, com informações interessantíssimas sobre o barroco, e conclui, ainda que com ressalvas, que a catedral de Brasília apresenta elementos que a filiam à mandala de Jacob Boehme. Diz Meira Penna:
“Constitui certamente um paradoxo, e talvez mesmo uma audácia injustificável, atribuir, como aqui alvitramos, qualquer sentido simbólico à criação de um artista do século XX que se declara, além do mais, em posição ideológica incompatível com a Igreja cuja casa construiu. (....) Mas no entanto, quem sabe? Os caminhos da Providência são misteriosos e inacessíveis à nossa compreensão.”
Eu diria: mais inacessível à nossa compreensão é o mistério da iniqüidade. Como entender que a hierarquia católica tenha podido consagrar tal edifício ao culto divino da religião verdadeira que oferece o único sacrifício agradável a Deus?
A consagração de uma igreja católica supõe sua prévia dedicação. Quer dizer, primeiro os fiéis católicos, com grande esforço e generosidade, empenham-se em angariar os fundos necessários para edificar um edifício dedicado ao culto divino. Subjetivamente, o templo assim já está consagrado. Depois a autoridade religiosa competente o consagra oficializando sua destinação ao serviço religioso. Isso já ocorria entre os romanos, como bem o explica Josef Pieper em seu belo livro La fé ante el reto contemporâneo (Madrid, 1980).
Ora, a catedral de Brasília, assim consta, desde seu projeto original estava destinada a ser oficialmente um templo ecumênico, genuína expressão da apostasia dos tempos modernos, na capital de uma república laica e maçônica. JK era um político matreiro, uma raposa do velho PSD mineiro que sabia quão importante era naqueles tempos ter relações amistosas com a hierarquia católica. Frei Cristóvão me dizia que uma vez Juscelino declarou: “Com os bispos não se deve jamais brigar, mas sempre ajudá-los.” Há cinqüenta anos a influência da Igreja era muito maior que hoje. A Liga Eleitoral Católica era temida pelos políticos, podia decidir o resultado das eleições.
Pois bem, foi em clima de “entendimento político fisiológico”, sem que houvesse no fundo, da parte do Estado, uma convicção religiosa ou um ideal de construir uma catedral católica atendendo ao anseio da maioria da população brasileira e em conformidade com nossa formação histórica, que se fez esse prédio monstruoso hoje conhecido como Catedral de Brasília. Um templo consagrado sem antes ser dedicado. É válida tal consagração? Não a contesto. Mas digo que lhe falta nobreza, aquela nobreza que vem de uma fé pura expressa antes pela dedicação. Ouso dizer que essa catedral tem uma consagração bastarda.
Hoje, sob o pontificado de Bento XVI, parece que vivemos um momento oportuno de construir uma catedral católica digna das lídimas tradições católicas do Brasil. Na própria Basílica de São Pedro em Roma nota-se a preocupação de reparar a destruição iconoclástica da reforma litúrgica. Aquela mesa medonha, colocada nos anos setenta diante do altar da cátedra (barbaramente removido a marretadas), foi retirada. Em seu lugar foi instalado algo mais em harmonia com a dignidade da basílica. Por que os católicos de Brasília não imitam o gesto do papa?
Fonte: http://www.santamariadasvitorias.com.br/documentos/catedral_brasilia.doc
RESPOSTA
Muito prezado e reverendo Padre João Batista,
Salve Maria,
Meus parabéns por seu corajoso artigo. Que Nossa Senhora o cubra de bênçãos pelas verdades que o senhor escreveu.
Com toda admiração
In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli