História

A Igreja e a colonização da América Latina
PERGUNTA
Nome:
Etimar
Enviada em:
29/12/2003
Local:
Tatuí - SP,
Religião:
Católica
Idade:
25 anos
Escolaridade:
Superior concluído

Salve Maria Sr. Orlando Fideli, conheci este site há alguns dias e fiquei maravilhado com toda esta riqueza de informações sobre nossa Santa Igreja Católica Apostólica e Romana. Parabéns a esse lindo trabalho que DEUS o abençoe.

Agora vamos a uma questão que há algum tempo me atormenta: Já vi em alguns programas de entrevista na tv que um dos motivos, não o principal, para a pobreza na América Latina é por ela ter sido colonizada por católicos, pois os Jesuítas não permitiam dar educação ao povo, senão através deles próprios e como eles não em número suficiente apenas a elite era educada, gerando assim uma massa ignorante. E enquanto isso os EUA e o Canadá eram colonizados por protestantes que incentivavam a criação de escolas e procuravam fazer seu novo país crescer.

Gostaria de saber o que o Sr. tem a dizer sobre isto???

A paz de DEUS e salve Maria!
RESPOSTA
Muito prezado Etimar,
Salve Maria!

Muito obrigado por suas palavras elogiosas a nosso site Montfort.

O argumento contra a colonização católica e a favor da colonização protestante é ridículo. Se a colonização protestante fosse causa de riqueza, todo país colonizado por hereges protestantes seria rico. Ex: a Guiana Inglesa e a Guiana holandesa países bem miseráveis. Poderia citar ainda inúmeros países africanos protestantizados e paupérrimos. Ou ainda a Índia, onde os ingleses ficaram 250 anos explorando e produzindo um dos países mais miseráveis do mundo.

Quanto à educação, a primeira universidade da América foi a de São Marcos, em Lima, no Peru.

Repare ainda, meu caro Etimar, que nos países católicos havia Missões, enquanto nos países colonizados pelo protestantes ingleses, como nos Estados unidos, jamais houve Missões com os pele vermelhas, que foram exterminados.

Podemos responder ao argumento da riqueza protestante da seguinte forma:

a. A posição de Max Weber sobre a origem protestante e calvinista do capitalismo fundamenta-se no fato de que, para o calvinismo, a riqueza é uma bem-aventurança e um sinal de predestinação. Essa crença teria levado os calvinistas a procurarem o sucesso comercial e influenciado a gênese do capitalismo.

Embora seja uma posição tremendamente simplista, há algo de verdadeiro nisso.

Ainda que se admitisse ser essa tese totalmente verdadeira, ela mostra apenas como para o calvinista a caridade é inútil, pois os pobres, além da miséria desta vida, já são predestinados ao inferno. Isso está bem de acordo com a mentalidade capitalista bruta, de só valorizar o lucro comercial.

b. Quanto ao resultado histórico desse processo, o argumento é grosseiramente falso: o Brasil no período colonial era muito mais rico que os EUA. A França era a nação mais rica do mundo. Os países de forte influência colonial católica são todos hoje, senão ricos, pelo menos culturalmente avançados (Brasil, Argentina, México, Filipinas, etc.) enquanto muitos países de colonização protestante continuam na semi-barbárie (Nigéria, Botswana, Ruanda, etc.). Tome-se como exemplo a comparação entre o Equador e a Guiana Holandesa.

c. Em alguns dos países protestantes que se tornaram ricos, é preciso não desconsiderar um fato importante: a grande riqueza desses países pode ser explicada também pelo fato de que os grandes banqueiros do mundo nos séculos XVI e XVII eram judeus, e seus bancos se situavam em Londres e Amsterdam. Nesses casos, a riqueza dos protestantes não é propriamente protestante, e sim judaica

d. De qualquer forma, ainda que se admitisse que o argumento da protestante fosse verdadeiro, o que ele provaria? Que o protestantismo é uma forma melhor de produzir dinheiro que o Catolicismo. Mas é esse o objetivo da religião? Esse espírito está de acordo com o Evangelho?

e. Finalmente, indico-lhe uma referência bibliográfica: o Pe. Leonel Franca trata largamente do assunto, dando bons argumentos, em sua obra A Igreja, a Reforma e a Civilização, no capítulo "A grandeza econômica e política das nações".

In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli