História

Inquisição e tortura
PERGUNTA
Nome:
Guilherme
Enviada em:
06/08/2000
Local:
São Paulo - SP, Brasil

 

Olá professor, aqui estou eu de novo para lhe perguntar mais coisas sobre o catolicismo. Dessa vez a minha dúvida é sobre a chamada Santa Inquisição. Comecei a pensar nisso depois que li na Folha de SP (se não me engano, do domingo passado) algo sobre a Inquisição no caderno "Opinião". Entre várias coisas que ele fala, destaco a parte em que ele diz sobre aquela parte da Bíblia em que uma adúltera é levada a Jesus, e Jesus, vendo seu arrependimento, perdoa ela!
Olhe o que li na Barsa sobre a Inquisição: "Mulheres, crianças e escravos eram admitidos como testemunhas de acusação mas não de defesa. Se o processado delatava parentes, amigos e outras pessoas, passava a gozar de regalias. Era crime, para o Santo Ofício, qualquer ofensa à fé ou aos costumes, como judaísmo, heresia protestante, feitiçaria, usura, blasfêmia, bigamia, sodomia etc. Considerava-se crime de judaísmo acender velas ou usar toalhas limpas no começo do sábado, abster-se de comer carne de porco ou peixe e sem escamas e jejuar no dia do Perdão ou da rainha Ester.
Os réus que se DECLARAVAM ARREPENDIDOS sofriam vários tipos de PUNIÇÃO. A mais rigorosa era a condenação às galés, que equivalia à pena de morte, em virtude das condições do trabalho forçado. A prisão perpétua com o tempo deixou de ser aplicada, sendo as pessoas libertadas, em geral, depois de oito anos. Havia o desterro para lugares distantes ou o confinamento numa aldeia por toda a vida."

Agora lhe pergunto: depois que Jesus viu que a mulher estava arrependida, mandou que matassem-na ??!! E outra coisa que estou pensando também. A Inquisição punia os hereges e os que se desviam da ortodoxia católica , não é? Então, hoje em dia, não existem mais hereges e pessoas que se desviam da ortodoxia católica?? Acho que existem sim, hem! Então cadê a Inquisição agora? E, por favor, agora leia só mais esta parte: "Em 1252, no entanto, o papa Inocêncio IV autorizou o USO DA TORTURA quando se duvidasse da veracidade da declaração dos acusados."

Aí lhe pergunto novamente: será que a Igreja realmente é guiada pelo Espírito Santo?? Um papa que autoriza o uso de tortura pode ser um papa guiado pelo Espírito Santo?? Sempre pensei que Jesus tinha sido um homem que pregou o AMOR e o PERDÃO! Acho que neste tempo todo eu estava enganado....

Espero que o senhor tire essas minhas dúvidas, pois não consigo ser católico com esse peso na cabeça. Mas acima de tudo tenho que lhe agradecer por tirar muitas dúvidas, e aguardo resposta.

RESPOSTA


Prezado Guilherme, Salve Maria.

Acabara eu de responder uma carta sua, quando me dei conta desta outra, que me aprece anteriormente enviada.

Sobre a Inquisição, temos publicado no site algumas cartas respondendo às calúnias contra ela.

Se você quiser comprar um livro interessante sobre a Inquisição, adquira a obra "A Inquisição e seu mundo" do Professor da Faculdade de Direito da USP, João Bernardino Gonzaga. O livro é da edição Saraiva e é muito bom.
Lá você verá como os jornais e as enciclopédias vulgares mentem e caluniam a Inquisição e a Igreja.

A tortura era o método normalmente aplicado, infelizmente, por todos os países, por todas as polícias, e permitido por todos os códigos legais até o século passado.
Foi a Igreja a primeira a não aceitar a confissão sob tortura como prova de culpa.
Na Inquisição -- ao contrário do que se fazia em todas as partes, a tortura só podia ser aplicada uma vez, sem derramamento de sangue, só com a aprovação do Bispo e com a assistência de um médico. Os papas sempre preveniram os inquisidores de que eles eram pastores e não torturadores nem carrascos.
Nas prisões de todos os países, toda pena capital era precedida de torturas punitivas. Por isso os acusados preferiam ser julgados pela inquisição, onde o tratamento era sempre muito menos cruel.

Na Inquisição visava-se a conversão e não a punição do acusado. Por isso, a Inquisição era o único tribunal do mundo que começava dando um prazo de perdão: quem se acusasse de ter agido contra a Fé dentro de um prazo de 15 a 30 dias estava perdoado. O acusado, em qualquer fase do processo, pedindo perdão, estava perdoado.

O livro do Professor João Bernardino Gonzaga menciona muitas outras situações que mostram como a Inquisição era misericordiosa em relação aos outros tribunais da época, e como ela foi caluniada.
Por exemplo, o condenado à prisão podia sair para cuidar dos pais ou parentes doentes. Permitia-se mesmo ao condenado tirar ... FÉRIAS !!! da prisão em que estava, gozando de um período de liberdade.
Eu teria que lhe escrever um livro para desmentir todas as calúnias que se inventaram sobre a Inquisição.

A Inquisição da Igreja, diferentemente da Inquisição Espanhola, do Estado, não existia para os judeus, muçulmanos ou não cristãos.
Ela só julgava quem fosse católico e tivesse traído a Fé.
Há textos de historiadores judeus que confirmam isso. George Sokolsky, editor judeu de Nova York, em artigo intitulado "Nós Judeus", escreveu:
"A tarefa da Inquisição não era perseguir judeus, mas limpar a Igreja de todo traço de heresia ou qualquer coisa não ortodoxa. A Inquisição não estava preocupada com os infiéis fora da Santa Igreja, mas com aqueles heréticos que estavam dentro dela (Nova York, 1935, pg. 53).

O Dr. Cecil Roth, especialista inglês em História do Judaísmo, declarou num Forum sionista em Bufalo, (USA):
"Apenas em Roma existe uma colonia de judeus que continuou a sua existência desde bem antes da era cristã, isto porque, de todas as dinastias da Europa, o Papado não apenas recusou-se a perseguir os judeus de Roma e da Itália, mas também durante todos os períodos, os Papas sempre foram protetores dos judeus.
(...) A verdade é que os Papas e a Igreja Católica, desde os primeiros tempos da Santa Igreja, nunca foram responsáveis por perseguições físicas aos judeus, e entre todas as capitais do mundo, Roma é o único lugar isento de ter sido cenário para a tragédia judaica. E, por isso, nós judeus, deveríamos ter gratidão " (25 de Fev de 1927).

Você me pergunta se Cristo era a favor da pena de morte, ao citar o caso da adúltera.
Repare que Jesus não disse que não se devia puní-la. Disse o contrário: que aquele que não tivesse pecado ATIRASSE a primeira pedra. Deste modo, Jesus confirmou a lei mosaica. O que Ele condenou foi alguém desejar, individualmente, ser juiz e executante da pena capital. Mas, quando Pedro cortou a orelha do servo, Cristo disse-lhe: "Pedro, mete a espada na baínha, porque quem com o ferro fere com o ferro será ferido". (Cfr. Mt XXVI, 52 citando Números, XXXV, 16)
Repare que Jesus não mandou Pedro jogar fora a espada. Mandou guardá-la, para que Pedro, quando fosse seu representante na Terra, a usasse contra quem ferisse ou matasse outro com a espada.
Por isso, no Apocalipse, se diz expressamente "QUEM MATAR À ESPADA, IMPORTA QUE SEJA MORTO À ESPADA" (Apoc. XIII, 10).
E quando Pilatos julgava a Cristo, disse:
"Não me respondes? Não sabes que tenho poder de te perdoar ou de te condenar [à morte]?
Ao que Cristo lhe respondeu:
"Tu não terias esse poder, se não te fosse dado pelo alto" (Jo. XIX, 10).
Logo, Pilatos tinha o poder de condenar à morte, porque lhe fora dado por Deus.

Cristo pregou sim o amor e o perdão.
Só que o perdão só pode ser dado se a pessoa pedí-lo.
Se teu irmão te ofender setenta vezes sete vezes e pedir-te perdão, deves perdoá-lo setenta vezes sete vezes".

E o amor consite em desejar o céu para os outros, e não em não castigar os outros. Se uma mãe castiga um filho para corrigi-lo, ela o está amando.
Leia no site a explicação que dei para um leitor sobre o amor e o ódio.

Não, você não estava enganado em crer na santidade da Igreja Católica. Ela sempre foi santa. Por isso sempre foi e é odiada. Como Cristo.
Quando todos gritaram para libertar Barrabás e para crucificar Cristo, poucos ficaram fiéis a Nosso Senhor.
Hoje também, todos gritam calúnias contra a Igreja Católica, a única Igreja de Deus. Nunca apoie os gritos e calúnias contra ela, mas, pelo contrário, repita sempre alto e bom som: "Creio na Igreja, Una SANTA, Católica e Apostólica e Romana".

Peço a Deus que lhe conceda sempre a Fé perfeita,
In Corde Jesu semper,
Orlando Fedeli.