Filosofia
Dúvida de um trecho de um livro de Miguel Reale
PERGUNTA
No livro de Miguel Reale - Introdução à Filosofia - o autor propõe-nos na página 24, em sua última edição, o seguinte texto:
"... a Ontognoseologia desenvolve e integra em si duas ordens de pesquisas: uma sobre as condições subjetivas e a outra sobre as condições objetivas do conhecimento. Mais tarde ver-se-á que a Ontognoseologia, após essa apreciação de caráter estático, culmina em uma correlação dinâmica entre sujeito e objeto, como fatores que se exigem reciprocamente segundo um processo dialético de implicação de implicação e polaridade."
Pergunto:
1- O que o sr. entende por tal texto?
2- No que este texto se relaciona com a Fé Católica?
3- Desculpe a ignorância em matéria filosófica, mas o processo dialético citado no texto poderia se referir a dialética hegeliana? (ignorante quase-total no assunto)
4- Qual sua posição sobre o autor Miguel Reale?
Obrigado e no aguardo
Vinícius.
RESPOSTA
Muito prezado Vinicius,
Salve Maria.
O texto que você me cita é bastante obscuro. Parece ser um texto de tom “universitário” e metafísico, usando uma terminologia rebuscada e até raiando pelo pedante.
Em termos mais simples, ele afirma que a ciência do ser [a Ontologia] e a ciência do Conhecimento [a Gnoseologia] buscam estudar o conhecimento objetivo enquanto tal, e o conhecimento subjetivo, em cada sujeito conhecedor. E o que dá um certo ar de pedantismo vem da fusão dos termos Onto[ser] Gnose [conhecimento] gerando o termo Ontognoseologia que ostenta ares de altíssima erudição, como se julga que é próprio do estilo universitário.
O pior vem depois quando o autor diz:
“após essa apreciação de caráter estático, culmina em uma correlação dinâmica entre sujeito e objeto, como fatores que se exigem reciprocamente segundo um processo dialético de implicação de implicação e polaridade”.
E essa afirmação merece reparos doutrinários graves.
Que significa a correlação dinâmica entre sujeito e objeto?
Por que sujeito e objeto se “exigem” um ao outro num “processo dialético?
Isso significaria uma identificação ontognoseológica entre sujeito e objeto?
Aplicando isso a um Eu (sujeito conhecedor) e um tu (objeto do conhecimento) teríamos a doutrina gnóstica romântica de identificação dialética entre o eu e o tu. O que cheira à kabbala de Martin Buber.
E se o Eu se identifica dialeticamente ao tu conhecido com implicação da polaridade, quando o eu é um homem e o tu é a divindade parece que se cai claramente em Gnose.
Esse texto abstruse que você me envia, descascando-o, parece ter o caroço da Gnose romântica.
In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli