Filosofia
Um Cardeal Modernista: Walter Kasper
PERGUNTA
Vocês são corajosos. Leram o livro de Kasper? Simplesmente reproduzem uma acusação, correndo o risco de calúnia? E a calúnia contra a fé de alguém é das mais graves.
Atônito e aguardando transcrição das páginas incriminadas.
Xisto
Igreja e Religião
(20/06/2001) Cardeal Kasper nega que Jesus é Filho de Deus
A obra mais conhecida do teólogo alemão é o livro "Jesus Cristo", publicado na França pelas Edições Cerf.
Eis uma amostra da fé do novo cardeal: Sobre os milagres: «É necessário que qualifiquemos como imaginárias muitas histórias de milagres contidos no Evangelho», e negar tranqüilamente toda a realidade objetiva dos milagres da «tempestade acalmada», da «Transfiguração», do «andar sobre o lago», da «multiplicação dos pães», da «pesca milagrosa», da «ressurreição da filha de Jairo», de «Lázaro», etc.
( cf. p. 129-130).
Jesus não é Filho de Deus: esta concepção «comporta um último vestígio do pensamento mítico mal esclarecido ». Segundo os Sinóticos, «Jesus nunca se designa como Filho de Deus» (N.B. isto é falso, cf. Mt 16, 16).
Quanto à Ressurreição: «É preciso reconhecer que nós não temos, aqui, fatos históricos, mas processos de estilo». E ele nega explicitamente a realidade das aparições de Jesus ressuscitado (p. 212)A ressurreição ao terceiro dia?
Duvidoso, «uma opinião teológica rabínica» (p.219).
E ele semeia a dúvida sobre a maternidade virginal da Santíssima Virgem ( nota 69, p. 381).
O cardeal Kasper foi encarregado para cuidar do diálogo interreligioso logo após o Consistório de 21 de fevereiro último.
Sem dúvida, ele não será incomodado pelas certezas da fé! (D.I.C.I.)
Comentário: Monsenhor Kasper foi nomeado cardeal da Santa Romana Igreja, em fevereiro último!....
RESPOSTA
Muito prezado seu Xisto, Salve Maria!
Agradeço-lhe o seu desafio. Ele me dá a oportunidade de demonstrar qual é realmente o pensamento do Cardeal Kasper.
Por hoje, limitar-me-ei a transcrever algumas páginas dele, para atender o seu pedido-desafio tão oportuno. Farei, é claro, alguns comentários. Posteriormente, farei um trabalho criticando mais a fundo esse teólogo Modernista, que, infelizmente, é hoje Cardeal.
O senhor verá, pelos textos dele, que fica realmente atônito quem lê as teses heréticas do livro "Jésus le Christ, Éditions du Cerf, Paris, 1976.
Aí vão alguns textos como "aperitivo"... pois lhe prometo muitos outros.
Sente-se, porque é agora é que haverá motivo para ficar de fato atônito, seu Xisto.
Em primeiro lugar, é preciso destacar que o hoje Cardeal Walter Kasper considera que os Evangelhos não são livros históricos.
Leia o que ele escreveu: "Os evangelhos não são testemunhos históricos no sentido moderno dessa palavra, mesmo se no detalhe eles contém um abundante material histórico autêntico; na realidade, eles são testemunhos da fé. É o Credo cristológico da Igreja primitiva que nós recebemos nos escritos do Novo Testamento. Jesus de Nazareth não nos é pois acessível senão por intermédio da fé das primeiras comunidades cristãs" (Walter Kasper, Jésus le Christ, Éditions du Cerf, 1976, p.33-34. A edição original é Matthias-Grünewald Verlag, mayence, 1974).
[Dou-lhe também o mesmo texto em francês, porque, provavelmente, o senhor me julga tão desonesto que poderia falsificar a tradução do livro de Kasper: "Les évangiles ne sont pas des témoignages historiques au sens moderne de ce mot, même si dans le détail ils contiennent un abondant matériel historique authentique; ils sont en réalité des témoiganges de foi. C"est le Credo christologique de l "Église primitive que nous rencontrons dans les écrits du Nouveau Testament. Jésus de Nazareth ne nous est donc accessible que par l"intermédiaire de la foi des premières communautés chrétiennes"].
Está contente, desconfiado seu Xisto?
Desse texto se deduzem as seguintes teses de Kasper:
Primeira tese de Kasper: os Evangelhos não são livros históricos no sentido moderno do termo histórico.
Segunda tese: os evangelhos contém apenas a fé das comunidades cristãs primitivas, e não propriamente fatos históricos.
Deduzi honestamente, meu caro seu Xisto?
Como, em geral, no Brasil, poucos conhecem a doutrina católica e a História da Igreja, permita-me lembrar que essas teses de Kasper são próprias da heresia Modenista, e que foram condenadas pela Igreja. Elas foram defendidas por Alfred Loisy em seu livro LÉvangile et l"Église, condenado por São Pio X.
O senhor continua atônito?
Pois ficará mais atônito ainda com os parágrafos seguintes.
A distinção entre um Cristo histórico e um Cristo da fé foi condenada por São Pio X, no decreto Lamentabili - que continua em vigor - e na encíclica Pascendi, que condenou as heresias do Modernismo.
"Erro 29 -- É lícito conceder que o Cristo que apresenta a história é muito inferior ao Cristo que é o objeto da Fé".(São Pio X, Decreto Lamentabili, 1907, Denzinger, 2046).
Está aí provadinho: o Cardeal Walter Kasper defende o princípio modernista de Loisy, condenado por S. Pio X.
E deste erro fundamental advirão todos os demais erros modernistas de Kasper.
Para que lhe fique bem claro que não estou inventando nada -- e nem caluniando ninguém -- dou-lhe o texto da encíclica Pascendi do mesmo S. Pio X, condenando a distinção entre o Jesus histórico e o Cristo da Fé.
"Na pessoa de Cristo, dizem [os modernistas], a ciência e a história não acham mais do que um homem. Portanto, em virtude do primeiro cânon deduzido do agnosticismo, da história dessa pessoa se deve riscar tudo o que sabe de divino. Ainda mais, por força do segundo cânon, a pessoa histórica de Jesus Cristo foi transfigurado pela fé; logo, convém despojá-la de tudo o que a eleva acima das condições históricas. Finalmente, a mesma foi desfigurada pela fé, em virtude do terceiro cânon; logo, se devem remover dela as falas, as ações, tudo enfim que não corresponde ao seu caráter, condição e educação, lugar e tempo em que viveu" (Pio X, Encíclica Pascendi, 1907, Denzinger, 2.076).
Que tal seu Xisto?
O Cardeal Kasper já caiu sob a condenação do Decreto Lamentabili e da encíclica Pascendi, como modernista.
Continua apenas atônito? Ou também com raiva?
Espero que em vez dessas paixões e sentimentos, tenha brilhado em sua alma um lampejo de compreensão.
Se o Jesus Cristo apresentado pelos Evangelhos é distinto do Jesus Cristo da fé, todos os fatos e doutrinas ensinadas por Ele se tornam contestáveis. Daí a negação dos milagres dEle.
E como ficariam então os grandes milagres referentes ao próprio Cristo, como a concepção virginal de Nossa Senhora e a Ressurreição?
É claro que, se os Evangelhos não são documentos históricos, tudo isso fica sem base. E Kasper ou vai colocar esses fatos em dúvida, ou vai negá-los.
É o que veremos.
Qual a razão do interesse em distinguir o Jesus da História do Cristo da Fé?
Kasper vai confessar qual era esse interesse, por parte de alguns, de modo claro a ponto de deixar atônito quem o lê: "O domínio mais importante da teologia bíblica moderna é a pesquisa sobre a vida de Jesus. A . Schweitzer, seu grande historiógrafo, a chama "a maior façanha da teologia alemã". Ela representa "o que a reflexão religiosa jamais ousou ou realizou de mais poderoso". Entretanto ela não partiu "de um interesse puramente histórico, mas ela procura o Jesus da história como uma ajuda na luta para se libertar do dogma" (Schweitzer, Geschichte der leben- Jesu- Forschung, Tubingen, 1913, 4). Provando que que o Jesus da história era um outro que o Cristo da fé eclesial, que ele não reivindicava para ele nenhuma autoridade divina, queria-se ver desmoronar a pretensa autoridade da Igreja" (W. Kasper, op. cit. p. 37. O negrito é meu).
Está a confissão: a teologia moderna -- ele deveria ter dito modernista e não simplesmente moderna -- "procura o Jesus da história como uma ajuda na luta para se libertar do dogma". É para destruir a Fé que se procurou e se procura uma contradição e não só uma distinção entre o Jesus da História e o Jesus da Fé.
É para ficar atônito, não, seu Xisto?
[E não vou, a partir de agora, dar os textos de Kasper em francês, porque já seria conceder demais à sua desconfiança de minha honestidade].
E note que Kasper diz mais: "Provando que que o Jesus da história era um outro que o Cristo da fé eclesial, que ele não reivindicava para ele nenhuma autoridade divina, queria-se ver desmoronar a pretensa autoridade da Igreja".
Eis aí um teólogo que ousou escrever que distinguindo o Jesus da História do Jesus da Fé -- tal como ele mesmo confessa fazê-lo -- o que queria fazer a teologia modernista era "ver desmoronar a pretensa autoridade da Igreja".
Ele cita esse intuito criminoso sem condená-lo. E, pior ainda, ele mesmo aceita, como vimos, a distinção entre o Jesus histórico e o Jesus da Fé, tese que já fora condenada por São Pio X como modernista.
E esse homem foi feito Cardeal, em fevereiro deste ano, numa "segunda época", por imposição do Episcopado alemão, sob ameaça de cisma, porque João Paulo II não o nomeara na primeira leva!
E Kasper cita ainda outro "escriba" da "Teologia moderna" dizendo: "R. Augstein recentemente formulou assim essa intenção: "Deve ser demonstrado com que direito as Igrejas cristãs se referem a um Jesus que não existiu, a ensinamentos que ele não deu, a um poder que ele não conferiu, e a uma filiação divina que ele mesmo não teve como possível e que ele não reclamou" (R. Augstein, Jesus Menschensohn, Gütersloh, 1972, 7.Apud W. Kasper, op. cit., p. 37).
Kasper cita tais frases sem condená-las, sem criticá-las mais a fundo, ou mesmo superficialmente. Pior: vai admitir muito, ou quase tudo, do que esses teólogos modernistas alemães -- esses novos escribas inimigos de Cristo -- afirmam com descaramento.
Estou ATÔNITO, seu Xisto. Estou ATÔNITO!!!
O senhor não está pelo menos simplesmente atônito -- mesmo que só com letras minúsculas -- agora, meu caro seu Xisto?
Kasper vai dizer que esse dualismo entre o Jesus histórico e o Jesus da fé produz duas maneiras de chegar a Cristo: pela razão, ou por uma atitude interior, espiritual.
É a velha dicotomia entre racionalistas panteístas e gnósticos irracionalistas.
Veja o que escreveu o Cardeal que o senhor admira: "Este dualismo de métodos repercutiu também sobre a teologia, e lá, com a distinção entre o Jesus histórico e o Cristo da fé, conduziu a um duplo acesso a Jesus: um histórico e crítico, racional, e o outro interior, mais elevado, intelectual e espiritual, pessoal e existencial, crente. Este dualismo é o destino espiritual no qual nós estamos colocados". (W. Kasper, op. cit., p. 40).
Ao expor a posição da Leben Jesu Forschung (Pesquisa sobre a Vida de Jesus) Kasper afirma que, hoje, ela é tida como uma escola que fracassou.
A primeira causa desse fracasso teria sido porque -- diz Kasper -- "A .Schweitzer provou, em sua História da Pesquisa sobre a vida de Jesus, que o que havia sido dado como Jesus histórico não era nada mais do que o reflexo das idéias dos autores particulares" (W. Kasper, op. cit., p. 40).
E mais: "Mas, afinal, era forçoso reconhecer: "O Jesus de Nazareth que apareceu como Messias, que pregou a moral do reino de Deus, fundou o reino dos céus sobre a terra e morreu para dar a consagração de suas obras, jamais existiu. É um personagem que foi esboçado pelo racionalismo, reanimado pelo liberalismo, e vestido com uma vestimenta histórica pela teologia moderna" (A. Schweitzer, Geschichte..., 631, citado por W. Kasper, op. cit., p. 42. O negrito é meu).
E Kasper cita tudo isso, sem crítica.
A seguir, Kasper trata da posição da Formgeschichte moderna, dizendo: "esta última mostrou que os Evangelhos não são fontes históricas no sentido moderno da palavra, mas que eles apresentam testemunhos da fé das comunidades" (W. Kasper, op. cit., p. 42).
Trata ele, depois, da posição da renovação da Cristologia dogmática de K. Adam, K. Barth, e Bultmann, e finalmente chega aos nossos dias, falando da Cristologia de Käsemann, Hans Kung, e outros que defendem a tese de que os Evangelhos teriam mitificado a História de Jesus, e historicizado o mito. (W. Kasper, op. cit.p.45).
Como se vê, esses vários posicionamentos dos teólogos modernistas alemães, variando em filigranas, são constantes na tese central modernista: os Evangelhos não são livros históricos. O Jesus que viveu realmente em Nazaré é diferente daquele em que se acredita na Igreja.
Tudo isso cita Kasper, sem críticas maiores, como se fossem posições aceitáveis, e aceitando essa tese central do Modernismo.
Kasper mostra que, hoje, "se quer solucionar a questão do Jesus histórico passando não pelo kérygma, mas pelo intermediário do mensageiro cristão primitivo. É impossível, segundo Käsemann, fazer uma separação radical entre a interpretação e a tradição. Não se trata, pois, de um retorno para trás do kérygma, ou mesmo de uma redução do evangelho ao Jesus histórico. Essa tentativa racionalista se verificou ser ilusória. A ciência histórica, portanto, não pode servir também à legitimação do kérygma. A história serve entretanto como critério do kérygma e da fé. Não se trata de fundamentar a fé historicamente. Trata-se de separar de modo crítico a verdadeira mensagem da falsa mensagem"( Käsemann citado por Kasper, op. cit., p. 46).
A nova solução da Cristologia "compreende o Jesus histórico à luz da fé da Igreja e interpreta reciprocamente a fé da Igreja a partir de Jesus. O dogma cristológico e a crítica histórica parecem estar de novo reconciliados". (W. Kasper, op. cit.,p. 47).
O primeiro pressuposto filosófico dessa nova "solução" cristológica seria, conforme Kasper, que "a história a que se refere o kérygma do próprio Novo Testamento, o Jesus terrestre como ele era realmente em carne e osso, é uma coisa; o Jesus histórico que nós deduzimos do kérygma por meio de um processo complicado de subtração, com a ajuda de nossos métodos históricos modernos, é uma outra coisa" (W. Kasper, op. cit., p. 47).
Um segundo pressuposto, de ordem teológica, depende deste primeiro pressuposto filósofico que citamos acima. "Pressupõe-se que a realidade do Jesus é a realidade do Jesus terrestre ou mesmo do Jesus histórico" (op. cit., p. 47).
Isso coloca o problema da ressurreição, e leva a distinguir o Jesus terrestre e o Jesus exaltado ou ressuscitado. Diz Kasper: "apesar disso é impossível fazer do Jesus histórico o objeto total e único determinante da fé em Cristo" (W. Kasper, Op. cit. p. 48).
Daí se partir para uma Cristologia de dois graus: uma, a do Jesus terrestre ou da carne; outra, a do Jesus do espírito" (Op. cit., p. 48).
Como conclusão Kasper diz que: 10 -- "o ponto de partida e a posição do problema cristológico: a confissão eclesial constitui o ponto de partida".
20 -- Objeto central da Cristologia que se compreende como a interpretação da confissão "Jesus é o Cristo" é a Cruz e a Ressurreição de Jesus.
30 -- "O problema fundamental de uma cristologia que tem seu centro na Cruz e a Ressurreição consiste no comportamento da cristologia ascendente e de exaltação que aí se formula face à cristologia descendente que se exprime pela idéia de encarnação" (W. Kasper, Op. cit., p. 52).
Eis, em síntese, o que apresenta o capítulo do livro de Walter Kasper sobre A questão histórica de Jesus Cristo (pp. 31 -52).
Nesse capítulo, Kasper faz o resumo das várias Cristologias a partir do Romantismo. Curioso é que Kasper se cuida bem de citar a posição de Loisy, porque este foi o único a ser condenado por defender a distinção entre o Jesus histórico e o Jesus da fé, distinção que Kasper acaba por aceitar.
(Haveria muito mais a dizer sobre os fundamentos doutrinários modernistas e românticos do Cardeal Kasper, mas deixarei isso para outra ocasião, ao elaborar um trabalho maior sobre o livro dele. Hoje, é só uma carta que lhe escrevo).
Dessa distinção herética entre o Jesus histórico, o Jesus real e o Cristo da Fé, decorre a negação dos milagres de Cristo, assumida pelo cardeal Kasper.
Os Milagres de Cristo segundo o Cardeal Kasper. Kasper trata desse problema num capítulo de seu livro Jésus le Christ (ed. cit . pp. 127 - 145).
E diz: "O exame histórico e crítico da tradição dos milagres conduz inicialmente a um tríplice resultado: 1- A crítica literária constata a tendência de reforçar os milagres e a multiplicá-los".
E como exemplo desso duplo exagero literário nos Evangelhos, Kasper cita os milagres referentes à filha de Jairo, curas de cegos, a multiplicação dos pães. E conclui Kasper: "Esta tendência ao desenvolvimento, à multiplicação e ao reforço que se constata existir nos Evangelhos deve, bem entendido, deve ser suposto também para o período que precedeu à composição dos Evangelhos. Assim, a matéria dos relatos dos milagres diminui muito sensivelmente" (W. Kasper. Op. cit. pp. 128-129).
Entendeu bem seu Xisto?
Os Evangelhos, segundo Kasper, exageram, multiplicaram fatos. Os Eavangelhos não dizem a verdade sobre o que Cristo realmente fez.
O sr. não está atônito, seu Xisto?
Pois eu estou atônito, seu Xisto. ATÔNITO!!!
E fico também atônito pelo fato de que o sr, seu Xisto, não fica atônito a não ser comigo, pelo que eu digo, e fica frio e compreensivo com o que escreveu Kasper. Porque é certo que o sr. leu Kasper.
Como o sr., seu Xisto, não ficou atônito com ele?
O que é preciso para deixá-lo atônito?
Só a crítica a um Cardeal? E não a crítica de um Cardeal aos Evangelhos?
Mas se os Evangelhos não são históricos, seu Xisto, o título de Cardeal também não vale nada, pois toda a Igreja estaria baseada numa mentira histórica.
Mas prossegue o cardeal Kasper: "2 - Uma segunda redução [dos Evangelhos] resulta da comparação com as histórias de milagres rabínicos e helenísticos. Os relatos de milagres do Novo Testamento são construídos por analogia e com a ajuda de motivos que conhecemos também pelo resto da antiguidade. Há também histórias de milagres rabínicos e helenísticos concernentes a curas, expulsões de demônios, ressurreições, tempestades acalmadas, etc. Encontram-se numerosos paralelos entre o contemporâneo de Jesus, Apolônio de Tyana. Muitas curas são principalmente atestadas também no santuário de Asclépios, no Epidauro".(...)".
Daí, concluir o texto de Kasper, nesse ponto: "Mas em face dos paralelos dos quais não se pode negar a existência, é difícil pensar recusar todos os relatos de milagres judaicos e helenísticos vendo neles simples falsificações da História e aceitar, ao contrário, sem discernimento como históricos os relatos do Novo Testamento" (W. Kasper, op. cit., p. 129).
Portanto, para Kasper, os Evangelhos têm os mesmo valor histórico que os relatos rabínicos ou pagãos. A palavra de Cristo, para ele, vale tanto quanto a palavra de um rabino.
Se ele estivesse vivo no tempo de Cristo, ele ficaria neutro quando os escribas atacavam Cristo. Ou diria com os rabinos fariseus que o milagre de Cristo podia ter sido realizado com a ajuda do diabo.
Como é piedoso esse Cardeal, não é, seu Xisto?
3 – “Conforme a História das formas [Formengeschichte] muitas histórias de milagres são projeções retrospectivas, experiências pascais na vida terrestre de Jesus, ou representações antecipadas do Cristo glorificado. Por exemplo, o milagre da tempestade acalmada, a cena da transfiguração, o andar sobre as águas, a distribuição dos 4.000 ou 5.000 pães e pesca milagrosa de Pedro são histórias epifânicas desse tipo. Com muito maior razão, histórias como a ressurreição da filha de Jairo, a do jovem de Naim e a de Lázaro, não têm outro fim senão o de mostrar em Jesus o senhor da vida e da morte. Assim os milagres se referindo à natureza são muito especialmente um acréscimo secundário com relaçcão à tradição original". (W. Kasper, op. cit., p. 129-130. O negrito é meu, confirmando o texto citado e negado pelo senhor, seu Xisto. Continua o senhor, atônito?).
Até aqui o relato, sem crítica, feito por Kasper.
Agora -- meu atônito Xisto -- o comentário do novo Cardeal imposto ao Papa:
"Resulta de tudo isso que nos é preciso qualificar como lendárias muitas histórias de milagres contidas nos Evangelhos." (Walter Kasper, op. cit., p. 130).
Que tal? Será esse um comentário digno de um autor que merece ser elevado ao cardinalato?
O senhor se espanta, prezado seu Xisto, que critique eu um Cardeal que ousa criticar o Evangelho?
Criticar só o Evangelho não. Negar o Evangelho (W. Kasper, op. cit. p. 129).
E mais. Se Kasper nega que os milagres foram fatos históricos, ele afirma que apesar de serem como "historinhas" para adormecer criancinhas, essas lendas têm valor "teológico", "kerygmático" e que são"afirmações da Fé": "Provando que certos milagres não podem ser atribuídos ao Jesus terrestre -- [Jesus terrestre...??? Que é isso???] -- não se quer entretanto dizer que que eles não tenham nenhum significado teológico e kerygmático. Esses relatos não históricos são afirmações da fé sobre o significado da salvação da pessoa e da mensagem de Jesus" (W. Kasper, op. cit., p. 130. O itálico é do autor).
Que bom, não seu Xisto: os milagres de Cristo são lendas, mas com valor "kerymático"... E diante de um adjetivo grego -- "kerygmático"-- quantos tolos se deixam embair . E de boca aberta dizem: "Kasper reconhece o valor "kerygmático" das lendas evangélicas. Só o condenam, os que não compreendem o Kérygma".
Mas, dir-me-á o senhor, seu Xisto, tentando provar minha má fé, que, logo em seguida, Kasper escreve: "Seria entretanto falso concluir que desta tese que não há absolutamente nenhum milagre de Jesus que seja historicamente garantido. É o contrário que é verdade. Não há nenhum exegeta sério que não admita uma base de milagres historicamente certos de Jesus" (W. Kasper, op. cit., p. 130. O negrito é meu para salientar o texto pró-Kasper e contra mim. Estou sendo honesto e leal seu Xisto?).
Se Kasper faz essa afirmação reconhecendo que houve, de fato, alguns milagres historicamente comprovados de Cristo, restrigindo e até contradizendo a tese que havia afirmado antes, é preciso -- para continuar a ser leal, explicar algo mais.
Quais são os milagres de Cristo que ele julga realmente, historicamente comprovados? Kasper não os enumera nem cita nenhum. E depois afirma: "Segue-se que, mesmo depois de um exame histórico crítico da tradição dos milagres nos evangelhos, não se pode contestar a presença de um núcleo histórico na tradição dos milagres. Jesus realizou fatos extraordinários que deixavam seus contemporâneos espantados. É preciso contar entre esses fatos a cura de certas doenças e dos sintomas nos quais se via então sinais de possessão. Em compensação é permitido considerar com alguma verossimilhança como não históricos os milagres relacionados com a natureza" (W. Kasper, op. cit., p. 131).
Se na página anterior Kasper admitira que havia alguns fatos milagrosos feitos por Jesus, nesta página seguinte tais milagres são apenas fatos espantosos de cura, ou de eliminação de supostos sinais de possessão. mas os milagres relativos à natureza não seriam verossimilmente históricos.
Lá se foi a restrição à negativa dos milagres... Kasper não acredita mesmo que Cristo tenha feito milagres.
Por isso, logo a seguir ele afirma, junto com os escribas e fariseus hipócritas que atribuíam os milagres de Cristo à ajuda do diabo [prepare-se para ficar atônito ó sr. Xisto atonístico]: "Já durante a vida de Jesus se discutia manifestamente sobre o significado de seus atos de poder. Enquanto alguns os entendiam como sinais da ação de Deus, os adversários de Jesus os interpretavam como ilusões demoníacas, como enganações e charlatanice (cfr. Mc. III, 22-30 par.)." (W. Kasper, op. cit., p. 131).
E Kasper se enfileira então com os adversários de Jesus... Dando valor a seu argumento negador dos milagres de Cristo.
Mas, como era costume dos modernistas, logo Kasper faz uma leve restrição à sua blasfêmia, embora negando de novo os milagres de Jesus: "Hoje, tenta-se "explicar" as curas de febre, de paralisia, de lepra (como se chamavam então certas doenças de pele) de modo "psycógeno", e se propõe portanto compreender os milagres de Jesus como uma "terapêutica de dominação". (Op. cit., p. 131)/ "Psicogenia", terapêutica de dominação, são expressões para negar com palavras e expressões pedantes que Cristo fez de fato milagres.
Que Kasper não crê nos milagres de Cristo fica patente quando se lê a continuação de seu capítulo sobre esse tema.
Kasper cita uma definição de milagre: "Tradicionalmente se compreende o milagre como um acontecimento perceptível que ultrapassa as possibilidadees naturais, causado pela onipotência de Deus transgredindo ou ao menos contornando as causalidades naturais, e que serve assim de confirmação da revelação oral" (op. cit., p. 132).
E depois dessa conceituação tradicional de milagre, Kasper afirma rotundamente: "Olhando essa definição de mais perto se vê entretanto que essa noção de milagre é uma fórmula vazia" (W. Kasper. op. cit., p. 132. O negrito atônito é meu, seu Xisto).
E para provar o “vazio” da noção tradicional de milagre Kasper argumenta que:
"Do ponto de vista teológico -- [modernista, é claro] -- igualmente há lugar para levantar fortes reservas com relação e essa concepção do milagre. Deus não pode jamais ser colocado no lugar de uma causalidade interior ao mundo Se ele estivesse no mesmo plano que as causas interiores ao mundo, ele não seria mais Deus, mas um ídolo.. Se Deus deve permanecer Deus, seus milagres devem também ser concebidos como produzidos por intermédio das causas segundas criadas" (W. Kasper, op. cit., p. 133. O negrito gritantemente atônito é meu, ó carissímo seu Xisto).
E como "teólogo modernista"que dá mais importância à opinião dos teólogos modernos do que à palavra de Deus, à tradição da Igreja e ao texto dos Evangelhos, esse teólogo que é hoje Cardeal diz: "Dificuldades desse gênero conduziram os teólogos -- [os teólogos !!!] --- a abandonar mais ou menos a noção de milagre de inspiração apologética e a se lembrar do sentido original de milagre" (W. Kasper, op. cit., p. 133).
Kasper confessa que, como teólogo, abandonou a noção tradicional de milagre.
Quer mais uma confissão do naturalismo desse cardeal "teólogo" que prefere a argumentação dos escribas à palavra de Cristo e dos Evangelhos, seu Xisto? Pois escute lá: "No plano do método, as ciências partem do princípio do determinismo universal. O que não acontece senão uma vez, o que é particular e extraordinário, é igualmente submetido por princípio a esse postulado. No nível puramente científico não se pode, portanto, detectar nenhum espaço livre para um milagre no sentido de um acontecimento interior ao mundo que não seja causado e que, portanto, não possa, em princípio , ser definido" (...) não é possível descobrir o milagre no excesso de determinação do individual em face do geral" (W.Kasper, Op. cit., p. 135).
"No interior do domínio científico não se pode responder nem de modo positivo, nem de modo negativo à questão do milagre" (W. Kasper, Op. cit., p.136. O itálico é do modernista Kasper).
Concluindo seu estudo do milagre, diz Kasper: "1 - No plano fenomenal pertence ao milagre o aspecto extraordinário que faz sensação e provoca o espanto. Mas, em si, isto é ambíguo e não adquire sua significação clara senão pela pregação que o acompanha e que é aceita na fé".(...) "2 - No plano religioso, explicado pela palavra, pertence ao milagre o fato de que ele tem sua fonte numa iniciativa pessoal de Deus. A particularidade do milagre está, portanto, no nível da interpelação e da reivindicação pessoais de Deus, de uma interpelação e de uma reivindicação cujo poder se manifesta pelo fato que elas tomam corpo sob forma de sinal". "3 - Esta encarnação é sempre realizada historicamente por meio de causas segundas criadas. Uma intervenção pessoal divina, no sentido de uma ação de Deus diretamente visível é um non sense teológico" (W. Kasper, Op. cit., p. 139 O negrito e o sublinhado escandalizados são meus . O itálico é do autor).
É de cair de costas, não é seu Xisto?
Como o senhor não caiu de costas diante dessa afirmação absurda de que o milagre como intervenção de Deus é um non sense teológico?
Non sense é um Bispo escrever tal absurdo.
Estava com vontade de parar, mas encontrei mais uma “pérola” ... podre no livro desse Cardeal: "porque não se pode provar que esses acontecimentos notáveis que fazem colocar questões sejam milagres no sentido teológico, isto é, atos de Deus (...) é porque os milagres não podem jamais ser uma prova evidente para a fé" (W. Kasper, op. cit., p. 142).
A Ressurreição de Jesus segundo o novo Evangelho modernista de Walter Kasper.
Infelizmente, resta tratar da questão da Ressurreição, milagre supremo de Cristo.
É lógico que, negando a historicidade e o fatos do milagre, Kasper deve negar também a Ressurreição de Cristo como fato histórico miraculoso.
Em primeiro lugar, o atual Cardeal Kasper faz notar que os Evangelhos apresentam testemunhos contraditórios sobre a Ressurreição. Ora, onde as testemunhas se contradizem, há mentira.
"As aparições da tradição kerygmática, nas quais Pedro é nomeado em primeiro lugar, e as aparições dos relatos de Páscoa, nas quais os personagens totalmente diferentes inclusive mulheres, desempenham um papel importante, não concordam umas com as outras" (W. Kasper. op. cit., p. 189).
Portanto os relatos das aparições de Cristo ressuscitado, que estão nos Eavangelhos, seriam falsos.
E então Kasper se pergunta: "Estamos nós em presença de relatos históricos, ao menos de relatos contendo um núcleo histórico, ou se trata de lendas que exprimem a fé pascoal sob forma de relatos?" (W Kasper, op. cit., p. 190).
A pergunta já é um escândalo.
Se um ateu a tivesse feito, se protestaria. Como é um cardeal que a faz , se tolera essa aberração.
Kasper analisa o problema deste modo: "1 - "Há discordâncias fundamentais entre os relatos dos quatro evangelistas (...)"
"2 - O relato mais antigo do qual os outros dependem se acha em Marcos XVI, 1-8. (...) Resulta dele que pelo menos em sua forma atual esse texto não tem em sua base um relato histórico. A introdução comporta já uma certa inverossimilhança. O desejo de ungir o corpo de um morto já há três dias, envolto em panos, não se apoia em nenhum costume recebido, e está em oposição com as condições climáticas da Palestina.
"Essas mulheres tendo somente em caminho a idéia de que terão necessidade de uma ajuda para afastar a pedra para chegar assim ao túmulo, essas mulheres manifestam uma despreocupação dificilmente admissível. É-nos preciso pois admitir que não temos aqui traços históricos, mas procedimentos de estilo destinados a despertar a atenção e a produzir um efeito de suspense. Tudo é manifestamente construído de modo muito hábil para conduzir a solução dada pelo anjo: "Ele ressuscitou; Ele não está aqui. Vede o lugar onde o havíeis colocado (Mc. XVI, 6). (...).
"3 - (...) o relato se enriquece cada vez mais de de traços lendários. (...) O ponto que é sublinhado inicialmente não é que o túmulo está vazio: é a Ressurreição que é anunciada e o túmulo é mostrado em seguida como sinal desta fé. Resulta disso que este antigo elemento da tradição não é um relato histórico da descoberta do túmulo vazio, mas um testemunho de fé" (...) "4 - Se verifica o que pode ser verificado, é-se , a meu ver, constrangido a admitir a realidadedo túmulo vazio e de sua rápida descoberta. Muitos indícios são em seu favor, e nenhum indício preciso e decisivo se opõe a isso.; isso é pois provavelmente uma realidade histórica (...)”.
E daí conclui Kasper: "Esta constatação da existência de um núcleo histórico nos relatos concernentes ao túmulo vazio não implica de modo algum uma prova a favor da Ressurreição" (...) "O túmulo vazio não é uma prova para a fé, mas é um sinal" (W. Kasper, op. cit., pp. 191-192. O negrito e o sublinhado são de minha responsabilidade. E a indignação é muito minha, e não de Kasper, e nem sua, seu Xisto. Como você --que leu o livro de Kasper-- não se indignou com essas frases e nem protestou contra elas, mas se indignou contra mim, que as publiquei para atacá-las e para defender a verdade de que Cristo ressuscitou? Ele verdadeiramente ressuscitou!!!).
Para confirmar esse sopro de dúvida kasperiano contra a verdade da Ressurreição de Cristo, o cardeal que citamos diz: "O verdadeiro centro da própria ressurreição nunca foi relatado nem descrito diretamente. Nenhum testemunho neotestamentário pretende ter observado ele mesmo a ressurreição. Este limite vai ser transposto, mais tarde, nos evangelhos apócrifos. Os autores canônicos do Novo Testamento têm consciência da impossibilidade de falar diretamente da Ressurreição como de um fato que se teria podido constatar fisicamente "(W. Kasper, op. cit., p. 194-195) Desse modo Kasper insinua que a Ressurreição não ocorreu porque ninguém a viu.
"Os testemunhos relativos à Ressurreição falam de um acontecimento que transcende o domínio do que pode ser constatado historicamente" (W. Kasper, op. cit., p. 195).
"Páscoa não é um fato que se possa alegar como prova da fé; Páscoa é ela mesma um objetode fé. Não se pode estabelecer historicamente a própria Ressurreição" (W. Kasper, op cit., p. 198 "Karl Barth deu à concepção de Bultmann a fórmula a esse respeito: Jesus ressuscitou no kérygma. Bultman declara sobre isso: "Eu aceito essa frase. Ela é perfeitamente justa sob condição de ser bem entendida. Ela supõe que o kérygma é ele mesmo um acontecimento escatológico; e ela afirma que Jesus está realmente presente no kérygma, que é sua palavra que impressiona o ouvinte no kérygma. Crer em Cristo presente no kérygma é o sentido da fé pascal" (W, Kasper, op. cit., pp. 199-200, citando dois hereges, Barth e Bultmann).
E daí conclui Kasper: "Não se pode apreender como fato histórico senão a fé pascal dos primeiros discípulos" (W. Kasper, op. cit.p. 200).
Noutras palavras, Cristo não teria ressuscitado de fato. Foram os discípulos dele que acreditaram nisso, e anunciaram aquilo em que acreditaram, e não o que aconteceu mesmo.
Para confirmar essa negação, Kasper cita sem pestanejar, sem criticar, como se fosse um oráculo do céu -- ele que duvida dos evangelhos e até os nega -- ele cita o escriba Marxsen: “Essas teses fundamentais indicam por elas mesmas que a Ressurreição de Jesus não pode ser chamada um acontecimento histórico. O que se pode constatar historicamente é apenas... que depois da morte de Jesus pessoas afirmaram que lhes tinha ocorrido um acontecimento que elas designam como a visão de Jesus". (W. Kasper citando Marxsen, op. cit., p. 201. O sublinhado é meu. A heresia é de Marxsen e de Kasper, que a cita sem protestar e para confirmar o que ele mesmo pensa.).
Concluindo seu exame do problema da Ressurreição de Cristo, Walter Kasper afirma:
" 1 - As aparições [de Jesus ressurrecto] não devem ser consideradas como acontecimentos objetivamente captáveis (...) é preciso portanto partir do fato que se tratava de uma visão de fé. Dir-se-ia ainda melhor que era um conhecimento na fé"(...).
"2 - O encontro com o Senhor ressuscitado é apresentado no Novo Testamento como um encontro com Deus e como uma experiência de Deus" (...).
"3 - A experiência da fé pascal dos primeiros discípulos faz aparecer a estrutura fundamental da fé(...) Nós devemos agora sustentar firmemente que se trata de um encontro pessoal com o Cristo. A questão essencial não é a de saber o que aconteceu "objetivamente", mas saber se, como os primeiros cristãos, estamos dispostos a deixar Jesus Cristo se apoderar de nós" (...).
"É nesse sentido, e somente nesse sentido, que se pode dizer: Jesus ressuscitou no kérygma. Ele é uma presença permanente na história graças ao testemunho da Igreja apostólica" (W. Kasper, op. cit., pp. 213-214 O negrito e o sublinhado são meus).
Costuma-se lembrar que até os judeus respeitaram Nossa Senhora, no Calvário. Dever-se-ia esperar pelo menos o mesmo de um Bispo e de um Cardeal. Kasper, porém, se não considera os Evangelhos livros históricos, e se julga que não há milagre, como poderia aceitar a concepção virginal de Cristo por Nossa Senhora?
Logicamente, admitindo esses princípios do ceticismo moderno, Kasper tinha que negar a virgindade de Nossa Senhora, ou pô-la em dúvida.
Eis o que ele diz sobre essa questão: "A concepção por meio do Espírito Santo (do nascimento virginal) e a filiação divina de Jesus estão, portanto, numa relação mais estreita do que se admite geralmente. Numa teologia abstrata dos possíveis -- [???] -- unida a um positivismo teológico "sem Espírito", pode-se sem dúvida dizer : Deus teria podido agir também de outro modo, ele teria podido também fazer-se homem por meio de uma concepção natural, mas de fato ele quis agir de outro modo, e nós devemos portanto acreditar que no fato da concepção virginal, se bem que ela não tenha em suma senão um significado simbólico, o de afirmar que Jesus é o novo começo colocado por Deus, o novo Adão" (W. Kasper, Op. cit., p. 381. O negrito indignado é meu).
Embora Kasper afirme que se deva crer no fato da concepção virginal de Cristo, a restrição que ele faz com as palavras que colocamos em negrito praticamente anula a crença de que Nossa Senhora concebeu virginalmente.
De fato ele afirma que essa concepção virginal -- na qual devemos crer -- só tem "em suma um significado simbólico". E esta frase escandalosa insinua a heresia.
Estou atônito, seu Xisto.
Ficou contente, seu Xisto, por eu ter publicado até mais do que me pediu?
Só pode estar, porque atendi o seu pedido largamente.
Agora que o senhor tem os textos das páginas do livro de Kasper citadas per longum et largum, o senhor ousaria dizer ainda que caluniei o Cardeal Kasper, e que essas frases não estão no livro dele?
E seu atonitismo, onde ficou, seu Xisto?
Talvez o senhor agora proteste por minhas palavras contra o Cardeal que escreveu essas heresias.
Ora, afirmar que os Evangelhos mentem, apresentando lendas como verdades, é muito mais grave do que criticar um Cardeal, seu Xisto.
Que estranha concepção da Fé é a sua, seu Xisto, que coloca o respeito a um membro do Clero acima do respeito aos Evangelhos e acima da Fé em Cristo?
Resta perguntar algumas coisas ainda.
Se o cardeal Kasper tem razão em dizer que os Evangelhos não são históricos, e que a Igreja errou ao acreditar nos milagres e na Ressurreição de Cristo, tais como são contados neles, então ele não deveria ter aceitado ser Cardeal de uma Igreja mentirosa e enganadora. Mas, se ele está errado em suas teses, como se tornou Cardeal?
E não tratamos do milagre da transubstanciação.
Será que Kasper crê no milagre da transubstanciação?
E se os milagres contados no Evangelho são lendas, como ele celebra Missa?
Será que ele crê nas palavras de Cristo no Evangelho: "Isto é meu corpo"?
Que é a Missa para esse Cardeal?
In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli.