Para responder as suas perguntas em primeiro lugar é preciso esclarecer que ao contrário do que aparenta a FSSPX não é um bloco monolítico no que se refere às ideias, na realidade existem várias correntes sobre diversos assuntos. Um exemplo disto é o priorado de São Paulo. Após a substituição do superior o relacionamento com outros padres e fieis mudou completamente.

Assim, há divergências dos procedimentos que devem ser seguidos no que se refere ao relacionamento com Roma. Há desde os radicais que são contrários a qualquer contato com as autoridades de Roma até aqueles que acham que permanentemente deve ser buscado um acordo. Aparentemente o antigo superior da FSSPX, Dom Fellay, estava mais próximo dos "acordistas". Já o novo superior padre Davide Pagliarani parece que teria uma posição de afastamento com Roma, onde as conversas estariam excluídas. Entretanto, isto não impede que alguns padres da FSSPX mantenham seus relacionamentos com a cúria Romana, mas isto não é divulgado ao público católico.

Ora, considerar ser impossível conversar com Roma equivale a afirmar que não há mais Igreja Católica em Roma, o que é inaceitável pois implica, de forma prática, que a Igreja desapareceu.

Em decorrência disto boa parte da FSSPX considera que os sacramentos ministrados na Igreja católica não são válidos. Muitos padres da FSSPX recomendam que os fiéis não frequentem as Missas Tridentinas celebradas por padres que não sejam da FSSPX. Muitos dos fiéis que passam a frequentar a FSSPX são "rebatizados" e "recrismados" e os padres que aderem à FSSPX são "reordenados sob condição", ou seja, recebem novamente o sacramento da ordem.

Foi este pensamento que acabou levando a FSSPX a instituir tribunais que substituem os tribunais do Vaticano, o que não foi aceito por vários padres da própria FSSPX e levou a um distanciamento do Professor Orlando e da Montfort, pois os direitos do Papa estavam sendo usurpados.

Para justificar seu posicionamento e não ter que responder a questionamento da parte de fiéis, os padres da FSSPX alegam que possuem uma "graça de estado" que faria com que eles sempre agissem corretamente quando se tratasse da orientação aos fiéis. Os demais padres, devido a sua infidelidade, e ao estado duvidoso de sua ordenação, não gozariam destes privilégios.

Desta forma estes setores da FSSPX consideram que o Instituto do Bom Pastor age mal aceitando a submissão a Roma, pois esta submissão, em si mesma, seria algo errado. Destaco que são setores porque muitos padres da FSSPX têm muito bom relacionamento com os padres do IBP.

Com relação ao novo Código de Direito Canônico é evidente que o Papa tem direito de promover a alteração das leis da Igreja. É claro também que o novo código tem problemas em algumas leis que possuem erros. Isto foi evidenciado pelo Papa Bento XVI quando este promoveu alterações no código justificando que algumas leis incentivavam a apostasia.

Entretanto, porque algumas leis não são boas não se pode considerar que todo o código não deva ser seguido porque isto de fato significaria uma rebeldia contra a autoridade. Cristo reconheceu a autoridade de Pilatos, apesar de todos os seus erros, e os apóstolos, mesmo após a morte de Nosso Senhor, se apresentavam no Templo mesmo acusando os judeus pelo deicídio. 

Em relação aos sacramentos ministrados pela FSSPX é claro que eles são válidos, entretanto em muitos casos pode ser discutido se são lícitos, ou seja, se os padres da FSSPX têm direito de ministrá-los. A justificativa para que eles sejam ministrados é o estado de necessidade dos fieis, entretanto, em muitos lugares esses sacramentos são ministrados na forma tradicional. Isto é o que ocorre, por exemplo, na cidade de São Paulo, onde a Missa Antiga é celebrada em diversas Igrejas e muitos horários. 

Espero ter respondido suas dúvidas, mas se elas persistirem volte a nos escrever.

Alberto Zucchi