Doutrina

Criação da Alma
PERGUNTA
Nome:
Mksp
Enviada em:
05/01/2007
Local:
São Caetano do Sul - SP, Brasil
Religião:
Católica
Escolaridade:
Superior concluído

Caro Prof. Orlando, Salve Maria

em primeiro lugar parabenizo a todos pelo excelente trabalho.
Sou católico e estudo a doutrina há tempos (seu site me ajuda há algum) e sei que, apesar de saber mais que muitos, sei muito menos do que deveria. Uma das dúvidas que tenho é a seguinte:
- evidentemente acredito que a vida de um ser humano inicia-se no momento de sua concepção, quando Deus infunde uma alma naquele embrião. Minha dúvida é se essa alma já estava criada por Deus, desde o príncipio dos tempos, uma vez que Deus criou até o sexto dia e depois descansou e tbém porque para Deus não há tempo, Deus é eterno, e, portanto, sabia da concepção deste ser humano desde sempre ou Deus cria cada alma em cada concepção, ou seja, Deus continua criando a cada dia e continuará até o final dos tempos?
Se a segunda hipótese é a verdadeira, existe outra "coisa" que Deus continue criando?

Antecipadamente agradeço e que Deus os abençõe muito e sempre.

RESPOSTA

Prezado leitor,
Salve Maria!
 
            Primeiramente gostaria de agradecer os elogios feitos à Montfort. Reze sempre por nós, para que possamos combater sempre bem os inimigos da Igreja.
            A sua questão gira em torno do modo como se dá a geração dos homens.
            O corpo de cada homem é transmitido por meio da geração. Mas como se dá a origem da alma?
Os seguidores de Orígenes e de Prisciliano ensinavam a preexistência das almas, isto é, as almas são por si espíritos incorpóreos e foram todas criadas por Deus no início da criação, sendo posteriormente unidas aos corpos como punição por uma falta que teriam cometido. Esta tese é conhecida com o nome de preexistencialismo.
Para Orígenes as almas de todos os homens teriam sido criadas juntamente com os anjos, antes de seus corpos. Ele pensava que todas as substâncias espirituais, tanto as almas quanto os anjos, são iguais em sua condição natural, diferindo somente quanto ao mérito. Isso porque para ele as almas teriam cometido alguma falta contra Deus, sendo punidas com a união a um corpo.
Esta explicação considera a matéria como punição, tendo forte influência gnóstica. Orígenes foi condenado pelo papa Virgílio, no ano 543: 

Se alguém diz ou sente que as almas dos homens preexistem, como se antes fossem potencias santas e inteligentes; que se fartaram da contemplação divina e se tornaram piores e que por isso se esfriaram no amor de Deus, de onde lhes vem o nome de frias, e que por castigo foram lançadas nos corpos, seja anátema” (Liber adversus Origenem, can. 1).
 
Outros diziam que a alma humana era produzida a partir da substância dos pais. Ela seria, como o corpo, transmitida por meio da geração. Esta tese é conhecida com o nome de generacionismo. O papa Anastácio II reprovou como herética a defesa de que as almas são transmitidas pelos pais aos filhos de modo semelhante à transmissão do corpo (Carta Bonum atque iucundum, aos bispos da França, de 23 de agosto de 498). 
A Igreja ensina que a alma racional é criada por Deus e no mesmo instante de sua criação é infundida no corpo. E esta afirmação é tida como sentença comuníssima e certa entre os filósofos e teólogos católicos. Esta tese é conhecida pelo nome de criacionismo.
Primeiramente pelo fato de estar conforme com a Sagrada Escritura: 

... e o pó volte à terra donde saiu, e o espírito volte para Deus que o deu” (Ecle. XII, 7).
Além disso, os Padres da Igreja sustentaram em comum esta tese. Assim, entre outros, Lactâncio, S. Ambrósio, S. Jerônimo, S. Hilário, S. Gregório Nazianzeno, S. Cirilo de Alexandria. Santo Tomás de Aquino, após expor as três teses colocadas acima, diz: 

As duas primeiras, após o juízo da Igreja, são condenadas e a terceira aprovada” (De Pot. q. 3, a. 9; cf. Sum. theol. I p., q. 118, a. 2).
As dúvidas relativas ao surgimento da alma humana são tratadas por Santo Tomás na Suma Teológica, primeira parte, questão 118.
Até o século XVII os escolásticos abraçaram a teoria de Aristóteles com respeito à animação do embrião humano. Esta teoria dizia que a animação só ocorria depois que o embrião adquiria uma certa organização, tornando-se assim apto para receber a alma. A partir do século XVII um número cada vez maior de teólogos passou a defender a animação do embrião no momento em que é concebido. Assim, entre os filósofos e teólogos católicos é comuníssima a sentença de que a alma racional é criada por Deus e infundida no corpo no mesmo instante da concepção.
Esperando ter respondido sua dúvida, me despeço.
 
Salve Maria,
Luiz Fernando Pasquotto