Doutrina

Tradicionalismo e Jansenismo
PERGUNTA
Nome:
Abelardo
Enviada em:
13/12/2004
Local:
Olinda - PE, Brasil
Idade:
27 anos
Escolaridade:
Pós-graduação concluída


Professor,
 
Poderias por favor comentar este texto que encontrei no site Cleofás?? ELe fala que os tradicionalistas, seriam Neo-jansenistas.
 
Abelardo.
 
 
» Jansenismo (Séc. XVII)
Jansenius, bispo de Yvres, França deu início a essa heresia num jornal em que ele escreveu sobre Santo Agostinho, no qual ele redefinia a doutrina sobre a graça. Entre outras doutrinas, seus seguidores negavam que Cristo morreu pela salvação de todos os homens, alegando que Ele havia morrido apenas por aqueles que serão finalmente salvos (ou seja, os eleitos). Este e outros erros Jansenistas foram oficialmente condenados pelo Papa Inocêncio X em 1653.
·        O jansenismo, infelizmente, é hoje encontrado em muitos meios ditos "tradicionalistas". Este debate é frequentemente provocado pelas objeções que muitos fazem à má tradução do Cânon Romano, que traz "por todos" (e não "para muitos") como tradução de "pro multis". Esta tradução está errada como tradução, mas não é teologicamente errada, pois afirma ser o Sacrifício de Cristo suficiente para todos. Os neo-jansenistas, porém, afirmam que teologicamente também está errada.
RESPOSTA

Muito prezado Dr Abelardo,
Salve Maria!
 
    Jansênio, Bispo de Ypres, escreveu um livro intitulado Augustinus, no qual defendia, entre outras a tese de que as pessoas nascem predestinadas ao céu ou ao inferno. Deus não daria a graça suficiente para alguns se salvarem, de modo que tais pessoas inevitavelmente se perderiam.
 
    Como o senhor pode ver, caro Dr. Abelardo, o Jansenismo tinha ligações profundas com a teologia protestante, especialmente com o Calvinismo.
 
    Na moral, os jansenistas defendiam um rigorismo que os levava a considerar Deus sem misericórdia. Daí, eles combaterem a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, fonte de misericórdia.
 
    Como seus antecessoras protestantes, eles eram contra o culto aos santos, e, principalmente, contra a devoção a Nossa Senhora. Como os liturgicistas atuais, eles se diziam cristocêntricos. O que não os impedia de cultuarem os santos deles, de sua seita, ainda que não fossem canonizados. Eles organizaram, um verdadeiro culto para um dos membros da seita, o Cônego Pâris, no cemitério de St Médard, em Paris. Distribuíam suas relíquias, e nas orações que faziam junto ao túmulo desse pseudo santo, eles entravam em falsos êxtases. Culto de relíquias e varadas nas costas dos membros da seita eram atitudes comuns na seita jansenista. Há exemplos atuais parecidos em cemitérios de São Paulo.
 
    Na organização da Igreja, os jansenistas desejavam uma diminuição do poder papal, com o aumento do poder dos Bispos, que seriam eleitos. O Jansenismo defendia também a eleição dos párocos. Eram eles, pois, democratizantes na esfera eclesiástica, o que os fez conseqüentemente, na civil, apoiarem a Revolução Francesa.
 
    Em matéria de Liturgia , eles defendiam a Missa dita na língua do povo. Eram contrários à pompa. Também eram favoráveis a uma maior participação do povo na Missa. Foi um padre jansenista que organizou, ainda antes da Revolução Francesa, Missas com procissão de ofertório, com o povo levando mantimentos ao altar. Desse modo, o senhor vê que ao contrário do que diz o texto que o senhor me enviou, os jansenistas eram o oposto dos atuais tradicionalistas.
 
    O texto que o senhor me envia é preconceituoso contra os tradicionalistas.
 
    Sabe o senhor que sou insuspeito com relação aos tradicionalistas lefevristas, aos quais infelizmente tenho que reprovar o fato de terem organizado tribunais com poderes "papais", o que é um lamentável erro deles.
 
    Entretanto, a crítica do autor desse texto a eles é absurda.   
 
    O autor do texto concede que a nova tradução da fórmula da consagração do vinho "pro multis" (por muitos) como "por todos" de fato está errada, e depois garante que, embora errada como tradução, estaria certa teologicamente. E este é o absurdo maior do texto dele.
 
    Os méritos de Cristo são infinitos e, portanto, objetivamente suficientes para todos os homens. É o que se chama de Redenção objetiva.
 
    Entretanto, nem todos os homens aproveitam dos méritos infinitos de Cristo, por recusarem o batismo, ou recusarem a Fé e os sacramentos. Estes sujeitos que tal recusa fazem, não se salvam por não quererem se aproveitar dos méritos infinitos de Cristo. Por isso, se ensina na doutrina católica, que embora a redenção seja objetivamente suficiente para todos, ela não é aproveitada por todos, mas só por muitos. Daí se distinguir redenção subjetiva de redenção objetiva.
 
    Portanto, traduzir "pro multis" como "por todos" é teologicamente errado. Fazer isso é cair na heresia da salvação universal, que é a heresia muito ensinada hoje.
 
    Esperando ter atendido a seu pedido me subscrevo, atenciosamente.

In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli