Doutrina

Cristo e a Igreja
PERGUNTA
Nome:
Evandro
Enviada em:
18/01/2002



Amigo Orlando;

Sua resposta me alegrou muito. Acredito em você quando afirma que a sua intenção é boa quando "magoa" as pessoas. Às vezes isso acontece comigo também.

Felizmente o Senhor conhece os corações.

A respeito de suas colocações sobre a justiça e a misericórdia versus a cumplicidade no pecado e a moleza na correção eu concordo contigo, e em geral penso como você, com apenas a seguinte ressalva.

Creio que devemos imitar a autoridade e coragem de Jesus, mas em parte. Eis o que penso.

Por ser Jesus Santo e Santo, ou seja Santo no que ensina e Santo no que vive e a Igreja Santa e Pecadora, ou seja Santa no que ensina e Pecadora no que vive. Assim, a autoridade de ambos deverá ser diferente. A autoridade de Jesus é Forte e Forte. Forte porque ensina o que é Santo e Forte porque vive plenamente o que é Santo. E a autoridade da Igreja deveria ser Forte porque ensina o que é Santo e Fraca porque não vive plenamente o que é Santo.

Nesse raciocínio, a autoridade de Jesus sempre será total, pois é absoluto no ensinamento e absoluto no viver, já a da Igreja sempre será parcial, pois é absoluta no ensinamento e relativa no viver. Entretanto, isso não implica dizer que devemos passar a mão na cabeça do pecador não arrependido e sermos fracos ao denunciarmos os erros. Muito pelo contrário, devemos ser coerentes, ou seja, sermos autoritários (justos) onde temos autoridade e sermos mansos (misericordiosos) onde não temos autoridade.

Em tese, por um lado, deveríamos ser mais misericordiosos que Jesus pois somos pecadores onde ele é santo.(frisa-se: não a falsa misericórdia, que é a que você mencionou, ser cúmplice ou covarde ao tratar do pecado, mas a verdadeira misericórdia, que é castigar implacavelmente o pecador não arrependido, mas não com intuito de vê-lo sofrer, contudo com o objetivo de vê-lo se arrepender. Na prática, isso implica em tratar com a coragem e a autoridade de Jesus as colocações heréticas e pecaminosas, mas em tratar com mansidão e misericórdia quando falarmos do homem. Mesmo porque só o Senhor conhece os corações.

Por ser pecador, o homem muitas vezes menciona afirmações que são heréticas e pecaminosas, contudo pode ocorrer de não ser o que o seu coração gostaria de expressar. E, para não correr o risco de cometer injustiça nós deveríamos, creio eu, tratar as afirmações com rigor, mas não o homem que as proferiu. Pois mesmo que tudo indique que haja maldade neste homem, só o Justo Juiz poderá declarar.

Um abraço amigo.

Evando. 18/01/2002

P.s. (Gostaria de reiterar que a obra Montfort é excelente, até onde conheço. E a minha alegria é verdadeira quando afirmo que você, até onde conheço, é um bom filho dessa nossa Santa Mãe, a Igreja Católica Apostólica Romana). Parabéns Orlando, e saiba que rezei por você, para que não exceda em seu zelo apostólico, bem como não se acovarde diante das adversidades. E que neste ano de 2002, do Céu venham as graças e que de você venha a diligência de não as deixarem passar para torna-se mais santo e santo.

Do seu irmão na fé

Evando.

RESPOSTA


Muito prezado Evando, salve Maria.

Muito agradecido por suas palavras elogiosas a nosso site e a minha pessoa. Mais ainda, agradeço-lhe suas orações.

Gostaria de fazer, porém, dois comentários sobre o que você me escreve.

O primeiro é sobre a sua distinção entre Cristo e a Igreja.

A Igreja é o Corpo Místico de Cristo, e quando ele ensina infalivelmente, ela exprime a verdade revelada por Cristo sem nenhuma possibilidade de erro. O Papa, como dizia Santa Catarina de Siena é o doce Cristo na terra. Deste modo, não se pode fazer a distinção que você faz entre Cristo e a Igreja. A Igreja não é pecadora. Os homens que a compõem é que podem ser pecadores, mas seus pecados pessoais não afetam a Igreja.

O segundo comentário é sobre sua distinção entre pecador e pecado.

O pecado não existe fora do pecador. Não se pode dar um tiro na ferocidade e um abraço no leão. O tiro se dá no leão, porque a ferocidade está no leão.

Por isso Deus nos ensinou, na Sagrada Escritura:

"Ainda que pisasses o estulto num pilão, como se pisam os grãos de cevada, não separarias dele a sua estultícia" (Prov. XXVII, 22).

E ainda:

"Deus odeia igualmente o ímpio e a sua impiedade" (Sab. XIV, 9 )."

In Corde Jesu, semper,

Orlando Fedeli