Doutrina

Pecado original
PERGUNTA
Nome:
André
Enviada em:
22/10/2000



Eu redescobri a Igreja recentemente e tenho recebido várias perguntas constrangedoras de meus pais que não consigo responder. Elas acabam tornando-se minhas dúvidas também, por isso gostaria da ajuda de vocês para respondê-las. Aqui vão algumas delas:

Por que, se Deus é justo e perfeito, os descendentes de Adão e Eva devem ser julgados por um crime que não cometeram? Caso Fulano matasse alguém, os filhos e netos e bisnetos de Fulano deveriam ser julgados culpados e sofrerem as mesmas penas somente por terem nascido? Por que algumas crianças morrem antes de serem capazes de escolher entre Deus ou o pecado, algumas ainda no ventre materno? Ouvi dizer que seria para poupar a própria crinça que em vida cometeria pecados muito mais graves, isso procede? Para mim parece confuso. Se só nós cometemos os pecados, por que toda a criação teve que decair? Eles (animais) precisam matar para sobreviver. E nós precisamos matá-los ou colocá-los em cativeiro por toda vida para nos alimentar.

Muito obrigado pela atenção.

André.

RESPOSTA
Meu caro André, salve Maria.

Sua primeira pergunta é sobre a justiça de Deus na questão do pecado original. Deus não nos responsabiliza, nem nos pune pessoalmente pelo pecado original de Adão e Eva. Todos os homens nascem com o pecado original, mas nenhum homem é punido pessoalmente por ese pecado que foi só de Adão e Eva. Ninguém vai ao inferno por ter o pecado original, pois que ele não é de responsabilidade pessoal. Se Deus punisse com o inferno, alguém, pelo pecado de Adão e Eva, evidentemente seria uma injustiça. O pecado original foi de Adão, pessoalmente. Ocorre, porém, que, com esse pecado, Adão danificou a natureza humana. E como ele era a fonte de toda a humanidade, ele nos transmitiu -- não a culpa do pecado -- mas apenas uma natureza danificada pelo pecado. Por isso ninguém confessa ser culpado do pecado original que é só de Adão. Você imagine um homem que adquira aids, ao cometer um pecado. O filho não herda a culpa do pai. Mas vai receber, com a natureza, o virus da aids. Ele não não herda a culpa moral do pai. Recebe dele uma natureza doente. O filho de um alcoólatra sofre consequências semelhantes. Quando Adão pecou, ele perdeu uma série de dons que Deus lhe havia concedido. Além disso, Adão, revoltando-se contra Deus, danificou a natureza humana. Antes do pecado, a natureza de Adão era toda ordenada. Depois, a inteligência humana ficou prejudicada, e tendente ao erro e não à verdade. A vontade humana ficou desregrada e tendente ao mal. A sensibilidade ficou desordenada, e, por isso, temos sentimentos irracionais: simpatizamos com quem não devemos, e antipatizamos, sem razão, com quem nos faria bem, etc. O corpo ficou revoltado contra o domínio da alma. Em suma, nossa natureza ficou tendente ao erro e ao pecado. Nisto consiste a herança do pecado original, e não na herança da culpa moral que cabe só a Adão e Eva. Caso um fulano, como você diz, matasse alguém, os filhos não herdariam essa culpa. Mas herdam, sim, a desonra desse crime. Ninguém diz: meu pai foi assassino, porque tem vergonha disso. Dos pais, herdamos não as culpas deles, mas apenas sua honra ou desonra, assim como, possivelmente, as tendências para os pecados em que eles mais caíram ou viveram.

Sua segunda pergunta é por que Deus permite que algumas crianças morram antes de nascer ou quando ainda muito pequenas. Deus só quer o bem de todos. Viver mais ou menos tempo é um bem relativo, porque Ele não nos criou para vivermos neste mundo e sim no céu. Por isso, Ele nos deixa viver o tempo mais conveniente para nosso bem. A Providência de Deus guia as causas segundas, isto é, as leis naturais. Se Ele permite que uma criança morra cedo ou bem pequena, isso não significa de modo algum que Deus vai destiná-las ao inferno. Se a criança foi batizada, ela vai diretamente ao céu, porque não tem culpa alguma. Se ela não foi batizada e está com o pecado original, ela não pode ser mandada ao inferno, porque -- como lhe expliquei acima -- ela não tem culpa pessoal pelo pecado de Adão. Ela, porém, não pode entrar no céu, pois não foi redimida pelo sangue de Cristo, cujos méritos ela receberia no batismo. (Por isso, convém batizar os fetos abortados). Isso tudo não quer dizer que essa criança vai estar perdida. Segundo alguns teólogos, Deus dará às crianças que morrem sem batismo uma opotunidade de escolha entre o bem e o mal, e conforme elas escolherem, irão para o céu ou para o inferno. Mas isto é apenas uma opinião de alguns teólogos. Segundo outros, Deus daria a essas crianças que morrem sem batismo uma felicidade natural completa, ainda que não o céu. Pessoalmente, acho a primeira opinião mais interessante, mas eu não sou teólogo, e minha opinião não tem importância. De tudo isso, a regra fundamental é que Deus sempre faz acontecer o que é melhor para cada um.

Enfim você me pergunta por que Deus puniu toda a criação e por que precisamos matar animais para comer, etc. Quando Adão foi amaldiçoado por Deus, disse-lhe: "Por tua causa, maldita será a terra". Tanto Deus ama o homem que, para poupá-lo, desviou parte do mal dele, fazendo que a terra, para produzir, devesse ser cultivada, e que naturalmente ela não produza cafezais e trigais, que o homem tem que cultivar com trabalho e suor. O fato de ser necessário aos animais comerem ervas, e outros animais, e que nós devamos comer outros seres tirando-lhes a vida não é um mal. Deus fez um ser para o outro. O sol é que permite a vida na terra. A terra sustenta as plantas. Estas sustentam os animais que se entre sustentam, e nos sustentam. Por que Ele fez assim? Para nos mostrar que devemos servir uns aos outros. André me pergunta. Eu lhe respondo. André, com a resposta, vai ajudar outros. E assim por diante. Nós existimos uns para os outros e todos para Deus. Deus que se fez nosso servo, a ponto de lavar os pés dos Apóstolos, e que nos lava as culpas com seu sangue derramado por nós na Cruz. Deus que nos dá seu próprio corpo como comida, e seu sangue como bebida. Deus que nos dá inteligência para ver a verdade e para amá-la. Deus que quer se nos dar eternamente no céu. É no Coração dEle que espero, um dia, estarmos todos reunidos. É por isso que concluo escrevendo

In Corde Jesu, semper, para sempre,
Orlando Fedeli.