Doutrina

Consciência individual
PERGUNTA
Nome:
Eduardo
Enviada em:
21/10/2000
Local:
Camboriú - SC,



Prezados senhores,

Quero parabenizá-los pelo excelente site da Associação Cultural Montfort. Sou católico, e com os senhores encontrei muitas informações e explicações importantes sobre a Igreja.

Eu gostaria, se possível, de obter algum esclarecimento sobre o valor da consciência individual segundo a Igreja Católica. Para ser mais exato, trata-se de duas citações que encontrei, ao ler o ensaio "A consciência cristã de Milton" de Carpeaux (do livro Ensaios Reunidos de Otto Maria Carpeaux, editora Topbooks, pág. 173):

1. Do Papa Inocêncio III (c. 13 X, liv. II, tít. 13): "O que se faz contra a consciência edifica para o inferno; com Deus, precisa-se desobedecer ao juiz e preferir a excomunhão".

2. De Santo Tomás de Aquino (Sent. IV., díst. 38): "A Igreja julga conforme as aparências exteriores, mas a consciência está obrigada à sentença de Deus, que vê por dentro do coração; por isso, precisa-se seguir a consciência, mesmo contra a força da Igreja".

Os trechos que sublinhei me encheram de dúvidas. Estaria o Papa e o Santo referindo-se a liberdade do indivíduo em repudiar erros do clero, das autoridades? Mas, a excomunhão não é uma pena terrível? E, baseados nesses conselhos, alguns cegos não poderiam teimar em seus erros? (por exemplo: o senhor frei Betto deve se achar o homem da consciência mais limpinha do mundo...).

Antecipadamente agradeço a atenção.

Eduardo Cândido

RESPOSTA
Prezado Eduardo Cândido, salve Maria.

Muito obrigado por seu apoio e elogio ao nosso site. Peço-lhe que reze para que continuemos a defender corretamente a doutrina católica, ajudando a muitos que estão desorientados na confusão do mundo em que vivemos.

O problema que você me põe é bem interessante.

A consciência é como a voz de Deus em nossa alma. Ela é a voz da lei natural em nós.

Você deve saber porém que a consciência pode ser correta ou ter falhas, ou por culpa do próprio indivíduo, ou por formação errada. Entretanto, se alguém, por consciência errada, julga, por exemplo, que deve jejuar numa quarta-feira -- dia em que não há jejum obrigatório -- ele fica obrigado a jejuar, e, se ele não jejuar, estará pecando, porque pensa que devia obedecer a Deus e quis desobedecer.

Assim, sempre a pessoa deve seguir a sua consciência. Entretanto, a consciência materialmente errada não pode determinar algo contrário à lei natural.

É nesse sentido que se devem entender os textos que você me colocou. O de Inocêncio III, pois o caso que ele coloca opõe algo determinado pela consciência -- reta ou equivocada, não importa -- e que a pessoa julga ser ordem de Deus, a uma imposição de homens. Deve-se obedecer antes a Deus do que aos homens.

O mesmo cabe para o texto de São Tomás.

Forçar alguém a agir contra a consciência -- ainda que equivocada -- é forçá-la a pecar. Esperando tê-lo ajudado despeço-me

In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli.