Doutrina
Veracidade histórica dos Reis Magos
PERGUNTA
Olá Orlando Fedeli!!
Primeiramente quero desejar à você, à todos da Associação Cultural e aos leitores um Feliz Ano Novo repleto da Graça de Deus!!
Bem, mais uma vez, estou escrevendo um e-mail recheado de dúvidas.
Haja paciência para responder todas as dúvidas... mais paciência ainda para responder aos ataques feitos por pessoas munidas somente de preconceitos e slogans em relação à Igreja Católica. Não culpo as pessoas munidas de preconceitos, afinal, é praticamente impossível para quem lê jornal diariamente ou revista semanal ou assiste televisão ou cursa o ensino médio ou um cursinho para vestibular ou quem cursa ensino superior não receber massivamente ataques diretos ou indiretos contra a Igreja. De modo, que acabam tendo fobia da Igreja.
Mas, voltando as minha dúvidas:
- veracidade histórica dos três Reis Magos e do resto do Novo Testamento Um padre - Fernando é o nome dele -, na RedeVida, disse que a Igreja aceita que os três Reis magos apenas são simbólicos - nunca existiram realmente. Fiquei com muita dúvida do que ele afirmou. Afinal, ele deu a entender que não há documentos daquela época falando sobre o assunto - com exceção do Evangelho. Citou, por exemplo Flavio Josefo e disse que até mesmo a matança de inocentes promovida por Herodes pode ser ficticia, pois o Flavio Josefo, apesar de ter falado tanto das demonices de Herodes, não mencionou a matança das crianças - a argumentação era que uma matança de crianças daquele porte teria resultado numa grande noticia, de modo que se fosse verdade a tal matança certamente haveria algum escrito sobre o fato...
O pensamente desse padre me deixou surpreso, pois sempre fui católico e nunca tinham-me ensinado a interpretar certos fatos do Novo Testamento dessa forma, ou seja, eu sempre fui ensinado a entender esses trechos das Sagradas Escrituras como fatos ocorridos, mas, também entende-los de maneira teologica. Agora, vejo um padre dizendo que é bem provável que os Reis Magos nunca existiram, e São Mateus apenas disse de maneira teologica... uau!! ... um espanto pra mim, eu realmente pensava que os Reis Magos tivessem existido, e a finalidade dessa verdadeira existência resultaria entao numa teologia. Bem, pode ser que eu esteja errado, mas assim, então os escritores evangélicos podem ter "mentindo" até mesmo a respeito da ressurreição de Cristo, afinal, eles não escreveram fatos veridicos mas apenas uma representação teologica. Estou muito confuso sobre o assunto, gostaria que você me desse uma elucidação sobre o tema.
- significado das velas Gostaria de saber o real (ou reais significados) da vela que acendemos aos santos e parentes e amigos falecidos
- livro do Vittorio Messori, por que você não escreve um livro sobre as lendas negras?
Você poderia me dizer onde posso encontrar para comprar o livro "As Lendas Negras da Igreja" de Vittorio Messori?? Não sei se existe uma edição traduzida para o português, de qualquer maneira, disse o nome do livro em português. Se você conhece este livro, me diga se vale a pena le-lo. Ah, por que você não escreve um livro falando sobre as lendas e preconceitos contra a Igreja?? Aqueles assuntos de sempre, como Galileu, Inquisição, Cruzadas, Idade Média, Constantino, o poder e a riqueza do Vaticano, Papa e Hitler, aborto....
- Harry Potter O que você acha dos livros da série Harry Potter??? As crianças podem sair do catolicismo e partirem para a magia, Wicca??
- Camisinha Algo que me intriga muito é como os padres não sabem responder a assuntos como a camisinha. Por que ( quase ) nenhum padre fala aos fiéis que a camisinha, mesmo usada corretamente, permite uma possibilidade de 10% - no minimo - de se contrair Aids quando se tem relação sexual com uma pessoa que possua o vírus HIV?? As pessoas precisam saber a verdade sobre o "sexo seguro".
- Deuterocanonicos Peço que divulguem um texto com argumentos provando que Jesus e os Apóstolos consideravam os Deuterocanonicos como uma parte das Sagradas Escrituras. Até onde sei é que quando Jesus utilizava trechos biblicos, Ele pregava ao povo utilizando a versão dos setenta, ou seja, sabemos que alguns trechos da Bíblia utilizada pelos judeus da Palestina e da Bíblia septuaginta divergem, e quando Jesus utiliza-se desses trechos, sempre usa a versão septuaginta. Mas, como não sei quais são esses trechos, peço à vocês que divulguem um artigo a respeito disso. E, quando foi, oficialmente, firmado pela Igreja todos os Livros Bíblicos?? Também pergunto, se há alguma possibilidade de algum manuscrito do Mar Morto fazer parte da Bíblia.
Bem, por enquanto e isso, peço desculpas pelos erros gramaticais no texto...
Um grande abraço
Carlos Eduardo
RESPOSTA
Agradeço-lhe os votos de ano novo que lhe retribuo com alegria. Que Deus Nosso Senhor lhe conceda a você e aos seus familiares, pelas mãos de Maria Santíssima, todas as suas melhores graças, nesse ano que começamos.
Os Evangelhos são documentos históricos de extremo valor. Nenhum historiador sério vai contestar que os quatro Evangelhos, mesmo do ponto de vista puramente natural, têm enorme autoridade histórica (e, portanto, científica). O tal Padre da Rede Vida deveria ter prestado atenção no que dizem a Epístola e o Evangelho da Missa do dia da Epifania.
Na Epistola dessa Missa se lê o texto do profeta Isaías que diz:
"Virão de longe os teus filhos, e tuas filhas surgirão de todos os lados. Vendo isto, transbordarás de alegria: o teu coração se há de admirar e dilatar, quando se voltarem para ti os povos de além mar e vier ter contigo o poder das nações. Cobrir-te-á uma multidão de camelos e dromedários de Madiã e Efa. Todos virão de Sabá, trazendo ouro e incenso, e publicando os louvores de Deus" (Is.LX, 1-6. O sublinhado evidentemente é meu).
Essa profecia foi realizada quando do nascimento de Cristo em Belém, pois se lê no Evangelho de São Mateus, na Missa da mesma festa de Epifania:
"Eis que alguns magos chegaram do Oriente a Jerusalém, dizendo: "Onde está o rei dos judeus? "... "E entrando na casa, encontraram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se o adoraram e, abrindo os seus tesouros, lhe ofereceram presentes de ouro, incenso e mirra" (Mt II, 1-12. Evidentemente, são meus os sublinhados).
Portanto, o evangelista quis demonstrar que há uma relação direta entre o texto de Isaías e o que aconteceu em Belém, quando nasceu Cristo: "o poder das nações", isto é, soberanos pagãos, os Reis, que o Evangelho chama de "Magos".
A tradição simplesmente juntou - coerentemente, com lógica - o que disse Isaías e o que disse São Mateus, deduzindo que os Magos que foram levar ouro, mirra e incenso a Jesus eram os soberanos das nações pagãs, profetizados por Isaías. Quem não soube usar de lógica -- e nem soube compreender a tradição católica -- foi o Padre da tal Rede Vida. O fato de esse Padre negar, ou por em dúvida, a matança dos inocentes por Herodes com o argumento de que Flávio Josefo não narra esse acontecimento, que só é contado pelo Evangelho, demonstra que esse Padre, desgraçadamente, prefere seguir Flávio Josefo do que o Evangelho de Jesus Cristo. Ele prefere aceitar como fonte de verdade um historiador judeu e não São Mateus. Ora, quem coloca a "ciência" -- se se pode identificar Flávio Josefo com a Ciência -- acima da Fé, é modernista. Esse Padre, que põe em dúvida o relato dos Evangelhos, parece então não ter fé.
Portanto, esse Padre erra ao afirmar que os Reis magos não tem valor histórico, mas apenas simbólico.
E você teve razão de sobra para se espantar com as afirmações desse Padre. Como você raciocina perfeitamente também ao dizer que, se os Evangelhos, ao relatar o caso dos magos e dos santos inocentes, falou apenas de símbolos e não de fatos históricos, porque se deveria aceitar como fato histórico a ressurreição de Cristo?
Ora, os modernistas dizem exatamente isso: que os fatos narrados nos Evangelhos são simbólicos e não históricos. Portanto, se fosse assim como dizem esses Modernistas, a Ressurreição de Cristo não teria acontecido. O que é heresia clara. Foi essa doutrina que São Pio X condenou como Modernismo. Se a tal Rede Vida espalha doutrinas como essa, ela deveria ser chamada Rede Morte.
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As velas começaram a ser usadas nas cerimônias realizadas nas catacumbas com finalidade prática: visava-se iluminar os livros e textos a serem lidos nas cerimônias litúrgicas. Entretanto, Deus tudo fez carregado de símbolos, e quem tem olhar claro e coração puro, entende isso. Uma vela é feita de um pouco de sebo, tendo, no seu interior, um barbante, que se chama a "alma" da vela. Ao se colocar fogo no pavio, o fogo vai consumindo a vela, produzindo luz e calor.
Ora, nós também temos um corpo de "sebo", e nossa alma é simbolizada pelo pavio da vela. Quando se acende o fogo da fé verdadeira em nossa alma, e a aceitamos, o fogo da fé ilumina nossos semelhantes com a sua luz, e aquecemos nossos irmãos com o calor da caridade. E assim como o fogo da vela a vai consumindo, assim também o fogo da verdade católica vai consumindo o fiel, fazendo com que ele gaste sua vida, para produzir luz da verdade e calor da caridade para os demais homens.
Esse é o símbolo das velas que colocamos sobre os altares e nas mãos dos moribundos, afirmando que queremos nos consumir para iluminar e aquecer nosso próximo, ou que o moribundo consumiu sua vida, agindo assim. As velas, como você vê, têm um significado lindíssimo.
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Não conheço o livro do Messori sobre as lendas negras, e não sei se posso recomendá-lo. Seria ótimo escrever contra as "lendas negras" -- as calúnias assacadas contra a Igreja. Quem sabe, se Deus me der tempo de vida e de trabalho, possa escrevê-lo, um dia.
Só conheço algo sobre o Harry Potter por informação. Mas, pelo que me contaram, sem dúvida, é um modo de levar as pessoas à magia e à apostasia. A própria onda propagandística que se faz em torno desse assunto, é promovida pelos mesmos que propagam as calúnias contra a Igreja Católica. Logo....
Encaminharei sua sugestão de se escrever um artigo sobre os Deutero canônicos e a Septuaginta, para que seja editado no site. É uma boa sugestão. Você me faz ainda uma pergunta sobre um tema delicado. Sobre isso devo dizer-lhe que a moral católica condena como pecado todo relacionamento sexual fora do matrimônio, e também qualquer meio de impedir a procriação como essencialmente imoral.
In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli.