Doutrina
"In Persona Christi"
PERGUNTA
Prezado professor Fideli,
Salve Maria!
Em primeiro lugar, eu gostaria de parabenizá-lo pelo site. É sempre um prazer para mim passar algum tempo por essas paragens virtuais tão salutares para a Sã Doutrina. Que Maria lhe conceda sempre a graça de continuar nesse Bom Combate.
Bom, permita-me contar uma coisa que me aconteceu na paróquia que frequento, e que me deixou bastante preocupado: é que lá na paróquia existe o costume de se trocar o salmo responsorial por uma música. Depois que saiu a Redemptionis Sacramentum, fui falar com o responsável pelo canto da paróquia, que é meu amigo, e falei pra ele sobre as instruções do papa.
Ele me disse duas coisas terríveis: a primeira, era que a Igreja agora vivia da graça, e não mais da lei (confundindo assim as "obras da lei" com a obediência à Igreja); e a segunda era que o padre autorizava cantar outra música no lugar do salmo, e, já que o padre era Cristo, agia inspirado pelo Espírito Santo.
Fiquei triste com essas colocações da parte dele, uma pessoa que tem uma ação na paróquia bem maior e há bem mais tempo do que eu. Mas isso foi bom porque me suscitou uma dúvida, que tentarei expor de forma clara: Ao se falar que "o padre é Cristo", creio que se possa entender que o padre age "in persona Christi". Contudo, eu acho que eu e ele temos conceitos diferentes sobre o que significa "in persona Christi". Ao meu ver, agir "in Persona Christi" significa que essa ação é feita não pela pessoa do padre, mas pela pessoa de Cristo. É o próprio Cristo, segunda pessa da Trindade, que executa aquela ação, através do sacerdote; isso significaria mais do que o padre agir em nome de Cristo.
Nessa minha concepção, uma ação que fosse feita "in Persona Christi"
seria uma ação direta da divindade; dentre outras coisas, isenta de erros, porque Deus não erra. Portanto, não seria válido dizer que o padre, ao trocar o salmo da missa, age "in Persona Christi", pois trocar o salmo da missa é um erro e Cristo não erra. O meu raciocínio está correto?
Outra coisa que eu fiquei confuso, é que mesmo na celebração da Santa Missa, o padre profere algumas palavras que não condizem com a noção de que "o padre é Cristo" que meu amigo tem; por exemplo, antes da leitura do Evangelho, quando ele fala "Deus Todo-Poderoso, purificai meu coração e meus lábios, para que eu possa dignamente anunciar Vosso Santo Evangelho". Se essa ação (a de proclamar o Evangelho) fosse feita "in Persona Christi"
(do jeito que eu entendo, e que expliquei acima), seria uma ação direta da divindade e a divindade não precisa pedir a Deus que purifique o seu coração e seus lábios. Essa ação, dentre outras dentro da Celebração Eucarística, me parecem dever ser atribuídas ao próprio padre.
Como eu entendo, então, agir "in persona Christi" só é feito quando o padre eleva a hóstia e diz "Tomai e comei todos vós". Aí, sim, ele fala em primeira pessoa, e é uma ação própria da divindade (oferecer o sacrifício de Cristo - é Cristo que oferece - não o padre).
Isso está correto? O que significa agir "in Persona Christi"? Em que momentos, exatamente, um sacerdote está fazendo uso desse carisma?
Outra dúvida, é com relação ao lugar onde pode ser celebrada a Santa Missa.
Mais de uma vez, eu já vi pessoas "improvisarem" um altar com balcões daqueles de salas de professores, em quadras escolares ou quaisquer outros lugares abertos, para cobri-lo com materiais litúrgicos e, então, um padre vir celebrar a missa. Isso está correto? Em que lugares a Santa Missa pode ser celebrada? E, em locais que não disponham da estrutura convencional...
o que deve ser feito? Simplesmente não celebrar a missa?
Agradeço desde já a atenção que me dispensa, professor. Que Nossa Senhora lhe cubra de graças, pela sua disposição em atender às minhas dúvidas.
Agredecidamente,
Jorge Ferraz
RESPOSTA
Muito obrigado por sua palavras de elogio e apreço pelo site Montfort.
Peço-lhe que reze por nós, para que permaneçamos fiéis a Deus e à Santa Igreja, nada poupando para defender a Fé.
Sua carta é a segunda que recebo, hoje à noite, protestando contra os abusos na Missa, e notando que os padres, de modo geral, pouco ligaram para os decretos do Papa.
Aquilo que você contou do que disse seu conhecido sobre a ação do Padre como Cristo é um absurdo. O Papa disse o oposto: o Padre não é o dono da Missa e não pode mudar, a seu alvitre, o que for na Missa.
Você tem toda a razão em sua explicação sobre a atuação do Padre "in persona Christi". Você expôs perfeitamente a questão.
O Padre atua "in persona Christi" quando consagra. Quando o Padre reza o "Nobis quoque pecactoribus"-- Nós também pecadores -- ele não fala "in persona Christi", pois Cristo não é pecador.
Também a afirmação que a Igreja agora vive sob a graça, e não sob a lei, no sentido que dá a entender seu conhecido, é um erro gravíssimo, pois ele fala como se já não houvesse obrigações legais de nenhum tipo. Daí, essa gente não respeitar os decretos do Papa: eles pensam estar vivendo " sob a graça", isto é, eles se julgam dispensados de obedecer a qualquer lei.
Isso é uma herético antinomismo e um absurdo anarquismo. Em nome do amor, é claro...
Quanto ao local de celebração da Missa, é lícito, quando necessário, rezar Missa num espaço mais amplo que possa conter uma multidão, que a capela não é suficiente para receber.
O altar porém deve ter sempre a pedra de ara, com relíquias de pelo menos um mártir.Não é lícito rezar a Missa em mesa comum. O local deve ser adornado, o quanto possível, de modo condigno.
Prezado Jorge, fiquei muito contente com sua carta.
Escreva-me sempre, porque não é sempre que encontramos pessoas tão bem esclarecidas como você.
In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli