Arte

Padre Antonio Vieira
PERGUNTA
Nome:
Rafael Manieri Cardoso Gomes
Enviada em:
26/06/2010
Local:
Maringá - PR, Brasil
Religião:
Católica
Escolaridade:
Superior em andamento
Profissão:
Estudante


Salve Maria!
primeiro, meus pesames pela morte do Prof Orlando, mas ele esta em um melhor lugar intercedendo por nós.
Bem, conversando com uma amiga minha, ela citou ler muito Pe Antonio Vieira, seus sermões, e um comentario dela sobre um sermão dele me deixou intrigado, ela disse que ele falou que, o ladrão salvo por Cristo na Cruz, teria ido para o paraiso, porem, como poderia ter ido com o paraiso fechado, dai a explicação dele para isto foi "onde Cristo está é onde fica o paraiso, então, quando ele foi para o limbo, o limbo se tornou o paraiso".
achei esta frase um tanto heretica e fui contra, então me gera a duvida, que apos pesquisar, vi que o Pe Antonio fora condenado pela inquisição e mandado se calar.
então, ele realmente tem alguma doutrina heretica? é saudavel para a fé ler seus sermões?

basicamente é isto que quero perguntar. agradeço pela atenção e farei orações pela montfort e pelo Prof Fedeli.

Salve Maria!
RESPOSTA
 
Muito prezado Rafael Gomes,
Salve Maria!
 
     Agradecemos suas palavras tão gentis e pedimos suas orações para continuarmos com o trabalho que nosso caro professor iniciou.
  
     O Pe. Antônio Vieira não pode ser lido como fonte de piedade, nem como manual preciso de doutrina. Li diversos sermões dele na minha adolescência e quando li a sua carta imediatamente me lembrei de um sermão dele da compilação “A Arte de Morrer” em que temos uma sequência retórica de gradação onde ele afirma que tudo passa, inclusive a verdade.
  
É claro que isso não é doutrina católica.
  
     Sua maior preocupação era impressionar e agradar seus ouvintes pela retórica e pelos achados inusitados na resolução de paradoxos e afirmações impactantes pela novidade. E isso é péssimo, pois acaba muitas vezes sacrificando a precisão teológica-doutrinária.
  
     Sem dúvida, foi um dos maiores oradores da língua portuguesa do período barroco e pode ser lido com cuidado, como um autor literário. Os sermões dele impressionam muito pela inteligência e beleza, jamais pela piedade.
  
     Os deslizes que ele comete a serviço da retórica e a falta de piedade em seus escritos são bem ruins. Entretanto, pior ainda era seu comprometimento com a política que o tornou um dos maiores intelectuais, formulador e difusor do Sebastinanismo.
 
     O Sebastianismo foi um movimento místico que ocorreu em Portugal na segunda metade do século XVI insuflado pelo inconformismo dos portugueses com a morte do rei D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Por falta de herdeiros, o trono português, com a morte do rei, terminaria nas mãos do rei Filipe II do ramo espanhol da casa de Habsburgo. Não obstante, o corpo de D.Sebastião ter sido encontrado e transladado a Belém, passou-se a formular um doutrina messiânica a seu respeito, dizendo que ele estaria vivo aguardando o momento de retornar ao trono e libertar Portugal do domínio espanhol. Nesse novo governo do retorno seria estabelecido o Quinto Império, um paraíso terrestre Portugal-Brasil, sem mosquito e mensalão. Em sua obra História do Futuro ele estrutura essas idéias citando a Sagrada Escritura, filósofos e poetas pagãos. Referia-se a Joaquim de Flora (padre cisterciense milenarista) como profeta iluminado da mesma forma que Dante Alighieri no canto XII do paraíso: (...) e lucemi da lato/il calavrese abate Giovacchino/ Di spirito profetico dotato(...). Defendia intrepidamente os judeus também. 
 
     Posteriormente questionado pelo tribunal do Santo Ofício ele reviu suas posições e assim, não é considerado herege formal. Mas, está bem longe de um grande católico zeloso e preocupado com ortodoxia 
 
Salve Maria, 
Emerson Chenta