Arte
Arte Gótica
PERGUNTA
Nome:
Paulo
Enviada em:
23/07/2004
Local:
São Paulo - SP,
Religião:
Ateu
Idade:
26 anos
Escolaridade:
2.o grau concluído
Profissão:
desenhista
Muito legal essa pagina .
Sou uma amante da arte gotica , gostaria de saber mais sobre , como começou
e porque os goticos são depressivos ??
Aguardo resposta
Atenciosamente
Paulo
Sou uma amante da arte gotica , gostaria de saber mais sobre , como começou
e porque os goticos são depressivos ??
Aguardo resposta
Atenciosamente
Paulo
RESPOSTA
Prezado Paulo,
Em primeiro lugar, não confunda, por favor, a arte gótica com esse movimento “underground” que se auto-entitula gótico.
Uma coisa, absolutamente, não tem relação com a outra.
Uma foi a elevação da arquitetura em seu mais alto valor, a outra é o rebaixamento do ser humano em um narcisismo satânico.
Falemos sobre a arte gótica.
Toda arte, Paulo, é a expressão de uma filosofia. Pois, o homem fala aquilo que tem em abundância no coração.
Todo nosso modo de agir é um reflexo de nosso modo de pensar.
Por isso, Otto von Simpson em seu excelente livro “A Catedral Gótica” dizia que “o nosso mundo moderno veio à luz como uma revolta contra a ordem intelectual da Idade Média”.
Nada mais evidente. Nosso mundo moderno não segue mais a teologia de Santo Tomás de Aquino, não tem mais Deus por fim e seus mandamentos como meio de alcançá-lo.
Na Idade Média, Idade da Luz, o homem amava tanto a Deus que levava ao desprezo de si mesmo... foi com este espírito que a Igreja Católica criou os hospitais para cuidar dos pobres, as universidades para ensinar os ignorantes e as catedrais para honrar dignamente a Deus – dilexi decorem domus tuae – amei a beleza de tua casa.
Foi por amar a Luz que a Idade Média criou os vitrais. Devido ao cruzamento dos arcos em ogiva, a parede perdia sua função de sustentação, podendo então ser substiutída por janelas: os vitrais.
Deus fez o olho humano de tal forma que não conseguisse fixar diretamente o sol. Todavia, vemos sua luz multicolorida que transpassa o vitral sem o danificar. Que belo símbolo da Sempre Virgem Maria, a única que pode ver Deus diretamente, pois é Imaculada, e que o Verbo de Deus nela se fez carne deixando-a intacta. Assim, canta a Igreja honrando nossa Mãe puríssima: “Inviolata, íntegra et casta es Maria, Quae es effecta fulgida caeli porta” (Inviolada, íntegra e casta és tu Maria, que és a porta fulgurante do Céu”.
Segue um pequeno resumo de uma aula dada num Congresso da Montfort.
Arte Gótica
Situa-se geralmente o nascimento da Arte Gótica em Saint-Denis (séc XII).
Identifica-se a arte gótica pelo cruzamento de ogivas e pelos arcos botantes.
O modo de ver e de fazer ver é reflexo de um modo de pensar. A catedral gótica é um espelho desta época que coincide com a condenação de Abelardo, com o começo das obras em Saint-Denis, com a suma teológica de Alexandre de Hales e o ensinamento público de Aristóteles.
O gótico não é, portanto, somente um recurso das possibilidades arquitetônicas do cruzamento de ogivas e do arcobotante. É a busca de uma luz sempre mais abundante, de uma elevação sempre mais alta e de uma unificação do espaço pelo descolamento dos volumes.
“A beleza é o resplendor da forma sobre as partes proporcionadas da matéria” (St. Tomás, de Pulchro et Bono).
Podemos distinguir os seguintes períodos na arte gótica:
1o Período – Gótico Primitivo (1140 a 1190)
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“O círculo - entre todas as figuras - e o movimento circular - entre todos os movimentos – são soberanamente perfeitos porque neles se verifica o retorno aos princípios” (St. Tomas – Suma Contra Gentis, II, 46-1). |
- Portais quase em arco românico
- Preponderância de espaços cheios sobre vazios
- Colunas e pilastras grossas
- Arcobotantes curtos e grossos
- Divisão da fachada por pilastras
O gótico primitivo se exemplifica por duas catedrais: St. Denis e Sens.
Em Saint-Denis, o duplo deambulatório demonstra a liberdade de espaço possibilitada pelo cruzamento de ogivas. As colunas delgadas e audaciosas não serão seguidas imediatamente em outras localidades. Suger faz outra escolha importante, uma fachada harmônica seguindo o exemplo das catedrais da Normandia.
Em Sens, as escolhas arquiteturais foram menos audaciosas, a alternância de suportes fortes e fracos é conservado juntamente com o arco em 6 gomos. As paredes permanecem espessas, entretanto as inovações são belas e bem presentes: a claridade fornecida por grandes janelas do bas-côtés é abundante.
As contribuições arquitetônicas de Sens são apreendidas mais rapidamente que as de St. Denis. Elas são transportadas, com numerosas adaptações à Senlis, Noyon. Notre-Dame de Noyon inaugura a fórmula de elevação em 4 níveis (grande arcadas, tribunas, trifórium, janelas altas) que, sem ser exclusivo (Notre Dame de Paris possui 3 níveis), conhecerá uma grande difusão durante toda segunda metade do século XII.
A partir de 1160, começam construções de catedrais cada vez mais altas - Notre Dame de Paris, Laon, etc. Em Laon o mestre-de-obras utiliza paredes recortadas, uma elevação em 4 níveis. Em Paris, a parede é simples, o trifórium foi suprimido para proveito das tribunas e de uma iluminação mais abundante.
Este segundo modelo conhecerá maior sucesso entre os mestre-de-obras.
2o Período: Gótico Radiante (1190 a 1350)
“Una e simples no seu princípio a luz divina se divide e se diversifica na medida em que as criaturas intelectuais se afastam como linhas de um centro” (St. Tomas, Summa Teologiae I,89,1)
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- Ogivas lanceadas
- Equilíbrio entre área vazia e cheia
- Colunas fasciculadas com capitel
- Galeria dos Reis
- Arcobotantes longos, finos e elegantes.
Em 1190, o gótico encontra um novo impulso, principalmente ao Norte de França. As duas catedrais mais marcantes deste período são Chartres e Bourges.
Figura: G.Dehio & G von Bezold, die Kirchliche Baukunst des abendlandes : historiches und systematisch dargestellt |
Bourges adotou uma elevação piramidal em 5 níveis, devido a utilização do duplo colateral.
1 - Arco “formeret” : ogiva sexpartida une duas traves.
2 – Elevação da nave central
3 – Elevação do primeiro colateral, englobado pela grande arcada da nave central.
4 – Elevação do segundo colateral englobado pela grande arcada do primeiro colateral.
É a combinação da elevação da nave central e dos dois colaterais que constitue uma elevação em 5 níveis. |
A partir de 1231 emerge progressivamente um novo estilo que se caracteriza pela verticalidade, pilares fasciculados e edificação de paredes de vidros. A origem do gótico radiante pode ser situado em Paris. Lá ainda, a Basílica de St. Denis figura como precursora, pois suas inovações aparecem com a reforma do coro. A constituição de paredes de vidro toma toda sua amplitude na Saint-Chapelle |
O gótico radiante se impõe realmente a partir de 1240. As catedrais então em construção, como Amiens, Reims ou Beauvais, mudam parcialmente suas plantas (partes altas do coro em Beauvais, fachada ocidental em Reims..) É nesta época em que a rosácea torna-se um elemento essencial da decoração, apesar de ser já muito utilizada. A multiplicação das capelas laterais permite aumentar o espaço da catedral. As adaptações do gótico variam bastante de uma região a outra.
3o Período – Gótico Flamejante (1350 a 1500)
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O termo “flamboyant” deve-se a forma de chamas que preenchem o interior das janelas, principalmente das rosáceas.
Multiplica-se os “gâbles” e os pináculos exteriores, enquanto no interior as ogivas tornam-se muito complexas com grande luxo. Constata-se, também, um retorno mais freqüente às elevações em dois níveis que fazem desaparecer as paredes entre as grandes arcadas e as janelas altas (Ex. Saint Germain l’Auxerrois). Mais tarde, certos elementos de arquitetura gótica são utilizados com fins essencialmente decorativos. É o caso do cruzamento de ogivas, que torna-se mais complexo até perder seu sentido. |
Escultura Gótica
|
Gótico Primitivo |
Gótico Radiante |
Gótico Flamejante |
Filosofia |
Platônico |
Aristotélico-tomista |
Nominalista (Ockham) |
Posição a respeito dos universais |
Representação do universal “o rei” |
Matéria e alma
“O rei S. Luís”
|
Só Matéria
Retrato “Luís” |
Exemplos |
Chartres |
Reims / Notre Dame de Paris |
Strasburg/ Westmistrer |
Corpo X Alma |
Só alma – importância para o rosto, corpo coluna |
Corpo e alma
|
Só corpo |
Curvas |
Sem ondulações
Dobras rasas
Paralelas
estilizadas |
Dobras profundas e majestosas |
Curvas e contra curvas, caracóis com muitas dobras |
Emoções |
Frieza, sem emoções
Impassibilidade |
Sorriso, Emoções equilibradas, sem excessos, tristeza esperançosa |
Gargalhada, desespero, pranto, dor
|
Movimento |
Sem movimento |
Com movimentos equilibrados |
Muito movimento, agitadas pelo vento |
Altura |
Desproporcionalmente altas |
Proporcionais (7-8 cabeças) |
Muito baixas |
Gótico Primitivo |
Gótico Radiante |
Gótico Flamejante |
In corde Iesu,
André Palma.
Bibliografia:
- Simson, Otto Von “A Catedral Gótica”, Lisboa – Editorial Presença - 1991
- Cali, François / Moulinier, Serge “L’Ordre Ogival” – Paris – B. Arthaud - 1963
- Cali, François “L’Ordre Flamboyant” – Paris – B. Arthaud - 1967
- Focillon, Henri “Arte do Ocidnte” – Lisboa – Editoral Estampa - 1993
- Panofsky, Erwin “Arquitetura Gótica e Escolástica” – São Paulo – M. Fontes - 1991
- Cosse, Jean “Initiation à l’art dês cathédrales” – Auxerre – Zodiaque - 1999
- Fedeli, Orlando – “Filosofia e Escultura na Idade Média” publicado no jornal Veritas, 1992.