Defesa da Fé
Encontro Nacional de Presbíteros: duas declarações. Qual é a verdadeira?
PERGUNTA
Professor Orlando, acabei de ler sua carta de apoio ao nosso querido Papa Bento XI, e eu já havia lido a carta dos padres juntamente com o Cardeal Dom Claudio Hummes, o absurdo de pedir o fim do celibato sacerdotal e tanta outra coisas, neste encontro de Itaici.
Professor, eu estou muito triste com tudo o que está acontecendo na Santa Igreja, e quero que saiba que na minha insignificância de não poder fazer nada, eu tenho rezado muito pedindo a miséricordia de Deus e a intercessão de Nossa Mãe a Santissima Virgem Maria.
Professor quero que saiba, que o admiro pela sua coragem em defender a Santa Igreja de tantas heresias, precisamos de muitos homens como o Senhor, cheio de fé coragem e amor, e peço a Deus que o proteja sempre, dando lhe vida e muita saúde, precisamos de sua coragem!!!
Que Deus o proteja e abençõe todos do site montfort.
Madalena Godoi
RESPOSTA
Para governo seu, minha cara Maria Madalena, como também dos leitores do site Montfort, publico em Post Scriptum, com esta resposta à sua missiva, os dois documentos emanados pelo Encontro Nacional de Presbíteros.
Padres sugerem o fim do celibato
Brasileiros levarão ao papa documento sobre alternativas para a vida religiosa e tolerância com segundo casamento
José Maria Mayrink, INDAIATUBA
O documento final do 12º Encontro Nacional de Presbíteros, encerrado ontem no Mosteiro de Itaici, município de Indaiatuba (SP), propõe ao Vaticano a busca de alternativas para o celibato sacerdotal - o que significaria a ordenação de homens casados e a readmissão de padres que deixaram suas funções para se casar.
Aprovado por 430 delegados que representavam os 18.685 padres das 269 dioceses brasileiras, onde trabalham em 9.222 paróquias, o pedido será enviado à Sagrada Congregação para o Clero, em Roma, atualmente presidida pelo cardeal d. Cláudio Hummes, ex-arcebispo de São Paulo.
Os padres pedirão também à Santa Sé “orientações mais seguras e definidas sobre o acompanhamento pastoral de casais de segunda união”, os católicos que se divorciaram e tornaram a se casar. Unidos pelo casamento civil, esses fiéis podem participar da vida da Igreja, mas não podem se confessar nem comungar.
As duas reivindicações contrariam normas em vigor na Igreja que, conforme d. Cláudio afirmou no plenário do Encontro de Itaici, a Igreja não tem a intenção de alterar. Os padres não sugerem a abolição total do celibato, que continuaria sendo uma opção, por exemplo, nas ordens e congregações religiosas, mas que haja outras “formas de ministério ordenado”.
A Igreja restabeleceu o diaconato permanente, que é exercido por homens casados. Os diáconos podem pregar nos templos e administrar sacramentos, embora não todos. Batizam, dão a unção dos enfermos e fazem casamentos, mas não celebram a missa nem ouvem confissões, privilégios exclusivos dos sacerdotes.
Outra reivindicação ousada do documento aprovado pelo Encontro de Presbíteros refere-se à nomeação de bispos. Proposta a ser encaminhada à Congregação para os Bispos pedirá uma revisão das nomeações “dentro de um espírito mais transparente, democrático e participativo junto dos presbitérios, dioceses e regionais da CNBB” (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
A escolha dos bispos, que são nomeados pelo papa, é feita sob sigilo pelo núncio apostólico, representante diplomático da Santa Sé. Ele envia a Roma uma lista tríplice, depois de consultar os titulares de dioceses da região em que o escolhido vai servir. Os padres querem ser ouvidos nesse processo.
Dentro do espírito da 5ª Conferência do Episcopado da América Latina e do Caribe, que se reuniu no ano passado em Aparecida para discutir o tema Discípulos e Missionários de Jesus Cristo, os padres chegaram à conclusão, em Itaici, de que precisam sair das paróquias para ir ao encontro dos fiéis, a começar pelos católicos que abandonaram a prática religiosa. As paróquias, dizem os padres, devem renovar sua estrutura para ser menos burocráticas.
SANTOS BRASILEIROS
O documento reivindica ainda que a Congregação para a Causa dos Santos encaminhe “os processos de beatificação e de canonização de padres e bispos brasileiros que seriam de grande estímulo para a vida e o ministério presbiteral”. Entre outros candidatos a santo, o texto cita Padre Cícero Romão Batista, d. Hélder Câmara e d. Luciano Mendes de Almeida.
O novo presidente da Comissão Nacional dos Presbíteros, padre Francisco (Chico) dos Santos, eleito em Itaci para um mandato de quatro anos, sugere uma redistribuição de padres entre as dioceses para atender as comunidades onde eles estão faltando. Ordenado há 32 anos, padre Chico é pároco em Muzambinho, no sul de Minas.
(destaques nossos)
Fonte: O Estado de São Paulo (http://www.estado.com.br/editorias/2008/02/20/ger-1.93.7.20080220.1.1.xml
Fonte CNBB - http://www.cnbbsul1.org.br/index.php?link=news/read.php&id=4734
Estimado Irmão Presbítero!
Nós, 430 presbíteros delegados vindos das Dioceses do Brasil, reunidos de 13 a 19 de fevereiro de 2008, em Itaici - Indaiatuba (SP), no 12° Encontro Nacional de Presbíteros nos dirigimos fraternalmente a você. Refletimos, à luz da Conferência de Aparecida, o tema: “Presbíteros, Discípulos e Missionários de Jesus Cristo na América Latina”, e o lema: “chamou-os para estar com Ele e enviá-los em missão” (cf. Mc 3,13-14). O encontro foi um momento oportuno de partilha de experiências e sonhos que acalentam nossa vida e ministério presbiteral. Além dos delegados, tivemos a presença de representantes: dos alunos do Pontifício Colégio Pio Brasileiro, dos seminaristas, dos diáconos, do Instituto Mariama, da Associação Nacional de Presbíteros do Brasil, da Organização dos Seminários e Institutos do Brasil, da Associação Rumos - padres casados, da Comissão Nacional dos Diáconos, da Conferência Nacional dos Institutos Seculares, bem como de assessores, de bispos referenciais, do presidente da CMOVC, Dom Esmeraldo Farias Barreto, de Dom Dimas Lara Barbosa, secretário geral da CNBB e do cardeal Dom Cláudio Hummes, Prefeito da Congregação para o Clero, que ajudaram no aprofundamento da reflexão. Menção especial merece o querido Dom Moacyr Grechi que orientou o dia de retiro.
Vivemos numa sociedade capitalista e globalizada que se expressa em vários contextos complexos, dinâmicos, envolventes e que ocasionam uma grande angústia, pois nossos irmãos e irmãs, em número muito elevado, não têm acesso à cidadania e aos bens essenciais para a vida com dignidade. Com relação à ecologia, sentimos uma grande indignação com o processo de destruição da natureza. A nossa Igreja, não raro, aparece com estruturas “pesadas” e com dificuldade para ser fiel à dinâmica de Jesus e ao projeto do Reino de Deus e a sua justiça (cf. Mt 6,33).
Reportamo-nos à Conferência de Aparecida, que confirmou o caminho traçado no Concílio Vaticano II e nas Conferências de Medellín e Puebla, nos interpelando para sermos discípulos missionários. Neste sentido, reconhecemos a necessidade de uma conversão pessoal e pastoral que nos possibilite ser:
Presbíteros-discípulos abertos para acolher o chamado do Deus Trindade e compassivos aos clamores dos irmãos e irmãs, que solicitam posturas semelhantes às do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37). A renovação da Igreja exige que sejamos autênticos discípulos de Jesus Cristo, porque só um presbítero apaixonado por Jesus poderá renovar uma paróquia e toda a sua ação pastoral (cf. DA 201).
Presbíteros-profetas que, em comunhão, assumamos continuamente os valores fundamentais da vida, do projeto de Deus e da dignidade humana e denunciemos tudo o que destrói a imagem de Deus nos irmãos e irmãs mais pobres. Neste sentido, surge o grande desafio de “trabalhar para que nossa Igreja Latino-americana e Caribenha continue sendo, com maior afinco, companheira de caminho de nossos irmãos mais pobres, inclusive até o martírio” (DA 396).
Presbíteros-missionários movidos pelo Mestre Jesus na perspectiva do Reino de Deus para que possamos cuidar do povo, procurando os afastados e construindo relações fraternas. Isto implica que a Igreja saia de uma pastoral de manutenção com estruturas pesadas e ultrapassadas e passe para uma pastoral renovada, missionária, ministerial, servidora do povo, acolhedora e misericordiosa (cf. DA 365).
O poeta nos ensina: “caminheiro não há caminho, o caminho se faz...” Em nossa vida presbiteral, encontramos muitos testemunhos de evangelizadores, profetas, mártires, missionários como Pe. Alberto Antoniazzi, Pe. Cícero, Pe. Ibiapina, Pe. Josimo Moraes Tavares, D. Helder Câmera, Dom Ivo Lorscheiter, Dom Aloísio Lorscheider, Dom Luciano Mendes de Almeida, Ir. Dorothy Stang..., que nos enchem de esperança. E, em cada Diocese, encontramos grandes referenciais igualmente significativos. Celebramos, ainda, os 80 anos do poeta-profeta-pastor Dom Pedro Casaldáliga e expressamos a solidariedade aos perseguidos na pessoa do Pe. Júlio Lancelotti e do Dom Luis Flávio Cappio.
Nossa formação de presbíteros, inicial e permanente, mereceu atenção no encontro. Há uma necessidade de definir melhor o perfil e o rosto de nossa Igreja para qualificar a identidade presbiteral. Há preocupação de formar padres para os grandes centros urbanos, favelas, grupos de espiritualidades diferentes... Com mesma intensidade sentimos o apelo que vem dos leigos, que esperam formação, estímulo e participação nas decisões e serviços da Igreja.
A Pastoral Presbiteral foi fortalecida no encontro e tem um grande desafio de continuar promovendo a sintonia e a fraternidade entre os padres. Devemos nos encontrar mais, partilhar a vida, reconhecer os diferentes carismas, sermos mais irmãos, amigos e solidários. E para que esse trabalho seja desenvolvido foi eleita a nova coordenação da Comissão Nacional dos Presbíteros, assim constituída: Pe. Francisco dos Santos, presidente; Pe. Lázaro Silva Muniz, vice-presidente e Pe. Mário Spaki, secretário. É fundamental que em cada Diocese a Pastoral Presbiteral também esteja organizada.
O 12º ENP foi muito importante, um momento privilegiado da busca de nossa identidade e desejo de melhor compreender a nossa missão no mundo de hoje. Defendemos a vida como um dom de amor que não tem fim, por isso, acreditamos que somos capazes de transformar as relações entre as pessoas e as relações do ser humano com a natureza e transformar a sociedade excludente. Essa luta é constitutiva da missão.
Animados pelas grandes intuições de Aparecida, nos sentimos chamados a ser cada vez mais presbíteros discípulos missionários. Por isso, conclamamos todos os irmãos presbíteros deste país, para que com coragem, ânimo e ousadia vivamos nosso ministério presbiteral, assumindo a opção pelos pobres, a caminhada das mulheres nas comunidades e o jeito CEBs de ser Igreja. Agradecemos a todos que estiveram unidos a nós, nestes dias com suas orações. Renovamos a esperança de que Maria, Estrela da evangelização, continue sendo a modelo de discípula missionária a nos incentivar e encorajar nosso ser e ministério presbiteral.
Caro irmão presbítero, receba nosso abraço fraterno!
Presbíteros participantes do 12º ENP
Publicado em 22/02/2008 - 08:52