Defesa da Fé

Legitimidade da Tradição
PERGUNTA
Nome:
Cilas
Enviada em:
29/10/2000
Local:
Ourinhos - SP,
Religião:
Protestante



Sem entrar no mérito da polêmica, seria muito útil para mim um esclarecimento sobre o papel da Tradição e do Magistério da igreja.

Quando algumas questões antagônicas às doutrinas da igreja são postas em evidência, um texto muito conhecido das Escrituras é citado visando abalizar o papel da Tradição. Tal enunciado diz respeito aos feitos de Jesus, os quais deixaram de ser transmitidos pela palavra escrita, e que "no mundo não caberia a quatidade de livros que por ventura fossem escritos".

Segundo se infere, baseado nesse texto e em outros, somos levados ao seguinte reciocínio:

a) concordar que inumeras expressões utilizadas nas Escrituras - inclusive neste versículo - estão empregnadas de hebraísmo. Exemplo: "Se ninguém odiar a seus pais por amor de mim não é digno de mim". De forma alguma Cristo pregava o ódio. Hermeneuticamente falando entendemos tratar-se das prioridades, dos desprendimentos;

b) Como os postulados da Tradição não podem ser provados, diríamos, em hipóstese alguma, não estaria ela(a Tradição)apegando-se em elementos hipotético, ou até mesmo utópicos para tentar provar o improvável? Se não há como prova-los, não seria um "chute" da Tradição, uma abstração ao atribuir como doutrinas o apenas imaginável?

Uma certa espectação do ilusório sobressai em nossa mente ao doar o caráter análogico à Tradição, comparando-a a um país que emite toneladas de papel-moeda sem ter o devido lastro em reservas auríferas. Isso nos faz lembrar o Brasil quando emitiu os chamados "papéis podres".

Lamentamos profundamente não contarmos com o aval da inspiração, o "imprimatur" divino nos postulados da Tradição. tivesse a Tradição esse selo, como o tem as Escrituras, muitas celeumas seriam evitada.

Pelo fato de a Tradição e o Magistério estarem postados em um nível superior à Palavra - tanto que podem interpreta-la a ponto de atribuir como fidedignos conceitos sem o aval divino - o glossário doutrinário da igreja não poderia ter sido transformado em um imenso charco de areia movediça?

Cilas E. Oliveira

RESPOSTA


Muito prezado Cilas, Salve Maria.

O problema que você coloca é o da legitimidade da Tradição.

Para os protestantes, a única fonte de revelação é a Escritura. Ora, esse principio de "sola Scriptura" não se sustenta sem a tradição.

Vejamos.
Admitindo, por hipótese, que houvesse só a Escritura como fonte da revelação, cair-se-ia em contradição imediata. Porque o próprio canon das Escrituras não foi fixado por elas. Quem formou o canon inicialmente foi a tradição, confirmada, depois, pela Igreja.

Ademais, o próprio texto da Escritura afirma que se devem seguir as tradições.

São Paulo recomenda: "Tenete traditiones" -- "Mantende as tradições".
Se ele condena -- como Cristo -- as tradições humanas, ele ordena que se guardem todas as coisas que ele ensinou por escrito e POR PALAVRA:
"Permanecei, pois, constantes, irmãos, e conservai as tradições que aprendestes, ou por nossas palavras, ou por nossa carta" (II Tess.II, 14).

Por isso, a Igreja sempre ensinou que são duas as fontes da revelação: as Sagradas Escrituras e a Tradição Apostólica.

Negando-se o valor do Magistério da Igreja e da Tradição apostólica e ficando apenas com a Escritura, aí sim é que se cai no areal movediço da interpretação pessoal e relativista da Escritura. E foi o que aconteceu e o que se constata com o protestantismo. Na verdade, não existe o "Protestantismo". O livre exame faz de cada protestante o único membro de sua igreja. O livre exame da Escritura, a negação da Tradição e da única Igreja de Cristo tornam inútil toda a Escritura, porque ninguém saberia ao certo o que Deus teria revelado com o uso de palavras unívocas, análogas e equívocas.

Cada um interpretando a seu bel prazer o texto revelado, não haveria verdade revelada e a Escritura, em lugar de ser fonte de verdade, seria fonte de confusão. Aliás, foi a essa conclusão que chegaram os Ranters, seita protestante inglesa que, verificando o cáos de interpretações a que se havia chegado com o livre exame, acabaram concluindo que a Bíblia era o livro mais diabólico que jamais existira.

Esperando tê-lo ajudado com estas considerações, recomendo-lhe ainda que reze a Nossa Senhora, Mãe da Sabedoria Eterna, para que o ilumine alcançando plenamente a verdade Católica.

In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli