Defesa da Fé

Ataque ateu
PERGUNTA
Nome:
Vicente
Enviada em:
31/08/2000
Religião:
Católica



Ola amigos da Associacao Montfort

Em primeiro lugar gostaria de agradecer o espaco que voces gentilmente cedem aos leitores de seus espetacularmente esclarecedores artigos. Se possivel, gostaria que este mail fosse respondido pelo Dr. Orlando Fedeli, pois por ele foram escritos os artigos que eu considerei mais interessantes (nao desmerecendo os outros, e claro).

Sou catolico e, recentemente, me foi enviado o seguinte texto, via mail:
"The biblical god is a macho male warrior. Though he said "Thou shalt not kill," he ordered death for all opposition, wholesale drowning and mass exterminations; punishes offspring to the fourth generation (Ex. 20:5); ordered pregnant women and children to be ripped up (Hos. 13:16); demands animal and humanblood to appease his angry vanity; is partial to one race of people; judges women inferior to men; is a sadist who created a hell to torture unbelievers; created evil (Is. 45:7); discriminated against the handicapped (Le. 21:18-23); ordered virgins to be kept as spoils of war (Num. 31:15-18, Deut. 21:11-14);spread dung on people"s faces (Mal. 2:3); sent bears to devour 42 children who teased a prophet (II Kings 2:23-24); punishes people with snakes, dogs, dragons, drunkenness, swords, arrows, axes, fire, famine, and infanticide; and said fathers should eat their sons (Ez. 5:10) Is that nice? Would you want to live next door to such a person?"

Tambem me enviou: (o mesmo amigo)
"You find as you look around the world that every single bit of human progress in humane feeling, every improvement in the criminal law, every step toward the diminution of war, every step toward better treatment of the colored races, or every mitigation of slavery, every moral progress that there has been in the world, has been consistently opposed by the organized churches of the world. I say deliberately that the Christian religion, as organized in its churches, has been and still is, the principal enemy of moral progress in the world.

Um amigo meu, ateu, enviou esses artigos para que eu "pensasse a respeito da verdade sobre o Deus e Igreja catolico" (palavras dele). Obviamente, quem escreveu o texto acima nao foi meu amigo, e sim um americano chamado Dan Barker. Li-os com atencao e, me parece, meu amigo tem uma ponta de razao... porque o nosso Deus agiu assim em tantas situacoes? A Igreja realmente atrapalha o progresso cientifico? Se fosse possivel gostaria que voces comentassem as passagens do texto para que eu possa responder ao meu amigo de maneira inteligente e correta, pois nao e a primeira vez que os discrentes me atacam com essas citacoes. O que devo falar?

Agradeco desde ja,
Vicente Prates

RESPOSTA


Muito prezado Vicente, Salve Maria.

Agradeço-lhe inicialmente suas palavras, que refletem mais sua generosidade do que nossos méritos.

Os textos em inglês que você me envia revelam que o autor desconhece inteiramente a doutrina Católica, e mais ainda, que é uma pessoa que é bem inimiga dela.

Para o autor -- o tal Dan Baker -- o supremo bem é a vida física. Ora, se assim fosse, ele poderia acrescentar mais uma outra acusação contra Deus, que tão bondosamente nos deu vida: Ele nos fez mortais, e estamos todos condenados à morte.

Por que Deus fez assim?
Porque a vida física não é o supremo bem. Ela nos propicia um bem maior: o compreender a verdade e amá-la. Isto é, Deus nos deu a vida material para que O conhecêssemos, como Verdade absoluta, e o amássemos livremente, como Bem infinito, para serví-Lo, e assim podermos ter, depois da morte, a vida eterna, no céu, com Deus.

Quando Deus proibe que um homem mate outro homem -- "Tu não matarás" -- proibe que um indivíduo, como parte da sociedade, tire a vida de um seu semelhante.

Se o homem for homicida, a sociedade enquanto tal, como o todo de que o indivíduo faz parte, pode reagir contra o homem que a ataca ao matar outro homem punindo o agressor com a morte.

Isto é inteiramente razoável, porque o todo é mais do que a parte.

Também nós -- e Dan Baker também -- se tivermos câncer em um órgão ou em algum membro do corpo, amputamos a parte doente para salvar o corpo, porque o corpo é mais do que uma parte.

Quando Dan Baker cita que Deus amaldiçoa até a quarta geração, ele esquece de acrescentar que Deus abençoa até a milésima geração. O que quer dizer que a honra e a desonra se herdam.

A maldição até a quarta geração significa que certos crimes e pecados produzem males físicos que são herdados geneticamente (ex. sífilis, aids, drogas, embriaguês, etc). E a vergonha desses pecados afeta os filhos, quando esses pecados forem públicos. Porém, isso não quer dizer que os filhos herdem a culpa dos pais. A culpa é pessoal.

Quanto aos sacrifícios de animais feitos pelos hebreus, era porque eles eram pastores, e sacrificando reses demonstravam que reconheciam que todas as suas riquezas provinham de Deus criador de todas as coisas. Não era então por "vaidade" que Deus exigia sacrifícios, mas por justiça, para que os homens reconhecessem o seu senhorio e seu domínio como criador.

E é uma tolice dizer que Deus foi "parcial" com os judeus. Se Deus preferiu o povo descendente de Abraão, foi por causa dos méritos de Abraão. Vê-se por aí como Dan Baker é parcial em seu julgamento: primeiro, ele acusa Deus de ser injusto por amaldiçoar até a quarta geração. Depois clama contra Deus por ter abençoado os descendentes de Abraão por tantos séculos.

Para Dan Baker, preferir um homem a outro, um povo a outro, seria injustiça.

Para ele a justiça seria a igualdade de trato. Ora, a desigualdade de méritos e de valor exige a desigualdade de recompensas. Injusto seria dar premios iguais a quem tem méritos diferentes, e injusto seria dar castigos iguais a crimes desiguais. Ou a culpas diferentes.

(Sobre o bem da desigualdade, peço-lhe que consulte meu trabalho sobre a desigualdade de direitos, "Desigualdade & igualdade: considerações sobre um mito ", que publiquei no site Montfort)

Também erra Dan Baker ao dizer que Deus julga a mulher inferior ao homem enquanto ser humano. Prova: o ser humano a quem Deus deu mais graças e dons foi uma mulher: a Virgem Maria.

Homens e mulheres são iguais na natureza e, por isso, os direitos naturais são iguais para o homem e para a mulher. O que Deus e a razão mostram é que a mulher é acidentalmente diferente do homem. Por isso, os direitos acidentais deles são diferentes.

Repito: essencialmente homens e mulheres são iguais, e seus direitos essenciais são iguais. Acidentalmente não. Por isso, a mulher tem certos direitos que o homem não tem. E vice versa. Por exemplo, a mulher, por causa da gravidez, deve gozar de direitos trabalhistas que o homem não goza. E vice versa , meu caro. E vice versa.

Deus não "discrimina os handicaped", como afirma tolamente Dan Baker. O próprio Dan Baker, se for treinador de um time de futebol, não admitirá que um cego seja goleiro de seu time. E se não eleger um cego para goleiro, ele não estará discriminando o cego. Quando um exército dispensa do serviço militar um aleijado, não o está discriminando, mas protegendo-o, e fazendo-lhe justiça.

A Dan Baker parece que falta o mínimo de bom senso, sobrando-lhe ódio a Deus. Dizer que Deus é um "sádico", por ter criado o inferno para os pecadores, é uma blasfêmia estúpida. Só vai para o inferno quem quer. E Deus morreu por nós todos para que não fôssemos ao inferno. Morreu até por Dan Baker, que não quer estar na companhia do Deus que o redimiu, morrendo por ele na Cruz. Se Dan Baker quer ir para o inferno, para ficar longe de Deus, ele é livre. Mas irá para o inferno porque livremente recusa a mão de Deus que o quer salvar. Deus tenha piedade dele.

A seguir Dan Baker cita as punições que Deus deu a certos pecadores, inclusive aos meninos que ofenderam ao profeta Eliseu. Ora, se Deus, que é infinitamente justo, pune de tal forma os pecadores, é para nos mostrar a gravidade do pecado. Isso para que não tenhamos um castigo eterno no inferno. E a punição das crianças que ofenderam o Profeta Eliseu não significa, de modo algum, que elas foram ao inferno. Significa, tão só, o quanto é grande a honra de um profeta e de um santo.

A acusação de Dan Baker de que o cristianismo se opôs à abolição de tudo o que houve de errado na História é uma calúnia. Por exemplo, a escravidão foi combatida sempre pelo cristianismo, havendo inúmeras excomunhões da Igreja contra os que escravizavam índios e negros.

E foi o cristianismo que aboliu a escravidão existente entre os povos pagãos.

A única época em que não houve escravos foi aquela em que a Igreja dominou a sociedade: a Idade Média.

E não venha Dan Baker confundir escravos com servos.

Sobre a defesa dos réus nos tribunais, foi a Inquisição a fonte que inspirou boa parte da leis que protegem, hoje, o direito dos reus. Por exemplo, foi a Igreja a primeira a decretar que a confissão sob tortura era inválida como prova de culpa.

Dan Baker afirma caluniosamente -- contra toda a evidência histórica -- que a Igreja se opôs a todo progresso moral na História.

Se isso fosse verdade, como hoje o influxo da Igreja é o menor que já houve na História, o nível atual da moral pública e privada deveria ser o mais alto de todos os tempos.

Restaria a Dan Baker explicar como neste século anti cristão -- de moral elevadíssima -- houve Auschwitz, o Gulag, o paredón de Fidel, além de todos os horrores bem conhecidos.

O que diz Dan Baker é flagrante mentira.
A Igreja nunca atrapalhou o progresso científico, que só se realizou porque, na Idade Média, a Igreja fundou as Universidades.

Creio que lhe provei a falta de qualquer base lógica ou histórica das acusações desse pobre Dan Baker. Se houver mais algum tema, em que numa resposta rápida não toquei suficientemente, escreva-me, que o atenderei.

Para encerrar, quero lembrar-lhe que Dante, na Divina Comédia, faz as portas do Inferno proclamarem que quem as fez foi o Divino Poder, a Suma Sabedoria e o Primeiro Amor, isto é, o Espírito Santo. É o Amor de Deus que fez o inferno. E o fez para aqueles que perderam "Il ben del intellectto".
Como parece que aconteceu com o autor dessas tolas blasfêmias e infames calúnias.

In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli.