Prezado Liniker

Salve Maria!

Inicialmente quero agradecer por suas generosas palavras pois, sem dúvida, seus elogios são muito maiores do que merecemos, e também afirmar de modo muito claro e direto que vocês podem contar com todo o nosso apoio.

Desde os tempos em que, após o falecimento do nosso estimado Professor, me tornei “o atual presidente da Montfort”, nenhuma carta me trouxe tanta alegria e tanta esperança como a sua. Se Deus quiser em breve teremos “um segundo Colégio da Montfort”. É claro que você não se refere aqui ao direito de propriedade, mas sim aos princípios que norteiam o colégio. Foram as orações e os esforços dos membros da Montfort, com a orientação do Professor Orlando, que ergueram o colégio São Mauro, se Deus quiser isto se repetirá novamente.

Infelizmente, muitos daqueles da Montfort que colaboraram na fundação do colégio São Mauro se afastaram. Sem dúvida eles farão falta, mas Nossa Senhora soube convocar novos soldados para o nosso batalhão que de alguma forma substituirão as perdas. Além disto, os filhos das famílias da Montfort já participam de nossa luta e também eles darão a vocês o apoio necessário.

Em primeiro lugar pedirei a todos, especialmente as crianças, que rezem pelo novo colégio, porque, como sempre dizia o Professor o fundamental em um colégio é a oração. E por isto é muito importante procurar a ajuda de bons padres, o que significa padres que pratiquem a virtude e que também tiveram uma adequada formação espiritual e intelectual. Em São Caetano vocês certamente poderão contar com o Padre Jeferson Pimenta, mas tenho certeza que também haverá outros. Não caiam no “canto da sereia” de lideranças místicas e muitas vezes leigas tão frequentes em nossos tempos.

Infelizmente, a crise atual da Igreja nos obriga a constituir associações civis para a direção do colégio, agir de forma diferente seria uma grave imprudência. Devemos ver a realidade como ela é, e nos conformar a vontade de Deus, e não imaginar que somos capazes de colocar Deus em uma situação que ele fará a nossa vontade. Assim, é claro, não se pode fazer uma simulação de sociedade civil na qual os religiosos tenham a direção de forma oculta.

Você faz questão de destacar que não tem recursos. Contem conosco para divulgar e apoiar todos os eventos que vocês realizarem, e indicar o colégio para todos os nossos filhos e todos os nossos amigos, mas acredite a pobreza não será um problema, pelo contrário é uma graça.

Quando começamos o colégio São Mauro não tínhamos recursos, o São Mauro era pobre, muito pobre. Apenas para você ter uma ideia haviam salas de aula em que ao se fechar uma janela ela se abria em outra sala. A sala da diretoria era debaixo de uma escada. Mas nesse tempo nossos estudantes se destacavam pela alegria, eles praticavam a religião com satisfação. A Missa, em uma Capela que era uma garagem, sem ventilação, fora do horário de aula e sem nenhuma pressão para o comparecimento dos alunos ficava lotada. Eles participavam de todas as atividades propostas sem que fosse necessário somar ou diminuir pontos nas notas, eles entravam nas principais universidades do país mesmo estando no segundo ano do ensino médio. O Professor Orlando sempre me citava um trecho de uma canção em italiano que dizia, eles eram tão felizes que brindavam com o copo cheio de água. Mas houve um tempo que a pobreza nos abandonou. Que pena...

No tratamento com os alunos nunca se esqueça do chamado método preventivo de Dom Bosco. Ele consiste basicamente em não possibilitar aos alunos ocasiões em que façam coisas erradas, mas o que muitas vezes se esquece, e está é a verdadeira base deste método, é que isto somente é possível se os professores e dirigentes do colégio forem amigos dos alunos.

Durante muito tempo isto aconteceu no colégio São Mauro. Não se deve criar um clima de confronto entre Professores e alunos. Os professores devem procurar a amizade dos alunos, e não se transformar em seus algozes a fim de que os alunos os temam.

Recomendo muito que se leia uma carta que foi enviada por Dom Bosco aos dirigentes do colégio Salesiano enquanto ele estava em Roma, e por isto conhecida por Carta de Roma. Nesta, Dom Bosco relata um sonho, na realidade uma visão, que teve sobre a decadência do seu colégio em Turim. No sonho um de seus alunos falecido relatava como o clima inicial de amizade entre Professores e alunos foi se transformando em um clima de antagonismo, mesmo com os Professores dispostos a muitos sacrifícios pelos alunos. E veja que Dom Bosco ainda estava vivo. Se os alunos não estiverem convencidos não haverá regra ou tabela que os faça praticar a religião, porque não é possível que vinte quatro horas por dia alguém esteja ao lado deles.

Em resumo, vocês podem contar com nosso apoio no que for preciso. Um colégio traz muitas alegrias, mas atrai também muito ódio dos inimigos da Igreja. E cuidado, pior que os ataques diretos são as infiltrações, mas isto é um assunto para daqui a vinte e cinco anos e certamente nesta ocasião haverá outro e melhor “atual presidente da Montfort”.