Religião-Filosofia-História
No país das maravilhas: a Gnose burlesca da TFP e dos Arautos do Evangelho (Parte 7/8)
Orlando Fedeli
(Frente - Resumo - Parte 1 - Parte 2 - Parte 3 - Parte 4 - Parte 5 - Parte 6 - Parte 7 - Parte 8)
SEXTA PARTE: A SEMPRE VIVA
JC [O atual Monsenhor, e Doutor pelo Angelicum, João Scognamiglio Clá Dias], baseado no princípio dos círculos concêntricos dado por Dom Chautard em seu magnífico livro “A alma de todo apostolado”, reune um grupo de ‘fervorosos’, ou como você muito bem classificou em um de seus posts, um grupo de ‘dictadores do bom espírito’. João Clá notificou da iniciativa a Zayas, a Kallás, ao Dr. Duca, os irmãos João Carlos e Celso Luis, e a mim, que éramos os quidams [dirigentes] dos grupos dos que tinham sido selecionados os integrantes do grupinho.
Alguém fez algum reparo sobre a iniciativa, e JC [João Clá] respondeu: o SDP [Senhor Doutor Plínio] está sabendo disso. Ele aprova. A ‘bucha’ [A Burschenschaft, sociedade secreta brasileira fundada por Júlio Frank] usa esse método desde os tempos de Moisés (ainda que nessa época não se chamasse bucha). Ela o usou contra Nosso Señor, ou os srs. pensam que aquéles judeus fariseus que acusavam Nosso Señor perante Pilatos não fazíam parte de um grupo organizado? O mesmo se fez na Revolução Francesa e daí para fora. Se a revolução usa, porque nós não usaraemos? Sejamos astutos como a serpente…”
O grupinho ficou assim oficializado. E começou a atuar. JC [João Clá] no PS [Praesto Sum, êremo da TFP] deu uma reuinão – de treinamento–para mostrar aos entrosados como se podía fazer uma dupla leitura do que se dizia numa reuniào qualquer e como se podia passar uma prancha [ordem secreta] em um plenário alheio ao grupinho. Explicando desse modo para os não entrosados inclusive, certas coisas. Que ele por falta de tempo, algumas vezes devería passar as ‘pranchas’ [ordens em código] assim, em plenário”. (http://extfp.mforos.com/1791911/9074334-para-joao-luiz-vidigal/)
Palavras de Julio Lopes Tejada dirigidas a João Luiz Vidigal (carteio via e-mail – foro de discussões).
Confissão de Dr. Plínio.
“Quando se demonstrou que uma associação é estruturada conforme o detestável princípio do segredo e das iniciações, pode-se “supor tudo a seu respeito” (Plínio Corrêa de Oliveira, Fundador da seita secreta A Sempre Viva, in Imbroglio, Détraction, Délire, Ed. Tradition, Famile Propriété, Asnières, França, 1980, vol. I, p. 160)
Termos em código, temas “parâmicos”, doutrinas reservadas a serem mantidos em segredo, organização em círculos concêntricos, tudo isso indicava que, por trás da TFP, como agora entre os Arautos do Evangelho, devia haver, e há, uma sociedade secreta. Seguidores de Plínio não admitem que a Sempre Viva fosse uma sociedade secreta; ela teria sido uma “Família de Almas” totalmente desconhecida dos demais membros da TFP, mera sociedade civil, dentro da qual vicejava escondida uma sociedade parasita e... tão secreta quanto um câncer. Dr. Plínio fora aluno dos jesuítas, no Colégio São Luis...
Desde os primeiros anos de sua atividade como líder pseudo católico, Plínio organizara seus grupos sempre tendo internamente um grupo secreto que controlava um círculo maior dos ingênuos. Assim, em seu primeiro grupo de seis pessoas, ele organizara uma sociedade secreta, que ele chamara de A Anônima, formada por quatro elementos.
Por isso, o “Idôneo” Átila Sinke Guimarães escreveu:
‘Essa sociedade civil [a TFP] com objetivos claros e definidos, teve origem pela ação natural das circunstâncias em uma família de almas na qual uma semente de perfeição religiosa havia caído, já há muito tempo, mas ainda hoje não germinou inteiramente, nem definiu ainda os seus contornos. “Com efeito, desde os primórdios dessa família de almas, pelos idos de 1930, e já no Grupo dos Congregados Marianos do qual resultou mais tarde a fundação ad TFP (26 de Julho de 1960), havia entre seus membros um pendor de alma muito frequente, que consistia na aspiração de transformar-se em um instituto religioso, ou de entrar em bloco em algum instituto já existente, cuja família de almas fosse afim com a sua” (Átila Sinke Guimarães, Servitudo ex Caritate. Serviço datilográfico da TFP, editado e impresso por Artpress, São Paulo, 1985, p. 158).
“Família de Almas” será a expressão para designar, em código, a Sempre Viva, e por extensão designava também as sociedades secretas anteriores que Plínio fundara desde os anos de 1930, entre os Congregados Marianos que reunira.
Seu grupo inicial permaneceu longo tempo muito reduzido, um tanto estranho, e muito reservado. Ele inicialmente fazia reuniões na Rua Martim Francisco, onde morava o Cônego Antônio de Castro Mayer. Depois, ao receberem dois apartamentos num edifício da Rua Vieira de Carvalho, doados a eles, depois da morte de um membro do grupo inicial, este passou a se denominar corriqueiramente como o grupo da Vieira de Carvalho. Como na Maçonaria, se designam as lojas com o nome de Loja da Rua Tal, assim também sempre foi costume na TFP: as várias sedes sempre eram designadas como grupo da rua Tal ou da rua Tal outra. E sua gíria interna senpre teve termos usados na Maçonaria.
O Grupo de Plínio que dirigia o semanárioO Legionário, manteve-se bem pequeno até a década de cinqüenta. Ele cresceu repentinamente, quando o Cardeal Dom Carlos Vasconcelos Motta,-- apelidado por Plínio de “o Reca”, [diminutivo de Recafredo, nome de um Bispo visigodo traidor, que ajudou os mouros maometanos conquistarem a Espanha] – exigiu que a Santa Sé expulsasse do Brasil o Padre Walter Mariaux S.J. Esse jesuíta organizara uma sociedade secreta por trás da Congregação Mariana que ele dirigia, no Colégio São Luis. Essa sociedade secreta de estudantes tinha vários círculos concêntricos, desconhecidos dos grupos exteriores: os GCR (Guerreiros de Cristo Rei); os AR (Amigos do Rei, que iam ser padres)...
E assim por diante.
Antes de partir para a Europa, por intermediação de Frei Jerônimo Van Hinten O. C. , Padre Mariaux deixou toda a sua sociedade secreta a Dr. Plínio. Este aceitou a “doação”. Depurou o grupo secreto de Padre Mariaux, selecionando uns doze membros de jovens pertencentes a famílias ricas. Esses doze membros vieram a formar o Grupo da Rua Martim Francisco. Hoje, eles formam o Grupo dos Provectos da TFP, traídos e despojados que foram, após a morte de Dr. Plínio, pelo oportunista João Scognamiglio Clá Dias, que se tornara a menina dos olhos de Dr. Plínio, o atual Padre Superior dos Arautos do Evangelho. A partir da nomeação de Dom Mayer como Bispo de Campos, Dr. Plínio planejou fundar um mensário que lhe permitisse lançar um movimento visando influir na política brasileira.
O mensário Catolicismo, oficialmente da Diocese de Campos, no calorento Estado do Rio de Janeiro, era, de fato, feito e dirigido por Dr. Plínio, e lhe serviu de trampolim para o crescimento do Grupo de PCO, sempre diminuto. O mensário Catolicismo deu azo a que PCO organizasse Semanas de Estudos de Catolicismo, reunindo simpatizantes de todo o Brasil. Na realidade, era um grupo ainda bem pequeno. Foi nessa fase que nós mesmos fomos levados ao Grupo de Catolicismo.
Dr. Plínio fora nosso Professor na Faculdade de Filosofa Ciências e Letras de São Bento, da PUC, nas Perdizes.
Ele fora nomeado, ainda na década de 30, depois de ter acabado seu mandato de Deputado da Constituinte de 1934, como Professor de História – sempre sem concurso e sempre por indicação política – na Cadeira de História da Faculdade de Direito de São Francisco, cadeira fundada por Júlio Franck – o fundador da sociedade secreta maçônica, a Burschenschaft.
Anos depois, Dr. Plínio fora nomeado, sem concurso e sem jamais ter estudado História, Professor da Faculdade Sedes Sapientiae, faculdade destinada a formar professoras, como também foi nomeado politicamente para lecionar História Moderna e Contemporânea na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de São Bento, da PUC, onde ele foi nosso Professor, em 1952 e 1953.
Foi nesse tempo que nos aproximamos dele. Foi então que ele nos convidou para participar de um Curso de Filosofia da História na Sociedade Joseph de Maistre, que funcionava num apartamento da Rua Vieira de Carvalho. Desse Curso, ia nascer o Grupo do Edifício Stella Maris, na Praça da Sé, ao lado da Catedral, grupo esse dirigido por membros do Grupo da Rua Martim Francisco, especialmente por Plínio Vidigal Xavier da Silveira.
Começamos, nós mesmos a lecionar História em colégios estaduais. Logo no primeiro ano de nosso trabalho, levamos a Dr. Plínio entre cinqüenta e sessenta rapazes que conhecêramos num Colégio da Rua da Moóca e noutro Colégio do Ipiranga. Entre eles estava também João Scognamiglio, que era então coroinha, na Igreja de Santa Edwiges, perto de São João Clímaco. Nesse grupo inicial de uns sessenta membros, João Clá como nós o chamamos para evitar o nome um tanto ridículo e bem profético de Scognamiglio, era apagado, no meio de um grupo brilhante. Ele se salientava por cantar bem um canto da Missa de defuntos. Para enterrar alguma coisa boa, ninguém como Scognamiglio. Salientava-se ele por brincadeiras desleais, que nos desagradavam pelo espírito de fraude que as caracterizava. No mais, ele era apagado. Ouvia bem. Falava pouco. Era até mais que tímido. Parecia medroso em meio a um grupo valente. E era oportunista e intrigante.
Acabou ficando tão mentiroso que se dizia que, quando ele por acidente dizia uma verdade, ficava vermelho de vergonha.
Dr. Plínio exultava com o afluxo de membros novos para seu Grupo mirrado. De 1928 a 1956, ele conseguira reunir 18 pessoas.
De repente, chegavam-lhe sessenta novos membros de origem popular, e descendente de imigrantes. De italianos. De “carcamanos”, como dizia ele. Mas, ao mesmo tempo, ele se orgulhava desse afluxo, que provava para o que ele chamava de “elite” paulista, de famílias paulistas “quatrocentões” do Jardim Europa, que Dr. Plínio alcançara penetração popular, entre famílias proletárias...
Ele se vingava de uma esterilidade apostólica, que durava quase trinta anos.
Claro que o grupo de jovens que formamos, e que ele fez ter sede e reuniões numa casa da Rua Aureliano Coutinho, por ser de origem muito popular e pobre, jamais foi convidado a conviver com os Grupos da Rua Martim Francisco e da Rua Vieira de Carvalho. Muito menos, os membros da Aureliano foram convidados a participar dos grupos secretos que já existiam por trás do Jornal Catolicismo, e dos quais desconhecíamos a existência. Nem desconfiávamos, então, que pudessem existir tais grupos secretos. Pessoalmente, soube-o muitos anos depois, Dr. Plínio me detestava porque “o Professor Fedéli”, conto como me transmitiram, disse-o Padre Davi Franceshini, “jamais compreenderia as maneiras aristocráticas e francesas de Dr. Plínio, que, até os 16 anos, andava de mãos dadas com um primo, pelas ruas de Higienópolis”. Assim nos contaram isso, muito anos depois de termos deixado a TFP.
De todo modo, quer fosse por falta de educação... afrancesada, quer fosse por termos um caráter por demais franco e aberto, jamais fomos considerados por Plínio como possível membro de uma de suas sociedades secretas. Pelo quê, damos graças a Deus. Falávamos francamente demais. Conosco era impossível impor segredos.
Depois de sete anos, dirigindo o grupo de jovens da Aureliano Coutinho – grupo que crescera muito, e até demais, segundo PCO – ele armou uma conspiração para nos alijar da Aureliano. Contamos isso num livro intitulado Por trás do Estandarte. A Sempre Viva Seita Secreta da TFP. Livro que nunca conseguimos publicar. Mais recentemente, um aluno conseguiu se apoderar dele, e sem permissão nossa o colocou na internet. Claro que não nos responsabilizamos com o texto furtado e posto na internet sem revisão nossa.
Portanto, depois de termos atraído e formado centenas de membros da TFP, ‑ dizia-se que eram metade da TFP ‑, descobrimos o culto secreto que PCO organizara para si mesmo e para sua mãe, na década de 60, por meio de Scognamiglio, que se tornara seu enfermeiro e discípulo preferido, a quem ele se referia como “o meu João Clá de olhos redondos e andaluzes”. Dizia ainda que João Clá era “o fiel intérprete de seus desígnios”... Foi mesmo...
Quando escrevemos nosso livro – Por Trás do Estandarte, contando nossa história no Grupo de Plínio, estava claro, por tudo que soubéramos de cultos secretos, de uso de códigos, e de doutrinas parâmicas, em círculos discretos por trás da TFP, que, por trás do estandarte devia existir uma sociedade secreta.
O que deduzíramos por lógica ficou comprovado pela confissão de ex membros da sociedade secreta A Sempre Viva. Esses ex membros nos deram provas documentais da existência da Sempre Viva, de suas doutrinas e do culto que nela se prestava a PCO e a Dona Lucília. Dr. Plínio nos atacou publicamente por meio de manifestos e artigos na Folha de São Paulo. Respondemos a ele, publicando artigos e documentos na Folha de São Paulo, em entrevistas a muitas revistas e jornais. Publicamos mesmo um trabalho intitulado Descrição de um Delírio, denunciando as práticas do culto secreto a Dr. Plínio e a Dona Lucília, mãe dele (Cujo texto atualiazado, faz parte desta nossa publicação).
Inicialmente, PCO procurou negar totalmente a existência desse culto. Depois, lançou uma obra em três volumes intitulada Refutação a Uma Investida Frustra, cujo principal autor foi Átila Sinke Guimarães, que falsificou cartas minhas, obra na qual se procura provar que o culto, que fora antes negado por Dr Plínio, era defendido como lícito, e tendo a aprovação de canonistas e moralistas de peso, como Padre Victorino Rodrigues e Padre Royo Marin, cujos pareceres aprobatórios foram conseguidas... por João Clá.
O “idôneo” Átila reconhece que havia uma distinção real e concreta entre a TFP e a “família de almas” que constituía secretamente a Sempre Viva.
A partir de 1976, se pensou em institucionalizar a TFP na Igreja como Instituto religioso, mas, levandos-e em conta a situação eclesiástica, concluiu-se que “seria impossível fazer qualquer transformação na TFP levando-a a depender das autoridades eclesiásticas” (Átila Sinke Guimarães, Servitudo ex Caritate. Serviço datilográfico da TFP, editado e impresso por Artpress, São Paulo, 1985, p. 159). Átila acaba dando a entender que havia de fato uma distinção clara entre a TFP e a “familia de almas“ reunida secretamente na Sempre Viva: “Dada essa situação, a TFP e sua família de almas têm uma característica peculiar. Enquanto associação, a TFP é exclusivamente uma sociedade civil. Seus membros, individualmente considerados, têm liberdade para praticar o que quiserem como católicos. A TFP fica sendo assim um “locus”, onde esses católicos individualmente considerados, exercem sua Religião, seguindo prásticas comuns que a Igreja sempre propôs a seus fiéis. As considerações que seguem [ no livro de Átila] não afetam o estado jurídico da entidade como ela é, motivo pelo qualnão se referirão ao conjunto dessas pessoas não como TFP, mas como “família de almas” da TFP” (Átila Sinke Guimarães, Servitudo ex Caritate. Serviço datilográfico da TFP, editado e impresso por Artpress, São Paulo, 1985, p. 159-160).
A TFP era o “locus” no qual se alojava, escondido, o câncer da Sempre Viva, a “família de almas” da TFP. Como em toda entidade que abriga uma seita secreta, na TFP, existiam duas esferas de membros: a dos iniciados, espertos e oportunistas formando o núcleo secreto da seita, e a esfera dos ingênuos e dos avestruzes da periferia da entidade. Avestruzes eram os que juravam que nada e nunca haviam visto de secreto – Et pour cause! – e podiam sinceramente jurar que nada disso existia, porque desconheciam o que era secreto. E acreditavam muito sinceramente no que juravam. Admitir que havia algo que eles não haviam nem percebido e nem mesmo desconfiado que existia seria admitir terem sido estupidamente enganados. E ninguém é mais cabeçudo que um ingênuo que recusa admitir seu avestruzismo.
Havia também os silêncios amedrontados dos que tinham sido pegos em algum deslize grave, e que o haviam contado a Dr. Plínio em seu escritório, onde ele apertava com o pé, um botão escondido sob o tapete, ligando um microfone, enquanto noutra sala, Scognamglio gravava tudinho, para depois chantagear os incautos... Por isso, muitos egressos da Sempre Viva sempre temerão contar o que sabem, porque João Clá sabe muito de suas vidas...
Apesar de tudo isso acabamos por obter muitos depoimentos de ex membros daSempre Viva, depoimentos feitos diante de várias pessoas, ou mesmo em cartório. Um dos depoentes falou durante muitas horas a nós e aos que conosco deixaram a TFP, como também contou tudo o que sabia a Dom Mayer. Que concluía dizendo: “Plínio me enganou durante 40 anos”...
Nos vários depoimentos que obtivemos não havia contradições, apenas alguns sabiam mais que os outros. E o que depois foi publicado sobre as doutrinas secretas de Plínio, na revista “Dr. Plínio”, no livro A Inocência Primeva, e a Contemplação Sacral do Universo, e nosJour Le Jour por Scognamiglio, e agora no livro Notas Autobiográficas de Plínio Corrêa de Oliveira, só confirmaram o que descobrimos da Sempre Viva e das estranhas doutrinas secretas de Dr. Plínio. É a coerência e a coincidência completa e objetiva dos depoimentos e documentos que conseguimos com a realidade dos fatos acontecidos e admitidos pelos líderes da TFP, e por suas publicações que comprovam a veracidade do que acusamos.
Habemus confitentem reum...
A sociedade secreta a que pertenceram os depoentes teria nascido oficialmente em 1967 e teve relação com as chamadas “graças de 1967”. É evidente, porém, que ela pode ter sido apenas a sucessora de uma outra sociedade secreta anterior (Sabemos hoje que antes da sociedade secreta atual, Dr. Plínio organizara outras de caráter “piedoso”: a primeira a Anônima, na década de 30 e 40; a segunda discreta apenas – chamada Joseph de Maistre; a terceira secreta, chamadaGrignon de Montfort, por volta de 1960).
Tanto é verdade que havia algo já antes de 1967, que o primeiro escravo de Plínio, e primeiro membro da Sempre Viva foi Caio Vidigal Xavier da Silveira, que em 1961 se consagrou como escravo a Dr. Plínio (Cfr.Átila Sinke Guimarães, Servitudo ex Caritate. Serviço datilográfico da TFP, editado e impresso por Artpress, São Paulo, 1985, p. 224).
Só em 1965, foi admitido um segundo membro, Eduardo de Barros Brotero, então unha e carne com Caio (Cfr.Átila Sinke Guimarães, Servitudo ex Caritate. Serviço datilográfico da TFP, editado e impresso por Artpress, São Paulo, 1985, p. 224).
Em 1967, outros membros do “locus” da TFP, fizeram votos de obediência, castidade e pobreza, entregando seus bens a Dr. Plínio (Cfr.Átila Sinke Guimarães, Servitudo ex Caritate. Serviço datilográfico da TFP, editado e impresso por Artpress, São Paulo, 1985, p. 226).
A partir de 1967, Plínio Corrêa de Olivera começou a se dizer o intermediário de Nossa Senhora, e os membros da Sempre Viva passaram a fazer a consagração a Nossa senhora nas mãos de Dr.Plínio, que disse aceitar ser o intermediário entre a Vrgem Maria e os membros da Sempre viva como seus escravos. (Cfr.Átila Sinke Guimarães, Servitudo ex Caritate. Serviço datilográfico da TFP, editado e impresso por Artpress, São Paulo, 1985, p. 227.
A Partir de 1975, Plínio se pôs como Fundador Religioso na Sempre Viva. (Cfr. Átila Sinke Guimarães, Servitudo ex Caritate. Serviço datilográfico da TFP, editado e impresso por Artpress, São Paulo, 1985, p. 229). O nome oficial da instituição secreta montada por Dr. Plínio era Sagrada Escravidão, pois todos os seus membros, na cerimônia de iniciação, deviam fazer uma consagração pessoal como escravos de Dr. Plínio, entregando-lhe suas pessoas corpo e alma, bens interiores e exteriores, nos mesmos moldes que S. Luís de
Montfort recomenda que se faça a consagração a Nossa Senhora. Aliás, usava-se o próprio texto da Consagração a Nossa Senhora, de S. Luís de Montfort, tal qual aparece no seu Tratado da Verdadeira Devoção a Nossa Senhora (Cfr. p.281, Vozes), com ligeiras adaptações, para fazer a consagração de escravo a Dr. Plínio.
Quando o depoente “Plínio Inácio” foi falar com Dr. Plínio (no dia 11.06.1984) sobre a conversa que tivera conosco no dia anterior, ouviu dele que a consagração como escravo a ele [Dr. Plínio] seria apenas porque ele seria medianeiro de Nossa Senhora junto ao escravo, ou então o guardião dessa consagração. Também na ordem clandestina da TFP, alguns eremitas fazem voto de obediência a Nossa Senhora representada na Terra por Dr. Plínio.
Apenas o depoente “Plínio Dimas” – o mais entrosado dos que depuseram – disse que, após a consagração como escravo de Dr. Plínio, era assinado a sangue o manuscrito da RCR. [Note-se que em 13 de outubro de 1967, o cinqüentenário das aparições de Fátima, Dr. Plínio organizou uma grande cerimônia na sede central da TFP, à Rua Pará. Nessa cerimônia todos tiveram que renovar a consagração a Nossa Senhora ajoelhados diante de Dr. Plínio que, sentado num trono, segurava uma corrente de ferro que pendia da imagem de Nossa Senhora, num nicho, atrás do trono dele. A seguir beijava-se a corrente apresentada por Dr. Plínio e se assinava a sangue uma consagração que quase todos julgavam ser a Nossa Senhora. Ainda em outras ocasiões se fizeram documentos assinados com sangue... Portanto, este é um ritual que está bem no estilo da TFP e de Dr. Plínio].
O nome vulgar com que era conhecida a “Sagrada Escravidão” era “Sempre Viva”. A sempre-viva é o nome de uma flor seca, que, quando está viva, parece morta, e quando morta, tem a mesma aparência de quando estava viva. Curioso nome para uma seita secreta... Quando a seita está deveras atuante, parece morta. Quando ela aparece muito, na verdade estaria morta... Como vimos em todo esse livro, Dr. Plínio procura sempre se colocar como profeta de Nossa Senhora, ou aplica a si “analogicamente” o que se refere a Cristo ou a Virgem Maria. Era natural pois que ele acabasse exigindo que seus adeptos se lhe consagrassem como escravos, segundo a fórmula de consagração a Nossa Senhora de S. Luís de Montfort.
Mais ainda, ele ensinava que havia que se fazer uma união salvadora do próprio eu com o de Cristo. Isso era estendido depois a Nossa Senhora. Desse modo o eu de Plínio seria o eu de Cristo e o da Virgem Maria. Quando um tefepista se consagrava como escravo a Plínio, passava a ser outro Plínio, numa união misteriosa de eus, que acabava redundando na identificação da pessoa com Plínio, com a Virgem Maria e com Cristo. A fundamentação doutrinária para fazer a consagração a Dr. Plínio foi dada por ele mesmo numa série de nove palestras (exclusivas para os membros da seita) intitulada: “A Sagrada Escravidão”.
Dizia-se que:
1. Houve uma grande defecção na Igreja cometida por todo o clero e pelo próprio Papa (Internamente se aventava e até se a TFP devia aderir à tese sede vacantista);
2. Também na sociedade civil pode-se apontar um pecado semelhante; [Lembremos que, segundo “Plínio Inácio”, dizia-se nos círculos entrosados que o Espírito Santo normalmente atua por meio do Papa, mas que em épocas de crise como a atual, Ele atua por meio de uma pessoa qualquer, mantendo assim a infalibilidade da Igreja. Evidentemente a “pessoa qualquer” seria Dr. Plínio. Lembremos ainda que Scognamiglio disse certa vez que o Espírito Santo que se retirara da Igreja parecia ter-se refugiado em Dr. Plínio... (Cfr., V parte deste livro, n0 5, c)].
3. Com esse duplo pecado na Igreja e na Sociedade Civil, só o Grupo teria restado, qual nova Arca de Noé, no dilúvio da crise contemporânea. Dr. Plínio, o novo Noé – como de resto se o proclamou em cerimônias da TFP – teria a missão de salvar “o resto que está para perecer”. Ele seria portanto o “Noé dos últimos tempos”.
4. A missão dele estaria “evidentemente” relacionada com a promessa de Nossa Senhora em Fátima de que, após um grande castigo, haveria um “Triunfo do Imaculado Coração”; 5. Por Triunfo do Imaculado Coração de Maria dever-se-ia entender o domínio da mentalidade de Nossa Senhora numa futura época histórica. Seria o “Reino de Maria”, uma nova civilização impregnada da mentalidade de Nossa Senhora;
6. Tal mentalidade de Nossa Senhora já existiria hoje, em concreto, em Dr. Plínio que, nesse sentido, como se diz na TFP, seria já o “Reino de Maria entre nós”. A sede principal da TFP, isto é, de Dr. Plínio, chama-se Sede do Reino de Maria e, quando lá chegava o “Profeta”, tocava-se um sino no qual havia a inscrição: “Regnum Mariae Nuntio”. Eu anuncio o Reino de Maria... quando chegava Dr. Plínio... Vimos que se afirma na TFP que Nossa Senhora habita em Dr. Plínio, que Ela “se encarnou” nele. Expressões absurdas que talvez quisessem afirmar a tese de que Dr. Plínio é um só com Nossa Senhora, seu protótipo. Neste sentido, se teve a audácia de afirmar que, estando totalmente impregnando pela mentalidade de Nossa Senhora, Dr. Plínio é o Coração Imaculado e Sapiencial de Maria. A mentalidade de Dr. Plínio e o Coração Imaculado e Sapiencial de Maria eram, no fundo, a mesma coisa. Daí, no código do sublinhamento, tal expressão designar Dr. Plínio. Adiante citaremos orações em que se usa essa expressão nesse sentido sacrílego.
7. Assim como Nossa Senhora se fez escrava, convém fazer-se escravo d’Ela, conforme ensina S. Luís de Montfort. Mas a escravidão mariana ensinada por S. Luís jamais deu os frutos esperados, porque ela precisa ser completada por uma consagração a Dr. Plínio – o “Coração Imaculado e Sapiencial de Maria”. [Foi-nos lembrado por Ar. J. que, já em 1968, o atual “camaldulense” Nelson Taniguchi, num discurso feito em Itaquera para Dr. Plínio, afirmou que “a verdadeira escravidão a Nossa Senhora, hoje, deve consistir na escravidão a Dr. Plínio”]. Para se ter a mentalidade de Nossa Senhora e para fazer inteiramente a sua vontade, seria então preciso escravizar-se a Dr. Plínio, ser um com ele, tendo inteiramente a sua mentalidade. Para isso, seria preciso não só fazer a sua vontade, mas ter até seus gostos e preferências. Ser pliniano equivaleria a ser mariano.
8. Por outro lado, o maior pecado atual é o de revolução, isto é, considerar a igualdade e a liberdade como metafisicamente boas. O maior ato contra-revolucionário se faria por meio da consagração como escravo ao homem que representa a mentalidade de Nossa Senhora. Quem fizesse isso praticaria a maior alienação possível. Praticaria também um ato de suprema lucidez, pois a pessoa que se escravizasse sabia que não sabia se guiar, e sabia que Dr. Plínio sabia guiar. Escravizar-se era um ato tão lúcido como o de um homem que, não sabendo dirigir um automóvel, cede de bom grado a direção do carro a outro que sabe dirigir e no qual confia. Conforme “Plínio Inácio” nos disse, ele se consagrou porque conhecia a fraqueza de sua vontade e reconhecia que Dr. Plínio poderia guiá-lo e decidir por ele nos casos em que ele não tinha força para fazê-lo;
9. A consagração como escravo a Dr. Plínio tornava este último realmente Senhor, Dominus, no sentido jurídico romano de Dominus, isto é, Senhor, dono de escravos. Daí ele ter passado a ser tratado como “Dominus Plinius”, ou então “Senhor Doutor Plínio”. É isto que explica a repetição enfática e enfadonha do vocativo Senhor nas proclamações dos eremitas, no auditório São Miguel. Sobre seus escravos, Dr. Plínio dizia ter direito como o de um senhor de escravos no Direito Romano, exceto o direito à vida deles;
10. Dizia-se que o escravo de Dr. Plínio adquiria tal união com ele, que era como que membro dele. O seu eu seria o eu de Plínio. Por isso, após a “iniciação” de “Plínio Dimas”, Dr. Plínio lhe disse: “Você não é mais “x”. Você é como membro vivo de minha pessoa. Você é como meu dedo”;
11. Pela consagração a Dr. Plínio, a pessoa renascia. Morria o homem velho. Nascia o homem novo. Por isso a pessoa devia trocar de nome. Ela era agora, após a consagração, um novo Plínio. Todo novo escravo deixava seu nome próprio e passava a se chamar Plínio e mais o nome de um santo padroeiro, seguido de um título de Nossa Senhora. “X” passou a ser, após a iniciação, Plínio Bernardo Dimas Longinus de Nossa Senhora Rainha Sagrada dos Apóstolos dos Últimos Tempos – conhecido apenas por Plínio Dimas. Quando assinavam o nome próprio original, os escravos comentavam: “esse fulano já morreu”;
12. Formando um só ser místico com Dr. Plínio, inteiramente unos com o seu protótipo, os escravos podiam dizer e diziam: “Já não sou eu mais que vivo, mas é meu Senhor [Dr. Plínio] que vive em mim” Essa união seria de tal porte que se afirmava que o espírito de Dr. Plínio habitava em seus escravos – Plinianus alter Plinius – comunicando-lhes suas graças. Desse modo, Dr. Plínio seria o medianeiro de todas as graças para eles. Unidos ao “Profeta de Nossa Senhora, os escravos de Dr. Plínio poderiam dizer: “nessa união de escravo posso fazer tudo quanto Dr. Plínio mesmo pode”;
13. Afirmavam os escravos do Profeta que era preciso que eles tivessem fé nessa doutrina, o que na realidade os constituía como membros de uma seita, já que sua fé era nova e diferente da católica.
Todos os dias os escravos deviam rezar em conjunto uma oração oficial da “Sagrada Escravidão”, que foi composta pelo próprio Dr. Plínio para ser rezada para ele mesmo. Tal oração nos foi ditada pelo ex-escravo “Plínio Dimas” e confirmada, parágrafo por parágrafo, pelo ex-escravo “Plínio Clóvis”.
Ó Coração Imaculado e Sapiencial de Maria, [isto é, Dr. Plínio, além de Imaculado como o coração de Nossa Senhora, era também sapiencial] nesse ambiente de nossos dias em que todos são homens livres, ébrios de liberdade, sei que me fiz vosso escravo para ser como o último dos homens de quem meu Senhor [Dr. Plínio] pode dispor como mísero objeto sem vontade própria.
Nesse ambiente de nossos dias, em que tudo fala de naturalismo, sei que minha vida é toda sobrenatural. Não sou eu que vivo, mas é meu Senhor [Dr. Plínio] que vive em mim. Dele me vêm todas as graças, o espírito dele me habita e posso fazer, nessa união de escravo, tudo quanto ele mesmo pode.
Nesse ambiente de nossos dias, sem grandeza, sem horizontes, de otimismo e de vidinha, sei que nossa época trará acontecimentos grandiosos, com horizontes grandiosos, dentro dos quais deverei viver como um herói a própria grandeza de Meu Senhor. Olhando para dentro de mim mesmo, e vendo tanta microlice, sei que a fé em tudo quanto acabo de dizer me dará uma participação na própria grandeza de Meu Senhor [Dr. Plínio] e fará de mim um perfeito Apóstolo dos Últimos Tempos, segundo a oração profética de S. Luís Maria Grignon de Montfort.
Em tudo isto eu creio, mas ó Meu Senhor [Dr. Plínio], ajudai a minha incredulidade
(O destaque é nosso, para mostrar como Dr.Plínio fazia crer que, na união mística com ele, seus escravos teriam o mesmo eu que Plínio).
Como se vê, esta oração sacrílega exprime exatamente a doutrina de Dr. Plínio sobre a uniào dos eus, tal como exposta e publicada no livro Inocência primeva.
Havia ainda outras orações “absolutamente excêntricas e absurdas”. Por exemplo, os escravos de Dr. Plínio rezavam o terço, mas não recitavam as Ave Marias tradicionais. Rezavam uma “Ave Maria” parodiada para o Profeta, cujo nome na seita era Luís-Plínio-Elias, pois o profetismo dele seria um só com o de S. Luís e o de Santo Elias.
Eis a paródia sacrílega da Ave Maria feita, não para D. Lucília, mas para Dr. Plínio, tal como no-la contaram alguns ex membros da Sempre Viva:
“Ave Luís-Plínio-Elias, cheio de amor e de ódio, a Santíssima Virgem é convosco. Bendito sois vós entre os fiéis. Bendito é o fruto do vosso amor e ódio: a Contra-Revolução.
“Ó Sacral Luís-Plínio-Elias, pai admirável e catolicíssimo da Contra-Revolução e do Reino de Maria, rogai por nós capengas e pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém”.
Tal oração teria sido composta em 1967. Pelo menos, começou a ser divulgada nessa data. “Plínio Dimas” disse-nos que “rezou” muitos terços com essa “Ave Maria”. Muitas vezes vários eremitas rezavam juntos o terço com essas “Ave Marias” parodiadas. Evidentemente, Dr. Plínio negaria que isto fosse verdade. Mas a “Ave Lucília” ele também negou e ela existia...
As reuniões da Sempre Viva começavam recitando-se três vezes a “Ave Maria” de Dr. Plínio [Ave Luís-Plínio-Elias] precedida das jaculatórias:
“Ave Luís-Plínio-Elias, filho bem amado da SSma. Virgem”
“Ave Luís-Plínio-Elias, pai admirável e catolicíssimo da Contra-Revolução e do Reino de Maria”
“Ave Luís-Plínio-Elias, escravo fidelísimo do Imaculado e Sapiencial Coração de Maria”.
Rezava-se ainda a oração da “Sagrada Escravidão”.
Havia também uma ladainha para Dr. Plínio, feita por ele mesmo para ele mesmo, mas que por modéstia e precaução se dizia ter sido composta pelo escravo Marcos Ribeiro Dantas. Os escravos de Plínio rezavam essa ladainha diariamente. Plínio Dimas, porém, pouco se recordava dela, pois não fora fiel a esse “exercício de piedade profética”. Lembrou-se apenas de algumas jaculatórias, como por exemplo:
[Doutor Plínio], “Precursor de Elias, rogai por nós”.
[Doutor Plínio], “Profeta dos últimos tempos, rogai por nós”.
[Doutor Plínio], “Profeta dos Profetas, rogai por nós”.
Quando comentavam os exemplos de Dr. Plínio – os “fatinhos” os mais corriqueiros de sua vida – era comum os escravos dizerem: “Quis ut Plinius? (Quem é como Plínio?), parodiando o brado de São Miguel: “Quis ut Deus?” ( Quem é como Deus?).
Era costume os escravos receberem a bênção de Dr. Plínio, que segundo Scognamiglio era cumulativa. Quanto mais bênçãos, mais graças. Por vezes, eles recebiam essa benção tomando uma estranha posição: deitavam-se de costas, no chão, com o rosto voltado para cima. Dr. Plínio colocava então o seu pé direito sobre o rosto e lhes dava a bênção, dizendo: “Benedictio Matris et Mediatrix nostrae omnipotentis descendat super te et maneat semper.Amen”.
Havia ainda a bênção de Dr. Plínio dada com a Coroa de Nossa Senhora- coroa existente na sala principal da sede da Rua Maranhão. Contava-se que o escravo “Plínio Márcio” (Átila Sinke Guimarães) e o escravo “Plínio Dimas” receberam tal bênção exótica uma vez.
Era costume que os escravos de Dr. Plínio se confessassem com ele, não só acusando-se de faltas leves, mas também de pecados graves, como na confissão sacramental. Finda a confissão, se o escravo o pedisse, Dr. Plínio esbofeteava-o no rosto três vezes e depois lhe dava a “absolvição”. “Plínio Dimas” não acreditava muito na validade ou eficácia dessa pseudoconfissão sacramental e nem nessa “absolvição” profética, por isso, antes de se confessar com Dr. Plínio, ia confessar-se com um sacerdote, por garantia.
Assim como a bênção de Plínio era delegada por ele a outros membros da Sempre Viva, assim também se passou a delegar o poder de absolvição.
Constava que os membros da Sempre Viva se confessavam uns com os outros, absolvendo-se mutuamente. O que explicava como a confissão normal com sacerdotes era tão pouco praticada pelos elementos mais entrosados da TFP. Havia lá quem se orgulhasse de não se confessar durante muitos meses... Dr. Plínio quase nunca se confessava. Soube-se de uma ou outra confissão dele, com sacerdote, num período de muitos anos.
Nas reuniões da Sempre Viva, um ponto fundamental era o da necessidade de união identificadora do escravo com Dr. Plínio. Nessa união com Plínio estaria o chamado “Segredo de Maria”, de que falava São Luis de Montfort.
Daí a consagração a Nossa Senhora só seria real e válida na consagração como escravo a Plínio, que vivia em união plena e perfeita com a Virgem Maria. Daí, unir-se como escravo a Plínio era unir-se, de fato, e plenamente à Virgem Maria. Pois que Plínio era a encarnação do Imaculado Coração de Maria, isto é, de sua mentalidade. Haveria, na consagração a Dr. Plínio uma fusão dos eus dos escravos com o eu do Profeta, e com o eu da Virgem Maria, que era um só Eu com Cristo Deus.
Em reunião do MNF, Dr. Plínio falava do mistério da união do fiel com Cristo na comunhão eucarística. Ora, como a união com Plínio seria a união com Cristo. Essa tese delirante, certa vez, levou o escravo Plínio Cirineu (Umberto Braccesi) a afirmar, que era preciso que os membros da Sempre Viva comessem a carne e bebessem o sangue de Plínio.
A esse ponto chegou o delírio tefepista.
A união com Plínio acarretaria a união com Maria Santíssima, com Cristo e com Deus. Por isso, dizia Plínio que ser da Sempre Viva era mais que ser Rei da Bélgica ou Rainha da Inglaterra. Seria mais do que ser um dos doze Apóstolos de Jesus Cristo. Seria mais do ser anjo. E João Scognamiglio Clá Dias ensina isso mesmo aos Arautos do Evangelho. Porque a Sempre Viva continua atuante por trás dos Arautos. Ela é a alma secreta dos Arautos, enganando o Vaticano.
O culto a Dr. Plínio atingiu o ápice na sociedade secreta A Sempre-Viva, cujos membros, parodiando a devoção ensinada por São Luís de Montfort para com Nossa Senhora, se consagravam como escravos a Dr. Plínio, o legítimo representante de Nossa Senhora na terra. O Medianeiro da Medianeira.
Inicialmente era o próprio Dr. Plínio quem escolhia entre os elementos da TFP quem iria ser iniciado na seita secreta, A Sempre Viva. Pouco a pouco, Scognamiglio passou a indicar os candidatos a Plínio. Alguns escravos se aproximavam mais do que ia ser convidado, estudando de mais perto suas tendências, para confirmar se o indicado tinha de fato qualidades próprias para virem a se tornar bons escravos de Plínio.
O “escravo” de “Dominus Plinius” que nos deu as informações mais completas da Sempre Viva e de suas cerimônias, o “escravo Plínio Dimas”, quando foi indicado como candidato a ser iniciado, foi “cercado” pelo próprio João Clá e por Fernando Siqueira.
Luis Nazareno Assumpção Filho, ex-AR (amigo do rei) da sociedade secreta de Padre Mariaux, pessoa muito rica, foi convidado para a Sempre Viva diretamente pelo próprio Dr. Plínio que o intimou a se tornar seu escravo, com todos os seus bens espirituais (não muitos, se comparados aos seus bens materiais) e com todos os seus bens materiais (copiosos) porque, se não, ficaria para trás. E lá se foi Luizinho Nazareno para a frente, tornado-se o escravo “Plínio Luís”. Na transformante união de almas que se realizou, Luizinho recebeu os bens espirituais de PCO, que em troca recebeu então vantagens materiais...Luis Nazareno se tornou um tão eficiente propagador da seita secreta da TFP que Dom Bertrand o qualificou como o melhor propagador –“sopleteador”–da Sempre Viva.
Previamente, antes da admissão de alguém na Sempre Viva, o candidato era preparado recebendo um verdadeiro curso de palestras em retiros espirituais especiais.
Explicava-se ao neófito, em conferências dadas a princípio pelo próprio Dr. Plínio, mais tarde por João Clá, em que consistia a Verdadeira Sagrada Escravidão a Nossa Senhora (a Servitudo ex Caritate): na verdade seria a escravidão a Dr. Plínio.
Dizia-se aos iniciantes na Sempre Viva, que a real escravidão a Nossa Senhora se dava pela escravidão concreta ao único homem que permanecera fiel, ao único escravo digno de Maria Santíssima, Dr. Plínio que tinha com Ela uma união transformante.
Que assim como numa lâmpada, o fio de tungstênio, elemento vil, fica incandescente e luminoso, assim também o iniciado deveria se deixar tomar pela luz de Plínio, pela luz profética pliniana, para brilhar e irradiar a luz de Dr. Plínio, e que só assim ele se tornaria efetivamente um escravo de Maria, unido a Ela pela união d’Ela com Dr. Plínio.
Nessas palestras sobre a Sagrada Escravidão a Dr. Plínio, os que iam ser iniciados aprendiam que deveriam obedecer a seu Senhor Sacral [Dr. Plínio] tão cega e tão docilmente como Isaac obedeceu a seu pai Abraão, e tal como este obedeceu a Deus. Dr. Plínio dizia a seus escravos que eles deveriam obedecê-lo e aceitar até mesmo a ordens que lhes parecessem absurdas. Que então não se surpreendessem com tais ordens.
Desenvolvia então o que ele denominava teoria do “gato e sapato”,isto é, que ele poderia fazer dos seus escravos o que quisesse, dando-lhes ordens arbitrárias e absurdas, como aquela que Deus dera a Abraão de matar seu próprio filho. Nessa alienação absoluta à vontade do “Profeta” consistiria a vitória sobre o pecado de Revolução.
Após a morte de Dr. Plínio, quem dava as conferências nos retiros de preparação para a iniciação na Sempre Viva – e até hoje as dá ‑ entre os Arautos do Evangelho, era João Scognamiglio Clá Dias. Ele dava secretamente esses retiros iniciáticos, no êremo de São Bento, mesmo no período em que a Santa Sé o proibiu de falar de Dr. Plínio e de Dona Lucília.
A Introdução na Sempre Viva – uma iniciação nos segredos de PCO – se dava numa longa cerimônia que durava, disseram-nos, entre três e quatro horas, quase sempre de madrugada. Não havia local fixado para essa cerimônia, que podia acontecer no Êremo de São Bento, ou na chamada sala do Reino de Maria, na rua Maranhão, no segundo andar do edifício onde morava Dr. Plínio, à Rua Alagoas, ou até mesmo no chamado “palacinho”, residência de Luis Nazareno, na rua Jaguaribe.
Não nos contaram a cerimônia em sua seqüência cronológica e lógica. Por isso, narraremos os vários atos tal como nos foram narrados.
Nessa cerimônia, Dr. Plínio ficava sentado num troneto ou poltrona, nos primeiros tempos, portando o manto branco da Ordem Terceira do Carmo.
Depois, fizeram para ele um manto especial de peles e panos caros, com vários metros de comprimento. Coisa para dar inveja a Cardeal. ...Ou por invejar capa longa de Cardeal. Todos os já iniciados ‑ os que já eram escravos de Plínio ‑ assistiam a cerimônia portando o hábito da Ordem Terceira do Carmo, mas sem a capa. Isso só mudou, quando se fez o hábito atualmente usado pelos Arautos, que era então o hábito próprio dos escravos da Sempre Viva.
Como nas iniciações maçônicas, o recipiendário da Sempre Viva deveria inicialmente simular estar morto, e, por isso, ele devia ficar deitado, a fio comprido, de costas, no chão, diante do troneto de Dr. Plínio.
O iniciado era atado com correntes por Dr. Plínio, que colocava seu pé direito sobre o pescoço do neófito, em sinal de domínio.
Depois, ele “renasceria” para uma nova vida, ao adotar seu novo nome, tornado-se um novo Plínio. Na troca de nome, na identificação do escravo com seu dono, com o seu Senhor (Dominus), estaria o grande segredo da seita, segredo que Dr. Plínio chamava de o “segredo de Maria”, do qual fala São Luis de Montfort, e que ele identificava com o seu segredo pessoal: ele era Maria.
Havendo uma identificação espiritual, mística entre o escravo e o dono do escravo – uma identificação dos seus eus – o pliniano se tornava outro Plínio. Plinianus alter Plínius. Um era sósia espiritual do outro. Como cada um deveria se tornar um sósia de Cristo, para se salvar. Portanto: fora a tabelinha dos dez mandamentos.
Daí, o escravo poder dizer: “Já não sou eu que vivo, mas é meu Senhor [Plínio] que vive em mim”. Portanto, substituindo Cristo por Plínio. Por essa razão, era necessário que o iniciado trocasse de nome. Na troca de nome, se simbolizava a troca de eus, pois era um novo homem que renascia, um escravo do Profeta, um Apóstolo dos Últimos Tempos.
A troca de nome significava um novo nascimento espiritual.
Simulado o “renascimento” do neófito, este deveria fazer a leitura do seu ato de Consagração como escravo a Dr. Plínio, exatamente o mesmo que existe no Tratado da Verdadeira Devoção a Nossa Senhora de São Luis de Montfort, trocando-se, porém, Nossa Senhora por Dr. Plínio Lida a Consagração, o iniciado devia assinar a sangue a última página do livro Revolução e Conta Revolução de Plínio Corrêa de Oliveira.
A cerimônia prosseguia pela doação dos bens materiais próprios do neófito a Dr. Plínio, através da entrega de objetos simbólicos do que o novo escravo possuía, ou das coisas a que tinha mais apego. O escravo “Plínio Agostinho” (Roberto Guerreiro), como era muito pobre e era fumante, em sua iniciação, entregou a Dr. Plínio, a sua cigarreira e deixou de fumar. Outros, mais ricos, entregaram bens menos simbólicos, mas bem mais reais, e bem menos vulgares que uma simples cigarreira... Consta que, ao morrer Dr. Plínio possuía mais e uma centena de imóveis... Que foram herdados por seus familiares. Exatamente para os familiares que não tinham nenhuma devoção por “titio” Plínio.
Era costume que o iniciado compusesse uma oração e fizesse um discurso piedoso em homenagem a seu Senhor Sacral [Dr. Plínio]. A oração normalmente era uma paródia de uma oração a Nossa Senhora, cujo nome era trocado pelo de Plínio. Ao ser iniciado na Sempre Viva, ‘Plínio Dimas” parodiou a Salve Rainha homenageando assim Dr. Plínio.
A cerimônia prosseguia com a osculação, pelo iniciado, dos pés e das mãos do “Profeta” de Higienópolis. Feito isso, Dr. Plínio deixava o troneto e nele entronizava o novo Plínio. E agora era o próprio Dr. Plínio que beijava os pés e as mãos do iniciado, pois ele era de fato um novo Plínio. O seu alter ego. Por isso, Plínio osculava Plínio, pois ocorrera uma união transformante. Um vivia no outro.
O primeiro a pedir para se consagrar como escravo de Plínio teria sido Caio Xavier da Silveira, cujo nome na seita passou a ser Mário Plínio. Mário em homenagem a Nossa Senhora.
Os doze primeiros escravos foram considerados os preferidos, os mais autênticos e fervorosos discípulos do Profeta. O escravo Plínio Márcio – Átila Sinke Guimarães, o falsificador do texto de nossas cartas a Dr.Plínio ‑ dizia que esses doze estavam para Dr. Plínio assim como os doze apóstolos estavam para Cristo. Por isso não queria ele que outros fossem admitidos na seita, e ficou "em baixa" (triste) quando o simbólico número 12 foi ultrapassado.
Os primeiros sectários foram estes:
01. Caio Vidigal Xavier da Silva - escravo Mário Plínio;
02. Eduardo de Barros Brotero - escravo Plínio Eduardo;
03. Luís Nazareno de Assumpção Filho - escravo Plínio Luís;
04. João Scognamiglio Clá Dias - escravo Plínio Fernando;
05. Umberto Braccesi - escravo Plínio Cirineu
06. Fernando Siqueira - escravo Plínio Bernardo;
07. Carlos H. do Espírito Poli (hoje, Tenente Coronel) - escravo Plínio José;
08. Marcos Ribeiro Dantas - escravo Plínio Paulo;
09. Mário Navarro da Costa - escravo Plínio Elias; (Mário Navarro vivia normalmente vestido do hábito de eremita, no 2° andar da Rua Alagoas, e, ao falar com Dr. Plínio, punha-se de joelhos, colocando-lhe nas mãos a ponta da corrente que envolvia sua cintura, em sinal de escrava submissão. Foi a ele que, o atual Cônego de Santa Maria Maior, João Scognamiglio Cla Dias, ameaçou matar a tiros).
10. D. Bertrand de Orleans e Bragança - escravo Plínio Miguel; (D. Bertrand foi; praticamente intimado a se fazer escravo de Dr. Plínio, segundo Plínio Dimas, porque seu nome seria propagandístico entre os direitistas).
11. Átila Sinke Guimarães - escravo Plínio Márcio;
12. Cosme Beccar Varella Hijo - escravo Plínio Lázaro;
13. Plínio Vidigal Xavier da Silveira - escravo Plínio Eliseu; (Eliseu foi quem herdou o manto de Elias. Havendo algo para herdar, Plínio Xavier, cujos talentos financeiros são conhecidos, estava sempre interessado. Consta que em sua iniciação, como sempre, se manteve absolutamente frio. Ele foi convocado a se fazer escravo. Não pediu para ser).
14. Paulo Corrêa de Brito Filho - escravo Plínio Jerêmias. (Paulo Brito era "diretor espiritual" de "Plínio Dimas" e, nas conversas espirituais que tinham, o dirigido dirigiu o dirigente a pedir a graça de ser escravo de Dr. Plínio...)
15. X escravo Plínio Dimas;
16. Y escravo Plínio Inácio;
17. D. Luís de Orleans e Bragança - escravo Plínio da Cruz... Pobre Príncipe!...;
18. Antônio Marcelino Pereira de Almeida - escravo Plínio Francisco;
19. Edson Neves da Silva - escravo Plínio Batista;
20. Fernando Antunes Aldunate - escravo Plínio Longinus. Era quem metia não a lança, mas o alfinete do seu distintivo, nas carnes de quem se aproximasse demais de PCO;
21. Leo Nino Foscolo Daniele - escravo Plínio Tobias;
22. Fernando Furquim de Almeida Filho -escravo Plínio Amém;
23. Martim Afonso Xavier da Silveira Jr. - escravo Plínio Pedro; (Durante longo tempo Martim Afonso foi mantido à margem da "Sempre-Viva". Ele percebia que havia algo escondido, e se contorcia para saber o que era, e mais se contorceu para entrar. Quando entrou, viu que estava atrasado e, para compensar, tomou o nome de Plínio Pedro. De alguma forma ele ainda seria o primeiro... O que provocou sorrisos dos demais escravos. Foi nome profético o dele, pois acabou sendo posto in vinculis na prisão de La Santé em Paris, de onde foi libertado, não por anjos, mas por dólares para pagar sua fiança.).
24. Sérgio Bidueira - escravo Plínio Hildelbrando;
25. José Lúcio Corrêa - escravo Plínio Ezequiel; 26. Júlio Ubelod - escravo Plínio Tomás; 27. Fernando Telles - escravo Plínio Leofredo;
28. Roberto Guerreiro - escravo Plínio Agostinho;
29. Afonso Beccar Varella – escravo Plínio Ambrósio;
30. Miguel Beccar Varella - escravo Plínio Domingos;
31. O argentino Escurra - escravo Plínio León;
32. Carlos Viano - escravo Plínio Godofredo;
33. Carlos Antunes Aldunate - escravo Plínio Emanuel;
34. Jaime Antunes Aldunate - escravo Plínio Gregório;
35. Gonzalo Larrain - escravo Plínio Caetano;
36. Patricio Larrain - escravo Plínio João;
37. Patricio Amunategui - escravo Plínio Santiago;
38. Fernando Casté - escravo Plínio Joaquim;
39. Pedro Paulo Figueiredo - escravo Plínio Jacó;
40. Carlos Alberto Soares Correia - escravo Plínio Atanásio;
41. Aloísio Torres - escravo Plínio Macabeu;
42. Roberto Esper Kallás - escravo Plínio Bento;
43. Paulo Rosa - escravo Plínio Tiago;
44. Paulo César Nascimento - escravo Plínio Enoc;
45. Lúcio Montes - escravo Plínio Estêvão;
46. Z - escravo Plínio Afonso;
47. João Carlos Leal da Costa - escravo Plínio Matatias;
48. Francisco Javier Tost - escravo Plínio Isaías;
49. José Antônio Tost - escravo Plínio Sebastian
50. W - escravo Plínio Clóvis;
51. Guerreiro Dantas - escravo Plínio Davi;
52. Rivoir - escravo Plínio Hermenegildo; (era o único escravo europeu até 1975, mais ou menos).
53. Alejandro Bravo - escravo Plínio Samuel;
54. Carlos lbarguren - escravo Plínio António;
55. Nelson Fragelli - escravo Plínio Tomé; (N. Fragelli tomou esse nome porque disse que durante muito tempo duvidara de Dr. Plínio).
56. Fernando Larrain - escravo Plínio Raymundo;
57. Antônio Dumas Louro - escravo Plínio Lourenço; 58. O argentino Storni - escravo Plínio Bartolomeu;
59. Alejando - escravo Plínio Lúcio.
(Lista de escravos de Plínio retirada da Declaração nº 544948, 290 Ofício de Registro de Títulos de Curitiba - 03.09.84. Os comentários dos nomes são nossos).
Todos os dias, os escravos deviam rezar, em conjunto, uma oração oficial da "Sagrada Escravidão", que foi composta pelo próprio Dr. Plínio para ser rezada para ele mesmo (Ver acima nas páginas 539-540 deste livro).
Tal oração nos foi ditada pelo ex-escravo "Plínio Dimas" e confirmada, parágrafo por parágrafo, pelo ex-escravo "Plínio Clóvis".
Havia ainda outras orações "absolutamente excêntricas e absurdas". Por exemplo, os escravos de Dr. Plínio rezavam o terço, mas não recitavam as Ave- Marias tradicionais. Rezavam uma "Ave Maria" parodiada para o Profeta, cujo nome na seita era Luís-Plínio-Elias, pois o profetismo dele seria um só com o de S. Luís e o de Santo Elias. Mais ainda: Plínio era São Luis de Montfort. Era a Virgem Maria. Era Santo Elias. Todos os eus dessas pessoas santas se fundiam no eu de Plínio.
Eis a paródia sacrílega da Ave Maria feita, não para D. Lucília, mas para Dr. Plínio na Sempre Viva:
"Ave Luís-Plínio-Elias, (codinome de Dr. Plínio na Seita), cheio de amor e de ódio, a Santíssima Virgem é convosco. Bendito sois vós entre os fiéis. Bendito é o fruto do vosso amor e ódio: a Contra-Revolução. Ó Sacral Luís-Plínio-Elias, pai admirável e catolicíssimo da Contra-Revolução e do Reino de Maria, rogai por nós capengas e pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém".
Tal oração teria sido composta em 1967. Pelo menos, começou a ser divulgada nessa data. "Plínio Dimas" disse-nos que "rezou" muitos terços com essa "Ave Maria". Muitas vezes vários eremitas rezavam juntos o terço com essas "Ave-Marias" parodiadas. Evidentemente, Dr. Plínio negará que isto seja verdade. Cremos que vários escravos seriam capazes de jurar que isso nunca existiu. Sem ficarem vermelhos. Mas a "Ave-Lucília" eles também negaram, e ela existia...
As reuniões da Sempre-Viva começavam recitando-se três vezes a "Ave Maria" de Dr. Plínio [Ave Luís-Plínio-Elias] precedida das jaculatórias:
"Ave Luís-Plínio-Elias, filho bem amado da SSma. Virgem".
"Ave Luís-Plínio-Elias, pai admirável e catolicíssimo da Contra-Revolução e do Reino de Maria".
"Ave Luís-Plínio-Elias, escravo fidelíssimo do Imaculado e Sapiencial Coração de Maria".
Rezava-se ainda a oração da "Sagrada Escravidão".
Chegamos assim ao final deste livro denúncia.
Damos graças a Deus ter-nos permitido conhecer, no final de nossa vida, os documentos que não tínhamos e que nos permitiram confirmar e aprofundar o que havíamos denunciado em 1983.
Com efeito, com a publicação do livro A Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo, que deu um resumo de algumas teses plinianas no MNF, ficamos sabendo coisas que jamais tínhamos tido conhecimento. Esse livro tornou patente muito do que, por ser apenas insinuado, nunca havíamos conhecido, antes, tão pormenorizadamente.
Também devemos agradecer a Deus ter permitido a publicação do livro Notas Autobiográficas que ‑ ainda não contando tudo – revelou tantas declarações de autoelogio tresloucado de Dr. Plínio a si mesmo, assim como, textos que deixam mais clara ainda a Gnose de Dr. Plínio, e portanto da TFP e dos Arautos do Evangelho.
Claro que alguns outros pontos permanecem misteriosos. Só com o tempo, no futuro, quando for possível a um historiador isento examinar as 43.000 paginas do MNF, se poderá ter uma análise mais completa da Gnose de Plínio Corrêa de Oliveira.
Só então será possível saber quatro coisas principalmente:
1- Qual a primeira fonte doutrinária de PCO ?
2- Qual o mistério que envolve a educação de PCO, isto é, até que ponto Dona Lucília – que Plínio diz não ter sido muito leitora e nada interessada em Metafísica – qual o verdadeiro papel dela na formação das idéias de Plínio?
3- Qual a relação real entre Plínio e as sociedades secretas brasileiras e européias, especialmente a relação dele com Burschenschaft e com o tradicionalismo místico europeu derivado do Martinismo através de Joseph de Maistre?
4- Qual o papel dos Jesuítas na formação e na atuação de PCO?
5- Até que ponto possíveis problemas psicológicos ou morais de Dr. Plínio intervieram na gênese de seu sistema de pensamento? Esta última pergunta naturalmente se põe devido aos evidentes sinais de delírio em certos pensamentos e atitudes de Plínio. Dessas questões, assim como de problemas morais pessoais, deliberadamente não quisemos tratar por respeito para com as pessoas envolvidas. Por isso fizemos questão de mantermo-nos, ainda que polemicamente, apenas no campo doutrinário e intelectual. Paz aos mortos!...
Nesse sentido, cremos ter provado sem deixar dúvida:
1- Que Dr. Plínio Corrêa de Oliveira elaborou um sistema doutrinário confuso, contraditório, com uma terminologia inadequada, devido à sua ignorância da terminologia filosófica correta.
2- Que havia na TFP um culto para Dr. Plínio inventado por ele mesmo e difundido por João Scognamiglio Clá Dias, o escravo Plínio Fernando, hoje padre condecorado e doutorado... pelo Angelicum; 3- Que as teses desse culto são delirantes; 4- Que várias manifestações deste culto são ridículas e fanáticas;É claro que esse culto continuou a existir secretamente entre os Arautos do Evangelho que são a casca canônica sob a qual se esconde a serpente da Sempre Viva. Em seus êremos, o Padre João Scognamiglio difunde, até hoje, o culto a Dr. Plínio, a Dona Lucília e a ele mesmo, dando as conferências e retiros preparatórios aos candidatos que ele escolhe para serem iniciados, e realizando as iniciações da Sempre Viva em seus êremos, às escondidas do Vaticano. Resta saber se esse culto, que a TFP disse ser legítimo, depois de ter negado sua existência, deve ou não ser condenado pela Igreja como aberrante e contrário à Fé, visto que, pelo bom senso, ele é sem dúvida, psicopático. Com a palavra os teólogos e canonistas. Com a palavra os psiquiatras.
E, se não é legítimo, e se é um culto delirante, como o hoje riquíssimo Padre João Scognamiglio Clá Dias goza, além de tantas honras civis e sobretudo eclesiásticas?
Que a Santa Sé se pronuncie.
São Paulo, Março de 2010
Orlando Fedeli
Para citar este texto:
"No país das maravilhas: a Gnose burlesca da TFP e dos Arautos do Evangelho (Parte 7/8)"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/cadernos/religiao/pco-vii/
Online, 30/12/2024 às 16:03:35h