Religião-Filosofia-História
No país das maravilhas: a Gnose burlesca da TFP e dos Arautos do Evangelho (Parte 2/8)
Orlando Fedeli
PRIMEIRA PARTE: A INOCÊNCA PRIMEVA
Confissões na Apresentação ao Leitor
“O relativista só tem impressões” (Plínio Corrêa de Oliveira, A Inocência…, p. 137).
O livro A inocência primeva e a contemplação sacral do universo, é a reprodução de reuniões gravadas de PCO, adaptadas para publicação em livro por uma Comissão de Redação formada por Paulo Corrêa de Brito Filho (Coordenador), Leo Daniele (Relator), Antônio Augusto Borelli Machado (Revisor) e José Antonio Ureta (Pesquisador), todos — exceto A. A. Borelli Machado — membros da seita secreta A Sempre Viva.
Na apresentação da obra “Ao Leitor”, Paulo Corrêa de Brito Filho, na Sempre Viva, escravo Plínio Jeremias, faz algumas considerações e confissões que convém destacar.
Uma, que nos parece das mais importantes é esta, que citamos em primeiro lugar:
"Este conjunto inédito (…) seria comparável a um cabochon, ou seja, uma pedra preciosa polida, não facetada, não lapidada inteiramente porém com forma regular. (…) É o que sucede precisamente com esses diálogos plinianos, não inteiramente “lapidados” na forma — em razão de sua própria natureza — mas densos de luz em sua substância. Os que agora são aqui estampados, mesmo não tendo sido revistos por ele – e, portanto, não carreando sua plena responsabilidade intelectual – certamente surpreenderão a não poucos, por se tratar de um pensamento notavelmente claro, profundo, e, em muitos pontos, novo e original. (...) Feitas essas ressalvas, estamos convictos de que, embora não tenha sido escrita por ele, no sentido acima explicado, esta obra exprime fielmente – tanto quanto nos é possível captar—o pensamento de Plínio Corrêa de Oliveira. (Paulo Corrêa de Brito Filho, Ao leitor, apresentação do livro A inocência primeva e a contemplação sacral do universo, Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, Artpress, São Paulo, 2008, p. 18).
Portanto, admite-se que nesse livro está fielmente expresso o pensamento de Dr. Plínio, embora se procure livrar “a sua plena responsabilidade intelectual”. Fielmente.
Mas não completamente.
"As fontes utilizadas na preparação desta obra não são constituídas por textos escritos ou ditados pelo próprio autor, e sim transcrições das fitas gravadas de conferências, discursos, conversas ou reuniões" (op.cit. p.13).
Nessa mesma apresentação “Ao Leitor”, Paulo C. de Brito Filho faz importantes afirmações para se aquilatar o valor de Plínio como “pensador”:
Afirma-se ai, que Plínio “era um homem de cultura vastísima, porém não livresca. Dotado de incomum capacidade de penetração psicológica e senso de observação da vida” (p. 9).
“Não livresca”, é uma expressão jeitosa para escusar as poucas leituras sérias de Plínio. E da objetividade desses elogios, veremos provas mais tarde.
Logo na segunda página de sua apresentação, Paulo Brito nos dá uma prova da “seriedade” desse livro e da “seriedade” dos admiradores do pensamento de Plínio:
"Se [ele, Plínio] chegou a ser grande batalhador, foi porque, antes de tudo, e desde a infância, tornou-se um contemplativo. Não um místico voltado sobretudo para os horizontes do estritamente sobrenatural ou da mística nem um sonhador romântico mergulhado em si mesmo, mas um profundo observador do mundo, analisado e saboreado em sua realidade concreta, e depois utilizado como trampolim para subir até realidades superiores" (p. 10. O destaque é nosso).
Portanto, um místico não voltado para o sobrenatural… Um místico não voltado para… a mística…
Nem ele teria sido “um sonhador romântico mergulhado em si mesmo”. Ora, no livro Inocência Primeva, e em suas Notas Autobiográficas, Plínio afirmará inúmeras vezes que ele não aprendera em livros, e sim examinando a si mesmo, explicitanto seu saber inato, voltado sempre sobre si mesmo.
Portanto, ele, segundo a própria conceituação dos Provectos, era romântico mesmo.
E ele foi um observador que não aceitava o mundo tal qual era, mas querendo corrigir o mundo, e não sendo possível fazer isso, fugia da realidade através do sonho.
A partir disto, nasceu uma crítica ao mundo real em torno do qual eu estava — uma crítica do mundo visto fora do fundo de garrafa, aquém do fundo de garrafa — e esse mundo eu o via com algumas coisas muito belas e que não eram indignas de estar postas em relação com o fundo de garrafa e, por outro lado, com coisas muito reprováveis, despiciendas, erradas e tortas. De onde uma idéia de e que ele deveria ser corrigido e de que se todos os homens — sempre a idéia seguinte: eu sou igual a todos os homens, logo todos os homens são iguais a mim — em cujas cabeças há a mesma coisa que há na minha, se eles tivessem a limpeza de alma de fazer essa operação que eu faço, eles todos puxariam junto comigo as coisas para uma linha onde elas não estão, e eles seriam de um modo como eles não são.“Eu sentia que o impulso de minha vida era fazer isso” (Plínio Corrêa de Oliveira, O Reino de Maria na alma do Senhor Doutor Plínio: “Minha Biografia Íntima”, Sagrado Coração de Jesus –XXIX—Curso de Formação São Bento-Praesto Sum—Saúde, p.11. Os destaques são nossos. Esse mesmo texto, com ligeiras modificações, está também na obra Plínio Corrêa de Oliveira, Notas Autobiográficas, Editora Retornarei, São Paulo, 2008, pp. 452-453).
Todo sonhador quer corrigir o mundo real.
Toda Gnose começa por desprezar o mundo real, tal como existe, desejando uma super realidade idealizada. O que leva a condenar a criação e o Deus Criador.
O romântico Plínio não escapou desse processo.
A segunda citação, falando da Belle Époque, é a seguinte:
“As riquezas do espírito, as arquetipias, as maravilhas que nos dariam vontade de fugir da terra para pensar só nelas, tudo começava a ser posto de lado [na Belle Époque]” (Plínio Corrêa de Oliveira, artigo O Transatlântico e o Cais, in Revista “Dr. Plínio”, N0 65, p.28. O destaque é nosso).
Por enquanto, notemos essas contradições flagrantes. Depois teremos as provas da falsidade de cada uma das afirmações contidas nessa frase de Paulo Brito, o escravo Plínio Jeremias da Sempre Viva.
E, para começar, a inverdade que colocamos em destaque, nessa citação. PCO foi exatamente isso: “um sonhador romântico mergulhado em si mesmo”, detestando a realidade concreta, vivendo num mundo imaginário, que ele fantasiou como se fosse uma realidade superior: o mundo mítico da “Trans-esfera”, uma coisa inexistente, que ele imaginou existir nos “possíveis de Deus. Um ens imaginationis… Uma supra realidade inexistente, na qual Plínio pretendia viver habitualmente.
Veremos isso com textos dados pelo próprio Dr. Plínio.
Ainda na apresentação ao leitor, Paulo Brito previne que:
"Há várias maneiras de refletir. Há quem pense pensando, e há quem pense escrevendo: o que é inteiramente legítimo. Aristóteles pensava andando. Plínio Corrêa de Oliveira pensava conversando" (Paulo Corrêa de Brito Filho, Ao Leitor, ob cit. p, 14).
O que coloca Dr. Plínio, — sentado —, ao lado de Aristóteles, andando, em torno de sua poltrona. “Ambos”, pensando. Um andando. Outro sentado.
Conversando.
Dr. Plínio se afirmava um “causeur” — um bom conversador — que “não diz sempre o que deseja, mas escolhe como assunto de preferência o que seus interlocutores gostariam de ouvir ou de perguntar naquela ocasião concreta. Assim especialmente em temas teológicos e filosóficos, uma prosa não tem — nem poderia ter — a precisão terminológica, a ordem lógica, a preocupação didática de uma aula, de uma conferência, de um livro ou de um tratado. Essa particularidade deve ser levada em consideração”. (Op. cit., p. 16).
Portanto, nesse livro de Dr. Plínio, não se espante o leitor se encontrar páginas “sem precisão terminológica, sem ordem lógica”. Ele, o leitor, já foi prevenido dessas “qualidades” do bom “conversador” que era Dr. Plínio.
Conversador...
Nessas conversas, Plínio participava “sem preparação prévia especial. Mesmo suas conferências e reuniões raramente eram preparadas com antecedência”.(...) “As conversas, muitas vezes à bâtons rompus (isto é, descontínuas, sem sequência, segundo a apetência dos participantes) não obedecendo a nenhum tipo de planejamento”. ((Paulo Corrêa de Brito Filho, Ao Leitor, op. cit p. 16).
Portanto, Plínio não estudava, não preparava o que ia expor. Só explicitava o que já tinha implícito em sua mente, sem ter estudado o assunto. Tirava tudo o que dizia de si mesmo. Por isso não citava autores. E se orgulhava de não ter jamais lido o que afirmava.
Veja-se mais abaixo a conversa que ele diz ter tido, com um grande historiador europeu sobre o feudalismo.
O próprio Dr. Plínio contava — julgando estar afirmado uma coisa decisiva e admirável — que tirava de sua própria cabeça os fatos históricos que narrava, sem jamais tê-los lido:
"Há alguns anos, fui almoçar com um grande medievalista francês, escritor de vários livros e com obras laureadas. Eu não havia lido nem a terça parte do que ele lera sobre a Idade Média. Contudo, no meio de nossa conversa, após eu ter feito alguns comentários sobre coisas medievais, ele me disse: ”Caro amigo! O senhor precisa indicar-me sua bibliografia. De onde o senhor tirou essas observações? ”Quase respondi: li a minha própria cabeça (Plínio Corrêa de Oliveira, in Revista “Dr. Plínio”, Ano IV, Março de 2.001, N0 36, p. 28. O destaque é nosso).
Quer dizer, PCO inventava o que dizia ser história real. Porque para ele, a lendavalia mais que os fatos (cfr. op. cit., p. 183). E lenda era o que ele imaginava ter acontecido ou que ele queria que tivesse acontecido.
Portanto, ele foi um “pensador voltado sobre si mesmo”. Um romantico.
Na realidade, veremos com textos dele mesmo, Plínio julgava que o conhecimento era inato no homem. Haveria, no homem, matrizes dos seres na perfeição nas quais Deus os quisera. O conhecimento não viria do exterior ao homem, através dos sentidos e por abstração intelectual. Plínio confrontava o que via com a matriz interior que ele imaginava ter das coisas. Para ele, como para o gnóstico idealismo alemão, o conhecimento era imanente ao homem. Por isso ele não estudava. Lia em si mesmo, e não em livros. E ele se dizia tomista. Na verdade era um idealista romântico.
Ainda na sua apresentação “Ao Leitor”, Paulo Brito pontifica, citando Plínio: “A seriedade não deve conduzir à fantasia sentimental: é preciso ver a realidade como ela é” (Op. cit., p. 11).
Para Plínio, portanto, só seria sério querer ver a realidade tal qual ela é.
Ora, o livro de Plínio Corrêa de Oliveira que analisamos mostra que ele fazia, e recomendava fazer, exatamente o oposto disso: imaginar uma supra realidade inexistente, na qual Plínio convidava seus sectários a viver. Imaginativamente.
Tal era a seriedade histórica de Plínio.
Esse livro de Dr. Plínio tem duas partes: na primeira, se apresenta o que seria a “Inocência Primeva”, na qual todos os homens teriam sido criados; na segunda, trata-se do que ele considerava a ordem “sacral” do universo, e especialmente o que chamava de “trans-esfera”, uma espécie de “país das maravilhas”, ou de Neverland, à la Michael Jackson, por onde Plínio “viajava” através de sonhos delirantes.
Mesmo sem usar o espelho de Alice.
Veremos entretanto que, como no espelho de Alice, por trás do imaginário ridículo, a Trans-esfera de Plínio era um mundo equivalente ao pléroma divino da Gnose. O ridículo estapafúrdio e infantil esconde um sistema gnóstico teologicamente muito mais sério. Vejamos, então, a primeira parte desse livro, onde se expõe por meio de monólogos de Dr. Plínio, a surpreendente doutrina da “Inocência Primeva”, que ele esposava e defendia.
A primeira surpresa vem logo no título do primeiro capítulo: “As vias falsas e o verdadeiro caminho para alcançar a felicidade - Quatro pistas para alcançar a felicidade”.
Parece título de livro de auto-ajuda, feito para americanos mascadores de chicletes.
Certamente, o autor, dizendo-se católico, pensar-se-ia que ele estaria aludindo à conquista da felicidade eterna.
Qual nada!
O autor só trata de como ele julgava que se poderia ser feliz neste mundo mesmo. Nesse capítulo, não há referência nenhuma ao sobrenatural.
Plínio quer mostrar que, nesta vida, a felicidade não se alcança com o ter dinheiro, com o ter poder, nem no fazer, nem no saber. A felicidade, neste mundo, se alcaçaria “sendo”.
Sendo o quê?
“Sendo autêntico”.
“Cada um deve ser autêntico”.
“É preciso escolher entre a sua autenticidade, ou ser sua própria caricatura. Assim quem tende para a verdadeira felicidade — para a felicidade possível nesta terra— é ‘o homem que é”, e não o “que sabe”, o “que pode”, “que faz”, ou “que tem” (Op. cit., p. 27. O destaque é nosso).
Note-se: felicidade “nesta terra”.
Nosso Senhor nos ensinou que o homem que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e que devemos negar-nos a nós mesmos, tomar a nossa cruz, e segui-Lo.
É bem interessante e sintomático que Dr. Plínio inicie sua exposição sobre a Inocência Primeva como meio de alcançar a felicidade “nesta terra”. Isto porque essa preocupação com a felicidade através do sonho, já nesta terra, e a tentativa de vencer o mal do mundo, eram típicas do Romantismo:
"Tendo presente que todo o Romantismo nasce de uma consciência de infelicidade e do desejo de superá-la, compreende-se como seja romântica também aquela atitude titânica, que tem os seus representantes máximos entre os poetas ingleses (Byron e Shelley) e que, prosseguindo, intensificando-se e transvalidando o ativismo humanístico e terrestre do iluminismo, se rebela contra o mal do mundo, condena a inércia ou a impotência divina diante dos sofrimentos do homem, e luta para constituir um novo mundo de seres livres autônomos, felizes" (Mario Puppo, Il Romanticismo, ed. Studium, Roma, 1973, p. 21).
Dr. Plínio condenava o mundo concreto, e buscava fugir dele por meio da recuperação de uma imaginária inocência primeva, que permitiria alcançar uma felicidade edênica, através do sonho, numa super realidade “Trans-esférica”.Uma super realidade que se atingiria através do imaginar um mundo inexistente-existente, que Plínio chama de “os possíveis, em Deus”.
Sonho, desejo e pretensão eram típicos do Romantismo:
"O mito da Idade de Ouro, da harmonia primitiva que seria preciso reencontrar, de uma fratura que é preciso fechar, domina todo o romantismo alemão" (Mario Puppo, Il Romanticismo, ed. Studium, Roma1973, p. 27).
Como domina também todo o pensamento — perdão — toda a imaginação de Dr. Plínio.
Vimos, então, que para ele a fórmula que resumiria a solução para se obter felicidade nesta terra seria ”ser autêntico”.
Ora, alguém que é mau, assumindo abertamente sua maldade, também se pode dizer autêntico. “Ser autêntico” foi uma fórmula posta em voga pelo existencialismo, mas assumida por Plínio.
Porém, ser autêntico, no Romantismo, coexistia dialeticamente — contraditoriamente — com o desejo de ser o “outro”. Ora, também em Dr. Plínio sempre houve o sonho de ser autêntico, o comprazimento de ser Plínio, e, ao mesmo tempo, dialeticamente, o sonho e o desejo de ser o “outro”. Daí, seu gosto pelas fantasias carnavalescas. Dai, seu desejo de ser “outro” que não ele mesmo. Ele sonhava ser urubu, ser marquês de Versailles, ser uma safira, um rio, etc.
Veremos adiante os textos em que relata essas aspirações delirantes. Pois os textos dele contando tudo isso existem. Garantimos, com os textos bem guardados dele, que ele sonhou ser urubu.
Não acreditam?
Pois lerão.
Scognamiglio publicou isso.
Ser autêntico, para Plínio C. de Oliveira seria manter o que ele chamava de “inocência primeva”, que ele descrevia romanticamente, dando como prova da existência dela a poesia Meus oito anos, do romântico Casimiro de Abreu:
Oh! Que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida.
De minha infância querida,
que os anos não trazem mais
Da aurora de minha vida.
De minha infância querida,
que os anos não trazem mais
É incrível que um homem que se apresenta como “varão todo católico” (op.cit., p. 16), cite uma poesia rosicler como essa, uma poesia “água com açúcar”, como se fosse o espelho imaculado da verdade, e não apenas edulcorado romantismo. Aliás, Plínio usa e abusa de expressões e termos tipicamente românticos: “ter ideais”, “sonhar”, “idealismo”, “imaginar”, ”ter nostalgia”, “ter saudades”, “ter impressão”, “ter vivências”, etc. Fala de “uma espécie de nostalgia de nosso tempo de menino, um tanto parecida com a de um paraíso perdido” (p. 30). Nem é preciso dizer como essa idéia de retorno e saudade da infância é comum entre os românticos. Casimiro de Abreu, entre nós, e Clemens Brentano, na Alemanha, com seu paraíso imaginário do Vadutz são provas disso.
Dr. Plínio tinha como tema central a “inocência primeva”. Uma inocência, um estado em que todos teriam sido concebidos, “perdido” (no sentido de “smarrito”, não encontrado) por falta de adesão, pela maioria dos homens, mas que, de algum modo, e contraditoriamente, existiria, ainda que perdido, na alma de cada um.
Ora, esse também foi tema típico dos românticos.
"O grande sonho dos românticos é a inocência, a segunda inocência que englobe ao mesmo tempo todo o caminho percorrido através da cultura, isto é, uma inocência que não seria mais a primitiva, a do jardim do Éden, mas uma inocência sábia. É a famosa criança irônica de Novalis, um dos grandes símbolos do movimento romântico." (Anatol Rosenfeld, Romantismo e classicismo, in J. Guinsburg, O Romantismo, Ed Perspectiva, São Paulo, 1978, p. 274).
"Se o mundo foi uma criação do espírito, este deve se reencontrar no mundo. De onde a busca e a descoberta de uma infinidade de analogias entre o homem e a natureza, a matéria e o espírito. Também a natureza teria uma alma e uma história: ela não é muda, mas fala a quem saiba compreender a sua linguagem. Nos tempos antigos, animais e árvores, e as rochas falavam com os homens e assim deveria ser de novo. Todo fenômeno e todo ser natural é um símbolo que é preciso entender, uma palavra que é preciso saber compreender: ‘as plantas são a linguagem mais imediatas do solo” e as nuvens talvez sejam a expressão de uma infância perdida"(Mario Puppo, Il Romanticismo, Ed Studium, Roma, 1973, p. 35. O destaque é nosso).
Portanto, nesse livro que focalizamos hoje, Plínio trata exatamente de um tema essencialmente romântico: a inocência primeva.
Essa relação essencial entre romantismo e inocência da criança é lugar comum do romantismo, e é citada normalmente pelos melhores analistas da mentalidade romântica.
Maxime Alexandre afirma que
“a nostalgia do paraíso perdido, paraíso que entrevemos na infância, é um dos temas dominantes” [do Romantismo] (Maxime Alexandre, Romantiques Allemands, Gallimard, Aubier, Donoël, Stock, Éditeurs français réunis, Paris, 1963, 2 volumes, Introduction, p. XXIV).
Também Marcel Brion liga a noção romântica da Idade de Ouro e do paraíso perdido à infância:
"A conseqüência a mais preciosa desse retorno ao centro é então a reconquista da idade de ouro da qual tanto fala Novalis no Ofterdingen [Heinrich Ofeterdingen, obra iniciática de Novalis]. Privilégio da infância (lá onde há infância, há idade de ouro”) esse estado resulta também da tomada de posse intuitiva da natureza por “homens puerís” (Marcel Brion, L’Allemagne Romantique, ed. Cit. 10 volume, p.64).
E “homens pueris” significa homens que guardaram o estado de alma infantil, a inocênca primeva, da qual fala PCO.
Plínio apresenta uma visão da criança completamente contrária ao que dizem a doutrina católica e a evidência.
A doutrina católica afirma que a criança é concebida com o pecado original.
Adão foi criado por Deus em estado de inocência e santidade. Mas, quando pecou, contaminou a natureza humana. Todos os homens, exceto a Virgem Maria, são concebidos no pecado original. Todos somos concebidos com uma desordem em nosso ser: a inteligência tende ao erro e não à verdade; a vontade tende ao mal e é rebelde ao que a inteligência lhe aponta como certo; e a sensibilidade é desordenada. Por sua vez, nosso corpo é rebelde à alma, à qual ele deveria obedecer. No ser humano, se constata uma desordem misteriosa, que a Igreja mostra ser conseqüência do pecado de Adão: o pecado original, no qual todos os homens, exceto a Virgem Maria, foram concebidos.
Por isso, São Paulo disse: “Efetivamente, a carne tem desejos contrários ao espírito, e o espírito desejos contrários à carne” (Gal. V, 17). E ainda: “vejo nos meus membros outra lei que se opõe à lei de meu espírito”(Rom. VII, 23).
Ensina ainda a Igreja, que pelo Batismo é redimida a culpa do pecado original, cujas conseqüências, no entanto, permanecem no ser humano, que nasce sujeito à morte, à doença e a muitas desordens em sua alma e em seu corpo. Por isso, diz o Salmo: “Eis que fui concebido em iniquidades, e minha mãe me concebeu no pecado”(Sl. L, 7).
Dr. Plínio, na primeira parte do livro, ao tratar do que ele chama de “Inocência primeva” de todos os homens, não fala do pecado original. Só uma vez é apenas citada, e “en passant”, a expressão “pecado original”. Na segunda parte do livro, ele afirma – só uma vez -- que o pecado original causou ruínas na alma humana (p. 69). Fica a suspeita que nem tudo o que ele pensava sobre o pecado original foi publicado no livro que agora focalizamos. Tanto mais que, noutro livro publicado pelos chamados “Provectos” da ex TFP, se pode ler o seguinte:
Havendo inocência numa pessoa, e a fortiori se ela recebeu o Batismo, há uma preservação, um desenvolvimento do senso do ser, que faz com que, olhando para determinada coisa, ela imagine como seria essa coisa se fosse ainda mais excelente. (PCO, Excertos do pensamento de Plínio Corrêa de Oliveira, in O Universo é uma Catedral, excertos do pensamento de Plínio Corrêa de Oliveira, recolhidos por Leo Daniele, edições Brasil de Amanhã, São Paulo, 1997, p. 229. O sublinhado é do autor. Os negritos são nossos.).
Na frase acima citada, fala-se de modo indefinido e condicional: “Havendo inocência numa pessoa”... O que significa que alguns poderiam não tê-la, ou que, a tendo possuído, perderam-na. Mais adiante ver-se-á que, segundo PCO, todos os homens a têm e que nem o pecado faz perdê-la. Segundo PCO, poder-se-ia perdê-la, no sentido de ignorar onde ela está.
Está escrito também que o Batismo reforça o que já existiria no homem inocente. Logo, a inocência existiria, (pelo menos em certos homens ?), mesmo sem o Batismo. Portanto, a inocência já existiria num homem ainda que com o pecado original. E supor isso seria herético.
É importante destacar que Plínio insinua, deixa vago, reforça uma idéia insinuada, afirma depois claramente o que antes insinuou, torna a insinuar vagamente, num vai e vem enganador, que foi método típico dos modernistas, que afirmam numa página o que negarão na seguinte, e depois, voltarão a explicitar o que fora antes negado ou só insinuado.
Note-se ainda que Plínio afirma que a inocência primeva, que existiria nos homens, reforçaria neles “o senso do ser”, o que faria a pessoa inocente “imaginar” esses mesmos seres de modo mais excelente. Ora, se houvesse um aumento do sentido do ser a faculdade favorecida seria a inteligência e não a imaginação. Para PCO, a inocência primeva desenvolveria um imaginativo senso do ser.
Que significa esse “senso do ser” dado com a inocência primeva?
Nasceria o homem já com um conhecimento inato? Seria por isso que Plínio recusava os livros e queria “tirar tudo de sua própria cabeça”? Seria por isso que Plínio dizia que não estudava, mas explicitava o que já sabia, o que já estava em seu intelecto?
Seria esse senso do ser que daria ao homem possuidor dele e com adesão à Inocência Primeva conservar-se “aberto a todas as formas de retidão e de maravilhoso” (Plínio Correa de Oliveira, A Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo, ed. cit., p. 35).
Plínio acreditava ser um desses homens inocentes mesmo antes do Batismo.
Ainda em O Universo é uma Catedral, na página seguinte àquela em que aparece a frase heterodoxa acima analisada, há uma foto — evidentemente sugerindo-se que foi o que aconteceu com Dr. Plínio quando era menino, — foto de um menino, tendo um balão de gás acima de sua cabeça, “imaginando” uma torre mais ao longe, e a legenda: “E assim se encaminha para imaginar uma trans-esfera” (O Universo é uma Catedral, excertos do pensamento de PCO, por Leo Daniele, Ed. Brasil de Amanhã, São Paulo, 1997, p. 230).
Imaginar uma Trans-esfera...?
E Dr. Plínio fala como se o homem fosse, ainda hoje, como Adão que “saiu inocente das mãos de Deus”. Tanto que ele intitula o capítulo dois desse livro “Inocência primeva, estado de harmonia com que a alma saiu das mãos de Deus” (p. 35).
E isso é uma doutrina com sabor de erro, pois não explicita que só Adão, Eva, e a Virgem Maria “saíram” inocentes das mãos de Deus, sem o pecado original. Como também não explicita que a inocência primeva foi perdida por Adão ao cometer o pecado original. Dizendo que outros seres humanos “saíram” inocentes das mãos de Deus, afirma algo que é avesso à doutrina católica.
Ao editarem esse livro, contendo alguns textos das reuniões “discretas” de Dr. Plínio, os membros da ex TFP deram, agora, publicamente, pelo menos algumas provas da doutrina heterodoxa que Plínio revelava, nas reuniões praticamente secretas, que ele dava só para alguns de seus sequazes, no que ele chamava de MNF.
Nessas reuniões do MNF, era que Plínio manifestava realmente “ad intra” do grupo da TFP,o que ele era: o homem que se acreditava o “Inocente”, como Adão ao ser criado por Deus, sem o pecado original, ou, pelo menos, o homem que recuperara plenamente a inocência primeva, a inocência de Adão no Éden.
Entretanto, embora Plínio se afirmasse “o” Inocente, dizia também que não se considerava o único com essa qualidade. Para ele, era o homem que saía inocente das mãos de Deus:
Inocente é o homem de todas as idades que adere àquele estado de espírito primevo de equilíbrio e de temperança com que o homem foi criado, e por isso conserva-se aberto a todas as formas de retidão e de maravilhoso (Plínio Correa de Oliveira, A Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo, p. 35).
Nessa conceituação do “homem inocente”, há vários pontos a destacar.
Em primeiro lugar, afirma-se que a inocência primeva é um estado de equilíbrio e de temperança existente inata no homem – “de todas as idades” -- atual. E isso é um absurdo que contraria a evidência e a doutrina católica.
Em segundo lugar, diz-se vaga e indefinidamente, que o homem foi criado nesse estado.
Em terceiro lugar, por fim, se afirma que todo homem, de todas as idades, pode aderir a esse estado.
De todas as idades de sua vida, ou de todas as épocas?
De qualquer modo, que se entenda a palavra “idades” aí usada, tem que se concluir que todos os homens saem das mãos de Deus em estado de inocência.
Mais, a posse desse estado de inocência, com o qual todos nasceriam, exigiria porém uma adesão pessoal a ele. Seria também uma questão de escolha, de opção individual, fruto de uma adesão voluntária.
Logo, para Plínio Corrêa de Oliveira, os homens todos estariam divididos em dois grupos:
1. Os que possuem a inocência primeva e a ela aderem; são os que têm alma harmoniosa. Nestas pessoas, sendo elas batizadas, o Batismo reforçaria a sua inocência. Ora, o Batismo não devolve a inocência primeva de Adão ao batizado, como também não elimina as conseqüências do pecado original, uma delas a perda do estado de inocência em que Adão foi criado.
Portanto, essa doutrina de Plínio contraria a fé.
Estes inocentes – possuidores da Inocência Primeva, os possuidores do misterioso thau de que falavam Plínio e a TFP – seriam aqueles que Plínio chamava de contra-revolucionários.
2. Os que não aderem à inocência primeva, que não estão na posse ativa desse estado de harmonia de alma. E porque não aderem a ela, têm as faculdades desregradas, são egoístas, e têm uma alma cujas potências lutam entre si. Estes são os que PCO chama de revolucionários. Somente tais pessoas seriam dominadas por paixões desregradas. A essas pessoas, o Batismo não é capaz de lhes restituir, ou de reforçar, a inocência.
O erro, ainda que vagamente insinuado a princípio, de que todos os homens, ainda hoje, saem das mãos de Deus, isto é, são concebidos em estado de inocência, ou pelo menos na sua primeira infância possuem esse estado de inocência, vai sendo explicitado por Plínio.
Veja-se a prova disso nesta outra afirmação dele:
“A inocência é, portanto, uma forma de aliança com Deus que todas as almas tiveram em sua primeira infância” (Op cit., p. 39. O destaque é nosso).
Note-se: “todas as almas” teriam tido uma aliança com Deus na primeira infância.
Por outro lado, no subtítulo 2 da página 35 do mesmo livro define-se:
“Inocência é a harmonia de todas as potências da alma entre si” (Plínio Corrêa de Oliveira, Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo, ed. Cit.sub título 2, p. 35. O destaque é nosso).
Também isso vai contra a fé católica, que nos ensina que, por causa do pecado original, todas as potências de nossa alma estão desregradas: a inteligência tende para o erro, a vontade tende para o pecado e é revoltada contra a inteligência, e a sensibilidade é desgovernada e tende a não seguir o que lhe mostra a inteligência e o que lhe manda a vontade. Na alma humana, depois do pecado original, reina a desarmonia. Isso é o que ensina a Fé católica. E PCO diz o contrário. Logo, PCO deixou de ser católico pois ensinava “discretamente” uma doutrina heterodoxa.
Plínio, como Rousseau, acaba por afirmar que o homem tem uma natureza boa, sem inclinação ao mal; que na alma humana atualmente, na primeira infância pelo menos, há harmonia entre as faculdades humanas; que essas faculdades não tendem nem para o erro e nem para o mal; e que a alma domina naturalmente o corpo e seus instintos.
Portanto, PCO negava os efeitos do pecado original no homem ou, pelo menos, nos homens que tivessem aderido ao estado de inocência primeva de sua primeira infância.
Se todas as almas têm essa aliança com Deus (p.39), se todas as almas possuem essa “inocência primeva”, se “a alma saíu das mãos de Deus”, “em estado de harmonia” (p. 35), não se compreende porque o Batismo seria absolutamente necessário para a salvação. Não se compreende porque a Igreja ensina que todo homem nasce no pecado original, e com tendência ao erro e ao pecado. Mais necessária, ou mais importante que o Batismo, seria a adesão da alma ao estado de harmonia característica da inocência primeva.
Essa colocação, mudando a doutrina católica do pecado original e suas conseqüências, acarreta também mudanças profundas nas condições necessárias para a salvação, o que necessariamente afeta a doutrina da Redenção.
Se fosse verdade o que Plínio diz sobre a inocência primeva, seria preciso mudar muito na doutrina católica do pecado original e da Redenção. E até ficaria a pergunta se existe mesmo o pecado original como a Igreja sempre ensinou e se a redenção pela cruz de Cristo, a adesão às verdades reveladas — a Fé — o batismo, e a obediência aos mandamentos seriam mesmo necessárias. O que afirma Plínio Corrêa de Oliveira contraria o que ensina a fé católica sobre o pecado original e suas conseqüências, assim como toca de modo indireto a absoluta necessidade das condições necessárias de salvação, tais como o Evangelho e a Igreja sempre ensinaram.
Para PCO, então, todos os homens seriam concebidos e nasceriam inocentes imaculados? Ou lhes seria dada a inocência primeva na primeira infância? Os textos dele agora publicados oscilam, ou por incompreensão e ilogicidade dele, ou por tática que insinua sem dizer, ou explicita e recua, porque não quer dizer claramente. Ou seriam contradições de quem tem duas doutrinas: uma exotérica, e outra esotérica?
Fizemos referência à ilogicidade de Dr. Plínio, porque, se todos os homens nascem com inocência primeva e têm perfeita harmonia em sua alma, como poderiam eles não aderir a essa harmonia? Seria como se os homens, nascendo com capacidade de respirar, só respirassem de fato se dessem adesão ao respirar. Se todos nascessem inocentes — incapazes de fazer algo nocivo — como esses inocentes se tornariam nocivos a si mesmos, não aderindo à sua própria natural harmonia interior?
Plínio poderia argumentar que homem é constituído com livre arbítrio, o que lhe daria a possibilidade de se prejudicar a si mesmo. Se for assim, fica explicado porque Plínio falará — veremos isso adiante — em “maldade do livre arbítrio humano” (Cfr.Plínio Corrêa de Oliveira, artigo Vítima Expiatória, in revista “Dr. Plínio”, Ano II, Outubro de 1999, N0 19, p. 26). Ora, uma suposta maldade do livre arbítrio tornaria absurdo falar em inocência primeva, tal a contradição desses conceitos.
Por outro lado, se a inocência primeva é – como diz Plínio – um estado de harmonia das potências da alma entre si, esse estado seria atuante por si mesmo. Como então afirma Dr. Plínio que seria preciso dar uma adesão a esse estado para possuí-lo?
Então para manter-se na inocência primeva, o homem teria que ter conhecimento dela, pois só se pode aderir ao que se conhece.
Essa adesão viria então de um conhecimento interior intuitivo, pessoal, salvífico. Seria um conhecimento-experiência, salvador que daria o conheciemnto superior inerrante, exatamente como diz a Gnose.
O conceito de inocência primeva inata de Plínio aponta para uma Gnose tefepista. Veremos se isto se explicita em outros pontos da doutrina “discreta” do Manifesto.
A estrutura doutrinária montada por Dr. Plínio para defender sua concepção de homem com inocência primeva é totalmente desengonçada, absurda e estapafúrdia. Completamente avessa à doutrina católica, uma vez que nega ou a herança do pecado original ou a permanência dos efeitos do pecado original na natureza humana.
De tudo isso, pode-se concluir que para PCO, se todos os homens nascem com a inocência primeva, alguns homens, pelo menos, não só saíriam inocentes das mãos de Deus, isto é, sem o pecado original, mas que estes manteriam essa inocência por adesão explícita, enquanto em outros ela permanece, como latente, mas não atuante, e não havendo adesão a ela, o homem seria um ser sem ordem interior. Um homem com paixões desregradas. Um revolucionário. Daí, que para PCO existissem revolucionários e contra revolucionários. Uns teriam o que ele chamava de thau. Os outros seriam a “inimica vis”, os fumaças. Ou, pelo menos, os “sabugos”.
Acreditaria Plínio que ele mesmo não tinha pecado original?
Que, em reuniões mais íntimas, ele se dizia o inocente, e que pretendia ser imortal, era conhecido e acreditado por muitos na TFP.
Que ele se dizia profeta era bem conhecido.
O atual Monsenhor Scognamiglio, quando era o propagador do culto a Dr. Plínio e a Dona Lucília na TFP, chegou a dizer que a idéia de que Dr. Plínio não tinha pecado original ”era uma hipótese muito interessante, mas que precisaria ser demonstrada”.
Porém, num livro editado pela TFP para circulação interna, se escreveu algo mais explícito. O livro é o do Professor José Martini, sob o pseudônimo de Frère Élie de Sainte Marie, e foi intitulado Santo Elias , o Profeta da Aliança (edição mimeografada pela Editora Vera Cruz, abril de 1972, 278 páginas).
Esse livro usa linguagem extremamente ambígua e quase esotérica. Nele se pode ler a seguinte frase: “O profeta é como uma sobrevivência ou um ressurgimento na humanidade decaída, da humanidade tal como Deus a quisera” (p. 101).
“O profeta é aquele em que o povo hebreu reencontra a familiaridade original com Deus” (Frère Élie de Sainte Marie, Elias, o Profeta da Aliança, ed. Vera Cruz, São Paulo, 1972, p. 101).
Plínio seria então profeta, inerrante e imortal por ter aderido à inocência primeva e, desse modo, teria a missão de levar outros a aderirem a esse estado. Esse era o profetismo de Plínio, mais de condutor ou mistagogo do que o de previsor de fatos futuros contingentes, segundo ele mesmo dizia.
Note-se: o profeta tem a familiaridade original que Adão tinha com Deus antes do pecado. E Plínio se dizia profeta inocente. Logo, era natural concluir que ele julgava que não tinha pecado original. O profeta é o homem sem pecado original, inocente e imortal. O profeta seria um ressurgimento do homem sem pecado original, tal como Deus o fizera sair de suas mãos. E Dr. Plínio se julgava profeta e inocente.
Logo...
Dessas citações, pode-se extrair a conceituação de Inocênca Primeva de Plínio:
Inocência primeva seria o estado primevo, original, em que o homem teria sido criado por Deus, estado em que todos os homens nasceriam, ou que receberiam em sua primeira infância, mesmo sem o Batismo, estado que reforçaria no homem o sentido do ser, e que possibilitaria ao homem estar aberto a tudo o que é reto e maravilhoso.
Mas deixemos o próprio Dr. Plínio conceituar o que ele entende por inocência primeva:
[Inocência primeva é o estado] pelo qual uma pessoa, desde os primeiros movimentos de sua existência, tem noção de que ela é. E, de modo excelente, vai escolhendo as coisas que, por afinidade ou contraste harmônico em relação a ela, lhe convém para realizar a sua unicidade. Em sua caminhada pela vida, nunca cometeu uma falta e sempre visa atingir a própria perfeição. A inocência assim conceituada se refere à pessoa sem pecado original (Plínio Corrêa de Oliveira, Seletivo e Harmonia na Alma Inocente,artigo in Revista “Dr. Plínio”, AnoVIII, Junho de 2006, N0 87, p. 23. Os destaques são nossos).
Que significa, aí, que a inocência da pessoa, através do “senso do ser”, “vai escolhendo as coisas que, por afinidade ou contraste harmônico em relação a ela, lhe convém para realizar a sua unicidade”?
Qual o sentido da palavra “unicidade” nessa frase?
Por meio desse misterioso “senso do ser” o inocente iria fazendo uma seleção – eliminando algo, aceitando o oposto desse algo—afim de atingir a “unicidade”. Seria aí unicidade sinônimo de unidade?
Claro que não, pois o uno é um transcendental do ser. Ser uno é proprio de todo ser. Cada coisa é una e jamais busca atingir a sua unidade, que ela já possui.
Portanto “unicidade”, aí, só pode significar que se busca atingir uma identificação com o Ser num monismo ontológico.
Segundo a doutrina católica e a filosofia tomista, os seres feitos à imagem de Deus buscam a união com Deus, jamais a unicidade com Deus. Só a Gnose afirma que os homens, na vida peregrinante no exílio da matéria, devem buscar a unicidade com a Divindade, rejeitando a matéria, e selecionando nela a partícula divina inviscerada nas coisas criadas. O Panteísmo, que afirma que tudo é Deus, inclusive a matéria, nada seleciona, e afirma , sem seleção, o monismo do ser. PCO, na citação acima, dá claro indício de sua doutrina gnóstica.
Também deve-se ressaltar que nessa citação é afirmado explicitamente, que a Inocência primeva, na conceituação de Dr. Plínio, implicava na ausência do pecado original. E Plínio afirmava possuir a ‘inocência primeva”. Pretendia ser “O” inocente. O que implica em afirmar que ele julgava não ter tido pecado original.
E o pior é que ele afirmou ainda que todos os homens possuem essa inocência primeva na primeira infância, “quando saíram das mãos de Deus”: “A inocência é, portanto, uma forma de aliança com Deus que todas as almas tiveram em sua primeira infância” (Op cit., p. 39. O destaque é nosso).
Mas então, ninguém teria o pecado original?
Essa é a conseqüência lógica dessas afirmações de Plínio.
É isso é heresia completa.
Ele afirmou ainda que, quem tem a inocência primeva, tem perfeita harmonia na alma, sem desordem alguma:
“Inocência é a harmonia de todas as potências da alma entre si” (Plínio Corrêa de Oliveira, Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo, ed. Cit. p. 35).
Ora, se a inocência primeva for isso, como a Igreja ensina que o pecado original causou uma desordem na alma humana?
Se PCO está certo em suas divagações “metafísicas” e “teológicas”, dever-se-ia concluir que a Igreja e a evidência estão erradas, já que essa harmonia não existe na alma humana.
Depois do pecado original, no qual todos os homens são concebidos, -- exceto Maria Santíssima – na alma humana reina a desarmonia.
Devemos observar que os textos de Plínio são muitas vezes contraditórios. Ora, ele dizia uma coisa, depois, ou porque não era sistemático, ou por esquecimento do que havia dito, ou por malícia para não ser pego em heresia explícita, ele dizia o oposto do que afirmara.
Veja-se um exemplo concreto:
No livro Notas Autobiográficas, à página 391, Plínio afirma:
Não me lembro de uma só vez em que eu me olhasse no espelho para ver como estava minha roupa. Nem me passava pela mente a idéia de fazê-lo (Plínio Corrêa de Oliveira, Notas Autobiográficas, p. 391).
Ora, nesse mesmo livro se lê:
Minha irmã e minha prima passaram o dia da Primeira Comunhão em traje de noiva e eu, com o meu Eton [Uniforme do famoso Colégio inglês desse nome]. Fui olhar-me no espelho, e fiquei contente por estar com uma roupa muito tradicional e, ao meu ver, também muito católico (Plínio Corrêa de Oliveira, Notas Autobiográficas, p. 628. O destaque da contradição de Plínio é de nossa responsabilidade).
E nas páginas seguintes a essa se lê:
Pensei que as pessoas com quem morava e os parentes que freqüentavam a minha casa haveriam de achar que eu ficava muito bem com esse Eton e o elogiariam, tanto mais quanto, na minha ingenuidade, ouvia-os comentar os trajes de minha irmã. Eu ainda não compreendia que, normalmente, elogia-se a roupa feminina e não a dos homens, por serem mais sisudos e sérios, e não se preocuparem com os trajes como fazem as moças. Essa atitude pareceu-me estranha e perguntei-me: Será que eu fico em algo estranho, com essa roupa? Olhei-me no espelho mais uma vez e julguei nada ter de anormal (Plínio Corrêa de Oliveira, Notas Autobiográficas, p. 628 e 630. O destaque é nosso).
Se numa pequena questão de vaidade—que ele diz própria mais de meninas—Plínio cai em contradição flagrante, que dirá em coisas mais sérias, como a heresia!
Não fica de todo claro, nos textos publicados no livro em foco, se, para Dr. Plínio, todo homem teria sido criado nesse estado de inocência, ou se todos teriam recebido esse estado de harmonia da alma na primeira infância. Entretanto, o mais lógico seria que todos os homens já nascessem nesse estado de inocência primeva. Não só Adão teria sido criado assim.
É de se supor que no MNF haja textos que elucidem esse problema, textos que, sendo diretamente contrários à doutrina católica, foram eliminados do livro publicado agora pelos Provectos da TFP. Somente um exame completo do MNF permitiria resolver plenamente essa questão. Mas, como vimos, no que já foi publicado, há provas de que Plínio acreditava nessa doutrina herética.
Vimos ainda que Plínio dá uma definição de Inocência Primeva — e que ele atribui a todos os homens — e que nega ora explicita, ora implicitamente, as conseqüências do pecado original na alma humana.
Vejamos uma contradição doutrinaria de Plínio:
Vimos que ele afirmou que a inocência primeva que todos os homens possuem ao sair das mãos de Deus, causa uma harmonia plena entre as potências da alma.
Ora, doutra feita Plínio diz o oposto:
Temos apetências desordenadas, desejamos mais do que nos é razoável, nutrimos antipatias despropositadas, nos tornamos semelhantes à terra de degredo na qual estamos (Plínio Corrêa de Oliveira, Seletivo e Harmonia na Alma Inocente, artigo in Revista “Dr. Plínio”, AnoVIII, Junho de 2006, N0 87, p. 24).
Mas, enquanto a Igreja ensina que essa desordem perdura em nós até a morte, Plínio garante que podemos extirpá-la:
Entretanto, trata-se de uma contradição que precisamos extirpar de nosso interior, para que em nós tudo seja lógica, coerência, harmonia.
Tal nos é possível, fazendo com que nosso seletivo funcione em ordem, não procurando coisas que não nos convém, e tendo idéia exata de como deveríamos ser, isto é, inocentes. E desejar essa meta, pois o homem, quando fiel à sua inocência batismal, conhece , quase por instinto, aquilo que lhe será ou não benéfico (Plínio Corrêa de Oliveira, Seletivo e Harmonia na Alma Inocente,artigo in Revista “Dr. Plínio”, AnoVIII, Junho de 2006, N0 87, p. 25).
Ora, doutra feita, Plínio afirmara que o Batismo só reforçava a inocência primeva já existente em todo homem, ao sair das mãos de Deus..
E Plínio acaba afirmando algo de incrível sobre o que seria o estado de inocência primeva por ele imaginado:
“A inocência não é um estado de alma passivo, resignado, inerte. Mas, pelo contrário, ativo, atuante, empreendedor”.
“A inocência está sempre à procura de algo, de algo que é cheio de luz, cheio de paz, cheio de ordenação, concatenação e força, mas cheio de tranqüilidade”.
“Este algo tem a capacidade de tudo mover sem mover-se a si próprio”.
“Tem algo de inefável, de divino, de interior e de secreto” (Plínio Corrêa de Oliveira, Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo, ed. cit. p. 49. O destaque é nosso).
Que estranho!
A inocência primeva está sempre a procura de um algo que é motor imóvel, isto é, de Deus. Mas “esse algo”, esse “motor imóvel” — Deus — teria algo de inefável, de divino, de interior e de secreto’.
Como?
Se Deus é esse algo que a alma procura, como teria Ele algo de divino?
Deus teria algo de divino?
Que tolice é essa?
Ou seria o homem inocente que teria algo de divino?
Ou é o inocente que poderia adquirir algo de divino numa imaginária identificação com Cristo?
Veremos, mais adiante, uma resposta afirmativa de Plínio a essa pergunta.
Noutra passagem, Plínio diz que esse estado de harmonia com que as almas seriam criadas,”sairiam das mãos de Deus” teria graus diversos: “É possível que em todos esta noção primeva tenha existido em alto grau. Em alguns em grau altíssimo” (p. 39. O destaque é nosso).
Quais seriam as características desse estado de Inocência Primeva no qual todas as almas seriam criadas numa aliança com Deus, aliança da qual a Igreja nunca falou, tendo, aliás, sempre ensinado o contrário?
Para Plínio, a inocência primeva faria com que todas as crianças saíssem das mãos de Deus em estado de plena harmonia na alma:
“[...] a harmonia da alma humana se manifesta na Inocência”(p. 12).
“Existindo no homem uma ordem fundamental, é-lhe impossível admitir a desordem como condição normal e fundamental do universo, a não ser à maneira de um desastre colateral e limitado” (Op. cit., p. 39).
Está aí explícitada a idéia errada que existe no homem uma ordem fundamental.
Que desastre “limitado” seria esse de que fala Plínio? Teria sido o pecado original de Adão?Então o desastre do pecado original seria limitado? Limitado como? Limitado a que? Limitado a quem?
Como, então, São Paulo escreveu que havia em seu ser uma lei da carne que contrariava a lei de seu espírito? São Paulo certamente não teve a noção da inocência primeva na qual teria sido criado. São Paulo deveria ter sido da TFP, para aprender isso. Scognamiglio abriria novos horizontes para São Paulo, contando-lhe – secretamente—o Jour le Jour de Plínio.
A frase acima citada contraria a doutrina da Igreja de que todos os homens são concebidos no pecado, que colocou uma profunda desordem no ser humano, e não uma ordem fundamental como assevera Plínio Corrêa de Oliveira. Em vez de “o Cruzado do Século XX” dever-se-ia que Plínio foi um herege do século XX.
Ou o desastre a que se referiu Plínio tem algo em comum com a queda da Divindade, tal como a descrevem os gnósticos?
A pergunta fica no ar.
Voltaremos tratar da Inocência Primeva, na quarta parte deste livro, analisando os textos que os amigos de Monsenhor Scognamiglio, publicaram na Revista “Dr. Plínio” (Cfr A Doutrina do Conhecimento de PCO - Quarta Parte, capítulo III, n0 2- O Seletivo).
Plínio garante que, na criança inocente, haveria uma ordem completa, quer na alma, quer no corpo, a criança tendo controle dos seus instintos, pois o estado de inocência seria ‘um estado de alma pelo qual todo o temperamento, todos os instintos, toda a sensibilidade reagem de modo inteiramente proporcionado àquilo que têm diante de si. Nesse sentido a calma faz parte da inocência” (p. 42. O destaque é nosso).
Repare-se que está dito que essas qualidades existiriam “na criança inocente”.Não em todas?
Só na criança inocente, isto é, só naquela que deu adesão a essa ordem harmoniosa da inocência primeva?
Não é preciso dizer que essas afirmações contrariam a evidência. Como contrariam frontalmente o que a Igreja ensina sobre o estado em que todos os homens são concebidos, exceto a Virgem Maria. Basta ir a uma sala de aula, ou mesmo a um berçário, para constatar a mentira dessas afirmações de PCO. E é especialmente absurdo o que se lê nesse livro de que a criança, nascida em estado de inocência, tem suas reações instintivas inteiramente proporcionadas.
Ponha-se um doce ou um sorvete diante de crianças, e ver-se-á a reação “controlada” que elas têm.
Para Plínio, a criança teria qualidades e virtudes inatas:
Tomemos uma criancinha de três ou quatro anos. Uma das coisas que melhor caracteriza a inocência — mas a inocência no que tem de mais profundo, mais elementar e mais, por assim dizer, virginal — é certa forma de calma pela qual a criança dessa idade (dos tempos em que não havia TV, evidentemente) tem uma calma por onde nada a agita, e de uma maneira geral não se apega nervosamente a nada. A calma, aliás, é parte integrante da inocência. Pode-se estar numa situação em que seja quase inevitável o efervescer. Mas a efervescência, pelo império da vontade, deve ser reduzida estritamente aos seus primeiros borbulhares (PCO, citação literal de PCO em reunião de 25 de Setembro de 1986, A Inocência…, p. 40).
Veja-se o absurdo inimaginável imaginado: uma criança de três ou quatro anos, que, pelo império de sua vontade, controla estritamente suas emoções efervescentes.
Isso é sonho romântico. Nunca foi coisa real. Nunca isso foi ensinado pela Igreja, que a Santa Igreja não ensina loucuras.
Na verdade, ao dizer isso de uma criança de três anos, Plínio estava se referindo a si mesmo.
Chegou a nossas mãos nestes dias o romance surrealista de Plínio Corrêa de Oliveira intitulado Notas Autobiogáficas, (Editora Retornarei) com apresentação significativa de Monsenhor Scognamiglio, e aprovação surpreendente do Padre Royo Marin.
Pois nesse romance se lêem coisas incrivelmente surrealistas e modestamente hilariantes.
Veja-se como Plínio se descrevia aos três anos de idade: “Inocência crescente”, e ainda:
Tenho a vaga impressão de que, no primeiro período da infância, minha inocência cresceu com a idade, em vez de diminuir.
Como se manifestava essa inocência? Era um lumen (luz) --[Ou flash?]—no ver a realidade pelo qual eu não considerava a vida propriamente linda, mas, sem saber explicitar bem, parecia-me que ela simbolizava lindas coisas, que davam acesso a um mundo superior, o qual também não sabia definir e não relacionava com o Céu, mas me aproximava dele. Isso eu via reluzir magnificamente, por analogia simbólica, em todas as ocasiões . Essa “trans-esfera”, de certo modo, fundia-se com a tradição: quanto mais os objetos representavam o passado cristão, tanto mais tinham valor simbólico para mim (Plínio Corrêa de Oliveira, Notas Autobiográficas, Editora Retornarei,São Paulo, 2008, volume I, pp. 79 e 81. O destaque é do autor).
E Plínio teria apenas cerca de três anos, ao ter essas “impressões”...
Como se pode considerar com seriedade essa descrição?
Como se pode acreditar nessa auto descrição absurdamente atribuida a uma criança de três anos?
É evidente que Plínio, aos três anos, não pensou nada disso. Imagine-se, uma criança de três anos falando em trans-esfera, em valores simbólicos e em analogia. Crer nisso é paranóia, ou esperteza. Plínio, adulto, inventou que pensara essas elocubrações imaginativas, claramente românticas e gnosticamente surrealistas, dizendo que excogitara isso quando menino. E o fanatismo – e a esperteza -- de Monsenhor Scogamiglio fez os Arautos crerem nessas tolices. E crerem a ponto de publicarem esse delírio em forma de livro.
Em edição de luxo.
Com aprovação de Padre Royo Marin!
E como explicar essa aprovação de Padre Royo Marin ao livro que conta isso?
Claro que esse livro depõe contra quem crê nele, e contra quem o aprovou.
E, prosseguindo, disse Plínio, e Monsenhor Scognamiglio publicou:
Embora as salas e os escritórios da Casa de vovó fossem totalmente laicas, -- [Só podiam ser laicas, pois ela não era freira e nem morava em igreja, e além disso, como disse Dr.Plínio, o marido dela era maçon]—havia certo número de imagens religiosas nos quartos de dormir. Olhando-as, eu sentia emoções de natureza muito elevada e sacral, e era movido a pensar: Curioso! Isto é uma gama, com uma vida diferente do resto do ambiente. Qual é relação entre uma coisa e outra? Não existe uma contradição?
Mais ou menos, todos os ornatos da casa—quer no apartamento de papai e mamãe, quer nas outras dependências – reluziam aos meus olhos de criança e tocavam a minha sensibilidade de modo extraordinário, apesar de eu perceber que não eram tão belos; mas remetiam para algo de diáfano, superior e lindíssimo, que desde logo atraía a minha alma. Nascia a noção de um universo ideal: ‘Isso é bom assim, mas como seria melhor se fosse de tal outro modo! (Plínio Corrêa de Oliveira, Notas Autobiográficas, Editora Retornarei,São Paulo, 2008, volume I, p. 81. O destaque é nosso).
Como uma criança de três anos poderia falar em “universo ideal”?
Teria Plínio lido os idealistas alemães aos três anos de idade?
Ou essa mentalidade romântica foi inculcada nele desde a infância, recebendo, depois, um “envernizamento” metafísico mais tarde?
Que o bom senso responda a essa pergunta.
Ainda que com um simples verniz metafísico, Plínio freqüentou certos ambientes universitários e clericais nos quais pode ter sido iniciado no romântico idealismo alemão, escola que uma criança de três anos não poderia captar. E o resto é desculpa fanatizadora scognamigliesca.
E se veja a seqüência da prodigiosa meditação metafísica de um menino de três anos:
Era no fundo, uma idéia do Céu e uma impressão de que, passando sucessivamente por paraísos imaginários em várias tônicas diferentes, eu acabaria dando uma volta na qual meu ser inteiro se sentiria saciado e chegaria a uma síntese eterna e definitiva. – [Só faltava Hegel!] --- Não era um mundo de sonhos ou de utopias, mas o conjunto da ordem universal que vinha se apresentando cômoda e gradualmente a meu espírito. Nem era mera fruição dos sentidos, mas o desejo de algo mais perfeito, dentro desse mundo. Eu tendia a não me contentar com nada, indo de elevação em elevação, até chegar ao Absoluto. (Plínio Corrêa de Oliveira, Notas Autobiográficas, Editora Retornarei, São Paulo, 2008, volume I, p. 81. O destaque é nosso).
Sem dúvida, ou aos três anos Plínio já lera Schelling e Hegel, ou isso é pura invencionice. Ao bom senso dos leitores, que não fizeram teologia em Salamanca, o decidir.
E note-se como Plínio sonhava paraísos e desprezava de tal modo o mundo real, confessando que tendia, como todo gnóstico, a não se “contentar com nada” do que existia.
Plínio, aos três anos, só queria o Absoluto!!!
Ou Plínio nasceu adulto, ou o Plínio adulto se manteve sempre a inocente criança de que falavam os românticos...
Sem dúvida, o livro Notas Autobiográficas de Plínio Corrêa de Oliveira, em boa hora publicado pelo incrívelmente bem sucedido Monsenhor Doutor Scognamiglio – Doutor!—é um romance surrealista.
Há outro texto resumido do MNF por Átila Sinke Guimarães, publicado na TFP, em 1972, para uso dos membros da entidade que, por milagre, conseguimos adquirir. Era um texto de terminologia esotérica, praticamente incompreensível. Entretanto, lendo-o agora, com as informações que temos hoje, o texto pode ser decifrado com mais facilidade.
Sobre o conhecimento inato do homem, esse resumo de parte do MNF intitulado O Processo Humano contém pérolas esparsas bem elucidativas. Vejam-se algumas sobre esse conhecimento inato do homem.
Dr. Plínio afirmava que há regras e conhecimentos “enviscerados” e “inatos” no espírito humano.
No subconsciente humano, cabem tesouros de filosofia, de conhecimento que, embora inexplicitamente, são condições para a sanidade mental”(...) “Necessariamente tem que haver um conhecimento anterior e subconscientemente nele [no homem] que é o conhecimento de algo por onde todas as coisas são unas (Átila Sinke Guimarães, O Processo Humano, resumo de parte do MNF, apostila mimeografada pela Editora Vera Cruz, Dezembro de 1972 , p. 61).
Todas as coisas são unas?
Em que sentido? No sentido em que toda coisa é sempre “una”? Ou que todas as coisas são no fundo um só ser?
Pregaria Plínio um monismo do ser?
Só por esse texto ambíguo não dá para tirar uma conclusão.
Mais adiante, porém, se lê o seguinte:
Vendo a coisa como ela é, a pessoa vê também o fundo comum e abstrato a que as coisas se reduzem (Átila Sinke Guimarães, O Processo Humano, resumo de parte do MNF, apostila mimeografada pela Editora Vera Cruz, Dezembro de 1972 , p. 63).
Todas as coisas se reduzem a uma noção abstrata de ser...
Tal conhecimento seria uma profunda e sintética visão primeira do ser:
Há, portanto uma espécie de primeira noção, ou primeira visão do ser na sua totalidade, e com todas as conseqüências que em todas as ordens pendem da aceitação do ser com essa totalidade. É essa primeira visão que constitui o objeto primeiro, simplicíssimo, inesgotável e riquíssimo de todo o conhecer humano, como também de todo o querer humano, e também de todo o sentir humano (Átila Sinke Guimarães, O Processo Humano, resumo de parte do MNF, apostila mimeografada pela Editora Vera Cruz, Dezembro de 1972 , p. 62).
“O verdadeiro conhecimento e a verdadeira inteligência”
A visão-primeira corresponde à minha velha idéia de que o conhecimento é algo que brota do fundo da cabeça do homem à maneira de algo impreciso, que depois se torna desenho, depois relêvo, depois estátua e por fim fala. Não é um caminhar de raciocínio em raciocínio como quem vai de uma ilha para outra num arquipélago, mas é algo como quem tira uma caixa, onde já está tudo contido (Átila Sinke Guimarães, O Processo Humano, resumo de parte do MNF, apostila mimeografada pela Editora Vera Cruz, Dezembro de 1972 , p. 64).
O homem já nasceria com toda a bagagem de um tratado de metafísica, com um conseqüente querer e sentir inatos.
Plínio afirma que, na inocência primeva em que todas as almas saem das mãos de Deus, as crianças têm noção primeva da perfeição original em que tudo foi criado. Teriam um senso perfeito do ser, tendente ao maravilhoso.
A posse da inocência importa em ter uma noção primeva (ou primeira) cristalina, da perfeição originária de todas as coisas. Naturalmente, é mais lúcida em uns, menos lúcida em outros, de acordo com a graça e com a natureza. Numa criança, é geralmente uma noção não consciente (idem, p. 39).
Nasceria a criança com um conhecimento metafísico perfeito?
Que delírio é esse?
Como seria possível ter noção não consciente de algo? Porque ter noção é ter um conhecimento, um conceito de algo. Ter noção ou conceito inconsciente é uma proeza que só na dialética gnóstica é possível ter.
Diz ainda Plínio:
Todos os homens têm no fundo do espírito, o padrão, os modelos ideais de todas as coisas. E — se não cometeram infidelidades revolucionárias, contra a ordem estabelecida por Deus na Criação — são capazes de encontrar em si esses modelos ideais. Feito isso, não é tão difícil alcançar a harmonia interna da alma que caracteriza a inocência (PCO, A Inocência Primeva, p. 45).
Ela [a criança] procura ver no que as coisas concretas conferem com a matriz que está na alma dela, a qual para ela é perfeita (Idem, p. 31).
De novo é reafirmado que todos os homens têm uma noção dos modelos ideais de todas as coisas, isto é que todos temos no fundo da alma a noção de uma ordem ideal perfeita de como as coisas deveriam ser.
Se todos os homens nascem já com o “padrão”, “com os modelos ideais de todas as coisas”, isso implica na tese absurda que todos os homens nasceriam com o conhecimento dos universais, isto é, dos arquétipos ideais de tudo o que foi criado. O Inocente teria em sua inteligência os conceitos universais que Deus concebera, em seu Verbo, desde toda a eternidade.
O homem inocente conheceria tudo tal como o Verbo de Deus.
Isso é completamente contra a doutrina católica.
Ora, essa é a tese da imanência do conhecimento no homem, típica da gnose do idealismo alemão, tese que se prolongou de Kant, Fichte, Schelling e Hegel, até Heidegger e até o jesuíta Rahner, a alma negra do Vaticano II.
Claro que não supomos que PCO tenha estudado as doutrinas desses filósofos. Ele era por demais “conhecedor implícito” para se dar à fadiga de ler qualquer coisa mais séria. Do que lucrava enormemente a sua preguiça.
Pois não disse ele: “O pecado deve ser semelhante ao grilo e à terra úmida, enquanto a virtude é semelhante à minha cama”( PCO, Notas Autobiográficas, p. 325).
Portanto, não julgamos que Plínio conhecia a fundo essas doutrinas do idealismo alemão, do existencialismo, e do neo modernismo. Mas Plínio era inteligente e imaginativo. Um pormenor lhe permitia imaginar um castelo de conceitos estapafúrdios. E PCO estudou com os jesuítas, formou-se na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, disse que leu, e disse que gostou do que leu, na publicação Sept, dos modernistas dominicanos, conforme ele mesmo contou (Plínio Corrêa de Oliveira, artigo O “Legionário” Arma de Batalha pela Igreja, in Revista “Dr.Plínio”, Ano VI, N0 61, Abril de 2.003, p. 27). E foi professor na cadeira dada a Júlio Frank, o fundador da Burschenschaft, na Faculdade de Direito de São Francisco... Em algumas dessas fontes de “murdy waters” ele ouviu algo que lhe ficou pela cabeça, ainda que de modo vago. O orgulho intelectual fez o resto. Mas que a doutrina gnoseológica de PCO se parece com a dos idealistas e existencialistas alemães, disso não há dúvida.
Vejam-se estas citações sobre Rahner:
Conforme Rahner, pois, a mente não parte do conceito singular para chegar ao universal, mas parte do universal para colher, no seu interior, o singular e o concreto (Fra Giovanni Cavalcoli,O.P., Karl Rahner, Il Concilio Tradito, Fede e Cultura, Setembro de 2009, pp. 25-26).
Plínio dizia o mesmo. Pela posse da Inocência Primeva, o homem sairia das mãos de Deus com as matrizes, com os padrões ideais dos seres já inatos, em si, e conferiria as coisas singulares concretas com essas matrizes ideais e arquetípicas do ser, com que o homem foi criado.
Plínio era idealista e modernista.
Nunca foi tomista.
Em que pese a seus românticos biógrafos e fãs italianos.
Continua Fra Cavalcoli, comentado a teoria do conhecimento de Rahner que é, nesse ponto, também a de Plínio:
Temos claramente aí uma inversão do processo cognoscitivo humano, que acaba assimilado à ciência divina, que é a única, na verdade, que parte do universal - da sua auto consciência -- para determinar o particular, dado que só ela é projetadora e criadora dos entes (Fra Giovanni Cavalcoli,O.P., Karl Rahner, Il Concilio Tradito, Fede e Cultura, Setembro de 2009, p. 26).
Portanto, dizer como diz Plínio, que o conhecimento humano parte de padrões inatos no homem — dos universais — para conhecer os entes singulares concretos, é identificar o conhecimento humano ao conhecimento divino. E se Rahner foi então um gnóstico, Plínio também o foi.
A mente de Plínio seria como Verbo.
Conforme Rahner, o objeto inicial do conhecimento humano não é o ente sensível obtido através da experiência dos sentidos. Ele não recusa este objeto, mas considera-o como o derivado de uma experiência precedente e pré conceitual do ser, a qual dá à mente humana o horizonte cognoscitivo ilimitado dentro do qual o homem coloca sucessivamente todos os seus conhecimentos ulteriores
“Diz Rahner: O conhecimento colhe o seu objeto singular numa percepção prévia do ser, que compreende em sua absoluta vastidão todos os objetos possíveis e, em cada conhecimento particular, transcende sempre o objeto singular, colhendo-o não apenas na sua particularidade opaca e irrelata, mas também na sua limitação e na sua relação como complexo de todos os objetos possíveis. Com a percepção prévia o objeto singular é conhecido a priori sob o horizonte ideal absoluto do conhecimento, e por isso, inserido na área consciente de todo cognoscível” (Fra Giovanni Cavalcoli,O.P., Karl Rahner, Il Concilio Tradito, Fede e Cultura, Setembro de 2009, p. 25.).
Note-se: Rahner fala de “uma experiência precedente e pré conceitual”. E PCO diz que “Numa criança, é geralmente uma noção não consciente” (p. 39).
É o dogma fundamental do idealismo alemão. A noção de conhecimento, para ele, não significa relação ao ser extra animam, como se exprime São Tomás, mas é o próprio ser em seu significado mais próprio: “O ponto de partida fundamental para uma compreensâo metafísica exata daquilo que é conhecimento deve ser visto nisso, que o ser é a partir de si mesmo conhecer e ser conhecido que o ser é ser-com-sigo” (Karl Rahner, Geist im Welt-1, Insbruck-Leipzig, 1939, !a edição., p. 42, apudFra Giovanni Cavalcoli, O.P.,Karl Rahner, Il Concilio Tradito, Fede e Cultura, Setembro de 2009, p. 23 nota 19) “A essência do ser é conhecer e ser conhecido em uma unidade originária que nós chamamos o ´ser-in(com)-sigo´ do ser: ou ainda, para dizê-lo com um termo corrente da filosofia contemporânea, o ser é transparente a si mesmo (idem, ibidem, nota 20).
E PCO afirmou que o “senso do ser” inato no homem dar-lhe-ia a noção de que deveria buscar, por seleção, realizar a unicidade do ser...
Daí, para PCO, isso daria à criança uma noção implícita da existência de Deus, que lhe seria como que evidente. Contra o que ensina São Tomas de Aquino, que afirma explicitamente que a existência de Deus não é evidente.
“A criança tem, num desdobramento da inocência, noção implícita da existência de Deus. ‘Uma noção escachoante, tremenda, luminosa’ ” (p. 31).
O que é um afirmação tendente ao fideísmo condenado pelo Concílio Vaticano I.
Contraditoriamente, porém, noutro livro, Plínio diz o oposto a isso:
O conceito de Deus não é inato no homem, mas o senso do ser é tão amplo, e a luz que ele tem é tal, que o homem, pensando retamente, não precisa caminhar muito para chegar ao conceito de Deus (PCO, O Universo é uma Catedral, excertos do pensamento de Plínio Corrêa de Oliveira, por Leo Daniele Edições Brasil de Amanhã, 1997, p. 236).
Frase, que mesmo negando que o conceito de Deus seja inato no homem, afirma que o “senso do ser” é nele tão grande que ele pouco precisa das provas da existência de Deus. O que, de novo, beira ao fideísmo tradicionalista.
E curioso que a nota 23 posta nessa frase lembra que Dr. Plínio disse isso, para reafirmar a condenação do erro dos ontologistas In Denzinger 1659 e seguintes. (Cfr. idem, ibidem, p. 276 nota 23).
Precauções para evitar uma condenação clara.
Plínio, como os modernistas, ora afirmava o certo, ora o errado.Desse modo, poderia sempre alegar que não foi bem entendido, quando lhe escapasse alguma heresia explícita. Essa é tática típica dos hereges, e especialmente dos modernistas.
A criança, segundo Plínio, na posse de sua inocência primeva teria certezas absolutas:
A criança tem uma certeza e uma força de lógica que é uma das maiores jóias do espírito e é o contrário do espírito pútrido do idoso desabusado
Essa força e essa energia da[a1] lógica produzem assim um borbotão de certezas iniciais que podem fazer com que a alma, se for fiel a isso, seja a vida inteira dotada de certeza e cheia de luz. E também com energia e com capacidade para se sentir feliz, apesar das tribulações (PCO, A Inocência…, p. 32).
Neste ponto, pela primeira vez em seu livro Plínio fala do Batismo dizendo: “Por causa das graças do Batismo, a infância é um apogeu” (p. 32).
Mas então, a infância já possuidora da Inocência Primeva é levada ao apogeu pelo Batismo. E como isso seria assim, se o Batismo não tira da criança batizada as tendências más e nada harmônicas trazidas para a alma humana pelo pecado original?
E Plínio diz mais: “No fundo, a criança tem um senso virginal de distinção entre a verdade e o erro, o bem e o mal, que depois pode ir-se embotando ao longo da vida” (p. 30).
Não se compreende então como a Igreja ensina queaté o uso da razão – por volta dos sete anos, a criança normalmente não tem culpa mortal, pois que não sabe distinguir plenamente o certo e o errado, o bem e o mal.
Plínio ensinava o oposto do que ensina a Igreja... Discretamente...
E a afirmação dele de que à medida que cresce, a criança vai perdendo essa distinção clara entre verdade e erro, bem e mal, leva a supor que o desenvolvimento da razão é prejudicial ao ser humano. Se fosse assim, não seria a criança, ainda sem o uso da razão que não poderia pecar, mas o adulto é que deixaria de ser responsável pelo embotamento nele da distinção entre o bem e o mal, que só a criança teria plenamente.
Isso parece com a tese de Rousseau, que é preciso “deixar de lado a razão e permitir falar apenas o coração”. Ou ainda dizer com Rousseau que “O homem que pensa é uma animal depravado”.
Essa noção da criança como sábia é típica do Romantismo.
Plínio Corrêa de Oliveira foi um romântico.
Para Plínio, a criança inocente tem certezas e lógica profundas.
O virginal do estado de alma da criança coloca no raciocínio dela uma espécie de retidão e de certeza natural. (...) É uma naturalidade ainda não reflexiva. Não se trata de uma falta de reflexão culpável; é que ela considera supérflua a reflexão. É tal a clareza da posse dos primeiros dados da realidade, que um exame ponderado não se torna necessário.
O raciocínio [da criança] é fluentíssimo, limpidíssimo, muito metódico, tão fluente, tão límpido que a questão do método nem se põe. É uma espécie de transparência (p. 30-31).
Nem é preciso comentar como essa visão da criança como limpidissimamente raciocinante e lógica contraria a evidência. Isso é puro romantismo. É a defesa da irreflexão.
Veja-se mais um delírio pliniano sobre a idéia dos seres possíveis na mente de uma criança:
"A criança pode passar por um processo pelo qual vai adquirindo duas cognições ao mesmo tempo: a do mundo real e a do mundo dos possíveis. São prodigiosamente ricas essas primeiras percepções que, assim, nela detonam" (Plínio Corrêa de Oliveira, A Inocência…,p. 155).
Quer dizer que, desde a infância, a pessoa vai formando em sua mente duas classes de conhecimentos: a do mundo real, e a do mundo dos possíveis. Como se uma criança pudesse excogitar o que é um ente possível em Deus. Se nenhum homem pode saber como seriam os possíveis em Deus, que dirá uma criança?
A noção de seres possíveis é das mais sutis em Metafísica. O texto acima citado parece indicar que PCO chamava de possíveis as coisas imaginárias. Só que imaginário e possível são coisas evidentemente distintas.
É erro grosseiro identificar imaginário com possível. Que uma criança confundisse imaginário com o possível, ela seria logo corrigida. E caso acreditasse nisso, a criança deveria passar por algum tratamento.
Mas que um adulto identifique imaginário com possível, e até escreva um livro dizendo isso, e que tenha seguidores que acreditem nisso...Só em delírios mentais, próprios de quem está em sanatórios, isso se dá. Ou em seitas delirantes, como foi a de Jim Jones.
Mas isso aconteceu na TFP dos Provectos, graças a Plínio, e entre os Arautos, graças a Monsenhor Scognamiglio.
Logo, lá não sendo ambiente de loucos, é ambiente de seita herética.
Prova de que o ambiente reinante entre os Arautos de Monsenhor Scognamiglio é delirante é que ele publicou as Notas Autobiográficas de Plínio Corrêa de Oliveira. Que isso tenha sido gravado e guardado é inacreditável. Mas que se tenha tido a coragem de publicar essas Notas Autobiográficas passa de toda compreensão. Isso só pode ter sido publicado por uma editora chamada Retornarei, nome que insinua a esperança “sadia” de que Dr. Plínio só se “ausentou” tumularmente, mas que logo retornará.
Nesse livro em que Dr. Plínio narra sua autobiografia—e que mais parece um romance surrealista – ele conta como nele mesmo, quando criança de três anos, se deu essa “idéia” de seres possíveis numa outra esfera da realidade...surrealista que ele imaginou, e na qual Monsenhor Scognamiglio diz que crê.Comentando os passeios que dava no Jardim da luz aos três anos de idade, e falando dos gramados que lá existiam, Plínio garante que lhe passava pela cabeça infantil esta “metafísica”:
Isso me fazia pensar em parques de uma outra ordem, numa outra esfera, em jardins etéreos, arquetípicos, que não existiam, mas eram possíveis... Eu passava por ali vendo aquelas ondulações e quase fingia que brincava, enquanto minha alma esvoaçava por outras paragens...
Imaginando esse píncaro de beleza, sentia que era possível a existência de uma outra ordem universal, mais bonita do que esta e para a qual eu tendia. Numa palavra só, eram saudades do paraíso numa alma inocente (Plínio Corrêa de Oliveira, Notas Autobiográficas, editora Retornarei, São Paulo, 2008, p. 254. Os destaques são de nossa responsabilidade).
Esta última citação deixa claríssima a confusão de PCO entre pensar e imaginar. Como deixa patente que, embora calvo, ele era um romântico descabelado. Se é verdade que ele pensava assim desde os três anos, conclui-se que adulto ele pensava o mesmo. E nunca deixou de ser romântico sonhador de um mundo irreal no qual sonhava viver. E que ele sabia ser um mundo inexistente, mas que , mesmo assim , ele queria que existisse em sua imaginação. Para ele, o imaginário era o real. E o real era condenável se comparado com o ideal.
Conta ainda que, aos três anos, ele se encantou com um gota de orvalho e quis sorvê-la imaginado ser ela uma bebida deliciosa...
Muitas vezes, quando eu estava sozinho – pois não queria passar por extravagante--, aproximava uma folha dos meus lábios e sorvia a gota de orvalho, pois não me podia convencer de que uma coisa tão linda não tivesse um sabor muito gostoso. Ao perceber que não era assim, arranjava um pretexto para conservar a minha ilusão e pensava: Essa gota não me faz sentir o sabor do orvalho, mas se eu tivesse um copo cheio de orvalho, que beleza e que delícia seria! Um dia, quando eu for homem feito, irei com um copo numa mata e o encherei de orvalho... Deve ser mais saboroso que o champagne!
E refletia: “Quem sabe se não há um universo assim, como essa gota? Será que não existe algo que este orvalho representa? O mundo todo poderia ser feito à maneira dessa gota de orvalho?”. (Plínio Corrêa de Oliveira, Notas Autobiográficas, editora Retornarei, São Paulo, 2008, p. 254. Os destaques são de nossa responsabilidade).
E os destaques que fizemos mostram a preferência do imaginado sobre a realidade tal qual Deus a fez. É assim que nasce a Gnose romântica. É assim que a Gnose se mantém na cabeça dos Arautos do Evangelho preenchidas pelas pregações gnóstico- românticas de Monsenhor Scognamiglio. A ilusão tem que ser mantida contra o real.
Todas essas citações de textos de PCO são confirmadas por esta explanação de João Scognamiglio Clá Dias sobre a Inocência Primeva e a inerrância:
Deus pôs a inteligência no homem, pôs a vontade no homem, e a sensibilidade de forma inerrante. A inteligência do homem é inerrante no seu nascedouro, a vontade do homem é inerrante no seu nascedouro. Tanto é assim que se a pessoa se mantém fiel à sua inocência, ela vai mais tarde, se transformar num inerrante. Então se se apresenta um assunto qualquer a um santo, ele não erra. Por quê? Porque ele vai decidir de acordo com a sua inocência que está de acordo com a sua inteligência inerrante. A tal ponto que São Tomás diz isso de que a verdade é aristocrática.
“Por quê? Porque só tem conhecimento da verdade aquele que está em estado de inocência, diz São Tomás. Ora, como os que mantém a sua inocência íntegra são muito poucos, a verdade é possuída por poucos na face da terra. E por isso, diz ele, ser a verdade aristocrática. Mas se a pessoa de fato se mantém fiel àquele conhecimento primeiro, se a pessoa se mantém fiel ao flash, inteiramente fiel ao flash, ela se torna inerrante” (João Scognamiglio Clá Dias, Jour –le –jour, 19 de abril de 1992).
Dessa exposição “tomista” se deduz:
1. Que todo homem, ao nascer, possui inteligência, e vontade inerrantes. O que é herético, pois nega as conseqüências do pecado original.
2. Que, mantendo-se fiel ao estado de inocência primeva, a pessoa se torna inerrante.
3. Que só possui a verdade quem é inocente e inerrante.
4. A verdade então seria conhecida apenas por uma elite formada pelos inocentes. E, nesse sentido, seria “aristocrática”.
E onde São Tomás diz isso?
Dr. Scognamiglio, afirmou em sua defesa de tese que tem “firmeza única” em São Tomás. Ele que apresente, então, agora os textos onde o Aquinate defende essas teses esdrúxulas e heréticas.
Monsenhor Scognamiglio, “tomista” se tornou Padre sem estudar em seminário, Monsenhor sem ter feito nada fora da Sempre Viva, e Doutor em Direito Canônico com nota máxima. Ao noticiar esse Doutoramento, se lê na revista dos Arautos que ele, respondendo à banca examinadora de sua tese ousou declarar: “Posso dizer que tenho uma firmeza única em São Tomás e na doutrina tradicional e verdadeira da Igreja” (Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, “O Fundador dos Arautos Doutor em Direito Canônico” artigo na revista Arautos do Evangelho em Janeiro de 2009, p. 27).
Isso é que é modéstia! Firmeza única em São Tomás? Única? Isso jamais tinha ouvido uma banca examinadora de uma tese de doutoramento. Isso é fato único em bancas de doutoramento. Mas não em outros ambientes... Pois isso é puro devaneio trans-esférico.
Essas doutrinas absurdamente trans-esféricas mostram como o atual Monsenhor Scognamiglio e os seus Arautos do Evangelho são hereges.
E tudo isso nos permitirá compreender melhor a ciência do Inocente — a ciência de PCO — que analisaremos no próximo capítulo.
De modo muito semelhante a Heideger e a Rahner, Plínio acreditava que a criança teria, então, em si mesma, uma fonte de saber e de certezas inatas.
Ora, São Tomás nega que o homem tenha idéias inatas.
Na Suma Teológica, São Tomás trata desse problema ao discutir “Se a alma conhece todas as coisas mediante espécies que lhe são inatas por natureza”.
Resumidamente, assim resolve São Tomas esse problema:
Devemos dizer que a alma intelectiva está em potência tanto com relação às imagens que são o princípio da sensação, como para as representações que são o princípio da intelecção. E por isso Aristóteles afirmou que o entendimento mediante o qual a alma conhece, não possui espécies inteligíveis infusas, mas que originariamente está em potência para todas elas. (...)
Em segundo lugar,(...)quando falta algum sentido [físico], falta o conhecimento das coisas que esse sentido percebe: assim, o cego de nascimento não pode ter conhecimento das cores. Coisa que não aconteceria se na alma tivessem sido infundidas naturalmente as razões de todas as coisas inteligíveis. Por conseguinte, deve-se dizer que a alma não conhece as coisas corporais mediante espécies naturalmente infusas (São Tomás, Suma Teológica, I, Q. 84, a.3).
Portanto, errava Plínio ao acreditar que o homem tinha idéias inatas.
Por causa desse erro, Plínio pretendia que, o verdadeiro pensador não é quem estuda e procure ler livros, mas pensador de verdade seria quem fosse fiel às suas primeiras impressões infantis, aquele que explicitaria o que já tem em seu íntimo por possuir as matrizes do ser inatas em si. É o que ele disse dele mesmo, quando entre 1933 e 1938, começou a dar aulas de Historia em Faculdades, por nomeação política, sem jamais ter estudado História regularmente:
Eu tinha, talvez, uns 25 ou 30 anos-– quando compreendi que o melhor de minha vida intelectual não consistia tanto em aprender coisas sobre o que não sabia, quanto em encontrar os conceitos para exprimir o que por mim mesmo tinha percebido. Aliás, como é bem sabido, essa é a característica de todo verdadeiro pensador, como eu pretendia ser (Plínio Corrêa de Oliveira, A Inocência Primeva e a Contemplação sacral do Universo, ed. Cit. p. 94).
E ele chegou a escrever “nada mais perigoso do que ler muito” (Plínio Corrêa de Oliveira, Quais os fins de uma Universidade? Conferência na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Jacarezinho, 2 de Abril de 1960, reproduzida in revista “Dr. Plínio”, Ano V, Março de 2002, N0 48, p. 25).
Estava fundada assim a ciência pliniana por excelência:-- que se nos perdoe o termo vulgar e de jargão, mas merecido para tal pretensão pliniana--, ele fundou a “Chutologia”. Ciência cômoda que não exige nem estudo, nem esforço, nem leitura: basta explicitar o que se acha ser certo, ou que se imagina ser a verdade. O subjetivismo completo. A “verdade” pessoal interior, intuída através das “primeiras impressões”.
“Como se enriquece o conhecimento na escola de Dr. Plínio?
Privilegiando-se uma reflexão baseada no bom senso e na explicitação e avaliação das próprias impressões” (Introdução da redação da Revista “Dr.Plínio” ao artigo Como adquirir certezas, in Revista “Dr. Plínio”, Ano IV, Março de 2001, N0 36, p. 25).
Essa mesma revista “Dr. Plínio”, órgão oficioso de Monsenhor Scognamiglio, explica que “Para a escola de pensamento de Dr. Plínio, as impressões e observações que povoam a mente de cada homem contém mais elementos preciosos para o raciocínio e a formação das certezas do que uma biblioteca repleta de livros” (Revista “Dr. Plínio”, Ano IV, Março de 2001, N0 36, epígrafe sob uma foto de uma estante de livros, p. 24).
Noutro artigo, comentando uma peça de teatro em que aparecem um herói e um sibarita, Plínio disse:
Notamos que, diante dessa peça teatral, fizemos muito mais que uma formiga. Não tivemos simplesmente “notícia” [como ocorre com os animais] mas impressões acerca de situações morais. Por exemplo, da condição do homem que escolheu o gozo da vida como finalidade de sua existência, e com isso se deformou. Como levamos no espírito uma idéia mais ou menos explícita de como um homem deve ser, pudemos conferi-la com a mentalidade do sibarita e percebemos o ridículo da atitude dele (Plínio Corrêa de Oliveira, O Sibarita e o Herói, artigo in revista “Dr Plínio”, Ano VI, Outubro de 2003, N0 67, p. 23. Os destaques em negrito são nossos).
Note-se que Plínio recomenda conferir a impressão dada pelo sibarita com a idéia já existente no espírito humano -- com a matriz que seria inata na mente humana-- de como deve ser um homem.
Mais adiante, nesse mesmo artigo, dizendo basear-se em São Tomás, Plínio aponta outra forma de conhecimento -- a por conaturalidade -- que Plínio explica mal.
Como podemos conhecer tanta coisa, vendo uma peça? São Tomás fala de um conhecimento por conaturalidade, pelo qual, sem ser preciso fazer uma série de raciocínios expressos, pode-se chegar a entender muitas coisas. Por algo que está ao mesmo tempo em nossa natureza e nas coisas que vimos—por uma conaturalidade – olhandopara aqueles abismos, sentimos o esforço que representa galgá-los. Num primeiro olhar, a nossa natureza, em contacto com aquela realidade, produziu o conhecimento.
Foi também por conaturalidade que os senhores sentiram o que havia de gostoso e o que de mentiroso nos prazeres do sibarita.
Conaturalidade: a natureza de um posta em presença da de outro, produz um reflexo; desse reflexo jorra uma cognição: o sibarita é um pústula; aquele outro, não, é um campeão! (Plínio Corrêa de Oliveira, O Sibarita e o Herói, artigo in revista “Dr Plínio”,Ano VI, Outubro de 2003, N0 67, p. 24. Os destaques são do autor).
Dessa exposição tomisticamente aleijada de conaturalidade, se depreende:
1 - Que Plínio não entendeu o que é conhecimento por conaturalidade;
2 - Que ele julga que impressão significa conhecimento;
3 - Que o conhecimento seria uma certeza advinda de um modelo de ser inato no homem;
4 - Que o sentir equivale a conhecer.
5 - Que o conhecimento por conaturalidade é sentido.
Entretanto, mais adiante, nesse mesmo livro que estamos analisando, Plínio vai condenar as impressões:
O relativista só tem impressões. Ele chama essas impressões de convicção, quando são muito velhas, quando vêm de algumas gerações e que ninguém as pôs em dúvida diante dele (Plínio Corrêa de Oliveira, A Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo, p. 137).
Contradição mais patente não poderia haver.
Se o relativista só tem impressões, como Plínio vivia falando de suas impressões – “impressão” é uma das palavras que ele mais usa, em cada pagina de seu livro a palavra “impressão” pode ser encontrada—conclui-se que ele foi um relativista.
Para PCO, a fonte de certeza de que se tem uma verdade é o bom senso inato (“nativo”) que existiria no homem. Se a impressão causada por um ser qualquer corresponder ao modelo interior inato do ser existente na alma humana, então se teria a verdade. A realidade externa é apenas uma projeção dessa matriz interior inata, ou nativa, no homem.
Veja-se como PCO confirma com suas palavras essa idéia totalmente subjetivista:
Qual é, então, o teste da certeza? Sustento que a verificação da consonância entre aquilo que se afirma e os dados do bom senso que todos possuem. É uma certeza inicial que, de proche en proche,vai se desenvolvendo. “Contudo, ela mesma não é, no fundo, senão uma projeção do senso do bem e do mal e desse senso nativo da verdade e do erro que se apóiam e se vão tornando mais vigorosos”(Plínio Corrêa de Oliveira, artigo Como adquirir certezas, in Revista “Dr. Plínio”, Ano IV, Março de 2001, N0 36, p.28. O egrito é nosso).
Sendo assim, os fatos externos, em si mesmos, não têm importância. Eles seriam apenas despertadores do “senso do ser” inato no homem. Por isso, ele diz: “A convicção da própria certeza científica se adquire por causa dessas certezas anteriores que se desprendem do bom senso e iluminam o método científico” (Plínio Corrêa de Oliveira, artigo O Senso Católico e o desabrochar das Certezas, in Revista “Dr. Plínio”, Ano IV, Março de 2001, N0 37, p.28. O destaque é nosso).
E PCO vai dizer que esse “senso do ser” é que dá ao homem certezas absolutas e torna o homem inerrante, quando ele segue o seu inato senso do ser que seria dado com a inocência primeva.
Por isso, Plínio, menino ainda, ao considerar uma imagem do Sagrado Coração de Jesus, dirá:
Essa imagem me compraz e está de acordo com minha retidão, da qual estou certo, pois ela é uma evidência interna, nascida em mim, proveniente de algo que não erra!:“Eu não sabia que isso era o senso do ser(Plínio Corrêa de Oliveira, Notas Autobiográficas, vol. I, p. 307. O destaque é nosso).
Ele não sabia ainda que era o que ele chamaria de o “senso do ser”, mas já se sabia inerrante.
E até mesmo a certeza de que a Igreja Católica é verdadeira—Plínio diz “autêntica”...-- Plínio dizia tirá-la de seu senso inato interior:
Devo dizer que nunca me interessei em provar que a Religião Católica é autêntica. Trata-se de uma preocupação que jamais me passou pela mente. Não condeno que se façam pesquisas e estudos aprofundados sobre a questão. Pelo contrário, louvo que assim procedam, mas considero que o objetivo não deve ser provar a veracidade da Religião Católica, e sim acrescentar novos testemunhos de que ela o é. Essa convicção parte de minha certeza nativa, do meu bom senso calmo, planturoso, embrionário, do meu gosto pelas coisas como elas devem ser, e também da minha rejeição a tudo quanto seja atitude ou doutrina que não se coaduna com a natureza humana, e assim faz pressão sobre meus nervos.
Com efeito, todas as verdades têm de ser coerentes com os nervos do homem. Aquilo que os abala é errado, do mesmo modo que não pode ser verdade o que é contrário à boa ordem da natureza humana (Plínio Corrêa de Oliveira, artigo O Senso Católico e o desabrochar das Certezas, in Revista “Dr. Plínio”, Ano IV, Março de 2001, N0 37, pp.27 e 28. O destaque é nosso).
Para Plínio, verdade não é a adequação da idéia de um sujeito ao objeto conhecido. A verdade não seria objetiva. Verdade seria a constatação pessoal do sujeito de que algo exterior a ele corresponde a seu senso inato do ser. Por isso Plínio troca a palavra verdadeira por “autêntica”. Autêntico é a manifestação exterior do que corresponde ao modelo que há previamente no interior de alguém. Daí, para Plínio, Religião “autêntica” seria aquela que não contrariasse os seus modelos inatos, e daí não perturbassem os seus nervos...
Por isso, Plínio escreveu nesse mesmo artigo:
Ora, temos uma idéia ainda que sumária das várias religiões. Temos também, um bom senso nutrido pelo Batismo com o qual a Religião Católica se harmoniza inteiramente. A esse respeito, lembro-me de minhas meditações enlevadas no meu tempo de menino. “Como a Religião Católica satisfaz por completo a necessidade da alma humana! Que maravilha! Pode-se dizer que, de algum modo, ela é a Religião do homem! Porque se a Religião Católica não existisse, e quiséramos imaginar aquilo capaz de fazer com quem o homem fosse o melhor possível, era preciso inventá-la (Plínio Corrêa de Oliveira, artigo O Senso Católico e o desabrochar das Certezas, in Revista “Dr. Plínio”, Ano IV, Março de 2001, N0 37, pp.26-27. Os destaques são nossos).
Então para a TFP e para os Arautos seguidores do pensamento de PCO, a Religião Católica seria a Religião do homem... Explica-se como Monsenhor Scogamiglio aderiu ao Vaticano II e à Missa Nova.
Explica-se porque Dr. Plínio insiste em designar Jesus Cristo como o Homem-Deus, e só muito excepcionalmente o chama de Deus humanado ou Deus encarnado...
Portanto, a Religião Católica seria autêntica, porque corresponde à matriz de religião inata no homem, e porque não irrita os nervos de Plínio. Por isso a religião seria útil.
O sentido do ser que Plínio acreditava ser inato no homem, diante das coisas que impressionam o homem, constataria se o objeto causador da impressão era correspondente inteiramente à matriz inata do ser, segundo PCO, existente no homem, ou se corresponderia apenas, em certo grau, a esse modelo interior inato.
Daí, surgiam duas atitudes na mente humana:
1 - A de rejeição do que era imperfeito no ser concreto;
2 - Uma busca através da imaginação do modelo ideal absoluto daquele ser.
Diante da realidade, as impressões fariam emergir, do fundo do espírito humano a noção de um Absoluto existente numa outra ordem de ser, mas de algum modo também imanente, de modo imperfeito, nas coisas concretas.E daí Plínio afirmar:
E basta concebermos uma ordem de realidade mais alta do que esta em que vivemos, para se acender em nós um apetite por ela. Assim é que no homem existe uma espécie de sede insaciável de algo mais perfeito, mais alto, mais transcendente. Por sua inteligência, ele pode vislumbrar outros mundos, outras realidades, outros firmamentos, que normalmente não tem diante de si (Plínio Corrêa de Oliveira, O Sibarita e o Herói, artigo in revista “Dr Plínio”, Ano III, Fevereiro de 2000, N0 23, p. 13.).
E lá vai Plínio, “viajando” em sua imaginação para outros mundos, e para outras realidades imaginárias
Para o surrealismo.
Para o País das Maravilhas.
Onde haveria a super limonda. A ‘limonadérrima”.
E o pior é que ele tinha impressões sobre si mesmo que o levavam a imaginar, paralelo à limonadérrima, o Pliníssimo tomando a limonadérrima do outro mundo.
Limonadérrima? Que seria isso?
1 - A Limonadérrima e o Super Plínio
Quando Plínio viajou à Europa aos três anos de idade, no navio, ele tomou uma limonada que lhe causou—para usar um termo caríssimo a PCO-- uma forte impressão. E repare-se, na citação a seguir, como Plínio já era capaz de se expressar “metafisicamente“ aos três anos. (Acredite quem quiser. Mas os Arautos e tefepistas acreditam que ele, aos três anos, já pensava tudo isso):
“Vejo neste navio um ’pedaço’ da Europa na qual vou entrar. E já estou notando daqui que existe na Europa algo por onde todas as coisas são da melhor qualidade do que aquelas que conheço. Portanto, esta bebida obedece a um estilo e a uma escola de categoria superior. Limonada é isto! Ó limonada!”.
“Entretanto, por trás dessa reflexão estava a idéia da limonadíssima, que aquele limonada do navio não havia atingido... E, sem saber ainda dizer o que estou explicando agora, minha idéia era a seguinte: “Existe, na ordem do espírito, um deleite da limonada, e há, em outra esfera superior, uma limonadérrima que já não é mais limonada, nem tem limão. Mas se eu for afirmar isso para as pessoas adultas que me cercam, vão dizer que sou louco. Percebo que não sei exprimir bem o que estou pensando, mas quando ficar mais velho saberei fazê-lo” (Plínio Corrêa de Olivaira, Notas Autobiográficas, ed. cit, p. 96).
Os parentes do pequeno Plínio se o ouvissem falar então de uma limonadérrima de outra esfera do ser, --sem limão e sem ser limonada--certamente ficariam preocupados com o juízo de Plínio, e poderiam pensar que ele estava “louco”, como ele mesmo disse, porque os parentes dele não eram da TFP. Porém, hoje, na TFP e nos Arautos, graças à propaganda organizada por Monsenhor Scognamiglio, todos eles acreditam que existe de fato uma azedíssima Trans-esfera, onde se pode tomar a limonadérrima concebida por Plínio. Sem limão.
Porque Plínio o disse, e Scognamiglio o confirmou.
Loucos são os que não crêem na limonadérrima da Trans-esfera. Pois que essa doutrina foi aprovada por Padre Royo Marin.
Porque, Plínio é Plínio, e Monsenhor Scognamiglio é o “rasoul” de Plínio. Plínio o disse.
Aos três anos.
Maktub!
Padre Royo Marin aprovou!
Está provado e aprovado.
Para PCO devia existir “aliunde” a limonadérrima, e também o Super chopp, que ele dirá ser “a razão de sua vida”.
Que Plínio descobriu, muitos anos depois, porque aos dois anos ainda não bebera chopp.
E se existe “aliunde” a limonadérrima e o Super Chopp, por que, então, não deveria existir o Super Plínio?
Mais adiante, serviremos a nossos leitores esse super chopp trans esférico. Pois bem antes do super chopp, o pequeno Plínio descobriu, desde os dois anos, algo bem mais importante que o super-chopp: o super Plínio.
2 - Plínio Descobre o Super Plínio
Assim como pela limonada do navio alemão, Plínio descobriu a limonadérrima de um outro mundo, onde ela existiria—sem limão—contemplando-se a si mesmo, Plínio, modestamente, descobriu que tinha que existir, noutra esfera o super Plínio.
Isso não se deu de uma vez. Mas partiu das primeiras impressões que ele teve de si mesmo. Desde os dois anos de idade, quando usava saínha e lacinho no cabelo, tal qual ele aparece numa foto na página 64, do primeiro volume do livro Notas Autobiográficas.“O primeiro modelo que segui – desde que me lembro de mim mesmo – não era constituído por nenhuma dessas figuras do passado,- [alguns parentes dele que foram famosos maçons, como o Conselheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira e Gabriel Ribeiro dos Santos, um dos membros da sociedade secreta ‘Os Patriarcas Invisíveis’]- mas por uma visão de mim mesmo como eu deveria ser, na minha inocência. Notava –[Aos dois anos de idade!]—que em mim se passavam coisas que não se davam nos outros”(...)
“Um “paraíso interior”
“Devido à minha inocência, eu tinha um estado de espírito pelo qual, às vezes, observava minha alma e percebia nela uma espécie de brilho “auri- prateado” e um “aroma”, fazendo-me sentir tudo quanto eu tinha de “éclatant” (fulgurante), de brilhante, de reto e de puro” (Plínio Corrêa de Oliveira, notas Autobiográficas, Editora Retornarei, São Paulo, 2008, 10 volume, p. 220. O destaque é do original).
É cabível que uma criança de dois anos diga isso de si mesma? É cabível que, Plínio, adulto, tenha dito e feito gravar isso, que teria pensado de si mesmo? É crível que adultos tenham ouvido isso, e tenham acreditado? É normal que isso tenha sido publicado pelos que acreditavam nisso? É possível que isso aconteça num Instituto de Direito Pontifício?
E que nada aconteça?
Sem dúvida, aos dois anos de idade, Plínio já tinha uma modéstia extraordinária!...
Como pode ousar dizer que pensava isso de si, já aos dois anos de idade?
E que grau de fanatismo patológico se atingiu, quando se ousa publicar tal coisa?
Leiamos ainda a seqüência desses ‘humildes” pensamentos de Plínio sobre si mesmo, aos dois anos de idade, e com lacinho no cabelo:
Isso era seguido da idéia de que essas coisas, que eu admirava e me deliciava em possuir, existiam aliunde [alhures]de um modo incompreensivelmente mais intenso, como em sua potência mater [mãe]. Era como se existisse um meu “arqui alter –ego” [arqui outro eu mesmo] atraentíssimo, porque imensa e infinitamente distante, mas invescerado dentro de mim e “brincando” com minha alma como um homem poderia brincar com uma pedra preciosa (Plínio Corrêa de Oliveira, Notas Autobiográficas, edit Retornarei, São Paulo, 2008, I vol. p. 220. Destaques do original).
Esse arqui outro Plínio, infinitamente distante, evidentemente era Deus, mas um Deus que, ao mesmo tempo, era infinitamente distante mas que permanecia “inviscerado”, imanente no ser de Plínio.
Claro que essa doutrina era a da Gnose. E é mais do que evidente que uma criança de dois anos não poderia ter concebido esses pensamentos. Isso é o que Plínio Corrêa de Oliveira inventou que tinha pensado aos dois anos de idade.
Tudo isso foi fruto de um orgulho absurdamente delirante, explicitado de modo gnóstico. Gnose aprendida onde? Aprendida de quem? Pouco importa onde foi aprendida. O que mais importa reconhecer é que isso é Gnose.
Prossegue Plínio, em sua modéstia inata:
Eu tinha a impressão de que esse alter ego se comprazia em intensificar em minha alma ora tal atitude, ora tal outra. Ao mesmo tempo, ele me deixava contemplar essa atitude e parecia dizer-me: “Vê como isso é lindo! E tu, meu filho, como és pulcro, perfumado, irisado e magnífico, em tua alma! Que esplendor há em ti! Também que alegrias inefáveis tu sentes! Que bem-estar superior a qualquer satisfação da terra, sem nenhuma comparação! (Plínio Corrêa de Oliveira, Notas Autobiográficas, edit. Retornarei, São Paulo, 2008, I vol., p. 220).
Jamais Deus fez tais elogios a nenhum santo.
Isso, ou é delírio a ser avaliado por um especialista em medicina psiquiátrica, ou é a voz sedutora da serpente!
Deus nunca diria tais coisas para uma criança.
Às crianças de Fátima, Nossa Senhora disse que teriam muito que sofrer, e não lhes fez nenhum elogio.
A Plínio...
Será que foi Deus mesmo quem disse isso tudo a Plínio, aos dois anos de idade?...Ou será que foi...outro?...E prossegue Plínio contando o que sentiu,e o que ouviu de uma misteriosa voz que internamente lhe falava, fazendo-o compreender o seu altíssimo valor já ao ter dois aninhos:
Sendo fiel a “isso”, terás um grande papel. E quando o realizares então verás como será a minha união contigo! Que grandeza sem nome! Anda, portanto, pois no fim me encontrarás. E agora, trata de encontrar a tua alegria em ti mesmo, pois eu ponho em ti o enlevo e a “leveza de alma” que são o teu Céu desde já” (Plínio Corrêa de Oliveira, Notas Autobiográficas, edit Retornarei, São Paulo, 2008, I vol. p. 220)
Impressionante.
Parecem promessas feitas no monte “Tibi dabo”
Parece a voz do enganador fazendo uma alma comprazer-se em si mesma, admirar-se, auto adorar-se.
Prossigamos essa citação mefistofélica em hora certa publicada por Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, Cônego de Santa Maria Maior em Roma, condecorado pela Santa Sé, agora até Doutor em Direito Canônico. Aquele que já recebeu sua recompensa...“Tudo isso me convidava a sacrais “sonhos de olhos abertos” e pensava: “Como vai ser essa união?”. E imaginava episódios...Eu sonhava com essa união, prometida para a hora da tarefa cumprida e do triunfo realizado, mas sem nunca pensar assim: ”Eu estou caminhando e os outros não...” (Plínio Corrêa de Oliveira, Notas Autobiográficas, Editora Retornarei, São Paulo, 2008, 10 volume, p. 220-221).
O que não é bem verdade, pois que páginas antes ele dissera: “O fato de eu ser eu, dava-me muito contentamento” (Plínio Corrêa de Oliveira, notas Autobiográficas, Editora Retornarei, São Paulo, 2008, 10 volume, p. 123).
“E como é bom eu ser eu!” (Plínio Corrêa de Oliveira, notas Autobiográficas, Editora Retornarei, São Paulo, 2008, 10 volume, p. 124).
Prossigamos a citação decisiva que estamos focalizando:
Portanto, o verdadeiro triunfo não consistiria no aplauso dos outros, mas na união consumada. Seria como um general de alma nobre, que deseja ganhar uma guerra. Na hora do desfile da vitória, ele tem a sensação metafísica [sic] de encarnar a pátria e o heroísmo, e encontra a plenitude e a realização de sua alma nessa identificação com valores superiores, muito mais do que a alegria de ser aplaudido”. (Plínio Corrêa de Oliveira, Notas Autobiográficas, edit. Retornarei, São Paulo, 2008, I vol. p. 220-221).
Alguém pode acreditar que um menino de dois anos possa falar em “sensação metafísica”?
Só um fanático, incapaz de pensar, pode crer nesse sonho magalomaníaco.
E prossegue Plínio, dizendo:
Assim eram os meus “sonhos”, mas de um modo incomparavelmente mais alcandorado: eu desejava essa união, para sentir-me inteiramente penetrado por “isso’, quando chegasse o fim da minha missão. Eu não sabia que “isso” se chamava Deus, como vejo hoje. Eu tinha, portanto, um desejo de união com Deus. E isso se exprimia dos modos mais variados. Eu não ouvia nenhum som ou melodia tocada por anjos, mas de vez em quando, sentia uma “harmonia” interna de minha alma, sobre a qual eu tinha vontade de compor uma música... E, às vezes, em uma ou outra peça musical que ouvia – executada pelas muitas orquestrinhas existentes por toda a parte—certos trinados lembravam-me isso, de passagem.
Mas eu percebia que esse “paraíso interior” trazia como pressuposto uma coerência muito grande; exigia que eu me desse a ele por inteiro! Aquele deveria ser o lar de minha alma por toda a vida, e nele eu teria toda espécie de felicidade e bem-estar. Se bem que eu ignorasse ainda os assuntos relativos ao Sexto Mandamento – que conheci aos nove ou dez anos de idade—sentia em mim uma pureza exímia, que parecia tocar música em meu interior. A castidade era como uma concha na qual tudo isso estava contido e, se eu a perdesse, romperia com esse mundo maravilhoso (Plínio Corrêa de Oliveira, Notas Autobiográficas, edit. Retornarei, São Paulo, 2008, I vol. p. 221).
Seria esse um comportamento psicológico normal, ou uma ilusão diabólica?
Porque fruto de vida sobrenatural, essa auto admiração nunca poderia ser. Que a virtude exige humildade e não coexiste com o auto elogio escancarado, chegando à auto adoração.
Bastaria esse texto para provar quem foi Plínio Corrêa de Oliveira. E em suas Notas Auto- biográficas, há inúmeras outras passagens de mesmo quilate, descabeladamente soberbo.
Poupamos delas nossos leitores para não sermos repetitivos, porque basta esse texto para compreender quem foi Plínio Corrêa de Oliveira.
Essa era a inocência primeva de PCO: sonho mais orgulho incomensurável.
Um orgulho trans-esférico.
E Plínio afirma que esse estado de inocência primeva é próprio de toda criança, e que ele pode ser mantido mesmo na idade adulta. Por isso escreveu ele:
A inocência não é privilégio da infância e pode prolongar-se até o fim da vida. Pois todos os homens têm, no fundo do espírito, os modelos ideais de todas as coisas. E –se não cometerem infidelidades revolucionárias, contra a ordem estabelecida por Deus na Criação — são capazes de encontrar, em si, esses modelos ideais. Feito isso não é difícil alcançar a harmonia interna da alma que caracteriza a inocência (Plínio Corrêa de Oliveira, A Inocência…, p. 45. O destaque é nosso.).
Portanto, todos os homens teriam essa inocência primeva, e, segundo Plínio, ela poderia ser perdida, -- mas não totalmente-- e, depois, poderia ser recuperada.
Seria perdida ao se cometerem “Infidelidades revolucionárias contra a ordem estabelecida por Deus na criação”. Note-se que ele não fala que se perde a inocência primeva por cometer pecados contra a lei de Deus. Ele usa um circunlóquio que poderia significar isso: por cometer pecados a inocência primeva seria perdida. Mas ele usa um circunlóquio um tanto vago.
Por quê?
O problema da restauração da inocência – entendida no sentido literal do termo, de ter o coração puro em relação a qualquer pecado (e não apenas em questão de castidade), além de ter um enlevo por tudo o que seja maravilhoso – era considerado fundamental por Dr. Plínio para qualquer programa que vise estimular a santificação das almas (Apresentação da redação da Revista “Dr. Plínio” aoartigo de PCO Alegrias da Inocência, in revista “Dr. Plínio”, Ano IV, Novembro de 2001, N0 44, p. 5. Os destaques são nossos).
Restauração tem que ser de algo ou arruinado ou semi destruído.
Convém então notar, antes de tudo, que a Inocência primeva , segundo PCO, nunca poderia ser totalmente perdida. PCO imaginava que a inocência primeva não se perderia com o pecado mortal pessoal. Pois se nem o pecado original de Adão teria impedido que todos os homens nascessem com a Inocência primeva, muito menos ela seria perdida pelo pecado pessoal.
Dr. Plínio então, além de defender a tese herética de uma inocência primeva no homem, após o pecado de Adão, dizia pior ainda ao afirmar que essa inocência primeva não seria perdida por se cometer pecado mortal. Paradoxalmente, conservar-se-ia a inocência primeva mesmo que houvesse um “mar de pecados”.
Para explicar como a inocência primeva podia continuar a existir numa alma submersa num mar de pecados, Plínio narra a lenda da Catedral “engloutie”, a Catedral submersa. Era uma lenda druida que fora difundida por um poema do romântico simbolista Malalrmé, e musicada pelo compositor Claude Debussy, de moda na Belle Époque. Nem é preciso dizer que a escola simbolista do século XIX era profundamente esotérica e gnóstica. E PCO gostava do simbolismo romântico...
Segundo uma lenda bretã, portanto francesa –[no tempo dessa lenda, a Bretanha não era francesa e nem os bretões eram francos] – em certo lugar do mar da Bretanha, havia uma catedral—a catedral de Ys-- que fora tragada (engloutie) pelas águas.(...) “De vez em quando, os anjos faziam soar, no fundo do mar, os sinos da catedral. Aquelas lindas sonoridades subiam, então, de camada em camada, até a superfície do mar”.(...) “Os pescadores dizem que, um dia, a catedral voltará à terra firme ainda mais bela, pois conserva-se íntegra sob as ondas do mar (Plínio Corrêa de Oliveira, A Inocência…, p. 53).
A fundamentação da tese teológica da permanência da Inocência Primeva, mesmo sob um mar de pecados era justificada por ele por uma lenda bretã. “Portanto, francesa”, se apressa ele em notar. E erradamente.
É o que dá ter sido educado por sua mãe, Dona Lucília, com contos de fadas... Para um romântico, como o líder da TFP, lenda vale mais que a revelação divina e do que São Tomás.
E previne Plínio que:
A inocência primeva não é algo que o demônio possa arrancar inteiramente de dentro de nossa alma, mas permanece como uma catedral engloutie, uma catedral imersa nas águas do pecado, que ainda existe em nós (Plínio Corrêa de Oliveira, A Inocência…, p. 53).
Qual a garantia disso?
A palavra de Plínio fundamentada na lenda bretã e no conhecimento inato de PCO.
Portanto, a inocência primeva permaneceria no homem mesmo submersa num mar de pecados. Se nem mesmo um mar de pecados poderia fazer perder a inocência primeva, como poderia ela ser perdida?
Adão perdeu a inocência original que Deus lhe havia dado, mas a inocência primeva, tal qual a concebe Plínio, não poderia ser perdida. Não seria algo acrescentado à natureza humana.
Não seria algo acidental no homem, que poderia, ou não, existir no homem. Portanto, seria uma coisa essencial a ele. O que é um absurdo.
Não só ela não poderia ser arrancada totalmente do homem, nem sequer pelo pecado, como também poderia ser restaurada em sua integridade, mas não pela conversão:
Desaparecida a inocência, estaria tudo perdido? Ela é algo de irrecuperável ou pode ser restaurada?
Sem dúvida, pode haver uma restauração. Não se trata simplesmente da conversão de um pecador arrependido – embora a conversão tenha muito a ver com o tema – mas da volta ao estado primevo de harmonia interna que constitui a inocência (Plínio Corrêa de Oliveira, A Inocência…, p. 53).
Portanto, a inocência primeva não seria recuperada nem pelo arrependimento, nem pela confissão e absolvição sacramentais.
Seria possível uma restauração por uma nova adesão à harmonia das potências da alma.
Como?
São saudades que salvam.
‘Não é preciso fazer considerações flagelantes e dilacerantes a respeito do paraíso perdido com o qual se rompeu e que também teria rompido conosco. Em vez disso, deve-se pensar o contrário: esse paraíso não rompeu conosco e a toda hora bate à nossa porta (Plínio Corrêa de Oliveira, A Inocência…, p. 54).
A Inocência primeva não seria perdida nem por cometer pecado mortal.
E por que a inocência primeva não poderia ser perdida?
A graça de Deus podemos ser perdida por nós, porque ela é dom gratúito e sobrenatural. A graça santificante não é algo que pertence à nossa natureza, por isso podemos perdê-la pois ela é um acidente em nossa natureza. Dizendo que nem o pecado—nem uma mar de pecados -- pode nos arrancar a inocência primeva, PCO está dizendo que a inocência primeva é algo que esnos pertence naturalmente. Nem o pecado pode mudar a nossa natureza, nem os sacramentos podem mudar o que é natural em nós. Portanto, a inocência primeva faria parte de nosso ser , porque o Absoluto jazeria inviscerado em nossa natureza. Plínio é um gnóstico.
Seria por isso que os tefepistas membros da Sempre Viva não se confessavam?
O Paraíso perdido não teria rompido com o homem. PCO garante isso. Contra a Sagrada Escritura.
Pela Inocência Primeva, dada a todos os homens,através da saudade, manter-se-ia um contato com o paraíso terrestre. Havendo Inocência primeva, não se perderia propriamente o paraíso terrestre.
Pior ainda: a salvação seria obtida por uma adesão pessoal ao estado de inocência primeva, e não por meio do Batismo ou de uma graça sacramental. Noutras palavras, a salvação não se daria por meio de uma graça de Cristo, mas por um ato do próprio homem, aderindo à sua inata inocência primeva. O homem seria então salvador de si mesmo, como ensina a Gnose.
Essas teses são impossíveis de conciliar com a revelação e com a doutrina católica.
E note-se ainda que PCO julga que não é preciso fazer penitências dilacerantes para recuperar a inocência primeva. E ele acrescenta um escandaloso “deve-se pensar o contrário”.
“Pensar o contrário” de fazer penitência?
Portanto, dever-se-ia até gozar a vida?
Se nem a penitência mais séria, nem a confissão sacramental nos dão de volta o Éden, como as saudades nos restaurariam num paraíso interior?
Plínio não diz como se recupera a inocência. Pelo menos isso não está publicado nesse livro. Fala vagamente em adesão à harmonia das potências da alma. Em “saudades do paraíso”...
Nesse ponto de seu livro, os responsáveis por sua edição colocaram apenas aquela que Plínio chamava de Oração da Restauração, que aparentemente era dirigida a Nossa Senhora, mas que os entrosados nas doutrinas discretas da Sempre Viva sabiam que era dirigida a Dona Lucília, mesmo. Não para Nossa Senhora.
Oração da Restauração‘Há momentos, minha Mãe, --[É Nossa Senhora ou Dona Lucília essa mãe?] – em que minha alma se sente no que tem de mais fundo, tocada por uma saudade indizível. Tenho saudades da época em que eu Vos amava e Vos me amáveis, na atmosfera primaveril de minha vida espiritual. Tenho saudades de vós senhora e do paraíso que punha em mim a grande comunicação que eu tinha convosco.
‘Não tendes também Vós, Senhora, saudades desse tempo? Não tendes saudade da bondade que havia naquele filho que fui?
“Vinde, pois, ó melhor de todas as mães, e por amor do que desabrochava em mim, restaurai-me: recomponde em mim o amor a Vós, e fazei de mim a plena realização daquele filhosem mancha que eu teria sido se não fosse tanta miséria.
‘Daí-me, ó Mãe, um coração arrependido e humilhado, e fazei luzir novamente os meus olhos aquilo que, pelo esplendor de
vossa graça, eu começara a amar tanto e tanto!...
‘Lembrai-vos, Senhora, deste David e de toda a doçura que nele punheis. Assim seja! (Plínio Corrêa de Oliveira, A Inocência…, p. 55).
Literariamente, oração bem escrita.
Pena que seja tão ambígua!
E teria sido tão fácil colocar nela o nome de Maria!
Que ele, propositalmente não quis por.
E é preciso lembrar que, na iniciação na Sempre Viva cada iniciado deveria compor uma oração a Dr. Plínio parodiando uma oração católica a Nossa Senhora.
E é preciso lembrar que, na TFP, os iniciados rezavam uma paródia da Ave Maria a Dr. Plínio: “Ave Luís Plínio Elias, o Senhor é convosco, etc. (Cfr. na Quinta Parte deste livro, p.)?É preciso lembrar que Dr. Plínio disse que, quando rezava a Salve Rainha, não sabia se estava se dirigindo a Maria Santíssima, ou a Dona Lucília...
E ele escreveu:
Quando Nossa Senhora me concedeu a graça de, pela primeira vez, prestar atenção na Salve Regina, entendi mamãe por inteiro, pois abri os olhos para aquela Mãe toda celeste e indizivelmente mais alta e mais perfeita do que ela. Assim nasceu minha devoção a Nossa Senhora”(Plínio Corrêa de Oliveira, in revista “Dr. Plínio”, Ano III, Fevereiro de 2009, p. 28. Transcrito, com adaptações da obra “Dona Lucília” de João Scognamiglio Clá Dias. Se alguém quiser crer...).
É preciso lembrar ainda que ele se perguntava: Quem é mais, Mamãe ou a Igreja Católica?
“De tal modo que, quando fiquei mais velho e compreendi tudo o que representa a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana,cheguei a fazer esta comparação: “Em última análise, quem vale mais – a Igreja ou mamãe?”.“A resposta me veio incontinenti ao espírito: as duas não se dissociam. Tudo quanto há em mamãe, recebeu ela da Igreja. Cabe agora, porém, o crivo de minha análise como católico: será mesmo tudo conforme a Igreja? Por que, se algo nela não for conforme a Igreja, eu prefiro a Igreja a ela” (Plínio Corrêa de Oliveira, Decisão e elevação de alma de Dona Lucília, in revista “Dr. Plínio”, Ano I, Setembro de 1998, n0 6, p. 11).
Poderia se colocar dilema mais estapafúrdio?
Esse dilema e a resposta dada a ele comprovam a estranha relação praticamente religiosa entre Plínio e sua mãe...
É preciso lembrar o que Plínio pensava e escreveu sobre ela, antes dos seus dez anos (disse ele):
Então, eu permanecia junto a ela sem conversar e, olhando-a, notava uma elevação de espírito que me deixava um tanto interloqué (desconcertado). Sentia emanar dela tanta retidão, harmonia, suavidade e firmeza que ela me parecia ser uma imaginação, quase uma utopia! Dava-me a impressão de uma “trans-realidade” maravilhosa, como uma miragem no deserto ( Plíno Corrêa de Oliveira, Notas Autobiográficas, Vol. I, p. 339).
É evidente que Plínio considerava que sua mãe era participante da inocência primeva: “A inocência, por exemplo, que ela possuía em alto grau(...)” ( idem , p. 340).
Considerando que ele tinha Dona Lucília como quase uma utopia e uma trans-realidade, e inocente em alto grau, é de surpreender que ele a chamasse de “Mãe da Trans–esfera”?
Quem é então a Mãe a que Plínio se refere na sua oração da Restauração?
Ora, depois de ter ousado colocar sua mãe na balança de suas preferências perguntado-se quem valia mais se a Igreja Católica ou dona Lucília; depois de dizer que ela era uma trans-realidade e uma utopia; depois de mitificar Dona Luília a um nível idolátrico, Dr. Plínio disse:
Minha mãe - uma pessoa que venero profundamente mas que era liberal - antes de nós aprendermos a falar papai e mamãe, ensinou-nos a mostrar onde estava a imagem do Coração de Jesus. (Plínio Corrêa de Oliveira, Simpósio, Quem somos nós,IV parte, 1- B- f, pp. 72-73 . ORIGINAL DO site salvemaria. http://salvemaria.info/images/fbfiles/files/QSN.doc).
Ora, na TFP sempre se ensinou publicamente que “O Liberalismo é pecado”( D. Félix Sardá Y Savani) e pecado contra a Fé, e que, portanto, ninguém podia ser católico sendo liberal. Dr. Plínio, em reunião secreta, diz que Dona Lucília era liberal. Depois, organizou um culto como santa para ela.
Contradições que indicam ou um desequilíbrio mental muito grande, ou uma falsidade incrível.
Quando PCO era sincero?
Como se recupera e se mantém a inocência primeva é pouco explicitado por Dr.Plínio. Pelo menos, os Provectos não publicaram nada completo sobre esse problema. Entretanto, ele diz sobre isso alguma coisa bem estranha, no capítulo 6 da primeira parte desse livro que estamos analisando.
Afirma ele que, ao longo de toda a vida, se deve sempre crescer na Inocência Primeva, que jamais seria totalmente perdida (Op cit., p. 58). O homem deveria “conservar até a velhice as qualidades da infância” (Op. , cit., p. 60).
Uma hipótese seria que a inocência primeva se recuperaria por uma adesão ao “INOCENTE” por antonomásia, a PCO, tornando-se um outro Plínio, sendo um com ele, tal como se fazia na iniciação da Sempre Viva.Seria preciso uma identificação do próprio eu com o eu de Plínio.O qual – veremos isso logo mais - seria idêntico ao Eu de Cristo.
É uma hipótese que levantamos.
Só isso.
Mas ela tem coerência com tudo o que ensinava PCO.
Veja-se como essa hipótese é reforçada pela noção de Juízo final descrito por PCO.
Nesse ponto, de seu livro, Plínio vai tratar do Juízo da alma por Deus. E ele diz que sua concepção sobre o juízo da alma por Deus “difere da concepção comum sobre o que são o existir de um homem, o Juízo Final e o julgamento de Deus” (Plínio C. de Oliveira, A Inocência…, p. 61).
Ora, o próprio Jesus Cristo contou revelou como será o Juízo Final, e o que PCO diz é totalmente diferente do que disse Cristo, no Evangelho, e do que ensina a Igreja sobre esse julgamento divino universal, como também sobre o juízo particular de cada alma.
Porque Jesus, quando foi interrogado pelo jovem rico, como ele poderia salvar sua alma, Nosso Senhor lhe respondeu: “Se queres entrar na vida eterna, observa os mandamentos” (Mt., XIX, 17).
Plínio vai dizer o oposto do que ensinou Nosso Senhor, ao afirmar que a salvação eterna nada tem a ver com a prática de uma “tabela de dez mandamentos”.
Como ousa Dr. Plínio divergir do relato do Juízo Final feito pelo próprio Cristo Deus? E como, dizendo esse absurdo, ele é apresentado ainda como pensador Católico?
Não acreditam que o homem que pretendia “vir totus catholicus” disse isso?
Leia-se então a surpreendente explanação pliniana do Juízo Final.
Por vezes vem-nos ao pensamento que a entrada no Céu será como se fosse num país completamente estranho, onde não conhecemos ninguém. Ficamos, no fundo, um tanto apavorados. E pode-se ter a impressão de que o julgamento não tem relação com nossa biografia, mas com uma tabela de Dez Mandamentos que se deveria ter praticada. Não nos parece que vamos rever uma pessoa muito conhecida, mas ter contato com um desconhecido que nunca esteve diante de nós” (Plínio Corrêa de Oliveira, A Inocência…, p. 61. O destaque é nosso).
Incrível!!! Uma pessoa, que passava por ser católica e tradicionalista, “il crociato del secolo XX”, caricaturando o Juízo Final do modo como costumam fazê-lo os modernistas e os liberais, que condenam o Juízo, pela Lei de Deus. Plínio, como um padre modernista, afirma com todas as letras, que, no Juízo Final, não seremos julgados pelo que ele chama a “Tabela dos Dez Mandamentos”.
Por que isso?
Porque, se a inocência primeva não seria perdida nem por um mar de pecados cometidos, a pessoa se salvaria, não porque ela seria julgada pela tabela dos mandamentos, mas por sua adesão ao estado de harmonia das faculdades da alma, por sua adesão à Inocência Primeva, que a uniria a Cristo a tal ponto, que a tornaria sósia tão igual a Cristo, que seria “um” só com Ele.
A pessoa seria julgada por sua identificação com o Eu de Cristo. Daí, PCO dizer que a Inocência Primeva tem algo de divino.
Na Hora da morte acaba o exílio, porque termina o lusco-fusco e se vai ter o grande encontro: o grande encontro com Aquele com “A” maiúsculo no lar paterno da alma. Com Aquele que é mais eu do que eu mesmo, e em cujo convívio vou passar a viver e existir por toda a eternidade. É a sensação de volta à casa paterna depois de uma longa peregrinação. “É a procura do semelhantíssimo a mim, mais eu do que eu mesmo” (Plínio Corrêa de Oliveira, A Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo, ed.Cit., p. 62. Os destaques são do original).
De novo, para quem conhece o gnóstico “Canto da Pérola”(Cfr. Hans Jonas, La Religion GnostiqueFlammarion, Paris,1978, p. 152 a 173) é patente a similitude entre essas idéias de PCO, com a sua “procura do semelhantíssimo a mim, mais eu do que eu mesmo”, e a Gnose antiga.
Que significa que após a morte a alma “retornaria ao lar paterno” ? Por acaso a alma teria vindo do céu antes de se encarnar e nascer? Isso seria admitir a pré existência das almas num mundo divino, e sua queda neste mundo material onde a alma se torna peregrina em viagem de “retorno à casa paterna.” Mas essa é a lenda contada pela Gnose. O “Canto da pérola” dos gnósticos antigos não diz coisa diversa.
E essa concepção do Juízo da alma também não é católica.
Nosso Senhor disse que para ser salvo é preciso crer, ser batizado e observar os mandamentos (Mc., XVI, 16; Mat. XiX , 17).
Para a Gnose, a salvação vem do conhecimento intuitivo de algo divino inato no homem. Tal conhecimento seria salvador. Gnosis é um conhecimento salvador.
E qual é o conteúdo do conhecimento que salva? Fundamentalmente, não é senão a história da própria história transcendente, pelo fato de que é ela que expõe ou que supõe toda a verdade iluminante do que o mundo esconde e o que a salvação exige: “o conhecimento: quem nós éramos; o que nos tornamos; onde estávamos; onde fomos jogados; em direção de que nós nos apressamos a ir; do que somos resgatados; que é o nascimento e o que é o renascimento ( Extratos de Teódoto, 78, 2, apud Hans Jonas, Op. cit., p. 455).
O homem, conhecendo o ser mais íntimo que reside no “tabernáculo de sua alma”, - e Plínio vai usar essa fórmula--- o homem estaria salvo, sem penitência, sem cruz, ainda que submerso num mar de pecados, pois esse conhecimento é de que o eu mais profundo dele é uma partícula da própria Divindade. Na Gnose cristã, o Eu profundo do homem é o Eu de Cristo, no homem.
É nesse princípio escondido da pessoa terrestre e seu original celeste que se dá o último reconhecimento e reunião. Em nosso relato- [O Canto da Pérola] – a veste, forma celeste desse eu que é invisível porque está temporariamente ocultado, é uma das representações simbólicas de uma doutrina extremamente espalhada e essencial para os gnósticos. Não é exagerado dizer que a descoberta desse princípio transcendente e interior ao homem e a mais elevada preocupação com seu destino, são o próprio coração da religião gnóstica (Hans Jonas, La Religion Gnostique, Flammarion , Paris, 1978, p. 168).
Vimos que Plínio julgava que havia um arqui alter ego dele mesmo. E agora, nessa concepção do Juízo de Deus, vemos que a salvação adviria não da fé e da prática da moral, mas da identificação da pessoa com seu arqui alter ego: Cristo.
Cristo-Deus seria então o arqui alter ego de Plínio.
Portanto, Plínio, e todos os que desenvolvessem a sua inocência primeva, seriam Deus. Por isso Scognamiglio dirá que o flash é graça divinizante...
Com d minúsculo... E o d minúsculo é para enganar ingênuos, enquanto ele tenta passar uma rasteira nos Cardeais do Vaticano.
Ora, diz Hans Jonas da Gnose:
Precisemos alguns pontos importantes. Assim, há identidade ou consubstancialidade, do eu mais íntimo do homem e do Deus supremo do alem mundo --[da Trans-esfera, diria PCO]--, que, muitas vezes, é ele mesmo chamado Homem [E PCO ambiguamente insiste em chamar Cristo de o Homem-Deus, quase nunca de Deus-homem]--: a extrema elevação metafísica coincide, na essência a-cósmica do homem com a a extrema alienação cósmica (Hans Jonas,La Religion Gnostique,Flammarion, Paris, 1978, p. 453),
E há outro texto em que Plínio afirma que o Sagrado Coração de Jesus era semelhante a ele, Plínio.
Ele conta que, olhando uma imagem comum do Sagrado Coração de Jesus, Plínio...
Sentia que, se quisesse fazer uma idéia d’Ele, deveria ter a certeza de que sua mentalidade era precisamente aquela, ali representada. Conhecê-Lo, pois, para mim, era interpretar aquela figura. E eu refletia: “Essa imagem me compraz e está de acordo com minha retidão, da qual estou certo, pois ela é uma evidência interna nascida em mim, proveniente de algo que não erra! Eu não sabia que isso era o senso do ser”. (Plínio Corrêa de Oliveira, notas Autobiográficas, Editora Retornarei, São Paulo, 2008, 10 volume, p. 307).
Plínio, pelo seu infalível “senso do ser”, tinha certeza de que o Sagrado Coração de Jesus era parecido com ele, Plínio: que Jesus era o seu arqui alter-ego...
Christus alter Plinius.
Que honra!...Para Cristo, pensaria Plínio.
Deixando de lado, o patente problema psicológico dessas meditações delirantes, vejamos algo muito mais grave: a comprovação por alguns textos da Gnose mandeana, o caráter gnóstico dessa concepção de união com um alter-ego divino. Vejamos, para exemplo, alguns antigos textos da Gnose mandeana e maniquéia, para constatar como eles coincidem com a doutrina exposta por PCO.
“A veste e a Imagem”
“Nas Liturgias mandeanas para os Mortos, lemos esta fórmula costumeira (por exemplo, G. 559):
“Eu me vou ao encontro de minha imagem
E minha imagem vem a meu encontro;
Ela me acaricia e ela me abraça
Como se eu voltasse do cativeiro”.
Esta concepção provém de uma doutrina do Avesta em cujos termos, após a morte de um crente, “sua própria consciência religiosa sob a forma de uma bela jovem”, aparece à sua alma que lhe pergunta quem ela é e eis a sua resposta:
“Jovem, de bons pensamentos, de boas palavras, de boas ações, de boa consciência, eu sou sua consciência pessoal...Você me amou... nesta sublimidade, nesta bondade... sob as quais eu te apareço hoje (Hadôxt Nask, 2, 9,s.)”.(...)“(...) Ela simboliza o eu celeste ou eterno da pessoa, a sua idéia original, espécie de duplo ou de alter ego conservado no mundo do alto, enquanto ele pena aqui em baixo: como diz um texto mandeano:
“Sua imagem é guardada em segurança em seu lugar”.
“Ela cresce na proporção dos trabalhos próprios que ela cumpre, e, na medida em que sofre, ela tem forma acabada”.
“Quando ela está em suficiente grandeza, significa que ela cumpriu sua missão, e é então que ela é chamada de seu exílio no mundo. Quando ela encontra essa face dela mesma, da qual ela foi separada, quando ela a reconhece como sua própria imagem, quando ela se reúne a ela, esse é o verdadeiro instante de sua salvação. Aplicada ao mensageiro ou salvador, como ela o é aqui e em outros textos, esta concepção leva à interessante idéia teológica de um gêmeo ou de um original eterno do salvador, que permaneceu no mundo do alto durante sua missão terrestre. A Especulação gnóstica é freqüente nestes desdobramentos de pessoas divinas”(...) “Quando o estrangeiro [o exilado no mundo inferior] se reúne com sua veste, parece que a pessoa do irmão foi reabsorvida numa unidade” (Hans Jonas, La Religion Gnostique, Flammarion, Paris, 1978, pp. 165 e 166. Destaques do original).
A noção do duplo eu é comum nos sistemas gnósticos e vai ser repetida na Gnose romântica que Plínio adotou.
“O Eu Transcendente”“O duplo do salvador, como vimos, não é senão a representação teológica particular de um idéia reativa à doutrina do homem em geral, e que exprime o conceito do Eu. Neste conceito, podemos distinguir o que é talvez a contribuição mais profunda da religião persa ao gnosticismo, tanto como à história da religião em geral. O termo do Avesta é Daêna, e o orientalista Bartholomae dá o seguinte sentido: “1- religião; 2- essência íntima, ego espiritual, individualidade; muitas vezes dificilmente traduzível”.
“Nos fragmentos de Turfan, se utiliza um outro termo iraniano, griv, que se pode traduzir por “eu” ou por “ego”. Ele designa a pessoa metafísica, o sujeito transcendente e verdadeiro da salvação, que não é idêntico à alma empírica” (Hans Jonas, La Religion Gnostique, Flammarion, Paris, 1978, pp. 166 e 167. Destaques são do original).
O texto da liturgia mandeana diz:
“Eu me vou ao encontro de minha imagem
E minha imagem vem a meu encontro”.
E Dr. Plínio disse:
Na Hora da morte acaba o exílio, porque termina o lusco-fusco e se vai ter o grande encontro: o grande encontro com Aquele que com “A” maiúsculo no lar paterno da alma. Com Aquele que é mais eu do que eu mesmo.
O paralelismo dos textos é evidente, e a doutrina da Gnose mandeana com a doutrina de Plínio é coincidente. Dr.Plínio foi um gnóstico. E a TFP dos Provectos assim como os Arautos, ambos movimentos-fachada da Sempre Viva, são gnósticos.
Claro que podem existir pequenas diferenças acidentais na estrutura de pensamento da Gnose e da Sempre Viva, mas no fundo, trata-se da mesma heresia.
E como o Eu de Cristo seria sósia absoluto do eu de cada homem que adere à Inocência Primeva, cada homem inocente, de certo modo, seria Cristo. Christianus alter Christus.
Especialmente, Plínio realizou essa identificação.
Plinius alter Christus...
O que se diz na Igreja de ser um com Cristo, o próprio PCO aplicava a ele mesmo. Dr. Plínio ensinava que seus sequazes precisavam ser “um” com ele:
Vocês tem que fazer ascese para concordar comigo e para serem inteiramente um comigo. Esta ascese eu fiz com a Igreja. Eu tomei a minha natureza e a dobrei (e fez um gesto como de alguém que estivesse dobrando uma barra de ferro) eu me tomei mim mesmo e dobrei a minha natureza e transformei a minha natureza à semelhança da Igreja. É preciso tomar a natureza de vocês com ascese e dobrá-la e serem um comigo (Jour le Jour de PCO- Jornal falado de João Clá aos EUA em 23 de Janeiro de 1983).
Ser um com Plínio equivaleria a ser um com a Igreja. Porque, na TFP e entre os Arautos, se acredita que Plínio é a Igreja.
Ser um com Plínio: essa era a ascese fundamental da Sempre Viva, dos Arautos e da TFP, ascese ensinada por PCO e instilada por Scognamiglio.
Plínio confunde imitação, visando a perfeição, com identidade substancial, ontológica. Imitar a Cristo, buscando a perfeição não torna o imitador idêntico ao modelo, anulando a sua identidade, fazendo do modelo e do modelado um único ser.
São Francisco, imitador de Cristo, continuou Francisco, não se tornou Cristo. Ele não perdeu sua natureza própria. Uniu-se a Cristo misticamente, moralmente, aperfeiçoando seu ser, e não perdendo sua identidade.
Mas na Sempre Viva se vai além disso. Cada membro da Sempre Viva, tornando-se outro Plínio, se identificava com o eu de PCO e com o Eu de Cristo.
Daí, o atual Monsenhor Scognamiglio dizer que
A união com o Fundador [PCO], através da Sempre Viva, é o auge da Sabedoria e da sacralidade. Uma vocação angélica.
Ao tratar do caráter sacral da Sempre Viva – e, portanto, do que existe de sagrado em cada um dos escravos de Maria--, meu Fundador --[PCO] – assim se expressou:
[Palavras de PCO]: Com a graça da Sempre Viva, um escravo de Maria recebe um dom maior do que qualquer outro dom, porque traz consigo uma promessa do Céu, uma promessa de um amor particularíssimo de Nossa Senhora, a promessa de uma missão, a promessa de uma contínua ação de graças, através de Maria, baixando sobre os escravos de Maria.
Qual é o dom que se pode comparar a este? O que é ser Rei da Bélgica em comparação com isto? O que é ser Rainha da Inglaterra em comparação com isto? Com toda a veneração, com toda a ternura, pergunto: o que é ser Papa, em comparação com isto? Quer dizer, isto é ser anjo, é um estado angélico na terra, e mais não se pode dar (Plínio Corrêa de Oliveira, apud João Scognamiglio Clá Dias, 10 a Conferência do Retiro V, A Unidade do Súdito com o Fundador, p. 10 de 12).
Para Monsenhor Scognamiglio, ser da Sempre Viva, conforme lhe ensinou Dr. Plínio, “é ser mais do que ser apóstolo de Cristo. É mais do que ser anjo”.
Claro: seria ser Cristo.
Ser da Sempre Viva, então, seria ser de algum modo divino, como escreveu Plínio falando do que significa aderir à Inocência Primeva. E isso é Gnose mesmo.
Como um professor capaz, como meu antigo amigo Roberto de Mattei chamou Plínio Corrêa de Oliveira de “O Cruzado do Século XX” ? Será que ele, de fato, jamais recebeu informação sobre as doutrinas secretas da TFP?
Tomara Deus que não. E espero que, agora, conhecendo esses textos de Dr. Plínio, ele volte atrás, porque o tenho como sincero católico.
E assim, em Deus espero...
Sem dúvida, esse encontro com Jesus, “mais eu do que eu mesmo”, é absolutamente diferente do que Jesus e a Igreja sempre ensinaram sobre o Juízo Final. Desse Juízo Final de Plínio, desapareceu a “tabela dos Dez mandamentos”. O Juízo Final seria o encontro do eu de cada homem com o Eu de Jesus Cristo. E Jesus seria mais eu mesmo do que eu sou eu próprio.
Jesus é que seria semelhantissimo a nós. Não seríamos nós que deveríamos nos tornar semelhantes a Cristo, pois mesmo com um mar de pecados, guardaríamos a Inocência
Primeva, e Cristo seria assim nosso sósia. Tão sósia, que seria mais nós do que nós somos nós. Um sósia gêmeo absoluto de nós mesmos. E isso dispensaria o julgamento pela ”tabela dos dez mandamentos”. Para realizar a unidade com Cristo bastaria aderir à inocência primeva existente em nós, e seguir o inerrante seletivo inato no homem.
Tão semelhante Jesus seria a cada um, que se identificaria com cada eu.
Nada de tabela de Mandamentos. Acabou-se a lei. Trata-se de encontrar o nosso sósia-gêmeo absoluto. O nosso arqui-alter-ego. Mais do que encontrar a Cristo, identificar o próprio eu com o eu de Cristo de modo que sejamos um só eu.
Plínio se torna igual a Jesus. Cada um da Sempre Viva se identificava com Plínio e, ao fazer isso, se identificava também com o Eu divino de Cristo, através da adesão à inocência primeva, visto que o Eu de Cristo e o eu de Dr. Plínio eram um só eu. Era o triunfo do igualitarismo: ter como sósia absoluto o próprio Cristo. Tornar-se o eu de Cristo. É a essência da Gnose e o sumo do igualitarismo: uma fusão do eu particular com a divindade.
É o que se confirma com o que diz Plínio no parágrafo [8] intitulado: “O encontro com o símile absoluto de si mesmo”, onde se lê:
Se, em determinado momento de nossa vida, encontrássemos, andando pela rua, um homem que fosse nós mesmos, mas na perfeição espiritual que deveríamos ter; se esse homem parasse e nos cumprimentasse, e dissesse, por exemplo: “X, como vai?”, teríamos, sem dúvida, uma sensação curiosa. Talvez sequer soubéssemos dizer se já o conhecíamos ou não.
Ao mesmo tempo julgaríamos que se trata de um desconhecido e de um conhecidíssimo: a pessoa mais conhecida que para nós existe. (A Inocência Primeva e a Contemplação sacral do Universo,no pensamento de Plínio Corrêa de Oliveira, ed cit. P. 62).
Estranha e curiosa imaginação dialética a de Plínio.
Nesse encontro imaginário com um Jesus, que seria idêntico ao mesmo Plínio, nesse encontro com Deus, que seria nosso próprio eu, desconhecido-conhecidíssimo, dar-se–ia um encontro com outro, que é o nosso próprio eu.
Como num espelho. Mais ainda do que num espelho: porque o outro existe também, não como imagem, mas como sósia absoluto.O nosso eu perfeitíssimo.
Era como se se desse um encontro do eu-sujeito conhecedor-- com o outro eu, objeto conhecido. Seria o encontro do sujeito com o objeto. Exatamente como os românticos sonhavam poder alcançar a união entre sujeito e objeto, para alcançar uma redenção romântica que acabasse com a desgraça do pecado original, que teria sido exatamente a disjunção de sujeito e objeto.
Literalmente, o christianus—o que tivesse conservado a Inocência Primeva-- seria o alter Christus.
Por isso, Plínio, O Inocente por excelência, seria O Alter Christus por antonomásia.
É uma constante de todos os sistemas gnósticos ver o mundo concreto como uma queda da Divindade. O demiurgo criador é visto pela Gnose como aquele que montou um universo material como caricatura desajeitada da esfera divina.E nesse mundo o Absoluto ficou encarcerado—“inviscerado”, dirá Plínio—em cada criatura. Desse modo, a redenção consistiria em conhecer que o Absoluta inviscerado em nós é o mesmo Absoluto excelso, que nosso absoluto inviscerado em nós, libertando-se da matéria pelo Conhecimento esotérico, se livra de sua materialidade e da contingência, retornando ao mundo divino, onde se reencontra e se une a seu “duplo”, à sua alma gêmea, a seu sósia espiritual. Esse é que é o Grand Retour de que falavam os esotéricos e os gnósticos, e do qual falava também Plínio. O que diz PCO do reencontro do eu de cada homem com seu sósia absoluto é uma reformulação tefepista de doutrina comum a muitos sistemas gnósticos, dede o antigo Egito, que fala do Ka e do Ba, até Jung com sua doutrina do Eu absoluto, no qual cada eu individual se fundiria. Ou como na Cabala de Martin Buber, em que o Eu e o Tu se fundem para fazer surgir a Presença divina, a Shechkinah cabalista.
Veja-se, por exemplo, o que diz Henry Corbin sobre a doutrina do “duplo” de cada homem—do sósia absoluto de cada um—na doutrina shiita, e compare-se isso com o que acabamos de ver ser ensinado por Dr.Plínio sobre a identidade do eu de cada um com o Eu de Cristo, para os tefepistas, nas reuniões discretas do MNF e nas reuniões secretas da Sempre Viva, doutrina que foi agora publicada parcialmente, no livro que focalizamos sobre a Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo.
Na doutrina shiita, se fala do encontro do eu de cada um com seu “anjo”, um “duplo” ou sósia absoluto do eu humano individual de cada um. Compare-se o que diz o shiismo com o que contou PCO do encontro de cada um com Jesus Cristo, no Juízo Final. A correspondência é tão impressionante que se tem a desconfiança (falsa) de que PCO conheceu ou estudou o shiismo. O que julgamos muitíssimo improvável, se não absurdo.
Os livros shiitas são enormes e abstrusos... E neles não há figuras... Plínio certamente não os leu. Preferia folhear o album de Bécassine. Ou ler as fofocas cortesãs de Versailles narradas por Sanit Simon...
Puríssimas!...
Quando, pois, o eu terrestre “reencontra’ sua Natureza Perfeita, seu Anjo, ele “vê” eo ipso seu ser total, seu pleroma. Ele vê pois o Anjo-Arquétipo desse pleroma (Henry Corbin, En Islam Iranien, Gallimard , Paris, 1971, 4 volumes, vol., II, p. 306. Os destaques são do autor).
Pois veja-se como comenta Plínio a morte de Roland, entregando seu guante de ferro a São Miguel:
A Chanson de Roland insinua e faz sentir essa concepção da morte. Quando desce o Anjo para buscar a alma do guerreiro, é-lhe dada a alegria incomparável de encontrar, em São Miguel, o símile absoluto de si mesmo. Ele tem a alegria de se sentir pequeno diante de alguém, pois o arcanjo não é um símile horizontal, igual, mas lhe é superior (A Inocência Primeva..., p. 63. Os destaques são do original)
Impressionante o paralelo entre o texto shiita e o que diz PCO!
Impressionante o paralelo perfeito com o que conta PCO do encontro da alma com Jesus, seu sósia absoluto, no Juízo Final. É exatamente a mesma coisa, o mesmo esquema. É exatamente a mesma doutrina.
Prossegue Henry Corbin:
O par que o eu terrestre forma com seu Duplo celeste ou seja, com sua Natureza Perfeita, é eo ipso a individuação de sua relação com o Anjo; nessa individuação, o Anjo é a sua Natureza Perfeita, e ele é o eu terrestre dessa Natureza Perfeita. É pela Natureza Perfeita, que ele conhece, ao se conhecer a si mesmo(...) (Henry Corbin, En Islam Iranien, Gallimard , Paris, 1971, 4 volumes, vol., II, p. 306. Os destaques são do autor).
Veja-se mais:
Recapitular-se-á constatando que todo esse conjunto postula que o ser real da alma não é uma solidão, mas ser em dualidade: ser o segundo membro de um todo dyádico cujo duplo ou “gêmeo” celeste – [sósia absoluto] –é o primeiro. Isso implica, portanto, uma ontologia que explica a distância e a distensão que constitui sua presença ao mundo terrestre, e que já a resolve. Isso implica a “história do gnóstico” a saber que a alma tenha começado a ser não ao vir ao mundo, mas tendo tido sua origem alhures e tenha “descido” sobre a Terra. Mas não basta dizer que a alma se encarna neste mundo em conseqüência de uma queda, ou de uma escolha pré-existencial. É preciso sublinhar que em termos gnósticos essa descida resulta do desdobramento, da dilaceração de um todo primordial, e a possibilidade desta dilaceração deve ser fundada originalmente na estrutura permanente desse todo. É essa estrutura permanente que, para diferenciá-la da dualidade impostapor força pelo ”exílio ocidental” que nós propomos designar como dualidade. A alma encarnada, desse modo, possui um “Par companheiro”, um Duplo celeste, o Anjo, que lhe vem em ajuda e com quem ela deve reunir-se, ou pelo contrário perder para sempre post mortem, conforme sua vida terrestre tiver tornado possível, ou pelo contrário impossível, o retorno à condição “celestial” de sua bi-unidade. Esta ontologia da alma é conhecida bem além das fronteiras do Iran; uma mesma visão ‘sofiânica” se impôs aos cátaros e aos maniqueus, assim como a um Novalis, ou a um Boehme. Ela é talvez a idéia fundamental da religião gnóstica, ubique et semper. É a razão pela qual os relatos sohrawardianos despertam múltiplas ressonâncias. Elas são perceptíveis já nos evangelhos gnósticos como em todas as gnoses trazendo uma marca iraniana (mandeísmo, mazdeísmo, maniqueísmo), e até em tempos próximos dos nossos (Henry Corbin, En Islam Iranien, Gallimard , Paris, 1971, 4 volumes, vol., II, pp. 306-307. Os destaques são do autor).
Não podia ser mais marcada a coincidência do esquema da gnose shiita com a doutrina de PCO do Juízo final com base na identificação do eu pessoal de cada um com um Eu transcendente celestial, e não por uma “tabela de dez mandamentos”.
O que não significa, de modo algum, que consideremos que PCO tenha lido Sohrawardi, ou qualquer coisa da gnose shiita. Plínio não lia. Explicitava o que tinha inato em sua alma... Ou o que lhe tinha sido soprado em alguma palestra em alguma sacristia, ou na Faculdade de Direito, em alguma “aula” “particular”.
Será que, quando Plínio freqüentou a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, será que lá não teria havido algum MNF?...
Plínio ouviu algo desse esquema gnóstico provavelmente na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco onde – inexplicavelmente – ele, que se dizia católico, foi nomeado professor sem concurso para a cátedra de Júlio Franck, o fundador da Burschenschaft...
Seria crime perguntar isso? Ou será que ele poderia ter aprendido coisa parecida em alguma loja de brinquedos que ele gostava de visitar?
Mas aprender a Gnose por meio de um mestre, não é obrigatoriamente necessário.
Porque a Gnose—e provaremos, se Deus quiser, isso um dia—provém de uma impostação errada do homem ante o ser, o que o faz cair necessariamente ou no Panteísmo racionalista, ou na Gnose irracionalista. É o que explica que tantos movimentos gnósticos, que jamais tiveram ligação histórica entre si, tenham o mesmo esquema doutrinário.
Ou essa doutrina tão estranha e tão esquematicamente comum de PCO resultou de uma sua impostação errada-romântica-dele ante o Ser?
Ou as duas coisas conjuntamente.
Essas coincidências não são fortuitas...
E duvidamos também que Plínio tenha lido alguma vez Novalis, e, muito menos, Jacob Boehme. Ou então o gnóstico russo Soloviev cuja Gnose é tão próxima da de Plínio. Especialmente com o seu profetismo.
Afinal Plínio não estudava. ...Só explicitava.
Mas o que ele conta desse encontro do eu com Jesus, num Juízo Final estranhíssimo, diferente do que é narrado nos Evangelhos por Cristo, é bem parecido com o que o shiismo diz do encontro com o anjo “duplo”—sósia absoluto de cada homem--, assim como é parecido com o que Novalis conta no seu romance iniciático Os Discípulos em Saïs. Que certamente Plínio não leu, pois em conversa conosco ele deixou claro que nunca ouvira falar de Novalis. De Clemens Brentano, ele até nos disse: “Esse fulano é importante. O nome dele está no Larousse”.
Imagine-se!...
Brentano era importante por estar no Larousse...
Plínio conhecera o Larousse!
Que cultura!
No citado romance de Novalis, Os Discípulos em Saïs-- se conta a história de um rapaz, Hyacinto, enamorado e noivo de uma mocinha, numa aldeia alemã. Claro que a mocinha tinha que se chamar Rosa. Mais precisamente, Botãozinho de Rosa (Rosenblutchen).
Um dia, chega à aldeia um velho que se põe a contar histórias que fascinam o rapaz. Hyacinto se torna cada vez mais preocupado. Afinal, ele anuncia à sua noiva que tem de partir para encontrar a Mãe de Todas as Coisas, a Virgem velada, em um país longínquo.
Imagine-se o desespero de Rosinha. Imagine-se: Hyacintho deixá-la, deixar de casar porque tinha que ir procurar a Mãe de Todas as Coisas. A coitada da Rosenblutchen devia pensar que seu noivo “endoidara de vez”. Só faltara Hyacintho dizer que ia partir em busca da Mãe da Trans-Esfera. Por sorte de Rosinha, Hyacintho não era da TFP, e não fora encantado pelo Profeta, nem engazopado por Scognamiglio.
Hyacinto partiu, então, para uma viagem sem rumo em busca de Isis, a Virgem Velada, a tal “Mãe de Todas as Coisas”, que lhe daria a felicidade total. Viajou ele durante anos pelos países do Oriente. Foi iniciado em mistérios estranhos. Afinal, chegou ao Egito, onde ele é iniciado no templo da Virgem Celeste que, enfim, aparece em sua presença.
Depois de muitos sofrimentos, ele é admitido à suprema iniciação na qual veria a própria deusa. E quando posto diante da deusa Isis, ele recebe a permissão de levantar o véu que cobria o rosto da deusa, para, enfim, conhecer a face da “Mãe de todas as coisas” e seu segredo último. Então, ele, trêmulo, levantou o véu da deusa e... viu o rosto dela.
Surpresa: Isis era Rosenblutchen.
Noutra versão, quando Hyacinto levanta o véu da deusa, ele vê sob o véu... a si mesmo. Vê Hyacinto.
Isis, Rosenblutchen, Hyacinto são a mesma pessoa. Todos têm o mesmo eu.
Tudo é um só eu. Cada eu é todos os eus. É tudo. E é nada. É todos. E é ninguém.
Era típica do Romantismo a idéia de que a queda da Divindade consistiu numa perda da unidade. Portanto, a salvação viria de uma identificação de todos com tudo. Daí, em Novalis, Isis é Rosenblutchen. Mas é também Hyacinto, que é o próprio Novalis. Haveria um só eu. E o eu universal e a Natureza, o Mundo e Deus, tudo seria um só Eu.(Cfr. Marcel Brion, L ‘Allemagne Romantique, Albin-Michel, Paris, 1963, 2 volumes, I Volume, pgs.66 e 88).
Em Soloviev se acha o mesmo delírio gnóstico: todo sujeito se identifica com o objeto. E nessa identificação se dá a fusão do eu no Absoluto divino. E cada eu passa ser o próprio Tudo, o Absoluto a Divindade (Cfr. D. Strémookhoff, Vladimir Soloviev et son Ouvrage Messianique, Les Belles Lettres, Paris, 1935, pp. 109 a 112).
Historicamente, esse idéia de identificar o próprio eu com o eu de outro, parece que surgiu em Plínio, por causa da extrema ligação que sua mãe, Dona Lucília, alimentou nele e à qual ele aderiu a ponto de que ele se julgava ela. E ela se julgava ele.
É o que lemos no Jour-le-Jour de Plínio contado por Scognamiglio.
Num telefonema aos USA em 6 de Março de 1983, Scognamiglio conta o seguinte:
Ontem à noite houve uma reunião histórica, inteirinha sobre ela – [Ela = Dona Lucília, a mãe de Dr.Plínio] –com fatos inéditos, aliás toda ela passada por vídeo tape e foi no Primeiro Andar –[no apartamento de Dr. Plínio]. Ele tratou numa primeira parte da identificação entre ele e ela, e como se recorrendo a ela chega-se a ele, e vice-versa. Ele comentou muito aquela fotografia dela em Águas da Prata em que ele está todo tomado por ela, ele alí é todo ela, que não está pensando em outra coisa (Jour-le Jour 6 de Março de 1983, telefonema de João Scognamiglio Clá Dias aos Estados Unidos).
E Monsenhor Scognamiglio, ele mesmo, publicou estas palavras de Plínio:
Em certos dias tudo começava mais tarde, pois eu permanecia conversando com mamãe... Minha irmã e minha prima tinham afazeres de meninas, naturalmente um tanto separados dos meus, e não participavam dessas conversas. Nessas ocasiões, mamãe parecia existir apenas para mim! Eu sentia que “ela penetrava em mim” e eu “penetrava nela” por assim dizer... Então lhe pedia para contar alguma história. (Plínio Corrêa de Oliveira, Notas Autobiográficas, edit. Retornarei, São Paulo, 2008,10 vol., pp 236-237).
Sem dúvida, essa é uma doutrina completamente aberrante do bom senso e da doutrina católica. E fundamentar a vida espiritual dos tefepistas—e agora a dos Arautos – nesse pensamento da unidade hiostática universal é um absurdo inconciliável com a doutrina católica. E essa identificação do filho com a própria mãe, e nessa linguagem – ele é ela — é extremamente desagradável...
Pior que desagradável: é uma doutrina da Gnose romântica.
Veja-se este trecho de Tristão e Isolda:
Isolda tu,
E eu Tristão,não mais Tristão,
nem mais Isolda;
inominados,inseparados,
recomeçados,reconsumados;
infinita e única
consciência eterna.
(Tristão e Isolda, apud George Steiner, Antígonas, Antropos – Relógio d’Água,Lisboa, 2a edição, 2008, p. 31).
O eu universal é apenas a consciência eterna...
Esse mesmo autor, George Steiner, faz, nessa obra citada, muito interessantes perspectivas sobre a Gnose romântica citando a identidade sujeito-objeto dos românticos, assim como a dialética da identificação dos eus numa unidade e, ao mesmo tempo, a solidão de cada eu no mundo atual, fruto da queda da Divindade na materialidade.
As grandes coordenadas do idealismo são o exílio e a tentativa de retorno – [O “Grand Retour” ao lar paterno, à Divindade]. Assim, a epistemologia kantiana é a epistemologia de uma renúncia estóica. O sujeito é separado do objeto: a percepção do conhecimento.(...) A metafísica ocidental posterior a Kant brota da negação desta distância ou da tentativa de a superar. Em Fichte, a negação torna-se absoluta: o sujeito e o objeto tornam-se uma coisa só. Em Schelling, (como em Schiller e em Hölderlin) a verdade e a beleza identificam-se. Esta esplendorosa tautologia convida o homem, através da imaginação conceitual, a aprender, a interiorizar, o princípio de uma unidade perfeita. A pulverização do mundo em fragmentos estanques é uma ilusão. Onde participa da verdade-beleza, o espírito do indivíduo regressa ao lar de uma unidade primordial de há muito perdida”. (...) “A grande corrente trágica do sentimento de exílio posterior a Kant condensa-se na imagem do homem enquanto “estranho na casa do ser (George Steiner, Antígonas, Antropos – Relógio d’Água,Lisboa, 2a edição, 2008, pp. 28-29).
Também na seita secreta de PCO –a A Sempre Viva—se dava uma identificação do eu do iniciado com o eu de Plínio Corrêa de Oliveira, para que um se tornasse o outro.
Na cerimônia de iniciação na Sempre Viva, o iniciado devia ficar deitado de costas no chão, e Plínio colocava então seu pé sobre o pescoço do neófito da seita, significando que poderia fazer dele o que quisesse. A seguir, o candidato deveria prestar juramento de escravidão a ele, pois que ele, Plínio, era, em certo sentido, o representante ou até a encarnação do Imaculado e Sapiencial Coração da Virgem Maria, e ao iniciado era dado, então, o nome de Plínio, seguido de mais um nome de um santo protetor. Monsenhor Scognamiglio, ainda hoje, na Sempre Viva é Plínio Fernando. E ele dizia que ao pousar a cabeça sobre o cadáver de Plínio, no dia de seu enterro, sentiu o espírito de Plínio passar para dentro dele.
O eu de Plínio teria passado a “inhabitar” em João Clá.
Após a morte do imortal Plínio, começou-se a dizer que o espírito dele passara a inhabitar em João Scognamiglio a ponto de umas cladetes – as moçoilas fanáticas de Scognamiglio fazerem uma canção na qual se cantava:
Em 3 de Outubro dia de luto e de dor
O glorioso varão do Céu subiu
E sua santa alma então passou
Pelo filho que ajoelhado no peito se inclinou
Deste inestimável Pai que um filho nos deixou
(Cfr. Cânticos em louvor aos nossos Santos Fundadores, e ao seu filho mui querido, nosso padrinho João Clá Dias, Doc. N0 35, p. 8 apud Documento Jau – José Antonio Ureta, de 13 de Outubro de 1997, p. 41).
Scognamiglio protestou – publicamente--- contra isso, afirmando que só a Santíssima Trindade podia inhabitar num homem, e nunca alma de homem podia fazer isso.
Mas...
E privadamente, ele protestou?
Continuando a exposição da cerimônia de iniciação na Sempre Viva, tal como nos contaram alguns iniciados, depois de receber o nome de Plínio, o novo escravo de Dr. Plínio devia se ajoelhar diante dele, que permanecia sentado num trono, e beijava os pés e as mãos do Profeta de Higienópolis. Em seguida, Dr. Plínio deixava o seu trono, e nele se assentava o iniciado.
Porque agora o iniciado era um novo Plínio, diante do qual Dr. Plínio se ajoelhava, beijando seus pés e suas mãos, porque este novo membro da seita era ele mesmo, Plínio. Um era o outro. Os dois eus se identificavam.
Havia, pois uma identificação do eu de Plínio com o eu do novo escravo dele.
Por isso se dizia na TFP: “Plinianus alter Plinius”.
Essa união de eus—mais essa identificação de eus – uma delirante união hipostática dos escravos de PCO com ele, era levada ainda mais longe, pois que, na TFP, baseando-se em um texto do Padre Francisco Juberías, C.M. F.(La Paternidad de los Fundadores, In Vida Religiossa, Vol 32, enero—diciembre de 1972) sobre o papel de um fundador de ordem religiosa, falava-se em “união incorporante” entre os membros da Sempre Viva (a bem secreta “Familia de Almas de alguns membros da TFP) e o Dr. Plínio:
Previamente , o Padre Juberías apresenta tentativas bíblicas de explicação da paternidade do fundador, e que se resumem na aplicação analógica do conceito da exegese moderna (sic) da “personalidade incorporante” (indivíduos que reunem em si todas as características da coletividade e por meio dos quais esta é capaz de atuar de modo que o escritor sagrado utiliza o mesmo nome ou expressão para referir-se ao indivíduo ou à coletividade: Israel-Jacó e povo hebreu; “servo sofredor”= Messias e povo eleito; e outros); e também da “geração espiritual”, pela força criadora da palavra de Deus transmitida pelo Profeta ou pelo Apóstolo (Átila Sinke Guimarães, Servitudo ex Caritate. Serviço datilográfico da TFP, editado e impresso por Artpress, São Paulo, 1985, p. 201. Os destaques são nossos).
O que é uma simples figura de estilo, a metonímia, tomar a parte pelo todo, é transformado pela mais do que suspeita “exegese moderna”, e analogicamente, em algo que explica o que seria uma “personalidade incorporante”. Evidentemente, Átila Sinke Guimarães se apressa em aplicar esse conceito a Dr. Plínio que passa a ter a tal “personalidade incorporante” que faria de cada membro da Sempre Viva outro Plínio.
Mais ainda. Os fanáticos membros da Sempre Viva vão afirmar, por escrito, citando, claro, o Padre Juberías, que haveria até uma união ontológica dos escravos de Plínio com ele, que formariam um só ser:
Por sua vez, o súdito une-se ao superior [religioso] de forma que constituam ambos mais do que um só ser, franqueando-lhe sua consciência por freqüentes comunicações e mútuas relações, pela doação completa de si mesmo, de modo que o superior possa dispor do súdito como lhe aprouver (Edelvives, El Superior Perfecto –Doutrina do bem aventurado Marcelino Champagnat, Ed. Luis Vives, Zaragoza, 1952,p. 29, in Átila Sinke Guimarães, Servitudo ex Caritate. Serviço datilográfico da TFP, editado e impresso por Artpress, São Paulo, 1985, pp. 205-206. O destaque é nosso).
E Átila, o escravo Plínio Márcio da Sempre Viva, cita ainda a seguinte frase do autor em que se fundamenta:
Essas doações constituem a verdadeira união, podendo dizer-se então que o superior e o inferior não fazem mais que um só (Edelvives, El Superior Perfecto, según la doctrinadel Venerable Servo de Diós, J.B. Marcelino Champagnat, Zaragoza, 1.952, p. 29).
De modo que, entre PCO e os membros da Sempre Viva haveria uma união de eus, uma união incorporante, que faria de Plínio e de seus escravos ontologicamente um só ser. O que não é pouco.
E como Plínio era um só com Cristo, era um Alter Christus, cada escravo de Plínio identificando o seu eu com o do Inocente Plínio, incorporando-se ontologicamnete a PCO, cada membro da Sempre Viva, como dizia João Scognamiglio Clá Dias—agora Monsenhor—seria mais que os Apóstolos e mais que os anjos: seria divino, por ser um Alter Christus. Plinianus Alter Plinius. Plinianus alter Christus. E só por isso estaria salvo. Ainda que estivesse mergulhado num mar de pecados.
Por sua vez, também, Plínio se identificava com o Coração Imaculado de Maria. Ele dizia ser a encarnação do Sapiencial e Imaculado Coração de Maria, isto é, de sua mentalidade. Daí, um de seus codi-nomes ser “Maria”.
Portanto, como Plínio se identificava com Nossa Senhora, quem se escravizava a Plínio, se escravizava a Maria Santíssima. Daí, este diálogo estapafúrdio que se pode ler num Jour –le – jour entre um Coronel de codi-nome “Espírito” e Dr Plínio: “É uma felicidade ser do Sr.—[Ser escravo de Dr.Plínio na Sempre Viva] –E ele [ Plínio ] diz: “Isto é verdade, porque é um modo de ser de Nossa Senhora” (Jour-le Jour, 26 de Fevereiro de 1983, contado por João Clá).
Plínio se identificava também com “Abel”, outro de seus codinomes (“O justo Abel”, como se reza na Liturgia da Missa, após a consagração).
Outros o tinham como Elias. Elias era outro que um dia se apresentaria a Dr. Plínio em certo momento na Bagarre, e Elias era também o próprio Dr.Plínio por sua identificação com o eu e a vocação de Elias. O livro Elias, O Profeta da Nova Aliança do Professor Martini deixa entrever o mistério “eliático” de Plínio.
Essa era uma lenda comum em certas seitas esotéricas de direita, crentes no mistério eliático. Daí, que em toda sede da TFP, como em toda sinagoga, era preciso ter um trono de Elias. Costume esse que segundo o Zohar, livro principal da Cabala judaica, deveria ser seguido em toda a Sinagoga ou em toda casa em fosse feita a circuncisão; lá deveria ser posto um trono para Elias...(Moisés Shem Tov de Leon, Sefer ha Zohar, I,13 e I, 93).
Na TFP, e entre os Arautos até hoje, Dr. Plínio era “O Moisés da Lei e da Graça”.
Excusez du peu!
Plínio era Maria. O iniciado era Plínio. O iniciado se tornava de algum modo Maria. Porque Plínio e Maria eram um. Ser escravo de Maria era ser escravo de Plínio. E Plínio era Elias e Elias era Plínio. E assim por diante, numa confusão esquizofrênica e paranóica, em que cada um era todos, e deixava de ser simplesmente o que era. E em que todos eram um.
E não se pense que essa conclusão seja nossa. É do próprio Plínio. É a de Scognamiglio dando retiros aos Arautos e membros da Sempre Viva, quando Scognamiglio ainda era um simples leigo.
Quando todos sejamos um, esse um terá essa mesma sincronia com O Coração Imaculado de Maria, e com o Coração de Jesus, de grau em grau (Plínio Corrêa de Oliveira, apud João Scognamiglio Clá Dias, 10 a Conferência do Retiro V, A Unidade do Súdito com o Fundador, p. 7 de 12).
Como se vê, toda essa cerimônia iniciática da Sempre Viva, da qual ignoramos se havia mais coisas --(e há indício de que havia algo mais)-- era uma aplicação da doutrina tipicamente romântica da identificação de todos os eus num só Eu total, que seria ao mesmo tempo Cristo, Deus, Maria Santíssima, PCO e a Natureza.
Na TFP e nos Arautos, se ensina a mesma coisa: cada membro da Sempre Viva é Plínio.
Ou, agora, é Scognamiglio.
E se for assim...
...a que nível scognamigliesco caiu o Eu universal.
Tanto se tinha como certa a identificação do eu de Plínio com o eu de Jesus Cristo que Scognamiglio ensinou o seguinte:
“Nosso Senhor disse: “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida”; Ele não disse: “Eu sou a verdade”. Ele disse: “Eu sou o caminho” e a primeira coisa que Ele colocou foi “caminho”. Depois Ele não disse “verdade” só, Ele pôs mais ainda: “Eu sou a vida”.
O fundador [Plínio] participa desta capacidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, ele é para nós o caminho. Não queira pregar só as obras do fundador, estudar as obras do fundador, decorar as obras do fundador, e julgar que alí está tudo feito. Não está tudo feito coisa nenhuma, está feita uma parcela muito pequena. Indispensável, porque eu não sou louco de estar aqui dizendo que não é indispensável. É indispensável, e eu digo com toda a ênfase: é indispensável! Mas não é só, é preciso a gente olhar para ele como caminho, e é preciso a gente unir-se a ele porque ele nos dá a vida ( João Scongnamiglio, Jour-le Jour de 19 –IV de 1992, p. 11 de 42).
Como um homem que diz tal loucura idolátrica chegou a ser Cônego de Santa Maria Maior?
Note-se como, por essa explicação absurda, Plínio passa a ser o caminho, a verdade, e a vida, substituindo o próprio Cristo que só Ele é para os católicos Caminho, Verdade, e Vida.
Assim também Plínio, em seu delírio da inocência primeva, ele se via, no Juízo Final, identificado como o próprio Cristo. Sujeito e objeto deixavam de ser distintos. A criatura seria o Criador, e o Criador seria a criatura.
Isso é que está no fundo do delírio da doutrina secreta de Plínio Corrêa de Oliveira. O Juízo Final ensinado pela Igreja com um Cristo julgando as pessoas por meio de uma tabela de mandamentos, seria uma balela. O pecado original seria outra balela. As conseqüências que o pecado original deixou na alma humana seriam balelas.
Verdade é o que Plínio tirou – diz ele—de sua própria cabeça: a Inocência Primeva e a Trans Esfera.
Tirou ?... E se tirou, já foi demais.
Tirou?
Ou recebeu?
Onde?
De quem?
Veja-se como o iniciado Fernando Pessoa explica o que acontece nos primeiros graus da iniciação maçônica:
“Eros e Psique"
...E assim vede meu Irmão, que as verdades que vos foram dadas no grau de Neófito, e aquelas que vos foram dadas no grau de adepto menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade. (Do Ritual de Mestre Do Átrio Na Ordem Templária De Portugal).
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
Fernando Pessoa
Publicado pela primeira vez in Presença, n.os 41-42, Coimbra, maio de 1934. Acerca da epígrafe que encabeça este poema diz o próprio autor a uma interrogação levantada pelo crítico A. Casais Monteiro, em carta a este último:
A citação, epígrafe ao meu poema "Eros e Psique", de um trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente - o que é fato - que me foi permitido folhear os Rituais dos três primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência desde cerca de 1888. Se não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do Ritual, pois se não devem citar (indicando a origem) trechos de Rituais que estão em trabalho [In VO/II.]
E a nota acima é do próprio Fernando Pessoa
O Príncipe é a Bela adormecida. E ela é ele.
No Juízo Final de Plínio, Plínio se vê em Cristo.
Cristo se verá em Plínio.
Tal como se ensina na Maçonaria Templária.
E na Sempre Viva.
Plínio procura contestar antecipadamente a acusação de Romantismo contra sua noção de inocência primeva:
Alguém insistirá: esse conceito peculiar de inocência; esse recurso contínuo a imagens, comparações, a alegorias, a sondagens do imaginário, do mítico, do imponderável, tudo isso não é uma fuga da realidade objetiva?“Se considerarmos – muito equivocadamente—que o real é apenas o patente, teremos dificuldade quanto ao gênero de contemplações aqui propostas. Entretanto o latente também pode ser real (PCO, A Inocência... , p. 181).
Quer dizer que o real não seria apenas o que é patente... Incluiria também o “latente”...
Em primeiro lugar, por que usar os adjetivos patente e latente? Não seria mais correto usar os termos visível e invisível, como está no Credo?
“Credo in unum Deum, factorem coeli et terrae, visibilium omnium et invisibilium”.
Não dizemos no Credo que Deus fez o patente e o latente.
Por que PCO usa esse termos estranhos ao Credo?
E mais ainda: os espíritos angélicos não são visíveis. São reais. Mas não se pode dizer que os anjos são “latentes”.
O que é latente é real, mas escondido, e que pode ser visto se se tornar patente. Latente não é o imaginário. Há completa diferença entre uma doença latente, e um tumor imaginário. O imaginário não existe fora da imaginação. O que é latente é real e existente, mas apenas ainda não manifestado exteriormente.
Os anjos não são latentes. A alma não é latente. Os anjos e as almas são invisíveis, porém reais.
E o romantismo de Plínio não é latente.
É patente e explícito.
O livro que já citamos-- Elias, o Profeta da Nova Aliança -- seria de Frère Élie de Sainte Marie, pseudônimo do Professor José Martini, atualmente membro dos Arautos do Evangelho. Professor Martini deu inúmeras palestras e simpósios sobre essa sua obra nos êremos da TFP, na década de 70. Claro que nunca assistimos tais palestras. Ouvimos repercussões dela.
E só obtivemos esse livro, quando estávamos saindo da TFP.
Nos simpósios do Professor Martini sobre seu livro, dizia-se, que fazia ele tal aproximação entre Plínio e Santo Elias que todos os ouvintes saíam com a idéia que Dr. Plínio era o próprio profeta Elias.
Elias passou a ser um dos codi-nomes de PCO, assim como Ordem do Carmo passou a ser nome-código da TFP. Os entrosados nos segredos da seita começaram a assinar “in Elia”, fórmula trocada logo para “In Domino”, pois Dominus era Dr. Plínio, o Senhor dos escravos.
Essa obra do Professor Martini traz contribuições bem interessantes para se compreender a doutrina pliniana de identificação dos eus.
Nesse livro se faz a defesa da tese de que haveria uma misteriosa identificação de Plínio Corrêa de Oliveira com o Profeta Elias. Essa obra mereceria ser todo ela comentada, mas, por ora, trataremos apenas do que ele afirma da identificação dos eus. Da identificação de Plínio com Elias, profeta.
Na Introdução do livro, o autor procura explicar a noção de parábola, conforme a concepção de PCO.
Ele começa dando um exemplo de “parábola”, e depois tenta explicar como Dr. Plínio via essa questão, e, para comprovar a concepção pliniana, ele expunha um exemplo concreto de “parábola”.
Professor Martini, reproduzindo o pensamento de PCO, dizia que nas parábolas se faz um paralelo analógico entre um protótipo e um tipo. Todo tipo seria a reprodução, em escala menor e ontologicamente inferior e material, de um protótipo totalmente ideal.
Diz o livro do Professor Martini:
Os protótipos são os modelos ideais dos indivíduos e, enquanto tais, são mais os próprios indivíduos que eles mesmos. Quer dizer, o meu modelo ideal é mais eu do que eu mesmo. Pelo fato de ser meu modelo. Por isso, eu serei tanto mais eu, quanto mais eu me abrir, me deixar influenciar pelo meu protótipo, pelo meu modelo ideal (Frère Élie de Sainte Marie, Elias, o Profeta da Aliança, Ed. Vera Cruz, São Paulo, 1972, p. 101).
Não é preciso dizer que Frère Élie (Prof. Martini) reproduz, quase que palavra por palavra, o que foi dito por PCO no MNF, e agora publicado no livro Inocência Primeva sobre a identificação de Plínio com Jesus. Um Jesus que seria mais Plínio do que o próprio Plínio, “mais eu do que eu mesmo”, disse o Profeta de Higienópolis.
Para exemplificar essa estranha teoria, Frère Élie-Martini recorre ao livro de Eça de Queirós, A Ilustre Casa de Ramires. Nesse romance, o personagem central, Gonçalo Mendes Ramires, um português rico e decadente,-- pior, covarde--, escreve a história de um de seus avoengos, Tructesindo Mendes Ramires, “o façanhudo”, como era apelidado por suas proezas de cruzado valente.
Pouco a pouco, à força de contar as façanhas de seu avoengo, a força de admirar – e sublinhamos o termo admirar -- o português decadente, imita sua valentia e se identifica com ele. Gonçalo se torna Tructesindo, por uma metanóia, por uma conversão identificadora com seu antepassado. Tornando-se Tructesindo, ele se torna autenticamente Gonçalo. Mais: acaba, de certo modo, sendo Portugal.
Eis as palavras do Professor Martini, em seu livro:
Como o Gonçalo Mendes Ramires se transformou, por exemplo, se tornou o verdadeiro Gonçalo? À custa de contemplar, de admirar e de se deixar influenciar pelos modelos ideais dos Ramires, sobretudo pelo velho Tructesindo Mendes Ramires. Se ele se tivesse fechado à influência de Tructesindo, ele nunca se teria transformado. Ele continuaria a ser o poltrão como era, como tinha sido até então... (Frère Élie de Sainte Marie, Elias, o Profeta da Aliança, Ed. Vera Cruz, São Paulo, 1972, p. 16).
Explicava Professor Martini que:
a desgraça das desgraças de um indivíduo é não ter um protótipo, ou tendo um protótipo, um modelo ideal, não o contemplar, não o amar, não se voltar para ele,, não se abrir a ele, não se deixar influenciar por ele” (...) “Pelas mesmas razões, a relação de dependência de um indivíduo com relação a seu modelo ideal deve ser tanto maior quanto maior for o protótipo, quanto maior for o modelo ideal, e quanto mais próximo ou menor for o indivíduo” (Frère Élie de Sainte Marie, Elias, o Profeta da Aliança, Ed. Vera Cruz, São Paulo, 1972, p. 17).
Disso tudo, concluía Professor Martini, que a abertura e entrega do indivíduo a seu protótipo deveria levar a admirá-lo até a entrega total a ele em forma de escravo:
A contemplação, o enlevo pelo superior, pelo modelo ideal, arrasta o inferior, o menor, ao serviço, à obediência, à submissão até o holocausto pelo superior, pelo modelo, porque o modelo é mais ele mesmo do que ele mesmo (Frère Élie de Sainte Marie, Elias, o Profeta da Aliança, Ed. Vera Cruz, São Paulo, 1972, p. 18).
A lição era transparente: Dr. Plínio era o modelo ideal de cada tefepista. Cada verdadeiro membro da TFP deveria tomar Plínio como seu protótipo e identificar-se com ele. Abrir-se a ele.
Dar-se a ele como escravo. Até o holocausto.
Holocausto?
Como?
Daí, a consagração dos tefepistas como escravos a Dr. Plínio.
Desse modo, fazia-se uma escala analógica:
Deus é o supremo protótipo de quem a Virgem Maria se fez escrava. Maria Santíssima seria o protótipo humano perfeito dos demais homens. Logo, os homens deveriam se escravizar a Ela. Mas o modelo, o protótipo do perfeito escravo de Maria era PCO. Logo, ele era Ela. E os tefepistas escravizando-se a seu protótipo, Plínio, se tornavam outros Plínios, pois que Plínio era mais cada um deles que eles mesmos o eram de si mesmos. E assim de análogo em análogo, de modelo a modelo, de identificação em identificação, o eu de cada tefepista se tornava o eu de Plínio, o eu de Maria Santíssima, e até o Eu de Deus. Por essa razão os escravos do Profeta PCO, na Sempre Viva, se tornarem todos Plínios. Numa identificação dos eus, passo para se identificarem com Cristo e com Deus.
E por um processo semelhante Plínio se identificava com a Igreja Católica.
Vimos como Plínio se dizia um com seu arqui alter ego absoluto, Jesus Cristo. Da mesma forma, ele se dizia um com a Igreja, pois se a Igreja é o Corpo Místico de Cristo, sendo PCO Cristo, ele seria uma também com a Igreja.
Plínio, como muitos gnósticos, considerava a Igreja mais como algo espiritual do que como instituição estruturada. Para ele, como para os gnósticos haveria uma “Ecclesia spiritalis”.
Veja- se o que ele pensou, menino ainda, assistindo uma Missa:
Eu estava assistindo à Missa, encantado com as figuras, as cores, os vitrais, a liturgia, a atmosfera sobrenatural que pairava no ambiente, quando, de repente, formou-se em mim a noção do conjunto daquilo e conclui: “Por cima de tudo isso há Alguém, que é mais do que tudo! É uma coisa curiosa. A Igreja não parece uma instituição, mas uma pessoa que se comunica através de mil aspectos. Ela tem movimentos, grandezas, santidades e perfeições como se fosse uma ‘alma’ imensa que se exprime em todas as igrejas católicas do mundo, todas as imagens, toda a liturgia, todos os acordes de órgão e todos os toques de sino. Essa ‘alma’ chorou com os réquiens e alegrou-se com bimbalhares dos sábados de Aleluia e das noites de Natal. Ela chora comigo e se alegra comigo. Como eu gosto dessa ‘alma’! (PCO, Notas Autobiográficas, vol.I, pp. 529 -530).
Então, para Plínio, a Igreja era mais uma ‘alma’ do que uma instituição. E ele gostava dessa ‘alma’...
Mais ainda, ele julgava que era um só com a Igreja Católica:
Como eu gosto dessa ‘alma’! Tenho a impressão de que, em relação a ela, a minha alma é como uma pequena ressonância ou repetição; algo no qual essa ‘alma’ vive inteira, como se estivesse num templo material. Sinto-me nela como uma gota d’água na qual o sol se espelha inteiro. À maneira de miniatura e de reflexo, eu contenho essa ‘alma’!
Eu não sabia explicar o que era essa ‘alma’, mas tinha a impressão de que toda a doutrina e todo o espírito da Igreja Católica me envolviam! Identificando-me com esse unum da Santa Igreja, embebendo-me dele e habituando-me a viver sem nenhuma discrepância com ele, encontrava uma esplêndida plenitude, em que me sentia cada vez mais sendo eu mesmo (PCO, Notas Autobiográficas, vol. I, p.530).
Portanto, Plínio, em certo sentido, se sentia, tinha a impressão de que ele e a Igreja Católica eram um só.
Nele e nela, portanto, habitava o Espírito Santo. Claro que isso foi antes do Vaticano II.
Na Belle Époque.
Depois do Vaticano II, a coisa mudou. A Igreja teria virado uma estrutura morta e puramente material, da qual a ‘alma‘ se retirara. E essa ‘alma’ era o Espírito Santo.
E para onde foi a ‘alma’da Igreja? Onde poderia ela viver ?
Claro que a ‘alma’ da Igreja, o Espírito Santo, fugindo da estrutura da Igreja se refugiou em Plínio Corrêa de Oliveira.
É o que garantia Scognamiglio, desprezando aquela que ele chamava a “Estrutura” e da qual, agora, se tornou Monsenhor.
Panta rei .
Tudo muda, já assegurava Heráclito.
Na TFP, J. Scognamiglio contava o seguinte diálogo entre ele e o Profeta de Higienópolis: "Parece que o Espírito Santo, tendo-se retirado da Igreja, refugiou-se no Senhor, Dr. Plínio".
Ao que, sempre modesto, retrucara o “Profeta: "Quer saber de uma coisa, meu João? Acredito que sim".
Entretanto, outros negavam que esse diálogo fora entre Dr. Plínio e Scognamiglio. O diálogo acontecera, sim, mas, fora entre Dr. Plínio e o Sr. Átila Sinke Guimarães, por ocasião do Conclave que elegeu João Paulo l, ou João Paulo II. A tese, porém, era a mesma: o Espírito Santo, fugindo da Igreja, se refugiara em Dr. Plínio.
Esse diálogo ligava o pretenso profetismo de Plínio ao problema do sede vacantismo.
Ora, no simpósio “Quem Somos nós” cujo texto nunca conhecemos na TFP, texto que foi agora publicado na internet, PCO confirma que ele se supôs Profeta depois que viu a Igreja cair em “derelição”com os Papas do Vaticano II (1968).
“Quem somos nós enquanto Grupo.”
“I - Nós somos um Grupo Profético “Na primeira parte desta série nós tratamos de nós em função de nosso fim. Na segunda, vimos se estávamos proporcionados a ele. Vamos agora entrar noutra ordem de idéias, isto é, ver quem somos nós enquanto Grupo.
“1 - Nosso Grupo é um Grupo Profético“A - Conversa com D. Mayer .
“Eu já contei a um ou outro uma conversa que tive com D. Mayer. Foi ainda antes de mamãe morrer. Portanto, antes de 1968.
“Estávamos os dois tomando refeição em casa (mamãe estava de cama). E ele - lembro-me ainda do jeito dele - estava mexendo uma xicarazinha de café, na sobremesa. (Os Srs. sabem que mexer uma xicara de café é um gesto altamente pensativo). E, de repente (estávamos numa conversa muito íntima) ele escorregou o seguinte:“a - Objeção: "na atual situação anormal da Igreja, compreende-se a existência da TFP. Mas, depois da Bagarre, com uma Hierarquia que cumpra sua missão, ela não terá mais razões de ser";
"Eu compreendo bem a posição do Grupo na atual situação da Igreja. Mas eu não vejo bem como ele, numa situação normalizada da Igreja, poderia existir. Porque o Grupo tomou a si tais prerrogativas, tais interesses na direção da Igreja, uma função tal, que, dentro de uma Hierarquia que cumpra sua missão, o Grupo não tem razão de ser. Eu não sei qual será a posição dele depois da Bagarre ...".
“b - Resposta, 1: O Grupo sempre pertencerá à Igreja discente como discípulo e súdito, como também o será da classe social dirigente surgida no Reino de Maria;“Eu respondi a ele: "D. Mayer, a posição do Grupo, eu a entendo da maneira seguinte: depois da Bagarre, o Grupo nunca deverá pertencer à Igreja docente; ele permanecerá sempre na Igreja discente. Ele é discípulo, é súdito."O Grupo também nunca terá o governo de um Estado. Seu papel é de ser súdito dos reis, dos imperadores, dos senhores que nascerem da ordem histórica criada no Reino de Maria.“c - 2: Terá, entretanto, a missão de enunciar, a título de opinião privada, a doutrina verdadeira e a falsa em matéria de Revolução, e os rumos a serem seguidos para se combater a doutrina falsa e modelar o espírito da Humanidade no sentido contra-revolucionário"Mas eu entendo que o Grupo tem a missão de enunciar, em matéria de Revolução e a título de opinião privada, qual é a doutrina verdadeira e qual a falsa; quais os rumos que devem ser seguidos para combater a doutrina falsa, para fazer triunfar a verdadeira, para modelar todo o espírito da Humanidade de acordo com a posição contra-revolucionária, e para atingir a luta contra a Revolução.“d - 3: Um Papa pode não seguir isto, mas ái dele, porque suas mãos ficarão maculadas com o crime da derrubada do Reino de Maria."Um Papa pode não seguir isto; é o direito dele. Ai, entretanto, daquele que não seguir, porque derruba o Reino de Maria e fica com as mãos maculadas com esse crime! "O que é que Vossa Excelência acha deste modo de ver?".
“Ele, continuando a mexer interminavelmente a xícara mas me olhando fixamente com uma posição de cabeça um pouco inclinada e os olhos assim... - ainda lembro-me da cena como se fosse hoje - me respondeu:“e - "Essa era a posição dos profetas no Antigo Testamento. Não eram forçosamente reis nem sacerdotes, mas sua missão era a de, sem jurisdição, guiar os reis e sacerdotes exprimindo-lhes a vontade divina"."Essa era a posição dos profetas do Antigo Testamento. O profeta não era o rei nem era o sacerdote, embora per accidens tenha acontecido que algum rei ou algum sacerdote tenham tido uma missão profética. A missão do profeta era guiar o rei e os sacerdotes, mas sem jurisdição. Ele é um guia, alguém que exprime a vontade divina. Os reis e os sacerdotes que não seguiram foram punidos. Mas ele não era rei, nem sacerdote. É isso que V. entende?".
f - "Prever o futuro é uma tarefa secundária do Profeta. Sua missão principal é a de conhecer as vias de Deus e indicá-las ao povo eleito".“Depois acrescentou: "Prever o futuro era uma tarefa secundária do profeta, não era a tarefa principal. A principal missão do profeta era conhecer as vias de Deus e indicá-las ao povo eleito".
“g - Isso está bem para o Antigo Testamento. Mas vale ainda para o Novo?“Eu disse: "D. Mayer, esta conversa tomou uma gravidade que não permite mais que ela seja uma mera conversa entre Plinio e D. Mayer. Ela é agora uma conversa de um fiel com um bispo da Igreja Católica. Pelo amor de Deus, eu lhe peço que me diga se a nossa posição, no Novo Testamento, é heterodoxa".
h - "Isso é inteiramente ortodoxo, e pode existir assim no Novo Testamento".“D. Mayer respondeu: "Não, ela é inteiramente ortodoxa. Isto pode existir assim no Novo Testamento".
“i - Esta é a idéia do que é que o Grupo julga ser“Eu disse: "Bem, Vossa Excelência tem aqui, então, a idéia do que é que o Grupo julga ser".
“Ele ficou quieto e mudou-se de assunto.
(Plínio Corrêa de Oliveira, Simpósio, Quem somos nós, -- Somos um grupo profético,p. 75. ORIGINAL DO site salvemaria. http://salvemaria.info/images/fbfiles/files/QSN.doc).
Não é de espantar então que, na TFP, muitos afirmavam com toda a convicção que Dr. Plínio era a Igreja. Essa tese era corrente nas fileiras da TFP. E diziam os tefepistas que essa seria uma tese fácil de "provar".
Veja-se lá a demonstração da tese herética: hoje a Igreja não passa de uma "estrutura", pois todo clero apostatou. (Inclusive o "cônego José Luís Villac, dizia-se, que não sendo fiel a Dr. Plínio", também teria apostatado). Não haveria sequer um bispo fiel.
"Aponte-me um bispo bom". "Onde está a Igreja? A igreja é João Paulo II? Faça-me o favor. Isso é Jezabel”.
Era o que Scognamiglio ensinava no êremo do Praesto Sum. Quantas vezes ouvimos repetir isso!
E a fonte dessa tese herética era o que Dr. Plínio dizia de si mesmo aos seus caros iniciados e como vai ser expresso por ele no simpório “Quem somos nós”
“d - Só se compreende que a Providência possa ter abandonado a Igreja ao ponto em que abandonou desde que tivesse instituído o profetismo. Do contrário Ela teria desertado da Igreja“Por isto que, se todos os estudos sobre o Papa herege são verdadeiros, só se compreende que a Providência possa ter abandonado a Igreja ao ponto em que a abandonou, desde que tivesse instituído o profetismo. Porque, do contrário a Providência teria desertado da Igreja. E não haveria na Igreja, hoje, lugar nenhum, nem grupo nenhum, nem pessoa alguma à qual se pudesse apelar para encontrar o verdadeiro caminho.“Portanto este profetismo brota do solo sagrado da Igreja, pelas leis da Igreja.
“Na derelictio da autoridade papal e das autoridades legítimas, na derelictio geral, algo fica de pé. E o que é? O Profetismo” (Plínio Corrêa de Oliveira, Simpósio, Quem somos nós, -- Somos um grupo profético,p. 80. Os destaques são nossos. ORIGINAL DO site salvemaria. http://salvemaria.info/images/fbfiles/files/QSN.doc).
A TFP e os Arautos são seitas sede vacantistas secretas que t6em Plínio como profeta superior ao Papa.Então, sendo assim, hoje, a TFP é a Igreja. Mas acontece que a TFP é Dr. Plínio. O resto não é nada. Logo, Dr. Plínio é a Igreja. Isso era dito assim. Com toda a seriedade, com toda a veemência e com absoluta convicção.
O eremita Pedro Julião defendeu boquirrotamente essa tese. José Lopes Antunes - sempre em cima do muro - mais cauteloso, dizia que "a Igreja mora em Dr. Plínio". Depois, assustado com a sua própria moderação, e preocupado com o que a "KlaGB" interna iria contar a João Scognamiglio Clá Dias, acrescentava pressurosamente: "Ele é maior do que a Igreja".
Por sua vez, Euclides Alcaraz Torres - pessoa tão preocupada em fazer distinções e matizes - nos declarou: "Hoje, a Igreja se resume no Grupo que é como que, como que, como que, como que, imaculado".
E num Santo do Dia, quando Dr. Plínio disse uma vez: "O Papa é infalível", ouviu-se uma voz (cismática ou herética?) dizer: "Ele é o Papa". E o “ele” designava Dr. Plínio.
E o Sr. Acúrcio Torres foi mais longe ao berrar hereticamente que "a missão de Dr. Plínio o coloca, hoje, acima da estrutura". Isto é, acima da Igreja.
Isso dito aos berros, e sem matizes.
E Scognamiglio declarou - tout court - que Dr. Plínio estava acima dos Serafins. Isso é que é a ”firmeza única” scognamigliesca em São Tomás, como ele declarou ter diante da banca de doutoramento, no Angelicum, em 2010.
Todas essas frases delirantes que ouvimos na TFP—e que denunciamos na década de 80--, foram confirmadas, agora, por novos documentos que nos chegaram às mãos.
Num retiro pregado por João Scognamiglio aos Arautos e à Sempre Viva, quando ainda ele era um simples leigo, Scognamiglio disse, repetindo palavras de Plínio Corrêa de Oliveira:
“Devo prestar ouvidos às próprias palavras de meu Fundador [Dr. Plínio].
Eis, então, as palavras do próprio Dr. Plínio sobre si mesmo, sobre a TFP, e a Sempre Viva:
Nós devemos dizer que nosso movimento é como um cálice no qual se reúne todo o bom espírito que houve no passado na Igreja Católica, no qual este bom espírito está num estado acrescido e aumentado.
Quer dizer, a plenitude do espírito da Igreja se reuniu neste cálice, que é o cálice precioso, o cálice adorável, de que fala a ladaínha de Nossa Senhora—cálice cheio de honra, cálice de insígne piedade, em que toda a piedade está contida--, de maneira que há gotas desse líquido sagrado espalhadas por outros lugares, mas o conjunto está reunido em nós, e nós somos verdadeiramente esse cálice em que tudo o quanto houve na Igreja Católica continua vivendo dentro da tempestade contemporânea, mas continua vivendo acrescentado pela semente do Reino de Maria.
(Palavras de Plínio Corrêa de Oliveira, reportadas por João Scognamiglio Clá Dias, agora Monsenhor, no Retiro V, 10a palestra: A Unidade do Súdito com o Fundador, p. 4 de 12. Os destaques são nossos).
Nesse mesmo retiro, Scognamiglio, reportando palavras de PCO, aplicava a figura da Arca de Noé—normalmente referida à Igreja Católica—à TFP, isto é, à Sempre Viva e a Dr. Plínio:
Na hora do naufrágio foi feita uma Arca, nesta Arca foram recolhidos os preciosos restos de tudo quanto havia do espírito católico, para sobreviver depois do presente dilúvio; e quem não quiser morrer no dilúvio, recolha-se nesta Arca. A unicidade do movimento fica bem enunciada desta maneira (Palavras de PCO reportadas por João Scognamiglio, na 10a palestrado Retiro V, A Unidade do Súdito com o Fundador, p. 4 de 12).
E quem seria o novo Noé, senão o próprio Dr. Plínio, encarnação da Igreja, capitaneando a única Arca da Salvação, a TFP?
A Providência quis que houvesse um Noé, que ele fosse o homem, como no tempo de Noé, que tivesse a revelação do estado miserável em que caiu o mundo, e que tivesse idéia de que o mundo ia ser castigado, e que tivesse a idéia de construir uma Arca para salvar o mundo, de maneira que fosse debaixo das ordens dele que a Arca se construísse. Ele é que recebeu os planos da Arca, ele é quem convocou todos para entrar na Arca, ele quem dirigiu a Arca, e ele quem determinou a hora para sair da Arca. Quer dizer ele foi um homem da dextra de Deus (Palavras de PCO reportadas por João Scognamiglio, na 10a palestrado Retiro V, A Unidade do Súdito com o Fundador, p. 4 de 12).
A Arca da TFP substituiu a Igreja, e Plínio seria o chefe dessa Arca, portanto , o Papa dessa nova Igreja.
Como Scognamiglio – que ainda crê nessas loucuras chegou-- a ser Monsennhor?
Como Plínio Corrêa de Oliveira é tido, ainda hoje, na Itália, como “Il Crociato del secolo XX”?
E disso tudo concluía Scognamiglio:
Esta missão única que foi dada a meu Fundador --[PCO]—fica tão provada de todos os modos, tão evidente, que se pode dizer: ou nossa vocação é uma demência, ou é uma inegável verdade (Palavras de PCO reportadas por João Scognamiglio, na 10a palestrado Retiro V, A Unidade do Súdito com o Fundador, p. 5 de 12).
Que se nos permita então escolher uma das pontas desse dilema: o que defende Scognamiglio é uma demência.
Tu o disseste.
Ainda que ele conte com a aprovação de alguns eclesiásticos de prol.
E Scognamiglio reporta estas palavras de Dr.Plínio que não há como não classificar como paranóicas:
É uma coisa evidente que eu tenho um discernimento dos espíritos da Igreja pelo qual eu vejo com perfeita clareza, o que por desejo da Revolução foi embaçado nela. E que é também por esse mesmo processo – quer dizer, em parte pelo que os senhores vêem, mas em parte porque os senhores vêem não com seus próprios olhos, mas em mim – que os senhores adquirem o conhecimento inteiro da Igreja, de como ela é, no olhar da Contra-Revolução. E é assim que podem amar a Igreja como um contra-revolucionário pode amá-la (João Scognamiglio, na 10a palestrado Retiro V, A Unidade do Súdito com o Fundador, p. 9 de 12).
Plínio chegava então ao delirio megalomaníaco ao dizer coisas incríveis sobre si mesmo:
“b - De encontro à Revolução, o Profeta é o homem da grandeza em toda linha“Tudo quanto Nossa Senhora obteve que fosse posto em mim na ordem da natureza e na ordem da graça, é a simbolização da grandeza. Porque é isto. Eu significo isto. De encontro à Revolução gnóstica e igualitária, eu sou o homem da grandeza em toda linha. Desde aquela fotografia quando eu tinha 22 anos - e que já tem grandeza para um moço daquela idade - é a grandeza.
“A grandeza como que? Como envergadura de horizontes, como elevação de onde vem o meu pensamento, como ritmo de lógica sapiencial, superior, como qualquer coisa que desce sacralmente muito do alto . Toda a doutrinação que eu apresento é uma doutrinação feita com simplicidade, mas é majestosa . Isto eu sei bem!
“A linguagem, para aquilo que ela tem que servir, é única e tem grandeza, tem distinção, tem porte, mesmo quando diz as coisas mais banais. E é um modo de manusear as palavras, de maneira que as palavras mais comuns produzem um efeito contínuo de grandeza, mesmo ao falar das coisas mais insignificantes. O tipo de educação que eu recebi, de ancestralidade que eu tenho, tudo, tudo na ordem natural, como na ordem sobrenatural, ruma para a afirmação dessa grandeza sacral e dessa grandeza que está em choque com o mundo inteiro .
“Se me perguntarem o que é que eu sou, assim como S. Francisco de Assis foi a pobreza ou S. Bernardo o recolhimento, eu digo que eu sou a grandeza” (Plínio Corrêa de Oliveira, Simpósio, Quem somos nós, -- Somos um grupo profético,p. 85-86. Os destaques são nossos. ORIGINAL DO site salvemaria. http://salvemaria.info/images/fbfiles/files/QSN.doc).
E Plínio continua seu delirio teratológico:
“C - Unicidade“Não me cabe a mim julgar o que a Providência faz. Ela quis, em determinado momento, quis ter um único homem que fosse fiel.
“Ela quis dar a este homem a situação que tinha um profeta no Antigo Testamento, em pleno Novo Testamento.
“D - Ver no profeta um profeta“Isto fica tão provado de todos os lados, tão evidente, que a gente pode dizer: ou nossa posição é uma demência ou isto é uma verdade. Ver no profeta um profeta, mas ver com esse discernimento sobrenatural. E tomar em relação a ele não a posição que se toma em relação a um líder, a um intelectual, a um bom político, a um bom amigo, a um Senhor educado, sei lá o que. Mas saber exatamente passar por cima das considerações de ordem pessoal, e ver o profeta. Isto é a graça nova. É por-se diante disto: "eu conheci na minha vida um profeta. É um profeta em carne e osso. Não é nem um pouco um profeta admirável como os do Aleijadinho - aqueles homens com aquela personalidade possante, aquela coisa magnífica - mas, enfim, é o que Nossa Senhora deu para o crepúsculo d'Ela. Ela quis este profeta assim. Mas ele documenta a sua missão. Ela se tornou para mim evidente. Na medida em que eu me aproximo dele me santifico, na medida em que eu me distancio eu me perco. Ele, portanto, foi posto para me guiar e para guiar muitos. E provavelmente para guiar a Igreja nesta pasmosa defecção"(Plínio Corrêa de Oliveira, Simpósio, Quem somos nós, -- Somos um grupo profético,pp. 91-92. Os destaques são nossos. ORIGINAL DO site salvemaria. http://salvemaria.info/images/fbfiles/files/QSN.doc).
Scognamiglio conclui então que a fidelidade à Igreja devia ser ser transferida concretamente, não mais pela fidelidade auma instituição, a Igreja Católica, mas na fidelidade a um homem, o único que permaneceu fiel, o profeta por antonomásia: Plínio Corrêa de Oliveira.
Eis as palavras de João Scognamiglio:
Não se trata de fidelidade a uma instituição, não se trata da fidelidade a uma ordem religiosa. Trata-se da fidelidade a um homem que recebeu uma missão, mas uma missão a título individual, que não foi dada a ele como, por exemplo, a missão de governar uma diocese é dada a um Bispo, a qual outro homem poderá ter recebido.
Não, esta missão é uma coisa pessoal, que não está ligada à investidura de um cargo, mas uma graça recebida na hora do Batismo. É um desígnio misericordioso de Nossa Senhora que determinou: “Tem de haver um único, que seja aquele (João Scognamiglio, na 10a palestrado Retiro V, A Unidade do Súdito com o Fundador, p. 9 de 12).
Entenda-se bem: Arautos e tefepistas não têm fidelidade a uma instituição, a uma “estrutura”. Não têm fidelidade à Igreja como instituição. A fidelidade deles é a uma alma’, a uma pessoa: Plínio Corrêa de Oliveira.
Arautos e tefepistas são sectários e não católicos. Ainda que amedalhados e doutorados.
Recentemente, apareceu num forum da internet em Buenos Aires, um depoimento de um ex Arauto do Evangelho, tratando do que Scognamiglio ia fazer para enganar a estrutura, isto é, a Igreja, e como se faria a instituição de uma Nova Igreja , depois da Bagarre. Eis esse depoimento incrível.
Scognamiglio chamava essa enaganação de “Manobra Judit”, pois com ela se eliminaria o grande Holofernes da Estrutura, o Papa conciliar.
Eis esse documento:
http://www.tfpheraldos.com/viewtopic.php?f=27&t=23&start=0&sid=3a19db733d393b4ed1506927afab92ee#p315Una interpretacion sacerdotal
por fran » 09 Feb 2010 12:57
A algunos causa gran extrañeza la ordenación sacerdotal de JC [João Clá].
Para los que vivimos cerca de él, o asistimos durante años a sus reuniones, llamadas Jour le Jour, era clara la postura de cualquier miembro del grupo de buen espíritu: rechazar cualquier cosa proveniente del clero.
Al clero en general lo llamábamos “Estructura”, para no llamarlo “Jerarquía” y así no darle el reconocimiento debido, una vez que después del Concilio Vaticano II, habían caído en herejía, unos por complicidad, otros por omisión, siendo desde ahí en adelante totalmente ilegítimos. Recuerdo que JC en público y privado, alababa la hipótesis de alguien (uno de los teologuillos internos, claro, detestados por JC y sin embargo citados como autoridad cuando a él le favorecía, sobre todo al formular semejante hipótesis tan arriesgada… si era aceptada se la reconocerían a él, sino él siempre diría que eso fue idea de algún Solimeo, por ahí…) de que como no habían mas obispos legítimos dentro de la Iglesia, vendría San Juan Evangelista, Apóstol, quien estaría vivo en cuerpo y alma en el paraíso, a ordenar personalmente nuevos sacerdotes y obispos para la nueva Iglesia regenerada del Reino de María. Esto era moneda corriente en los éremos y asumido con toda naturalidad y lógica por todos los mdg de buen espíritu.
Nunca jamás íbamos a misa, ya que esta se realizaba según el ordo missae post conciliar, herético, protestantoso, de mal espíritu. Un mdg no podía participar de ese rito, sería censurado. Sin embargo, una de esas contradicciones atroces, comulgábamos en esas misas, esperando fuera de la iglesia a que se armara la fila de comunión para entrar.
Creo que todos deben tener mil hechos que contar de los enormes líos que en que nos metíamos muchas veces con ese procedimiento. Enfrentamientos con párrocos, críticas, negativa de darnos la comunión, y un largo etc.
Cuando había que asistir a una misa por compromiso, nos recomendaban a seguirla con distancia y con rechazo interno, comulgar y aislarnos del resto.
Todo eso era nuestra manera de vivir hasta 1995, cuando fallece el Dr. Plinio.
JC inmediatamente comienza su acercamiento a la “Estructura”, ya no tiene sentido vivir enfrentados, es necesario que nos adaptemos para sobrevivir, hay que negociar o nos liquidan, fue su postura. Esa postura empezó a irritar a los mas viejos, claro, y a dejar perplejos a los de generaciones mas jóvenes. Sin embargo estos últimos se dejaron convencer fácilmente de que JC, como sucesor del Dr Plinio, también era inerrante y que el Espíritu Santo ahora residía en él, por lo tanto su orientación debía ser acatada, entendiendo o no, aceptando o no, su palabra era la última. Debo aclarar que el aggiornamento, causó muchos descontentos y aún dentro de los heraldos hay muchos que no se tragan del todo la tfp sacerdotal.
1. Si JC se ordenó sacerdote meramente como parte de una maniobra (la llamada por él maniobra Judit), entonces su ordenación es por lo menos, sacrílega. Puede ser que de hecho él no crea que la estructura tiene poder para ordenarlo, en ese caso él estaría solamente actuando como si tal, a fin de llevar adelante su maniobra Judit. Si eso es así entonces cada misa, cada confesión, cada sacramento administrado es una farsa, por lo tanto un engaño a miles de personas. Es eso creíble? quien conoce a JC sabe de su afamada "restricción mental", de sus "pasadas de perna", de su mas que reconocida habilidad de justificar el medio para alcanzar el fin.
2. Si JC se ordena sacerdote por que recibe una gracia, entonces rompe con su pasado –por lo menos lo que dice a su histórico rechazo al sacerdocio y la misa, etc. al dogma interno de la necesidad de destruir la estructura maldita- en ese caso “quema lo que adoraste, adora lo que quemaste”. Si se trata de una verdadera conversión al sacerdocio, si recibe la vocación sacerdotal, entonces enhorabuena! Habrá que ver como se conjuga todo eso y la postura pública crítica del Dr. Plinio, si es que JC seguirá usando la figura del Dr. Plinio como muleta para mantener a sus heraldos cohesos o si finalmente, él prescindirá del Dr. Plinio una vez que el número de novatos, entusiastas por él, haya ultrapasado al de viejos saudosos del Dr. Plinio, atrapados en un pasado ya superado.
Hoy JC sustenta que el sacerdocio es el ápice de la vocación de miembro de grupo (la vocación de ser los apóstoles de los últimos tiempos).
Surge entonces un problema. No todos los heraldos están llamados a ser sacerdotes. Según JC solamente un 10–20 % lo serán, dejando al resto como laicos.
Entonces solo ese porcentaje alcanzará el ápice de la vocación, poniendo al resto como ciudadanos de segunda categoría. Y es así como muchos de los actuales heraldos se sienten.
Para pertenecer al círculo mas interno de confidencialidad de JC hay que ser hoy en día sacerdote.
Saludos y hasta la próxima.
Fran
fran Registrado: 08 Feb 2010 11:53
A doutrina da Inocência Primeva, tal como está exposta -- ainda que parcialmente e com textos selecionados para serem publicados -- no livro que os mais velhos da TFP editaram, e que focalizamos, contraria profundamente a doutrina católica.
O estado de Inocência Primeva que Plínio Corrêa de Oliveira apresenta como sendo concedido a todos os homens, nega claramente não só os efeitos do pecado original na natureza humana. Sobre o pecado original, PCO quase nada diz, nessa obra. Ele afirma apenas que a todos os homens é concedida a Inocência Primeva que a Igreja ensina em que só Adão e a Virgem Maria foram criados, e que Adão perdeu com o pecado original. Esse estado de Inocência Primeva daria ao homem uma inteira harmonia entre as faculdades da alma, assim como uma placidez derivada de um mais profundo de um inato e inerrante senso do ser. Por esse senso do ser, cada homem escolheria infalivelmente o que o ajudaria a completar o que falta ao seu eu, para identificar-se plenamente com o eu de Cristo, o Eu Absoluto. Nessa identificação absoluta, o eu profundo de cada um ficaria de tal modo unido a Cristo, que se daria uma identificação com o ser de Cristo, acarretando forçosamente a salvação, mesmo com um mar de pecados cometidos. Cada homem, no estado de Inocência Primeva, seria literalmente, e de fato, um alter Christus.
E por isso mesmo estaria salvo. Mesmo com um mar de pecados.
E vimos que essa salvação pela identificação com o Eu de um ente superior transcendente—e não pela “tabela dos dez mandamentos”—é um tema fundamental nos sistemas gnósticos.
Como a Inocência Primeva não se perderia pelo pecado, os tefepistas, instruidos nessa doutrina, julgavam-se salvos, ainda que violassem gravemente a lei de Deus e da Igreja.
É o que explica a dupla moral dos tefepistas e dos Arautos do Evangelho. Pela “causa católica”, leia-se, por Dr. Plínio, podia-se fazer qualquer coisa: mentir, jurar falso diante do Santíssimo Sacramento, fazer restrições mentais, apropriar-se das coisas alheias, pecar e viver sob um mar de pecados, etc. Tudo seria “coberto” pela Inocência Primeva identificadora do sujeito com Plínio e, consequentemente, com Cristo
João Scognamiglio, mais do que qualquer outro na TFP, como discípulo perfeito de Dr. Plínio, foi a pessoa que mais se distinguiu no desprezo da “tabela dos dez mandamentos”. A ponto de se dizer que ele ficava vermelho se, por acaso, dissesse uma verdade, de tal modo negava os fatos patentes. Veja-se, por exemplo, a biografia que ele publica dele mesmo, da qual friamente surrupia quarenta anos de sua vida,-- de 1956 a 1996--, sem nem pestanejar, porque agora lhe convém esconder quem ele foi durante quarenta anos: o maior propagador do culto a Dr. Plínio e a Dona Lucília. Leia-se o livro Dona Lucília do qual ele se apresentou como “autor”, para se ter provas disso.
Não se perdendo a união com o “Senhor Doutor Plínio”, se estaria salvo. Ninguém ia ser julgado por uma tabela dos dez mandamentos. Daí, que ninguém dos que seguiam essa doutrina, na TFP, jamais se confessava. Os membros da Sempre Viva se “confessavam” – dizia-se--uns com os outros. PCO só foi visto confessar-se uma ou duas vezes apenas.
Em 1957, num retiro pregado para os membros do grupo de PCO por um sacerdote uruguaio, no seminário redentorista de Tietê, o pregador exigiu que todos se confessassem. Nessa ocasião, ouvimos PCO dizer: “E agora? Faz tanto tempo que eu não me confesso que nem sei quando foi. Já sei. Vou dizer a ele que não me confesso há mais de três meses”. E ria-se da saída que encontrara.
E quando, na década dos anos 80, denunciamos esse comportamento irregular e ilícito dos membros da Sempre Viva não se confessarem com um sacerdote, alguns dos atuais Provectos foram confessar-se na Igreja de São Francisco, no centro de São Paulo, a fim de serem vistos na fila da confissão, e assim desmentirem nossa acusação. Depois, desapareceram das filas dos confessionários...
A posse ou a perda da Inocência Primeva dividiria os homens em dois grupos opostos: os Inocentes, identificados com Cristo, possuidores de uma alma harmoniosa; e os precitos que, aderindo ao próprio eu, se recusavam aderir ao eu de Plínio, ou ao eu de Cristo, que, no fundo, eram o mesmo e único eu.
Os Inocentes seriam os Contra Revolucionários.
Os outros eram os que haviam repudiado o estado de Inocência Primeva. Eles eram os revolucionários, dominados pelas paixões desregradas.
Daí, PCO colocar como causa profunda e eficiente da Revolução as paixões desregradas e não causas intelectuais. E nem Lúcifer. PCO se esqueceu de dizer que a Revolução é satânica.
Ora, as paixões sendo cegas, jamais elas poderiam ter causado e organizado as três revoluções destruidoras da Idade Média e da Cristandade. Ademais, em todas as épocas houve homens dominados pelo desregramento das paixões. Mesmo na Idade Média eles existiram. Como não causaram a Revolução, já na Idade Media?
Essa importância fundamental dada por Plínio ao desregramento das paixões, e adesão à uma imaginária Inocência Primeva inata e inerrante, o levou a desprezar o estudo e a ação intelectual, e ,como Descartes, a desprezar os livros. Por isso, ao tratar da eclosão da Revolução, ele nem cita os problemas metafísicos do século XIV e XV. Que aliás ele desconhecia.
Pois se ele fora Professor imaginário de História!...
Tal era o desprezo na TFP por questões doutrinárias e intelectuais que, um eremita argentino foi punido porque se dizia dele que ele “estudava mais do que amava”. Veremos mais adiante, noutra parte deste livro, como Dr. Plínio desprezava o estudo, e como, na TFP, os que estudavam eram desprezados sendo apodados por nomes ridículos que nada significavam: ploc-plocs, caneca amassada.
Como se vê, Dr. Plínio não tinha senso de humor.
Daí, o medo que ele tinha da ironia.
Veremos as conseqüências dessa super valorização do problema das paixões e o desprezo do estudo e do intelecto, quando estudarmos a teoria do conhecimento de Dr. Plínio.
A preponderância absoluta atribuída por Plínio às paixões, vai causar na TFP sérios problemas morais. De uma lado, se exagerava o rigor moral até causar escrúpulos doentios e desesperos, tratados a mandrix. De outro, se estimulava um cinismo anomista pela abolição e desprezo da “tabela dos dez mandamentos”.
A TFP se dividia então em dois grupos: os desesperados e os cínicos. E os cínicos eram os promovidos para os postos de direção e de privilégio, porque haviam compreendido que o fundamental era identificar-se com o eu do pseudo Profeta de Higenópolis. Às favas os dez mandamentos. Pois havia um só mandamento importante: identificar o próprio eu com o eu de Plínio Corrêa de Oliveira.
É essa dupla moral—esse anomismo completo—que permite a Monsenhor Scognamiglio passar do repúdio praticamente sede vacantista do Papa, chamando o Papa Paulo VI de Ponto 6, e o Papa João Paulo II de JP 2, para Monsenhor de Santa Maria Maggiore. Amigo de tantos Cardeais dos quais disse ele: “Vocês vão ver que rasteira vou passar neles”. Scognamiglio sempre toma atitude respeitosa e submissa antes de passar a rasteira. Como a serpente que desliza antes de dar o bote. Sem ficar sequer ruborizado. Ele, que com PCO, chamava a Igreja de “Estrutura” passa agora para a bajulação dos que ele chamava antes de hereges.
É esse anomismo dos Arautos que lhes permite afrontar a contradição de condenarem a Missa nova durante décadas, e de a rezarem e a assistirem imitando os carismáticos. É esse anomismo que permite aos Arautos terem um Ordo em que se condenava andar na mesma calçada que uma moça conhecida, e agora Monsenhor Scognamiglio ser osculado por moças, e ir com elas à praia. “Porque com ele se pode fazer isso, pois ele é santo...”
Sem uma doutrina negadora de toda a lei de Deus como “tabela dos dez mandamentos” tais contradições levam rapidamente à loucura.
Com a negação da supremacia do intelecto na alma, a doutrina defendida por PCO, fundamentando a vida religiosa numa adesão idílica à uma inexistente Inocência Primeva tinha que concluir pela possibilidade de se retornar ao Paraíso Terrestre, onde Adão vivia inocente. Inocência e Éden são correspondentes. Tanto quanto a Inocência tinha que conferir a imortalidade.
Plínio se declarou imortal. E imortal porque ele não tinha o pecado original.
Certa vez, numa palestra dada por PCO na fazenda da TFP, em Amparo, um dos eremitas do agora Monsenhor Scognamiglio, o sr H. Iw. perguntou no fim da palestra:
“Senhor Doutor Plínio, diga-nos: o Senhor tem pecado original?”
Estupefação no auditório. PCO, sempre muito controlado, respondeu, calma e seguramente:
“Claro que tenho pecado original. Prova é que fico doente e tenho que me tratar”.
Ira silente no auditório.
Pouco depois, no carro, onde estava com Dr. Plínio e com o chauffeur, Scoganamiglio explodiu sua raiva:
“Esse cretino de H. IW., perguntar isso em público... Claro que Dr. Plínio ficou forçado a responder que tinha o pecado original”.
Portanto, a Inocência Primeva exigia a negação – falando exotericamente -- do pecado original em PCO. Daí, o direito dele de viver no Éden. Pelo menos imaginativamente. Daí, ele se acreditar imortal.
PCO vivia imaginando um mundo de sonhos, um mundo paradisíaco proporcionado à sua Inocência Primeva original.
Em consequência, ele imaginou o mundo dos possíveis em Deus, seres inexistentes, mas que, de fato, “de alguma forma, existiriam”.
Plínio Corrêa de Oliveira foi um sonhador romântico, que imaginou um mundo de seres ab aeterno numa Trans-esfera muito acima do mundo angélico e onde ele vivia imaginativamente.
Seria de surpreender que sonhando uma supra realidade ele desprezasse todo o mundo real? PCO odiava a realidade tal qual ela existe hoje, depois do pecado original. E chamava este mundo material de “cárcere”, o que é uma nota tipicamente romântica e gnóstica.
“Não a natureza no Éden – onde passeava o hipotético inocente Abel – não contém ciladas, não é revoltada contra o homem, e sim uma serva dele. Este mundo, ao inverso, é como o um cárcere de exílio, onde moram os míopes, que somos nós; cumpre ter cuidado, pois as coisas são enganadoras aos nossos olhos doentes”( Plínio Corrêa de Oliveira, artigo Seletivo e Harmonia na Alma Inocente,in revista “Dr. Plínio”, AnoVIII, Junho de 2005, n0 87, p. 24).
E não se deve esquecer que ele está falando de um hipotético Abel, concebido na Inocência primeva tal qual ele se julgava Inocente, e tal como ele se apelidava de Abel. O que ele imaginava do Éden, era na verdade a Trans-Esfera com a qual ele sonhava e que ele pensava atingir com sua imaginação. Para PCO, devia-se buscar esse Éden, essa Trans–esfera, fugindo pela imaginação deste mundo cárcere onde o absoluto que haveria em qualquer ser humano estaria preso como num calabouço. Exatamente como explicava a Gnose.
É de surpreender que ele preferisse o mito, e a lenda à realidade histórica, inventando heróis e mitificando personagens? Surpreendente seria que não os inventasse.
É de surpreender que ele mitificasse a si mesmo, apresentando-se como Profeta, o homem da dextra de Deus, o filho de Maria por excelência, e que ele se identificasse com Abel, com o Profeta Elias, com Maria Santíssima, --e por que não?--, com o próprio Cristo, visto como sósia perfeito de Plínio?
É de surpreender que ele montasse por meio do atual Monsenhor Scognamiglio um culto absurdamente delirante a ele mesmo e à mãe dele?
E não seria surpreendente que o atual e condecorado Monsenhor Scognamiglio –que garante que o espírito de PCO passou diretamente para o seu peito, quando ele pousou a cabeça sobre o cadáver de Plínio – não seria surpreendente que ele organizasse para si mesmo o culto que antes montara para seu mestre, Plínio?
Quem pensa que entre os Arautos não exista um culto delirante a Monsenhor Scoganamiglio é bem ingênuo e está bem iludido.
Só não acredita nisso, segundo consta, um Cardeal que foi ao êremo de São Bento, levando na mão uma Ladaínha de João Clá, exigindo dele explicações. O atual Monsenhor Scognamiglio, com toda sua seriedade e eremítica sinceridade, garantiu que a tal ladaínha era uma coisa isolada de algum jovem maluquinho, e imediatamente fez trazer ladainhas e outras coisinhas mais, e as queimou todas diante do Cardeal...
É o que se contou.
É o que o tal Cardeal acreditou. Pensou que tudo acabara. Não havia mais culto secreto entre os Arautos, nem para Dr. Plínio, nem para Dona Lucília, e nem para João Clá. Monsenhor Scognamiglio garantia.
E quando Monsenhor Scognamiglio garante,... um Cardeal é enganado.
E o Cardeal acreditou...
Assim é que se dão rasteiras em Cardeais.
Para citar este texto:
"No país das maravilhas: a Gnose burlesca da TFP e dos Arautos do Evangelho (Parte 2/8)"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/cadernos/religiao/pco-ii/
Online, 21/11/2024 às 09:12:03h