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O Papa
A meditação preparatória para o Conclave, a viagem do Papa ao Brasil e o Congresso Montfort
Acaba de ser divulgada a meditação do Cardeal Prosper Grech, apresentada aos Cardeais na preparação do Conclave que elegeu o Cardeal Bergoglio como sucessor de São Pedro [leia aqui]. Uma vez que a meditação era reservada aos Cardeais, parece claro que a sua divulgação contou com a aprovação do Papa Francisco ao menos de forma indireta. Portanto, podemos supor que este a considere uma correta visão da situação da Igreja e de seus principais problemas. O texto da meditação, apesar de alguns termos que podem causar um pouco de confusão, nos trouxe alegria. Ele confirma que a solução que nós da Montfort repetimos, com o ensinamento tradicional da Igreja: oração e estudo continuam sendo o caminho para o apostolado da Igreja, mesmo no mundo moderno. “Por isto se sente a urgência de uma nova evangelização que começa com o kerigma puro e sem artifícios anunciando aos não crentes, seguido por uma catequese continua alimentada pela oração” Nossa alegria foi redobrada pela coincidência com o fato de que no Congresso Montfort, realizado neste mês, cujo tema foi “A formação em grupos católicos na crise da Igreja”, quando ainda não conhecíamos o texto da meditação, a oração e o estudo foram apresentados como os dois pilares da vida espiritual: “A constituição de grupos realmente católicos depende da formação de seus membros. Esta formação supõem duas grandes pilastras. A primeira é a formação espiritual, a segunda a formação intelectual. As duas são complementares. A formação espiritual sem dúvida é a mais importante, mas dificilmente permanece por um longo tempo sem a segunda”. A meditação traz reflexões importantes e graves sobre a situação atual da Igreja. Ela começa por afirmar que o Espírito Santo concedeu nos últimos tempos à Igreja “ótimos pontífices santos”, mas pouco depois faz essa dura advertência: “No ocidente, ao menos na Europa, o cristianismo está em crise... Reina uma ignorância e um abandono da doutrina católica, senão mesmo do abc do cristianismo”. Assim, é inevitável constatar que, mesmo considerando “ótimos pontífices santos” os últimos Papas, vê-se que estes não foram capazes de impedir e de apresentar uma solução para a crise apontada na Igreja. O texto ainda deixa entrever que a crise teria se iniciado com uma interpretação errônea do Vaticano II. A conclusão a que se chega, portanto, é que os Papas não foram capazes de apresentar a verdadeira interpretação do Concílio. O Cardeal Prosper Grech não discute porque os Papas não conseguiram apresentar o Vaticano II como uma continuidade do ensinamento da Igreja... Mas foi provavelmente porque, em muitos casos, esta é uma tarefa impossível. Um dos pontos que se destaca na meditação é a preocupação com a evangelização. “Logo após a sua ressurreição, Jesus enviou os apóstolos ao mundo inteiro, para fazer discípulos em todos os povos e batizá-los em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (mt 29,19). A Igreja faz isto apresentando o Evangelho sem rebaixá-lo e sem diminuir sua palavra.” Este parágrafo coloca luz sobre o primeiro discurso do Papa, quando da sua recente visita ao Brasil, a qual se iniciou de forma bastante auspiciosa. Francisco iniciou seu discurso afirmando sua autoridade de Papa e de Chefe da Igreja, conferida por Nosso Senhor a São Pedro: “Quis Deus na sua amorosa providência que a primeira viagem internacional do meu Pontificado me consentisse voltar à América Latina, precisamente ao Brasil, nação que se gloria de seus sólidos laços com a Sé Apostólica e dos profundos sentimentos de fé e amizade que sempre a uniram de modo singular ao Sucessor de Pedro”. Logo em seguida, o Papa apresenta a razão fundamental para a sua vinda ao Brasil e o que ele pode oferecer ao povo brasileiro: “Aprendi que para ter acesso ao Povo Brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração: por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta. Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo!” O Papa, portanto, se apresenta como o representante de Cristo. E com tal autoridade que ele pode entregá-Lo ao Brasil, como um presente que lhe foi dado. Nada mais contrário ao ecumenismo religioso. Cabe ao Papa entregar Cristo aos povos. Se todos já tivessem na posse de Cristo que sentido teria a afirmação do Papa? Ele nos presentearia com algo que já temos. O Papa cumpre a missão de levar Cristo a todos os povos. A verdadeira religião é transmitida pela Papa. É a condenação do protestantismo. É a condenação dos carismáticos. O Espírito Santo não atende a domicilio. É o Papa que deve anuncia-Lo aos povos. A frase é ainda contra o materialismo e contra o marxismo. O melhor presente que existe não é o ouro nem a prata, mas é Cristo. Antes de se preocupar com os bens materiais, a Igreja se preocupa com o que é espiritual. E se o Papa nos presenteia com Cristo comparando-o ao ouro e a prata é porque considera ser este presente mais valioso. O que é espiritual tem mais valor do que é material. Dilma havia discursado, dando ênfase aos seus programas de pseudo bem estar social. Chegou mesmo ao absurdo de propor ao Papa que este levasse ao mundo a experiência petista. O Papa responde que os problemas do Brasil não serão solucionados com ouro e prata, nem mesmo com o “mensalão”, mas com Cristo. Um discurso que condena também a famigerada Teologia da Libertação, ainda que Boff afirme que o Papa tem interesse em seus heréticos livros. E falando à Presidente do Brasil, o Papa apresenta uma solução religiosa. Assim o estado laico é condenado. O Papa, portanto, em consonância com a meditação preparatória do conclave, trouxe Cristo ao Brasil, com a finalidade específica da salvação das almas e com a advertência de que fora da Igreja não há salvação - ainda que muitos procurem, com base nos documentos do Concílio Vaticano II, modificar este ponto tão claro da doutrina católica. Veja-se o trecho a seguir da meditação: “Não se deve ceder também à tentação de relativizar a necessidade do batismo, pensando que o Concílio Vaticano II facilitou a salvação também àqueles que estão fora da Igreja. Hoje se soma a isto o abuso de tantos católicos indiferentes que se omitem ou recusam batizar seus próprios filhos”. O trabalho de levar Cristo ao mundo e de condenar a mentalidade relativista não será fácil. Lembremo-nos de Bento XVI, um Cardeal com grande experiência na Cúria Romana que, após sua eleição, pediu aos católicos que rezassem para que ele não tivesse medo dos lobos. O Papa emérito feriu o lobo mas, infelizmente, não o venceu. Ele renunciou. Após a viagem ao Brasil, o Papa Francisco retornou a Roma. Sem dúvida, eis outro lugar aonde o Papa deve levar a Cristo. Os escândalos financeiros, os escândalos morais e, sobretudo, os gravíssimos erros doutrinários e o relativismo que reinam na Cúria Romana indicam a necessidade de prega-lhe a Cristo. E, como sugere a meditação, de pregar a Cristo crucificado. O novo Papa conseguirá enfrentar os lobos? O Papa Francisco escolheu seu nome por causa de São Francisco. Ora, São Francisco de Assis, certa vez, fez com que um lobo que atormentava uma cidade passasse a servi-la. Rezemos pelo Papa Francisco, pois velhos lobos já voltam a se manifestar, num novo surto da Teologia da Libertação. Esta heresia, repetidamente condenada pela Igreja, mas que insiste em não morrer - como naquelas histórias de terror em que o monstro morto sempre volta, de forma demoníaca, para atormentar os vivos.Para citar este texto:
"A meditação preparatória para o Conclave, a viagem do Papa ao Brasil e o Congresso Montfort"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/papa/a-meditacao-preparatoria-para-o-conclave-a-viagem-do-papa-ao-brasil-e-o-congresso-montfort/
Online, 23/12/2024 às 05:11:32h